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CAPÍTULO I: A CENTRALIDADE DA MÍDIA NA POLÍTICA: MÚLTIPLOS

3.4 Políticas de comunicação no governo Lula

A proposta neste momento é refletir sobre algumas políticas de comunicação no decorrer do governo Lula, visando extrair delas alguns posicionamentos em relação às organizações de mídia no país e sobre a concentração de propriedade no setor, como detalhamos anteriormente. Portanto, não será um estudo exaustivo das políticas setoriais do mandato - tema que de fato não é objeto desta pesquisa. Trata-se apenas de trazer alguns elementos que permitam visualizar o relacionamento político do governo com as empresas de mídia, desprezando os aspectos técnicos que também envolvem a dinâmica do setor.

Na campanha presidencial Lula demonstrou ainda que não faria grandes transformações na política de comunicação no país. Apesar de vários pesquisadores e colaboradores do PT encaminharem propostas para o programa de governo, o tema da comunicação não apareceu entre os projetos apresentados para a sociedade na eleição de

2002. Na campanha eleitoral daquele ano, foram aprovadas, no encontro nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), propostas de um programa para a comunicação social como plano de governo para a área. Eram conteúdos elaborados pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), encaminhados através do documento "Por uma Política Pública de Comunicação Social". Entretanto, não foram incorporadas ao programa de campanha e tampouco assimiladas quando o PT assumiu o Planalto. Foi o primeiro indício, na avaliação do Fórum82, de que o governo não tinha a intenção de produzir políticas públicas na área da

comunicação. A ênfase na comunicação foi citada de uma forma fragmentada nas propostas culturais ou de infra-estrutura do Estado, sem entrar nas questões polêmicas que historicamente marcam o setor.

Um fato curioso durante a campanha presidencial foi que a Rede Globo tornou público seu endividamento às vésperas do segundo turno da eleição83. Alguns analistas consideram

que isto seria uma estratégia de intimidação do novo governo. Com o primeiro escalão empossado a partir de janeiro de 2003, lideranças de governo afirmaram que a crise financeira da Rede Globo seria um problema de Estado84. Miro Teixeira, então Ministro das

Comunicações, admitia publicamente que era amigo de Roberto Marinho. O assunto rendeu muitas especulações nos primeiros meses do mandato85, até o governo anunciar, em março de

2004, um crédito de R$ 4 bilhões86 em recursos do BNDES para o socorro financeiro das

81 Segundo o Boletim Eletrônico Prometheus, do Instituto de Projetos em Comunicação e Cultura, 10/08/2006. 82 No Boletim semanal de divulgação do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, e-Fórum nº 108

– Ambigüidade caracteriza atuação do governo Lula nas comunicações (07/07/2006).

83Um minucioso detalhamento da crise financeira da mídia, especialmente da Rede Globo, encontra-se em

Aguiar (2006).

84 O ministro José Dirceu, da Casa Civil, declarou à imprensa que salvar a Globo era uma questão de "segurança

nacional". O Ministro Luiz Gushiken, da Secom, disse na Folha de Sào Paulo (11/05/03, p A9) que a Globo, sendo uma das mais importantes e eficientes organizações de comunicação do mundo, 'é uma questão decisiva para o país e o governo deve pensar nela".

85 Em nota oficial divulgada na imprensa em 29/9/03, a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação

Nacional de Editores de Revistas (ANER) e Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) anunciaram que irão apresentar ao BNDES "uma proposta de política de financiamento para as empresas da indústria de comunicação social". A proposta foi apresentada ao banco no dia 28/10/03, quando as entidades divulgaram o seguinte comunicado à imprensa: " Em reunião realizada, a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), a ANJ (Associação Nacional de Jornais) e a ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas) apresentaram ao BNDES os estudos sobre o Setor de Comunicação no Brasil elaborados por consultoria especializada". (segundo informações das reportagens da Folha de São Paulo e Valor Econômico, reproduzidas dia 29/10/03 no Clipping FNDC).

85 Inicialmente falou-se em valores de um a dois bilhões de reais (Sônia Mossri - boletim Congresso na Tela ,

clipping FNDC 09/01/04). Mais tarde a cifra já estava em torno de R$ 4 bilhões.

86 No dia 19/03/04, o BNDES anunciou um crédito de R$ 700 milhões para importação de papel para a imprensa.

Informações das reportagens BNDES pretende financiar papel imprensa, 19/3/2004, 20h02; Daniele Madureira - MMOnline; BNDES abre linha de crédito para importação de papel de imprensa 22/3/2004, Edna Simão - Gazeta Mercantil. Já no dia 25/03/04, várias reportagens sinalizavam o crédito de R$ 4 bilhões: BNDES destina R$ 4 bilhões à mídia José Ramos. O Estado de São Paulo; BNDES vai criar linha de R$ 4 bi para setor de mídia, Jornal do Brasil; BNDES refinanciará dívidas, mas cobrará mais por isso, 24/03/2004, 16h50, PAY-TV News. BNDES prevê até R$ 4 bi para mídia, Gustavo Patu, - Folha de São

empresas de comunicação (conhecido como o Proer da mídia), com dívidas 'estimadas em R$ 10 bilhões87. Os recursos anunciados pelo banco poderiam ser majoritariamente dirigidos para

a Rede Globo, cujo endividamento estava em R$ 6 bilhões88. O assunto rendeu

descontentamentos de vários empresários da comunicação, que protestavam publicamente89

através de reportagens90 e editoriais, o privilegio que o governo concederia a um grupo

monopolista de comunicação. A polêmica fez algumas emissoras de televisão romper com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, Abert, alegando que a entidade estaria sendo controlada pela Rede Globo91. Assim criaram uma entidade paralela92 para ter

Paulo. Na reportagem Bancos farão o repasse de recursos do BNDES às empresas de mídia diz que o vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Darc Costa, em audiência pública na Comissão de Educação do Senado, afirmou que o BNDES só atuará por intermédio de agentes financeiros. "Não haverá operação direta do BNDES com grupo empresarial algum", afirmou. Segundo Darc Costa, a dívida do setor de mídia atualmente está próxima de R$ 10 bilhões, mas a linha de apoio do BNDES não ultrapassará R$ 4 bilhões. "Teremos três vieses de atuação: investimento, para o desenvolvimento da televisão digital no país; compra de papel de imprensa, já que as linhas de financiamento anteriores foram erodidas em 2002 e reestruturação financeira, para a recomposição dos grandes grupos empresariais nos meios televisivos e na grande mídia impressa", disse. César Felício. Valor Econômico, 25/03/04 (clipping FNDC).

87Segundo a reportagem Mídia nacional acumula dívida de R$ 10 bilhões, empresas de mídia brasileiras,

entre elas as de TV, acumulam dívidas de R$ 10 bilhões e vivem uma das mais graves crises da história recente. Levantamento publicado pela Folha em 15 de fevereiro mostrou que a Globopar -holding das organizações Globo- tem dívida equivalente a cerca de R$ 5,6 bilhões. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estuda um pedido de socorro financeiro feito por algumas das instituições. Laura Matos, Folha de São Paulo, São Paulo, 21/3/2004.

88O setor, de acordo com levantamento preliminar do banco, acumula dívida de R$ 10 bilhões, dos quais R$ 6

bilhões são das organizações Globo, o que provocou polêmica entre os participantes do debate, ontem, na Comissão de Educação do Senado. Segundo a reportagem BNDES destina R$ 4 bilhões à mídia, 25/3/2004, José Ramos. O Estado de São Paulo

89 Um dos protestos mais veementes partiu do empresário e jornalista Octavio Frias de Oliveira, há mais de 40

anos à frente da Folha de S. Paulo. Aos 91 anos, é o único dos históricos donos de jornais em atuação no país. Sobre a operação de socorro financeiro criada pelo governo para sanear as empresas de comunicação com dinheiro do BNDES, Frias disse que é contra. Segundo ele, o chamado Promídia – analogia com o Proer, o programa de socorro aos bancos feito no primeira mandato do presidente Fernando Henrique – é uma estratégia do Palácio do Planalto para comprometer os veículos. "O governo quer a mídia de joelhos", afirmou o dono da Folha. Na reportagem "O governo quer a mídia de joelhos", de Jorge Felix, Publicado originalmente no AOL Notícias, em 21/10/03, em <http://noticias.aol.com.br/brasil/ fornecedores/aol/2003/10/21/0004.adp> Acessado em 21/01/2006.

90 A Rede Record, empresa que mais criticou o beneficiamento da Rede Globo, exibiu um programa especial

sobre o socorro financeiro do BNDES à mídia dia 1º/04/04. Foi uma edição do programa "Reporter Record". Segundo comunicado da emissora, trata-se de "um absurdo anunciado: o uso do dinheiro público para socorrer uma das mais poderosas empresas de comunicação do Brasil", referindo-se, evidentemente, à Globo. (TELA VIVA News, 31/03/04). Também repercutiu dia 01/04/04: Condenação, Belisa Ribeiro - Jornal do Brasil; Bingo, Folha de São Paulo (clipping FNDC). O BNDES entrou com pedido de resposta à emissora. "Em ofício, o banco exige que a Record lhe dê cerca de uma hora para que exponha a sua versão do projeto de socorro financeiro à mídia, de R$ 4 bilhões, atacado na última quinta-feira no programa "Repórter Record". No programa, a Record apresentou o BNDES como "o ralo do dinheiro público". A emissora criticou o empréstimo do BNDES como uma forma de "salvar" o grupo Globo, endividado". BNDES pede direito de resposta à Record, Daniel Castro - Folha de São Paulo, 6/4/2004.

91 Segundo a reportagem Rede TV, SBT e Record rejeitam ajuda para pagar dívidas, há uma profunda

divergência sobre em que condições essa ajuda deve ser dada. SBT, Record e Rede TV, que participaram da audiência pública, se colocaram de um lado. Globo e Bandeirantes de outro. As três empresas fazem acusações pesadas, sobretudo contra a Globo. PAY-TV News, 24/03/2004. Na reportagem Emissoras de TV divergem sobre uso de recursos (Folha de São Paulo, 25/3/2004) demonstra que de um lado, Record, SBT e

um espaço independente de interlocução com o governo93, principalmente na tramitação do

projeto da Agência Nacional do Audiovisual (ANCINAV), conforme veremos no capítulo cinco.

Com a polêmica gerada em torno do financiamento do BNDES94, além das

contrapartidas exigidas pelo banco na liberação dos recursos, tratamento diferente dado pelo banco à Globo Cabo (atual Net Serviços)95, em 2002, fez com que as empresas de

comunicação desistissem do dinheiro público96. De fato também houve pressão de outros

setores empresariais que também necessitavam de verbas públicas, com endividamento maior que os setores da mídia, como o caso das empresas de aviação. Grupos minoritários de comunicação também pressionaram o governo, para que as verbas também atingissem grupos regionais de mídia. O Fórum Nacional de Democratização da Comunicação, FNDC, encaminhou (09/12/2003) uma "carta aberta" ao presidente Lula, com o título "Crise da mídia é assunto da sociedade" onde mais de 20 entidades exigiam critérios transparentes e contrapartidas sociais na negociação com as empresas de mídia. Parlamentares também se manifestaram, exigindo que a matéria tramitasse pelo Legislativo97. No mês seguinte ao

Rede TV! criticaram o uso dos recursos para o pagamento de dívidas anteriores, argumentando que novos investimentos deveriam ser privilegiados. Já a Globo e a Bandeirantes -com o apoio do vice-presidente do BNDES, Darc Costa- discordaram. O presidente do SBT, Luiz Sandoval, foi incisivo ao vincular a operação aos interesses das Organizações Globo: "O que se quer é arrumar um jeito de solucionar uma grande dívida de uma outra empresa pertencente à Globo, a Globo Cabo, da qual o BNDES, estranhamente, é acionista", disse. (clipping FNDC).

92 No ano eleitoral de 2002 haveria um racha na direção da ABERT, tida como braço da Globo, com a criação

pelas redes Bandeirantes, SBT e Record de um novo pivô ideológico empresarial do setor de radiodifusão, chamado de União de Redes e Emissoras de Televisão (UneTV), motivado justamente pela aprovação da emenda de entrada de capital externo nas comunicações (Aguiar, 2006, p.94). Posteriormente com o "Proer da mídia" e o projeto da Ancinav, outras emissoras aderiram a nova entidade que passou a denominar-se Associação Brasileira de Radiodifusores (ABRA), fundada em 31/05/2005.

93 O projeto do Ministério da Cultura de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav)

conseguiu unir as desunidas SBT, Record, Band e Rede TV!, que lançam este mês uma nova associação de emissoras de TV. Essas redes romperam com a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV (Abert), a qual acusam de privilegiar os interesses da Globo. A nova associação, já definiu sua primeira batalha: lutar contra o anteprojeto de lei que cria a Ancinav, atualmente em consulta pública no MinC. (TVs se unem contra Ancinav, 6/9/2004, Agência Folha - Jornal do Brasil).

94 O presidente do BNDES, Carlos Lessa, transferiu a decisão para o Congresso: Linha de financiamento só sairá

com o aval do Legislativo, afirma Lessa(Congresso decidirá ajuda à mídia, Folha de São Paulo,29/4/2004)

95Mídia quer rolar sua dívida. Setor exige do banco oficial o mesmo tratamento dado ao grupo Globo, por

conta da NET, quando o BNDES entrou com 22,1% das ações da empresa. O Tribunal de Contas da União questionou a transação. (31/4/2004, Samuel Possebon - PAY-TV , clipping FNDC). Meses depois o banco estatal diminui participação na sociedade da Net, operadora de TV a cabo das Organizações Globo em 0,5%. Empresa da família Marinho deve renegociar endividamentos de R$ 1,3 bilhão em junho.( BNDES "devolve" ações da Net à Globo por crédito de R$307 mi, 28/5/2004, Maurício Hashizume - Agência Carta Maior ).

96 Uma das primeiras empresas a se manifestar foi a Rede Globo. Os benefícios da operação não compensam o

custo político e o desgaste que uma eventual ajuda do banco estatal trariam à Globo. "Custo político e desgaste afastam Globo do BNDES" (Rubens Glasberg - TELA VIVA News ,05/04/2004).

97 Segundo reportagem do jornal Meio & Mensagem: 'Proposta da mídia vai ser discutida no Congresso'

manifesto, integrantes do Fórum se reuniram com membros da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica do governo, para discutir a crise da mídia e propor uma política pública de comunicação para o país98.

Com o desgaste da proposta de financiamento fez o BNDES desistir de criar um programa específico para financiar o setor de comunicação. O vice-presidente da instituição, Darc Costa, diz que diante do desinteresse por essa linha, manifestado pelas associações de jornais, revistas e televisão, o banco colocou à disposição do setor apenas suas políticas tradicionais de financiamento99. Outro agravante no período foi o fato do Tribunal de Contas

da União divulgar o relatório em 3 de março de 2004, praticamente na mesma época em que o BNDES liberava linha de crédito para o setor da comunicação até então excluído das linhas de financiamentos do banco, afirmando que a participação do banco estatal nos negócios das Organizações Globo foi péssimo para o governo (Aguiar, 2006, p.106). O banco teria participado com R$ 300 milhões na reestruturação da Net Serviços (Globo Cabo) ainda no mandato de Fernando Henrique Cardoso.

A polêmica sobre o financiamento da mídia também reacendeu o debate sobre a democratização dos meios de comunicação e a revisão da legislação. O professor e pesquisador de políticas de comunicação da Universidade de Brasília, Murilo César Ramos, é um dos mais antigos defensores da tese de que as comunicações brasileiras precisam dessa revisão completa e profunda em seu conjunto de regras. Em entrevista para a revista TelaViva, especializada no mercado de televisão, Ramos sintetizava o momento com uma expressão: "Grande oportunidade perdida". Para o pesquisador, no momento em que o governo debate um programa amplo de ajuda financeira ao setor de comunicações, deveria também aproveitar para colocar outros temas em pauta. Temas como a democratização do acesso aos meios de comunicação, o cumprimento dos princípios constitucionais de regionalização do conteúdo, valorização da programação de caráter informativo e cultural ou questões ainda mais antigas, já defendidas pelo PT em outros tempos, como concentração dos

do governo de ajuda à mídia teve um mérito, que foi o de trazer à luz um debate que até então estava sendo travado nos gabinetes. O BNDES garantiu aos senadores que vai encaminhar imediatamente uma cópia do projeto que está sendo desenhado pelo banco ao Senado, para conhecimento público. Mas a audiência serviu também para mostrar alguns pontos sutis da briga entre as empresas de comunicação e de suas estratégias. Informações da reportagem Audiência revela bastidores da briga entre os grupos de comunicação, 24/03/2004, 19h31, PAY-TV News

98 Segundo o informe do FNDC (16/01/04) "Secom quer discutir um projeto para a área das comunicações", a

Coordenação Executiva do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) foi recebida nesta quinta-feira, dia 15/1, pelo secretário-adjunto da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica (Secom), Marcus Flora. Na pauta, a crise da mídia e formas de Estado e sociedade desenvolverem uma política pública de comunicação social para o Brasil que abandone a lógica unilateral de favorecimento ao setor privado da mídia.

meios, mecanismos para tornar as relações empresariais do setor mais transparentes ou formas de acompanhamento público das atividades das empresas100.

Entre as medidas anunciadas pelo Ministro das Comunicações, Miro Teixeira, estava a promessa de que a partir de março de 2003, o mapa das concessões brasileiras de rádio e televisão estaria disponível na internet. Os dados somente foram divulgados em novembro do mesmo ano101. De fato uma medida para dar mais transparência ao setor, atendendo antiga

reivindicação dos agentes mobilizados pela democratização da comunicação do país. Porém os dados são pouco esclarecedores, pois são registrados pela razão social de empresas e em nome de presidentes e diretores, que dificultam uma consulta sobre a propriedade cruzada das empresas através da diversidade de atuação no mercado de comunicação. Pesquisadores criticam também a falta de atualização dos dados, que dificultam verificar quem são os proprietários dos veículos102.

O governo chegou a criar a expectativa de adoção de um padrão brasileiro de televisão digital, com a liberação R$ 50 milhões em recursos de pesquisa para a criação de um sistema nacional de digitalização103. Foi uma forma de inicialmente relutar ao lobby das empresas

nacionais e estrangeiras, que pressionavam pela adoção do sistema japonês (ISDB), europeu (DVB) ou americano (ATSC) de convergência tecnológica para a televisão. A decisão sobre a TV digital, a partir da gestão do ministro Hélio Costa, passou a se dar em função dos interesses das concessionárias de radiodifusão, ignorando as manifestações do Conselho Consultivo, com base apenas em premissas tecnológicas e sem se preocupar com a definição de uma política ou modelo de exploração. Algumas entidades criticaram o governo por não se preocupar com a democratização dos meios de comunicação no processo de estabelecimento de uma política de TV digital104. Também diziam que o governo ignora princípios

constitucionais de desconcentração, regionalização e incentivo à programação cultural e

100 Informações do artigo Dinheiro em terra de ninguém, de Samuel Possebon - Jornalista especializado em

comunicação das revistas Tela Viva e PAY-TV - Carta Capital, (14/4/2004, clipping FNDC).

101 Disponível a partir de 27/11/2003 no endereço www.mc.gov.br/ rtv/licitacao/acionistas.pdf. Acessado em

21/01;2006.

102 Tratam-se de um consenso entre Venício de Lima e Elvira Lobato, durante debate no programa Observatório

da Imprensa, exibido pela TVE e TV Cultura dia 10/01/06 (reapresentação de programa exibido em agosto de 2005).

103São 60 pesquisadores envolvidos em 22 projetos para desenvolvimento do padrão digital brasileiro de

televisão, financiados pelo CNPq (Carmem Lucia Nery - Telecom Online, 24/03/2005). Os Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e das Comunicações divulgaram, ontem, o edital para chamada pública de instituições no âmbito do Sistema Brasileiro de Televisão Digital. O edital prevê investimentos de R$ 50 milhões do Funttel para projetos na área. Serão qualificadas apenas as instituições ligadas a ensino e pesquisa sem fins lucrativos, e o prazo para a apresentação terminará no dia 11 de junho. (Lançado edital para TV digital, 24/5/2004, Gazeta Mercantil).

informativa.105 Houve denúncias de que o governo estava cedendo ao lobby das emissoras de

TV comerciais (principalmente da Rede Globo) pelo padrão japonês106, que de fato se

consumou com o anúncio oficial no dia 29/06/06, de um modelo nipo-brasileiro de TV digital, permitindo a incorporação de tecnologias nacionais, porém atendendo o interesse dos empresários do setor.

Na área de televisão o governo criou a TV Brasil com o objetivo de promover a integração entre a América do Sul. Para sintonizar o canal o interessado deve ter uma antena parabólica e um receptor digital de satélite. As primeiras transmissões ocorreram durante o 5o. Fórum Social Mundial em Porto Alegre (janeiro/2005). É uma iniciativa conjunta entre a Radiobrás, a TV Senado, a TV Câmara e a TV Justiça.

As entidades ligadas à democratização da comunicação reclamam na demora do Ministério das Comunicações (Minicom) em julgar os pedidos de concessão para as rádios comunitárias107. São milhares de solicitações em tramitação no ministério108. Além disso,

esperavam do governo o encaminhamento ao Congresso de uma nova lei para as rádios comunitárias, reparando as restrições impostas pela lei no 9.612/98, principalmente no que