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3 POLÍTICAS INTERNACIONAIS E AS DISTORÇÕES NO MERCADO

3.2 FORMAÇÃO E FORTALECIMENTO DOS BLOCOS REGIONAIS

3.2.3 O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

Nas Américas, o MERCOSUL é o segundo maior bloco regional. O início do pr o-cesso de integração entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai surgiu com a assinatura em 26 de março de 1991 do Tratado de Assunção, definindo um acordo que constituiu o cha-mado Mercado Comum do Sul. A partir de 1995, com a adoção da Tarifa Externa Co-mum (TEC) e com a criação de alguns instrumentos comuns de política comercial, o MERCOSUL passou de uma zona de livre comércio para uma União Aduaneira. Neste período, as tarifas de importação para a maior parte dos produtos agrícolas foram zeradas (com algumas exceções) e estabelecidas as TECs a terceiros países que podem variar de 0-20% (Intal, 2000). Em 1999, a tarifa média ou equivalente tarifário dos países do MER-COSUL era cerca de 14% ( EMBAIXADA DO BRASIL, 2000).

O MERCOSUL assinou acordos bilaterais com o Chile e com a Bolívia. O acordo de complementaridade econômica entre o Chile e o MERCOSUL começou a partir de 1º de outubro de 1996, estabelecendo um cronograma de redução tarifária, mas não obrigando ao Chile estabelecer uma tarifa externa mais elevada a terceiros países. Para os produtos agrícolas, o Chile estabeleceu uma tarifa externa de 11% para todos os produtos agrícolas originários de terceiros países, com exceção dos óleos vegetais, açúcar, trigo e farinha de trigo que estão sujeitos aos mecanismos de preços por bandas (STOUT e UGAZ-PEREDA , 2000).

De acordo com o tratado entre MERCOSUL e Chile, a partir de 2004, os produtos terão suas tarifas zeradas, mantendo uma lista de exceção (produtos sensíveis), a qual de-verá atingir a tarifa zero no ano de 2006. Já o acordo de complementaridade econômica entre o Brasil e a Bolívia começou em 1º de janeiro de 1997, iniciando um processo de livre comércio de forma gradual que deve ter um período de dez anos, zerando as tarifas entre os pa íses a partir do ano de 2007 (STOUT E UGAZ-PEREDA, 2000).

No entanto, mesmo com avanços importantes obtidos no sentido de aprimorar o comércio entre os países do bloco, existem vá rios aspectos na política comercial dos países do MERCOSUL que apontam para um baixo grau de harmonização das políticas e instru-mentos entre os países do bloco. A exemplo disto, segundo Intal (2000) , salientam-se os seguintes aspectos:

1) Ausência de legislação comum para aplicação de mecanismos contra práti-cas desleais de comércio no práti-caso de importações originárias de países de fora do bloco;

2) Ausência de uma política comum de defesa da concorrência, cujo resultado tem sido a aplicação de instrumentos contra práticas desleais de comércio para as importações entre os países do bloco;

3) A dificuldade em estabelecer regras comuns para o comércio intrabloco de setores específicos;

4) O estabelecimento de acordos preferenciais de comércio entre um membro do MERCOSUL isoladamente e parceiros comerciais extrazona.

Associado a estes aspectos, que revelam os pontos fracos da política comercial con-junta destes países, existe um conjunto de obstáculos de caráter unilateral que dificultam o comércio entre os países do MERCOSUL. Entre estes pontos destacam-se o “Sistema Bra-sileiro de Licença Prévia às Importações” e as “Medidas de Controle das Importações Ar-gentinas”, ambos procedimentos aduaneiros que dificultam o prazo de liberação do produto na fronteira e a tramitação de compra no exterior, respectivamente. E, finalmente , o “regi-me de origem” que deveria permanecer apenas até 31 de dezembro de 2000, mas foi pror-rogado até 2006, ou seja, os produtos comercializados entre os países no MERCOSUL continua m submetidos à certificação de origem, o que dificulta e eleva os custos do trâns i-to de bens e produi-tos e ntre os países.

Estes obstáculos e restrições ao livre comércio intrabloco aumentaram significati-vamente após a desvalorização do Real e o início do Regime de Adequação, janeiro de 1999, para o Brasil e a Argentina, e janeiro de 2000, para o Uruguai e o Paraguai (desde 2000 todos os produtos estão isentos do imposto de importação). Como cons eqüência , o número de reclamações apresentadas pelos estados membros cresceu significativamente, prejudicando inclusive o comércio de produtos agrícolas. A exemplo disto, tem-se o caso do arroz (somente nos meses de junho e julho de 2000) ao qual foram encaminhadas re-clamações com base nos seguintes problemas: exigência de pagamentos a vista da s

impor-tações por parte do Brasil; exigências de análise fitossanitárias especiais; e pr oblemas de acesso ao mercado brasileiro devido a decisões judiciais (INTAL, 2001).

Além da questão cambial, outros elementos e fatores contribuíram para agravar os conflitos comerciais e setoriais do MERCOSUL, entre eles destacam-se os seguintes as-pectos (INTAL, 2000):

1) Forte contração da demanda interna nos países do MERCOSUL, o que de-sencadeou uma redução do mercado potencial para as empresas da região;

2) A redução acentuada nos preços internacionais dos commodities e redução do retorno econômico nas principais atividades dos países do bloco;

3) A eliminação no início de 1999 das tarifas especiais concedidas a produtos de setores considerados sensíveis entre a Argentina e o Brasil;

4) O efeito ocasionado pelas mudanças estruturais, ocorridas ao longo dos úl-timos anos, sobre o mapa produtivo regional, salientando-se o crescimento da produção leiteira na Argentina, o desenvolvimento da produção de arroz no sul do Brasil e os ganhos de produtividade obtidos pelo complexo avícola brasilei-ro.

Em síntese, observa-se que a sucessão de choques comerciais e problemas de or-dem política , desencadeados a partir da desvalorização cambial em 1999 e de um cenário econômico recessivo, teve como conseqüência uma redução acentuada no ritmo do proces-so de negociação entre os países do MERCOSUL. A fim de amenizar os problemas nas negociações do MERCOSUL, apresentados anteriormente, o governo brasileiro vem fa-zendo concessões aos demais países, como, por exemplo, flexibilização das TECs para determinados setores, cancelamento de operações de financiamento à exportação com re-cursos do PROEX (Programa de apoio às exportações) e ampliação dos financiamentos a importadores de produtos oriundos da Argentina, Uruguai e Paraguai. Especificamente no caso dos produtos agrícolas, estes problemas são mais graves pela inexistência de acordos que estabeleçam uma política agrícola comum entre os países membros e pela falta de in-centivos à coordenação no manejo de excedentes produzidos pelo bloco.

Em termos comerciais, existe a necessidade de ampliar as exportações dos países do MERCOSUL para outras regiões a fim de promover o crescimento dos diversos setores produtivos e amenizar os problemas fiscais pelos quais passam os países membros. Neste sentido, devem ser fortalecidos os atuais acordos de livre comércio existentes, mas também ampliada e diversificada as possibilidades de exportação através da criação de novos

acor-dos de livre comércio, sejam eles multilaterais (OMC) e/ou regionais, como, por exemplo, o acordo de livre comércio com a Comunidade Andina. Na próxima seção é caracterizada a Comunidade Andina composta por países sul-americanos que possuem semelhanças com os países do MERCOSUL em questões econômicas, sociais, culturais e geográficas.