• Nenhum resultado encontrado

3 POLÍTICAS INTERNACIONAIS E AS DISTORÇÕES NO MERCADO

3.2 FORMAÇÃO E FORTALECIMENTO DOS BLOCOS REGIONAIS

3.2.1 A União Européia (UE)

A partir do tratado de Roma surgia na Europa, após a II Guerra Mundial (1957) , a Comunidade Econômica Européia (CEE) que deu origem à atual União Européia (UE)19. Os principais mecanismos de proteção da agricultura na UE são definidos a partir da Polí-tica Agrícola Comum (PAC). A PAC é uma das políPolí-ticas mais importantes da UE que combina regras específicas para a agricultura com a aplicação dos princípio s de mercado comum. Além do fato de eliminar as barreiras tarifárias entre países membros e criar tar i-fas externas comuns a produtos de terceiros países, a PAC atua conjuntamente com as “or-ganizações comuns de mercado” (OCM) que envolvem políticas setoriais, determinando diferentes mecanismos de proteção. Por exemplo, a OCM pode atuar intervindo nos me r-cados através da compra de excedentes agrícolas, quando os preços dos produtos situam-se abaixo de um nível inferior, ou elevando tarifas de importação e subsidiando as exporta-ções a fim de evitar a queda dos preços internos. Estes dois mecanismos de proteção da agricultura são, por sua vez, financiados pelo Fundo Europeu de Orie ntação e de Garantia Agrícola (FEOGA) (MISSÃO, 2000).

Entre os principais instrumentos de proteção de mercado administrados pelas OCMs destacam-se os direitos alfandegários, as restituições à exportação, as intervenções nos mercados internos e as ajudas compensatórias. Em relação aos “direitos

19 Atualmente os países membros da UE formam uma União Aduaneira constituída pelos seguintes países:

Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Lu-xemburgo, Portugal, Reino Unido e Suécia (MISSÃO, 2000).

rios”, referem-se a proteção tarifária concedida principalmente aos cereais20, em que a tarfa de importação pode variar de acordo com os preços internacionais sobre o critério def i-nido na Rodada Uruguai (quotas tarifárias). Já as “restituições à exportação” são o paga-mento equivalente à diferença entre o preço doméstico e o preço internacional, a fim de permitir que o produto comunitário seja competitivo no mercado internacional, evitando a formação de excedentes sobre a forma de estoques.

Ainda existem as “intervenções nos mercados internos” determinadas pelo fato de os preços dos produtos no mercado doméstico aproximarem-se do preço mínimo. Neste momento, os organismos competentes compram os cereais quando os preços de mercado atingem os preços de intervenção que, em 2000, por exemplo, era de 119,19 euros/tonelada para todos os cereais (MISSÃO, 2000).

Seguindo os critérios da OMC, as principais medidas protecionistas adotadas pela UE podem ser divididas em três aspectos: barreiras tarifárias e não-tarifárias, e os subsí-dios. Em relação às barreiras tarifárias, elas podem ser agrupadas em dois grupos: as convencionais originárias de países pertencentes à OMC ou de acordos com base na cláusula da nação mais favorecida, e as de caráter autônomo, para os demais casos. Dentro do pr imeiro grupo, existem várias modalidades tarifárias (FONSECA et al., 1999):

1) As Tarifas Externas Comuns (TEC) que estabelecem o conjunto de direitos a serem aplicados por todos os países membros da UE às importações de produtos a terceiros países.

2) As quotas-tarifárias que cobrem os produtos sensíveis da UE e têm por obje-tivo definir um gradiente tarifário, de tal maneira que, ao atingir uma determinada quantidade de importações de terceiros países, ocorra um aumento tarifário, que, na maior parte das vezes, cessa as importações.

3) As preferências comerciais abrangem diversos acordos preferenciais e de li-vre comércio. Por exemplo, observa -se uma concessão de caráter unilateral por pa r-te da UE, cedendo preferências tarifárias aos países em desenvolvimento.

A exemplo disto, segundo as estatísticas da UNCTAD (2001), a tarifa ad valorem média da UE era de 6%, com um desvio padrão de 5,6% , e uma tarifa máxima de 88,9%

em 1998. Estas estatísticas não contabilizam as tarifas específicas, sazonais e quota-tarifárias. Segundo a OMC, 6,9% dos itens tarifários são compostos por tarifas específicas.

20 Nome comum às gramíneas (trigo, cevada, aveia, milho e arroz), cujos grãos servem de base para a alimen-tação humana (FERREIRA, 2000).

O uso da tarifa específica fornece maior proteção nominal que a proporcionada pela tarifa ad valorem, visto que a proteção tarifária, nessa modalidade, cresce à medida que o preço do pr oduto importado reduz ( FONSECA et al., 1999).

Entretanto, são os subsídios à produção e à exportação que promovem as maiores distorções nos preços internacionais. Quanto aos subsídios à produção, estes são realizados a partir do programa de preços mínimos e compras da OCM, das quotas tarifárias e de to-das as demais medito-das categorias apresentato-das que compreendem o programa de manute n-ção da renda dos agricultores. No entanto, são os subsídios à exportan-ção que determinam os maiores danos aos mercados internacionais. Estes são fundamentais à UE por permiti-rem a eliminação dos excedentes agrícolas acumulados ao longo dos anos, contudo, são estes os maiores responsáveis pela redução dos preços internacionais. Considerando os gastos com subsídios na UE (produção e exportação), calcula -se que quase metade do or-çamento do bloco (US$ 104 bilhões) vai para a agricultura, que emprega apenas 4% da população dos países membros (Estado de São Paulo, 15/01/2003).

Em relação às barreiras não-tarifárias, destacam-se as licenças de importação, nor-mas sanitárias e fitossanitárias e certificados de origem, conforme citado por Fonseca et al.

(1999). As licenças de importação seguem o regime de importação da UE, em que a emis-são de licença de importação não-automática só é requerida para as importações sujeitas a restrições quantitativas, medidas de salvaguardas ou monitoramento. Os produtos agrícolas são submetidos à licença de importação automática, entre eles destacam-se os cereais, o óleo de oliva, os laticínios, as carnes, as frutas.

As normas sanitárias e fitossanitárias são atualmente consideradas as principais bar-reiras de mercado a produtos de terceiros países, especialmente a produtos de países em desenvolvimento. De uma forma geral, para os produtos agrícolas in natura e beneficiados, existe um rígido controle de doenças, pragas, resíduos tóxicos, hormônios, entre outros aspectos. Para cada categoria de produto é exigido, pelos países importadores, um controle de qualidade verificando as condições sanitárias e fitossanitárias do produto.

Por último, é exigida também a confirmação de origem dos produtos comercializ a-dos dentro da comunidade. Para isto, são consideraa-dos produtos de um determinado país, aqueles que são “100%” obtidos no país de origem, ou ainda, aqueles fabricados com ma-téria -prima, partes ou componentes importados que tenham sofrido “transformação sufic i-ente”.

Em resumo, entre as medidas protecionistas da UE que sustentam a sua política destacam-se: o regime de quotas -tarifárias, os subsídios agrícolas e as barreiras não-tarifárias. Recentemente para atender aos acordos agrícolas junto à OMC, as políticas estão voltando-se para a sustentação da renda, e não dos preços, e para a multifuncionalidade da agricultura. O efeito conjunto destas medidas na UE é a expansão da produção interna, a depressão da demanda por importações e o auto-abastecimento. Apesar de estas medidas supostamente pretenderem aumentar a renda dos agricultores europeus, estas promovem um empobrecimento dos países exportadores de produtos agrícolas (entre eles o Brasil).

Na próxima seção, é analisada a NAFTA e as principais políticas comerciais adot a-das pelos países membros (EUA, Canadá e México) . De uma maneira geral, os maiores destaques são dados à política comercial americana que , juntamente com a européia , são as mais protecionistas do mundo.