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CAPÍTULO I: A CENTRALIDADE DA MÍDIA NA POLÍTICA: MÚLTIPLOS

2.2 A disputa pela agenda: a complexa relação entre mídia, política e

2.2.1 O agendando na política

No item anterior fizemos um breve percurso para antecipar parte da rotina de produção jornalística, demonstrando como ela interfere na pauta política. Para isto mobilizaremos novamente uma série de autores que ajudam a refletir a questão, demonstrando as interfaces entre mídia e política. Dentro da relação de troca estabelecida entre jornalistas e políticos, percebe-se o nível de interferências mútuas na rotina de trabalho de ambos. Por exemplo, o político vai tentar ao máximo conquistar espaços na mídia. Portanto, suas práticas serão voltadas para seduzir simbolicamente os profissionais de imprensa. É claro que há uma profissionalização agregada aos políticos no sentido de facilitar a cobertura midiática. Assessores de imprensa, relações públicas e profissionais do marketing político sabem como trabalhar nessa perspectiva. Os políticos elaboram suas agendas de olho na visibilidade pública que pode ser adquirida com a repercussão na mídia. Assim, além do planejamento

estratégico da rotina de trabalho, a agenda é alterada para atender pedidos solicitados pela imprensa. Compromissos importantes serão adiados para ceder espaços para entrevistas. Oportunidades de exposição positiva na mídia raramente são desperdiçadas. Por sua vez, os jornalistas, também dependem dos políticos como fontes informativas para ocupar seus espaços. Uma boa fonte goza de credibilidade junto ao meio. Os profissionais de imprensa tentam impor sua agenda aos políticos, que adaptam seus horários para atender as demandas da mídia. Ao mesmo tempo, os espaços ocupados pelo político na mídia agregam valor (ou não) ao seu desempenho, conquistando simpatias não somente entre os eleitores, mas também no seu raio de atuação política, até mesmo entre seus pares.

É uma relação de troca, mas nem sempre funciona numa postura equânime. O jornalista tem o poder de seleção de informações, adequação das mensagens, dimensão de espaço, enfim, tem o privilégio de proceder tratamento final à matéria-prima recebida do político ou de sua assessoria. Estes devem se adequar aos rituais de produção jornalística, moldando discursos, suas rotinas de trabalho, enfim, incorporando as regras midiáticas na sua conduta, visando conquistar e manter espaços de visibilidade pública.

Portanto, há um compartilhamento de agenda, mas cujo poder maior de ordenamento de horários, espaços e formatos cabe aos jornalistas. O governo e sua assessoria passam a incorporar na sua rotina o modo de produção da mídia, adequando aparições públicas nos períodos de maior chance de visibilidade, quando os holofotes da mídia estejam disponíveis para registrar os acontecimentos, preferencialmente em que as chances de aparecer ao vivo na televisão sejam potencializadas.

Há relações de troca entre jornalistas e suas fontes dentro do Executivo. Porém muitos cientistas políticos ignoram essa tendência. O pesquisador americano Timoty Cook (1997, p.11), expõe autores que negligenciam o poder da mídia, como o estudo pioneiro de John Kingdon's sobre o processo de agenda, deixando de fora o ator chave: a mídia. Ele chega a falar no efeito independente da mídia na agenda governamental, colocando nela o mesmo peso dos demais atores políticos. Cook (1997, p.12) vai argumentar no sentido inverso, demonstrando que funcionários e jornalistas têm relativa importância e controle, por meio da dualidade da notícia que é importante e interessante para ambos. Políticos ditam condições e regras de acesso e designam eventos e assuntos tão importantes para prover a arena deles. Jornalistas, por sua vez, decidem que alguma coisa é interessante suficiente para cobrir, o contexto e qual lugar para colocar isso, e a proeminência dos recebedores das histórias.

O autor (1997, p. 13) cita o exemplo de uma pesquisa realizada no Congresso, onde ele constatou que a agenda política não é composta pela mídia sozinha, nem pelos membros

sozinhos, mas pelos dois lados, que trabalham juntos ou em competição Ele argumenta que as preferências da mídia dão forma na agenda do Congresso. Ao mesmo tempo tentam fazer grandes histórias atendendo o que dizem e fazem influentes políticos da casa. Isso reforça a tese que estamos defendendo, de que governo e mídia partilham a definição da agenda política, ora em parceria, ora em confronto, mas ambos exercem poder recíproco no estabelecimento das prioridades nacionais.

Rodrigues (2002, p.106), diz que setores da opinião pública estão aprendendo a agendar os media15. "Uma análise da rotina jornalística mostra que a própria característica do

trabalho jornalístico (como a busca da imparcialidade e a escassez do tempo) contribui para que os media transmitam o pensamento da classe dominante, ainda que nem estejam a seu serviço (apud Stuart Hall e outros). Adiante complementa: "como os meios de comunicação interferem no imaginário social, a relação simbiótica com a política e o agendamento que a mídia impressa faz no Congresso Nacional trazem implicações na formação do imaginário político da sociedade" (p.107). A autora demonstrou como a mídia pautou o Parlamento. Nossa pesquisa demonstrará como ela também pauta o Executivo.

A autora (2002, p. 108) fundamenta sua pesquisa na teoria da agenda-setting, onde ela traduz como "o modelo que estuda a possibilidade de os media determinarem a agenda do público por meio do que destacam como prioridade". Segundo a autora, os pesquisadores (McCombs e Shaw, 1977) constataram que os políticos, uma vez cônscios do poder de agendamento dos media, procuravam tirar vantagem disso, criando situações para atrair a atenção da imprensa. Ainda sobre a teoria da agenda-setting, a autora conclui que o modelo sugere uma forte possibilidade de ocorrer agendamento de fatos e ações de parlamentares no Congresso Nacional. "A grande importância do agenda-setting está em mostrar a indubitabilidade da capacidade dos media em agendar temas" (p. 110-111).

Neste estudo de Malena Rodrigues, se encontra resultados ilustrativos da hipótese de agendamento. Um exemplo dessa tentativa de influenciar a cobertura da mídia é quando diz (2002, p.109) que "um dos assessores de imprensa do PT no Congresso, afirma que o informativo do partido tenta pautar a imprensa, selecionando o que nela pode provocar 'eco". Um deputado do mesmo partido também diz que é preciso criar fato para conseguir espaço na

15 Um exemplo é relatado Szpacenkopf (2003, p.185)). A autora narra um episódio onde a Rede Globo foi

chamada para resolver um conflito entre o supermercado Makro e a população, diante da falta de mercadorias anunciadas (aparelhos de TV). Ela diz que as pessoas “apresentavam suas queixas como se estivessem diante de autoridades competentes que resolveriam o problema e defenderiam seus direitos”. Fala ainda que a proximidade e a familiaridade com que o público se dirigia aos repórteres, por esses já serem conhecidos na tela, estava delegado à tv Globo o poder de representar e defender os interesses do público. Fala ainda que a equipe de reportagem foi saudada como autoridades, recebendo aplausos dos populares.

imprensa, "porque é um poder alternativo". Na verdade, criar meta-acontecimentos é o que se espera dos assessores de imprensa dos parlamentares.

Os diversos informativos, não somente do Partido dos Trabalhadores, mas do próprio governo, cumprem essa função de fornecer notícias, tanto aos quadros do partido, como aos demais formadores de opinião, entre eles os jornalistas. Também estaremos refletindo sobre esses veículos de comunicação governamental no decorrer do trabalho.

A autora demonstra o papel das assessorias de imprensa nessa relação, onde os parlamentares buscam assessoramento no relacionamento com a mídia. Cita uma entrevista com um assessor que diz que o deputado com quem ele trabalha passou a ter a imagem de articulador do Congresso graças à imprensa. Um outro parlamentar por ele assessorado, diz que aproveitou uma notícia veiculada no Jornal Nacional para valorizar seu chefe. Cultivar confiança, manter contato permanente com os repórteres, acompanhar a imprensa diária para ver se tem alguma brecha de inserção do político no palco midiático é a receita de quem trabalha na área: "a tendência é especializar o político em alguma questão de interesse midiático" (p.113).

Enfim, após esses exemplos, é oportuno conhecer o que dizem os dados empíricos coletados pela pesquisadora, para demonstrar como ocorre o agendamento do Congresso. Na pesquisa realizada durante dois meses com alguns principais jornais do país, Rodrigues (2002, p. 114) conclui que: 1) a imprensa agenda temas para os parlamentares via assessoria de imprensa, uma vez que os assessores estão preocupados em inserir seus parlamentares na mídia; 2) A imprensa possui uma relação de proximidade com parlamentares, o que favorece uma influência mútua entre as agendas política e mediática; 3) A imprensa agenda temas para discursos de parlamentares e requerimentos de informação. A autora cita algumas estatísticas, comparando os pronunciamentos dos parlamentares com os quatro jornais utilizados em seu estudo: verificou que 38,94% de todos eles coincidiam com matérias de imprensa, mesmo sem citá-las explicitamente, o que só ocorreu em 26,52% (p. 115). Outro dado interessante é que 9,59% dos pronunciamentos mensais na Câmara dos Deputados pediam transcrição, faziam referência ou leitura de materiais veiculados pela imprensa (a media em um semestre em 1996 foi de 8,33%). No Senado a média semestral naquele ano foi de 14,18% (p. 114); 4) A imprensa agenda temas para discussão em comissões e é capaz de incitar a criação de uma comissão temporária (p. 115)16; 5) A imprensa influencia a ação parlamentar, mudando muitas

16 Nessa particularidade, acrescentamos que há casos excepcionais no Parlamento a abertura de CPIs para

averiguar denúncias veiculadas na mídia. Não faltam exemplos no decorrer do governo Lula na apuração de denúncias e escândalos políticos, que serão focados no capítulo cinco.

vezes seu rumo (p. 116). Durante a pesquisa os jornais Folha de São Paulo e Jornal do Brasil publicaram pesquisas indicando a impopularidade do governo. Por causa disso foram agendadas várias reuniões no congresso. Ministros pronunciaram-se. O governo arranjou números para contra-atacar e o presidente tentou arrumar culpados (p. 116)17; 6) A imprensa é

capaz de colocar em agenda temas latentes (p.117); 7) A imprensa é tida como fonte de poder e influência por parlamentares e assessores de imprensa. Em uma pesquisa com 50 parlamentares (metade deputados e metade senadores) e com 50 assessores de imprensa (agosto/96), 84% responderam sim à pergunta "você acha que a imprensa agenda muitas coisas que acontecem no Congresso Nacional?" (p. 117).

Esses números são dados empíricos relevantes para afirmar o potencial de agendamento da mídia sobre a política, demonstrando não somente como os políticos são influenciados pelo jornalismo, mas também como eles tentam influenciar o noticiário para tirar proveito pessoal. Visto de outra forma, é um processo de mútuo agendamento que ilustra a centralidade da mídia na política: ela medeia boa parte do jogo político, recebendo e processando informações que terão desdobramentos práticos na rotina do Parlamento e do Executivo.

Finalizando, a autora acrescenta que a imprensa agenda componentes na atividade parlamentar em seis instâncias: tematização, desvendamento da denúncia, representação da opinião pública; espaço de negociação de recados; ampliação do espaço polêmico; oportunidade de visibilidade e notoriedade (p. 118). Outra constatação parte daquilo que Shaw e McCombs já haviam observado em suas pesquisas sobre agenda-setting: os políticos criaram situações para chamar a atenção da imprensa e tentam fazer parte da agenda mediática pela seleção de prioridades que também são eleitas pela imprensa (p. 118-119).

O estudo de Rodrigues no Congresso Nacional foi fundamentado em uma pesquisa anteriormente desenvolvida por Timothy Cook no parlamento dos Estados Unidos. Cook (1997, p.13), por sua vez, constatou que a agenda política não é composta pela mídia sozinha, nem pelos membros do governo, mas pelos dois lados, que trabalham juntos ou em competição. Ele argumenta que as preferências da mídia dão forma na agenda do Congresso. Ao mesmo tempo tentam fazer grandes histórias atendendo o que dizem e fazem influentes políticos da casa. Isto reforça a tese que estamos defendendo, de que governo e mídia interagem na definição da agenda política, ora em parceria, ora em confronto, mas ambos exercem poder, nem sempre recíproco, no mapeamento das prioridades nacionais. Isso não

17 Esse mesmo tipo de relação pode ter acontecido na votação da reforma da Previdência, quando parlamentares

elimina a interferência de outros atores nesse processo de definição da agenda política. Mas é pertinente perceber que em determinadas situações mídia e governo tornam-se os principais agentes no processo de formulação da agenda política.

O autor americano é novamente referenciado por Rodrigues (2002, p. 119), quando afirma que as relações interpessoais entre políticos e imprensa, realmente propicia o agendamento. Essa constatação de Timothy Cook foi observada no Congresso americano, onde ele conclui que "fazer notícias se tornou um processo de fazer leis" (idem). Dessa afirmação, observo que no Brasil, a dificuldade do Congresso em fazer leis que contrariam os interesses corporativos da mídia, até porque, boa parte dos parlamentares controla direta e indiretamente os meios de comunicação ou dependem deles nos seus projetos políticos e eleitorais. Além disso, a necessidade de visibilidade na mídia gera constrangimentos aos políticos que defendem propostas divergentes às posições majoritárias em destaque na imprensa nacional.

Voltando à questão da agenda, Rodrigues (2002, p.119), observa que ao determinar o que receberá atenção, seja na sociedade em geral ou dentro do próprio mundo político, os medias acabam interferindo na agenda política. As agendas se influenciam mutuamente. "Foi observada a influência da agenda política sobre a midiática, quando os parlamentares criaram situações para garantir espaço. Mas como foi mencionado, não há equilíbrio entre as agendas e os parlamentares sentem-se pressionados pela imprensa. Como diz Cook (apud Rodrigues, 2002, p.120): "é influência indireta, porque a imprensa molda a opinião pública que acaba pressionando os parlamentares".

A autora (idem) vai além, dizendo que se considerarmos que muitas vezes a agenda política influencia a mediática, isso acontece porque foi criado um acontecimento mediático. Constata-se que nessas ocasiões, no fundo, a criação da agenda é originária do campo midiático. Mais uma vez apóia-se em Cook, quando diz que os líderes políticos no congresso americano usam a mídia para determinar a agenda política.

Por outro lado, a mídia acaba assumindo um papel em nome da população, colocando- se como porta-voz da sociedade. Isso ocorre em função da passividade de grande parte dos indivíduos diante da política, bem como reflete alguns limites da democracia representativa. Rodrigues (2002, p.122) também aborda essa questão: "como a grande maioria da população fica à margem do processo representativo, (Moisés, 1995), esse espaço vazio é ocupado pela imprensa, que passa a ter o papel de intermediação entre a sociedade civil e políticos, como admitem os próprios parlamentares".

Nessa citação cabem duas observações: referimos no capítulo um, a partir de Miguel (2002), que Moisés (citado pela autora) negligencia o papel da mídia na democracia brasileira. Segundo, a mídia ao exercer esse papel representativo da sociedade está assumindo o papel dos próprios políticos, atuando como partido ou instituição política. Esta sobreposição de tarefas comentou-se anteriormente. Mas vale a pena lembrar que Cook (1997) questiona quem elegeu os jornalistas para essa função, pois ele alerta que os jornalistas assumem papéis dos políticos, atuando como instituição política.

Enfim, retornando à questão da agenda, Rodrigues (2002, p.123) reflete essa relação entre parlamento, mídia e população: "quando tenta agendar os media, a classe política crê estar agendando a opinião pública. Para a sociedade civil, a imprensa acaba sendo a esperança de ter sua voz no legislativo". A autora mais uma vez apóia-se em Cook, que diz que agindo dessa forma a imprensa acaba atrapalhando. Transcreve uma citação onde ele diz que agindo assim os media serão guardiões imperfeitos da democracia representativa. Disso pergunto: será que o povo prefere delegar alguns poderes à mídia em vez da classe política? É uma questão que permanece em discussão no decorrer da pesquisa.

Essas análises sobre o Parlamento demonstram vários níveis de interferência da imprensa sobre o Congresso e vice-versa. Estaremos também investigando essa relação junto ao Executivo, a partir da dinâmica estabelecida entre o governo Lula e a mídia. De qualquer forma, o Congresso também voltará à tona, quando analisarmos o período de votação da reforma da Previdência no capítulo seis.

Enfim, o agendamento sobre a política ecoa em vários autores. Esteves (2003) fala da capacidade dos media intervirem nos processos de comunicação pública, caracterizada, de acordo com a terminologia específica fixada pela pesquisa nesta área, como o poder de agenda-setting dos media. Portanto, tenta formular uma avaliação do significado político do agenda-settting como mecanismo de regulação das discussões públicas, "decisivo nos nossos dias" (Esteves, 2003, p.48). Suaviza o impacto do agenda-setting dizendo que não delimita todo o vasto conjunto de possibilidades de exercício de um poder de condicionamento da comunicação pública por parte dos media, mas destaca em particular um dos mecanismos prioritários do exercício desse poder: ao nível da comunicação política com caráter mais explicito e sob a forma geral de discurso jornalístico. “Consiste, portanto, num mecanismo específico de intervenção dos chamados media noticiosos ao nível dos discursos públicos” (Idem, p.48). A operacionalidade é aqui equacionada pensando, desde logo, nos constrangimentos temporais que se colocam a qualquer processo de tomada de decisão e também, nos constrangimentos de ordem cognitiva (Esteves, 2003).

Para Esteves (2003), o problema prático na construção das agendas em nossos dias, tendo em conta o papel aí cabe aos media, não é propriamente o referido, isto é, uma abertura excessiva de agendas (assuntos e posições), mas exatamente o contrário, o do seu fechamento (p. 49). Esse fechamento das agendas é sintomático de um acesso diferenciado ao espaço público, neste caso por via dos media, e resulta, objetivamente, de uma situação genérica de desigualdade de recursos entre os participantes (idem). Segundo Esteves, isso de dá justamente pelas diferenças de oportunidades de acesso aos media, de um lado grandes empresas e partidos políticos instalados e de outros indivíduos e novas organizações sociais enquanto atores coletivos (p. 49). O autor vai além, dizendo que "a agenda dos media, e consequentemente a agenda pública - por ação do mecanismo de agenda-setting - não podem deixar de refletir essa injustiça na distribuição dos recursos de captação da atenção do público; e, por esse motivo, a necessidade de uma certa regulação no discurso político impõem-se cada vez mais como indispensável" (p. 49). Propõe medidas para garantir a equidade na justa distribuição dos recursos, tais como, gratuidade para transmissões televisivas, proibição de publicidade política paga, entre outras medidas para reduzir as desigualdades comunicacionais.

Miguel18 (2001, p. 9) por sua vez destaca que a influência dos meios de comunicação é

particularmente sensível num momento crucial do jogo político, que é a definição de agenda:

A pauta de questões relevantes, postas para a deliberação pública, é em grande parte condicionada pela visibilidade de cada questão na mídia. Dito de outra maneira, ela possui a capacidade de formular as preocupações públicas. O impacto da definição de agenda pelos meios é perceptível não apenas no cidadão comum, que tende a entender como mais importantes as questões destacadas pelos meios de comunicação, mas também no comportamento de líderes políticos e de funcionários públicos,que se vêem na obrigação de dar uma resposta àquelas questões.

Essa capacidade de interferir na agenda política, o autor atribui justamente pela sua ação de enquadramento dos fatos políticos, descrita por Miguel (2001): "Cumpre observar que a mídia não se limita à definição de agenda, no sentido de apresentação “neutra” de um elenco de assuntos, como por vezes transparece nos trabalhos pioneiros sobre o tema". Para o autor, a idéia de definição de agenda será complementada pela noção de “enquadramento” (framing): a mídia fornece os esquemas narrativos que permitem interpretar os acontecimentos; e privilegia alguns destes esquemas, em detrimento de outros.

18 No artigo "Influência e resistência: em busca de um modelo complexo da relação mídia/política", disponível

Esse fenômeno é que explica a centralidade da mídia na política, como complementa a seguir (ibidem): "O controle sobre a agenda e sobre a visibilidade dos diversos enquadramentos alicerça a centralidade dos meios de comunicação no processo político contemporâneo". Para Miguel, tal fato não passa desapercebido dos agentes políticos que