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Parte II – Estudo da armaria dos bispos de Lamego

2. A Diocese de Lamego nos séculos XVI a XVII

2.7. D Martim Afonso Mexia de Tovar

2.7.1. As armas do bispo na capela da Nossa Senhora da Piedade, em Campo Maior

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Ver biografia do bispo D. Martim Afonso de Melo na Ficha prosopográfica, p. 95.

169 FONSECA, João Mendes da – Memória Chronológica dos Excelentíssimos Prelados (…) desta cidade

de Lamego (…). Lisboa: 1739, p. 101-102.

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Documento facultado a este autor por um antigo bispo da diocese de Lamego. Desconhecemos de momento onde este mesmo documento se encontrará. LARANJO, F. J. Cordeiro – Escudos de Armas dos Bispos de Lamego: (1492-1976), p. 122.

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Ver Figura 1, na Ficha prosopográfica, p. 96.

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Para além dos vários cargos políticos e eclesiásticos que este bispo173 ocupou, sabemos ter mandado executar várias obras na diocese de Lamego. Natural de Campo Maior ocupou as cátedras de Leiria, Lamego e Coimbra, tendo ainda ocupado cargos de subida importância, como o de Chantre na Colegiada de Guimarães, desembargador da Mesa da Consciência, secretário de Estado de Portugal em Castela, ministro e Embaixador em Roma e Governador do Reino de Portugal. Enquanto diplomata ao serviço de Portugal e ministro em Roma, teve como principal função defender das calúnias o sagrado tribunal

do Santo Ofício174.

De regresso a Portugal, esteve presente na cerimónia da transladação da Rainha Santa Isabel, em Coimbra. Em 1605, aceitou o cargo de bispo de Leiria, tendo mandado executar várias obras desta catedral: encomendou as pinturas do retábulo-mor a Simão Rodrigues, mandou Amaro do Vales dourar a capela do Santíssimo, assim como ordenou a execução das esculturas do retábulo-mor e as grades do Batistério e as capelas de São Bento e de São José175.

Em 1614, foi confirmado no bispado de Lamego, em vez do de Elvas. Durante os seus cinco anos de episcopado nesta diocese fundou o convento de frades Carmelitas Descalços, para ter mais obreiros que pregassem o Evangelho176. Deixou a Sé vaga após

ter sido promovido a bispo de Coimbra e, mais tarde, a governador do reino de Portugal, com a ausência do rei Filipe.

Regressemos a Campo Maior, Portalegre, terra que o viu nascer e onde foi sepultado177. As armas que aqui apresentamos a estudo estão presentes na capela de Nossa Senhora da Piedade, na parede do lado do Evangelho, no interior da Igreja da Nossa Senhora da Expetação. O escudo apresenta-se no preciso local onde o bispo D. Martim Afonso Mexia Tovar partilha a sua sepultura com a sua família: escudo esquartelado: no 1º e 3º com torres atravessadas por uma espada em campo de ouro, no

173Ver biografia do bispo D. Martim Afonso Mexia e Tovar na Ficha prosopográfica, p. 97. 174

AZEVEDO, Joaquim D. – História eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, p. 81.

175

MELO, Maria Luísa de Albuquerque – 450 datas para a história da diocese de Leiria. Leiria: Órgão Oficial da Diocese, Ano III, Nº8, 1995, p. 105.

176

AZEVEDO, Joaquim D. – História eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, p. 82.

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Faleceu em Lisboa, enquanto ocupava o cargo de governador do Estado. O seu corpo foi trasladado para Campo Maior, onde viria a ser sepultado junto do jazigo da sua família.

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2º e 4º com três faixas de azul178. Nessa parede é visível uma lápide funerária179 em mármore branca e azul, com as armas do bispo na placa superior, como se de uma arquitetura se tratasse, rematada por uma cruz.

As armas apresentam um elmo no timbre, provavelmente provenientes de sua família. No remate estão presentes o galero e as respetivas borlas (6 de cada lado) símbolo da sua dignidade eclesiástica. Podemos afirmar que esta pedra-de-armas é um misto entre as armas de família do bispo, devido ao elmo que apresenta e as armas do bispo. Facto que vem confirmar o seu local de enterro, assim como o de sua família. Na placa inferior finalizada por uma borla, podemos ler a seguinte inscrição:

AQUI.IAZ.O.ILVSTRISIMO.SENHOR.DOM.MARTIM.AFONÇO.MEXIA.BISPO .DE.COIMBRA.CONDE.DE.ARGANIL.E.NATURAL.DESTA.VILA.QVE.FALEC EU.A.30.DE.AGOSTO.DE.1623.SENDO.GOVERNADOR.DESTE.REINO.ESTA .CAPELA.HE.SVA.E.DOS.PESVIDORES.DOS.2.MORGADOS.QVE.O.DITO.SE NHOR.DEIXOU.A.SEVS.SOBRINHOS.COM.IAZIGO.PARA.ELLES.E.PARA.SE VS.SVSSOSSORES.COM.O.BRIGAÇÃO.DE.MISSAS.COTIDIANAS.POR.SVA.A LMA.E.DE.SEVS.PAIS.

Podemos determinar a existência de um manuscrito presente na Biblioteca Nacional de Portugal, patrocinado pela bispo, intitulado de “Breve discurso contra a

herética perfídia do judaísmo […]”180, onde vemos representadas as suas armas

eclesiásticas181. Através deste exemplar, podemos obter a leitura precisa182 do escudo, tomando conhecimento da composição da pedra-de-armas existente na capela. Assim, teríamos a mesma tradução que o da capela com o chapéu de prelado no paquife e as borlas, com a ordem 3x6 – total de 12 –, número correspondente à dignidade de D.

178 LARANJO, F. J. Cordeiro – Escudos de Armas dos Bispos de Lamego: (1492-1976), p. 123. 179

Ver Figura 7, no Apêndice Iconográfico, p. 119.

180

MATOS, Vicente da Costa – Breve discurso contra a herética perfídia do judaísmo […]. Lisboa: Pedro Craesbeeck Impressor do Rei, 1623.

181

Ver Figura 8, no Apêndice Iconográfico, p. 120.

182

Segundo F. J. Cordeiro Laranjo, não se consegue obter uma interpretação precisa da pedra-de- armas. LARANJO, F. J. Cordeiro – Escudos de Armas dos Bispos de Lamego: (1492-1976), p. 123.

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Martim Afonso Mexia e Tovar. Nesta representação um novo elemento é introduzido a coroa, símbolo de conde e de grande personalidade do reino, cargos ocupados pelo bispo. D. Martim Afonso Mexia ocupou os cargos de Conde Arganil e senhor de Coja183, assim como o já referido cargo de governador do reino de Portugal.

Pelo que pudemos apurar nesta investigação, não existe qualquer emblema heráldico em honra do bispo D. Martim Afonso Mexia, em qualquer das obras conhecidas que mandou executar, à exceção da sua lápide tumular. Contudo, poderíamos considerar as armas no manuscrito184, Breve discurso contra a herética perfídia do judaísmo, de Vicente da Costa Mattos como uma distinção deixada pelo bispo, visto ter sido ele o seu patrocinador.