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AGENTES DE GERAÇÃO E CO-GERAÇÃO

No documento DE ENERGIA ELÉTRICA (páginas 141-145)

PARTE I – DISCIPLINA JURÍDICA DO SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

5 AGENTES DA CADEIA PRODUTIVA DE ENERGIA ELÉTRICA E PAPÉIS

5.1 AGENTES DE GERAÇÃO E CO-GERAÇÃO

5.1 AGENTES DE GERAÇÃO E CO-GERAÇÃO

O primeiro agente da cadeia produtiva de energia elétrica a ser apresentado, e o que comporta maior dinamicidade em sua forma em diferentes formas de atuar, constitui a atividade de geração.

A geração de energia elétrica situa-se na base da cadeia setorial. Embora tenha se convencionado a denominar tais agentes como “geradores”, em verdade, eles não geram energia, mas sim, de forma geral, transformam, ou realizam a conversão de uma “fonte primária de energia” na energia elétrica que será fornecida ao sistema. As diversas fontes primárias de energia diferenciam a denominação do tipo de energia produzida pelo agente gerador: hidráulica, térmica (exempli gratia gerada a partir de um combustível como carvão, gás, óleo, nuclear et coetera), ou de

fontes alternativas (exempli gratia solar, eólica, de biomassa etc.).289

A matriz energética brasileira é primordialmente hidrotérmica. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE)290, no ano de 2012, a oferta interna de energia elétrica por fonte esteve subdividida da seguinte forma: a) hidráulica:

76,9% do total291; biomassa: 6,8% do total292; eólica: 0,9% do total; gás natural: 7,9%

do total; derivados de petróleo: 3,3% do total; nuclear: 2,7% do total; carvão e derivados: 1,6% do total293.294

A Lei n.º 9.074/1995 estabeleceu figuras jurídicas distintas básicas para os agentes de geração, com regimes jurídicos próprios:

(i) Concessionários de serviço público de geração: agentes geradores, aos quais foi concedida a prestação de serviço público de geração.

(ii) Agentes autoprodutores: que produzem energia para consumo próprio, podendo comercializar de forma eventual e temporária os seus excedentes mediante autorização da ANEEL (cf. art. 1º, §3º do Decreto n.º 5.163/2004).

(iii) Produtores independentes de energia: definidos pelo art. 11 da Lei n.º 9.074/1995 como aqueles que produzem energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte da energia produzida, por sua conta e risco.

As duas primeiras figuras, o concessionário de serviço público de geração e o autoprodutor de energia, são formulações antigas dos marcos normativos do setor de eletricidade, advindos do próprio Código de Águas. Contudo, a Produção Independente de Energia foi introduzida mais recentemente, por intermédio da Lei

289 Tais segmentos subdividem-se em fontes renováveis (hidráulica, biomassa, eólica, solar, entre outras) e fontes não renováveis (gás, derivados de petróleo, nuclear, carvão etc.).

290 EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (BRASIL). Balanço Energético Nacional 2013:

Ano base 2012. Rio de Janeiro: EPE, 2013, p. 16.

291 Incluindo-se a importação de eletricidade.

292 Incluindo-se lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações.

293 Incluindo-se gás de coqueria.

294 A matriz energética brasileira, predominantemente hidráulica, é bem diversa da mundial, na qual prevalece a energia advinda de fontes térmicas. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no ano de 2008, as unidades de geração hidráulicas representavam aproximadamente 73,4% da produção de energia no Brasil, acompanhadas de 15,4% de produção térmica e 2,8% de produção nuclear (a importação de energia, incluindo a parte paraguaia de Itaipu representa outros 8,5%). No panorama mundial, o cenário é inverso com 68% da geração de energia sendo produzida por fontes térmicas, 13,8% por energia nuclear e 15,6% por fontes hídricas (outras fontes energéticas representam 8,5% da produção mundial). EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (BRASIL). Balanço Energético Nacional 2009: ano base 2008. Rio de Janeiro: EPE, 2009, p. 14-15.

n.º 9.074/1995, na tentativa de implementar um regime de mercado para segmentos da atividade de geração de energia elétrica.295

Cumpre ressaltar que o exercício das atividades de geração hidráulica, de acordo com o marco normativo implementado desde o Código de Águas, estabelece duas formas distintas de outorga. A primeira é relativa ao uso do aproveitamento energético do curso d’água (“potencial hidrelétrico” ou “potencial hidráulico”) considerado bem público, mediante autorização ou concessão, de acordo com o notadamente privada: “Esse terceiro regime [produção independente de energia] caracteriza-se como intermediário entre a concessão de serviço público, voltada ao atendimento do público em geral, e a autoprodução, voltada, basicamente, para o atendimento do próprio gerador. A produção independente envolve tanto a possibilidade de comercialização da energia produzida como seu autoconsumo. Com efeito, a legislação diz que o produtor independente é aquele que produz energia elétrica para consumo próprio ou para com comercialização, por sua conta e risco.” WALTENBERG, David A. M. O Direito da energia elétrica e a ANEEL. In: SUNDFELD, Carlos Ari. (org.) Direito administrativo econômico. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 360.

296 “Art. 5º. São objeto de concessão, mediante licitação:

I - o aproveitamento de potenciais hidráulicos de potência superior a 1.000 kW e a implantação de usinas termelétricas de potência superior a 5.000 kW, destinados a execução de serviço público;

II - o aproveitamento de potenciais hidráulicos de potência superior a 1.000 kW, destinados à produção independente de energia elétrica;

III - de uso de bem público, o aproveitamento de potenciais hidráulicos de potência superior a 10.000 kW, destinados ao uso exclusivo de autoprodutor, resguardado direito adquirido relativo às concessões existentes.

§ 1º. Nas licitações previstas neste e no artigo seguinte, o poder concedente deverá especificar as finalidades do aproveitamento ou da implantação das usinas.

§ 2º. Nenhum aproveitamento hidrelétrico poderá ser licitado sem a definição do 'aproveitamento ótimo' pelo poder concedente, podendo ser atribuída ao licitante vencedor a responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos básico e executivo.

§ 3º. Considera-se 'aproveitamento ótimo', todo potencial definido em sua concepção global pelo melhor eixo do barramento, arranjo físico geral, níveis d’água operativos, reservatório e potência, integrante da alternativa escolhida para divisão de quedas de uma bacia hidrográfica.

Art. 7º. São objeto de autorização:

I - a implantação de usinas termelétricas, de potência superior a 5.000 kW, destinada a uso exclusivo do autoprodutor;

II - o aproveitamento de potenciais hidráulicos, de potência superior a 1.000 kW e igual ou inferior a 10.000 kW, destinados a uso exclusivo do autoprodutor.

Parágrafo único. As usinas termelétricas referidas neste e nos arts. 5º e 6º não compreendem aquelas cuja fonte primária de energia é a nuclear.”

específica mediante autorização ou concessão (não há na atividade de geração a figura da permissão). Unidades de geração com potência muito reduzida estão dispensadas de ato de outorga do Poder Público, devendo este apenas ser comunicado de sua existência, conforme estabelece o artigo 8º da Lei n.º 9.074/1995 e art. 176, §3º da CF/1988.297

As usinas dos geradores hidráulicos classificam-se de acordo com o respectivo potencial de geração. Considerando tal critério, são Centrais Geradoras Hidrelétricas aquelas com potência de até 1.000 (mil) kW, reguladas pela Resolução ANEEL. Por sua vez, Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) são os empreendimentos hidrelétricos com potência superior a 1.000 (mil) kW e igual ou inferior a 30.000 (trinta mil) kW, com área total de reservatório igual ou inferior a três km², conforme dispõe o art. 2° da Resolução ANEEL n .° 394/1998). Finalmente, usinas hidrelétricas (UHE) são aquelas com potência superior e/ou áreas de reservatório superiores a tais montantes.

Nos termos do art. 14, do Decreto nº. 5.163/2004, considera-se geração distribuída a produção de energia elétrica advinda de empreendimentos de geração conectados diretamente ao sistema elétrico de distribuição do comprador. São consideradas exceções à geração distribuída as hidrelétricas, com capacidade instalada superior a 30 MW; e as termelétricas, inclusive cogeração, com eficiência energética inferior a 75% (não se aplicando tal limite a empreendimentos de biomassa ou resíduos). Dentre os empreendimentos de geração distribuída, existem aqueles recentemente denominados de microgeração e minigeração de eletricidade.

De acordo com a Resolução ANEEL n.° 482/2002, consi dera-se microgeração aquela menor ou igual a 100 kW e que utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada. Por sua vez, a minigeração decorre de superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW para fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada. Essas duas formas de produção de eletricidade não são passíveis de comercialização, a princípio, eis que a Resolução ANEEL n.° 482/2002 e stabelece tão somente um

297 CF/1988. “Art. 8º. O aproveitamento de potenciais hidráulicos, iguais ou inferiores a 1.000 kW, e a implantação de usinas termelétricas de potência igual ou inferior a 5.000 kW, estão dispensadas de concessão, permissão ou autorização, devendo apenas ser comunicados ao poder concedente.”

regime de compensação entre o mini ou microgerador com a distribuidora no qual está conectado. A energia elétrica pode ainda ser produzida por cogeração, que implica na produção simultânea e sequencial de duas ou mais utilidades, calor de processo e potência mecânica ou elétrica, a partir da energia disponibilizada por um combustível. Assim, a atividade de cogeração resulta em meio para se obter maior eficiência energética, e redução de impactos socioambientais de atividades industriais. Um exemplo comum desse tipo de produção deriva da geração de energia elétrica e energia térmica decorrente de processos de queima de gás natural ou biomassa. O Decreto n.° 5.163/2004 permite a com ercialização de tal energia no mercado, submetendo-se a diferentes regimes, de acordo com os montantes produzidos.

Devido à possibilidade – e conveniência – de dois ou mais agentes geradores atuarem num mesmo mercado em regime de competição, a geração representa um dos segmentos de maior relevância para a inserção da competição na cadeia produtiva de energia.

No documento DE ENERGIA ELÉTRICA (páginas 141-145)