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Parte II – Estudo da armaria dos bispos de Lamego

2. A Diocese de Lamego nos séculos XVI a XVII

2.1. D Agostinho Ribeiro

2.1.1. As armas do bispo no seu retrato como reitor da Universidade de Coimbra

Cónego secular da Congregação de São João Evangelista101 entre outros outros cargos que exerceu, desde cedo D. Agostinho Ribeiro102 tomou o caminho da devoção como destino. Com a morte prematura de seus pais e, sendo o mais velho de vários irmãos, ainda que de poucos anos, os dirigia mais com o exemplo, que com o império,

98SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa (coord.) – Espaço, Poder e Memória: A Catedral de Lamego, sécs. XII

a XX, p. 89.

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Ibidem, p. 82.

100 AZEVEDO, Joaquim D. – História eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, p. 11. 101

No mosteiro de S. Jorge de Recião, na diocese de Lamego. LARANJO, F. J. Cordeiro – Escudos de Armas dos Bispos de Lamego: (1492-1976), p. 117.

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excedendo aos outros no juízo e prudência103, como assinala encomiasticamente um dos

seus biógrafos. Foi-lhe conferido, pelo arcebispo de Braga D. Martinho de Portugal, o cargo de pároco da ilha do Corvo, nos Açores, missão sacerdotal que levou a cabo com

plena seriedade e empenhamento104.

Preocupado com a atitude da população, no que dizia respeito à instrução religiosa, D. Agostinho Ribeiro mostrou interesse junto do rei D. João III em continuar a proteger aquela paróquia. Constatando da sua preocupação, o monarca propôs ao arcebispo de Braga a nomeação de D. Agostinho Ribeiro a Bispo de Angra105 - o primeiro, dando, assim, expressão humana à criação de uma diocese no arquipélago.

Continuando como bispo daquela novel diocese, Agostinho Ribeiro regressou a Lisboa, de onde foi encaminhado para Coimbra como reitor da Universidade, em 1538. Dois anos depois, em 1540, foi transferido para a diocese de Lamego106, ocupando esta cátedra cumulativamente com o cargo de Inquisidor, apoiado por D. Manuel de Almada, pois se viu consumido com a velhice107. Em 1549, obteve a licença para se recolher ao mosteiro de S. João Evangelista de Xabregas, em Lisboa, deixando a Sé vaga. Faleceu em 1554, com 71 anos de idade, naquele mosteiro108.

O retrato que iremos avaliar expõe-se na Sala de Exame Privado ou Sala dos Reitores, na Universidade de Coimbra109. O retrato pode aqui desempenhar várias funções, perpetuando a memória física do retratado, ou sendo forma de agradecimento a

103 AZEVEDO, Joaquim D. – História eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, p. 73.

104 BRUNO, Jorge A. Paulus – Retratos dos Bispos de Angra. 475 Anos da Diocese de Angra, p. 13. 105

Foi-lhe conferido o título de primeiro bispo de Angra, com o sobrenome de “O Salvador”, pelo Papa Paulo III, a 3 de Novembro de 1534, com a bula Aequumreputamus. Ibidem, p. 13.

106Nomeado Bispo de Lamego, veio para esta cidade no ano de 1541 montado em uma mula que o Rei

lhe deu e D. Agostinho Ribeiro vendeu e deu o preço aos pobres, como tinha feito a outra que recebeu para vir de Lisboa a Coimbra, quando com a Universidade se veio estabelecer em Coimbra, o que fez dizer ao Rei, que quantas mulas vendesse D. Agostinho, outras tantas lhe havia de dar; que os pobres corriam por conta do Bispo D. Agostinho, e este Prelado corria por conta do Rei. AZEVEDO, Joaquim D. – História eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, p. 74.

107Ibidem, p. 75. 108

Como podemos averiguar nada existe sobre este mosteiro ou a sepultura de D. Agostinho Ribeiro, como resultado da destruição do espaço onde estaria tumulado, com a extinção das Ordens Religiosas Masculinas em Portugal, em 1834, com o Decreto da extinção das ordens religiosas, assinado por D. Pedro IV. BARATA, Paulo J. S. – Roubos, extravios e descaminhos nas livrarias conventuais portuguesas após a extinção das ordens religiosas: um quadro impressivo. Lisboa: Lusitania Sacra, 2ª Série, 2004, p. 321.

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uma personalidade. Como assinalada Leon Battista Albertia pintura permite tornar

presentes os ausentes e mesmo fazer com que pareçam estar vivos aqueles que há muito já morreram110. Isto é, o retrato principalmente dá-nos a conhecer o rosto de um ser

humano, de uma pessoa que pode ter vivido há centenas ou milhares de anos, impedindo- o assim de se fazer esquecer, preservando e valorizando a sua imagem e memória111.

O retrato de D. Agostinho Ribeiro surge posicionado como o quadro nº2 da Sala dos Reitores. O bispo apresenta-se a ¾ com o olhar fixo no observador, de corpo inteiro e de pé, com a mão direita sobre a mesa que se encontra por detrás e a mão esquerda sobre o abdómen, posição repetida na maior parte dos retratos, de resto tipificados. As vestes ostentadas pelo bispo, são as mesmas que as de D. Manuel de Meneses e D. João Coutinho, bispos que mereceram o nosso estudo, nesta dissertação. Por cima do retrato surge o nome do reitor que pertence a esta pintura, assim como o ano da tomada de posse da reitoria da universidade.

No canto superior direito encontrámos as armas do reitor D. Agostinho Ribeiro. De acordo com F. J. Cordeiro Laranjo, o escudo apresentado neste retrato foi o mesmo usado pela família do bispo112, não trazendo nada de novo, ao contrário do que podemos observar noutros casos desta dissertação. Assim o escudo apresenta-se esquartelado: o

primeiro e o quarto, de ouro, três palas de vermelho; o segundo e o terceiro, de negro, três faixas veiradas de prata e vermelho (Vasconcelos)113. O bordo do escudo é, de acordo com as regras heráldicas, peninsular; no paquife o chapéu de prelado de cor verde, com as respetivas borlas que lhe conferem a dignidade eclesiástica.

As armas que aqui se apresentam identificam a figura no retrato, louvando-o e engrandecendo-o, a favor da dignidade episcopal e da honorificência do seu cargo como Reitor. Durante a análise do emblema, não encontramos quaisquer erros heráldicos, nem

110 ALBERTI, Leon Battista – El Tratado de Pintura y los três libros que sobre el mismo arte escribó

[…]Lisboa: Alcalá, 2005, p. 89.

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SILVA, Maria Manuela Ribeiro Conde da – Inventariação de Retratos Pictóricos dos Bispos do Porto. Dissertação para obtenção do grau de Mestre em História da Arte Portuguesa, orientada pelo Professor Doutor Manuel Joaquim Moreira da Rocha, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011.

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Ver Figura 2, na Ficha prosopográfica, p. 85.

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mesmo nos retratos de D. Manuel de Meneses e D. João Coutinho. Algo que não acontece na maioria das obras de arte projetadas com insígnias prelatícias.