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Agricultura Urbana com perfil de agricultura familiar rural: o extremo sul do

3. AGRICULTURA URBANA EM SÃO PAULO

3.5 Os tipos de Agricultura Urbana

3.5.1 Agricultura Urbana com perfil de agricultura familiar rural: o extremo sul do

A grande concentração de agricultura no município de São Paulo, e também na Zona Sul encontra-se nos distritos de Parelheiros e Marsilac (extremo sul do município), onde há cerca de 300 Unidades Produtivas, dos quais 10 são orgânicas, e, aproximadamente, 30 encontram-se na transição para a agricultura orgânica, segundo informações da prefeitura. De acordo com relatório produzido pelo Instituto 5 Elementos, até o ano de 2013, foram executados 13 projetos vinculados ao fortalecimento da agricultura orgânica na região, sendo 12 projetos do FEMA, um projeto da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP-USP) e um curso de agricultura orgânica oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) (Instituto 5 Elementos, 2013). No ano de

2015, o Instituto Kairós aprovou um projeto FEMA específico para a comercialização dos produtores orgânicos da região de Parelheiros, com vigência de 36 meses.

A região de Parelheiros é a segunda maior do município e tem grande extensão de preservação ambiental da Mata Atlântica e espaços verdes. Nesse local, há duas Áreas e Proteção Ambiental, a APA Capivari Monos, e a APA Bororé Colônia. Além disso, há duas reservas indígenas, ocupadas pelo povo Guarani. A população residente nessa localidade é majoritariamente de baixa renda e há cerca de 300 agricultores, sendo que alguns fazem parte da Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa – Cooperapas, criada em junho de 2011.

A região representa 24% do território e a maior parte de sua área encontra-se em área de proteção aos mananciais, sendo uma das mais importantes regiões de preservação ambiental e abastecimento de água da cidade, contando com a Represa Billings e Guarapiranga, que é responsável por 20% do fornecimento de água para o município de São Paulo. Sem dúvida, essa é uma região de bastante relevância para a produção agrícola da cidade. E, em 2014 foi reconhecida como zona rural através do Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo - SP.

Nesse plano, institui-se uma Macroárea de Controle e Qualificação Urbana Ambiental com o objetivo de estimular a agricultura urbana e periurbana, além de instituir a Macroárea de Conservação Urbana e Uso Sustentável, que tem o objetivo de estimular a agricultura orgânica e a sustentabilidade econômica, ambiental e social na zona rural do município, região de Parelheiros.

Desde 2010, a assistência técnica é oferecida pela Casa de Agricultura Ecológica da Zona Sul do município de São Paulo. Antes disso, a região contava com o trabalho de um técnico que tinha que sair do centro da cidade para oferecer o serviço. Considerando que leva-se cerca de duas horas para chegar nos sítios de Parelheiros, a logística para a prestação de serviços era bastante defasada.

Com a criação da CAE - Zona Sul e a instituição do FEMA 8, , houve a criação da Cooperapas e o fortalecimento do apoio à conversão para a agricultura agroecológica. O FEMA 8, voltado para o PROAURP, teve objetivo de oferecer cursos de formação e assistência técnica para a conversão agroecológica através de uma parcria entre as OSCIPs Instituto Kairós e 5 Elementos, e a CAE Zona Sul. O

depoimento de um dos agricultores que optou pela conversão agroecológica ilustra esse processo:

Foi que em 2010 veio o pessoalzinho da prefeitura, e estava lá eu trabalhando na roça e tal. A gente trabalhava para ganhar o quê? Por semana uns 60-70 reais. E quando vieram os agrônomos da prefeitura, eles falaram assim “você tem a oportunidade para estar agregando valor nesse produto que você faz, porque a gente vai mostrar para você o que é a agricultura orgânica daqui para frente. Aí eles foram e eu lá, “acho que não vale a pena fazer”. Só que acabei conhecendo o Arpad que me convenceu a fazer o curso de Agricultura Orgânica a partir do FEMA – Fundo Especial do Meio Ambiente da prefeitura de São Paulo. E fui fazendo esse tipo de curso, e a gente acabou aprendendo a fazer o manejo orgânico. (Depoimento do Ernesto, agricultor orgânico da Cooperapas e membro da OCS, Conferência “Agricultura Familiar: Construindo o Plano de Ação para o Desenvolvimento Rural Sustentável Paulista”, novembro de 2014)

O processo de transição para o cultivo orgânico tem a duração de 3 anos, conforme a regulação da Federação Internacional de Agricultura Orgânica – IFOAM (IFOAM, 2014). Esse processo envolve a formulação de um plano de manejo e transição para o cultivo orgânico, que tem sido realizado pela iniciativa de ONGs e técnicos da prefeitura. Todavia o apoio governamental ao trabalho das OSCIPs não é contínuo.

No que tange à organização dos agricultores, a Cooperapas vem desenvolvendo um trabalho fundamental de articulação para as vendas e a articulação de demandas de políticas e ações públicas. Foi possível perceber, através das observações de campo, que a cooperativa atua mais como associação de apoio e está iniciando as ações cooperadas, pois a venda conjunta ainda é muito incipiente, e a produção é realizada de forma separada por cada Unidade Produtiva.

Em junho de 2015 a cooperativa iniciou a sua primeira venda conjunta para o Instituto Chão102, associação sem fins lucrativos que vende produtos orgânicos pelo preço do produtor, localizado no bairro da Vila Madalena de São Paulo. Também há um projeto para a Cooperativa iniciar a venda de seus produtos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Até o ano de 2016, a cooperativa estava organizando seus documentos para que fosse possível realizar vendas para o setor público. Mas, ainda assim, os membros da cooperativa relataram que é necessária a entrada de novos cooperados para que seja possível vender produtos em grande escala. Durante as reuniões dos membros da cooperativa, os produtores enfatizam que

estão com muita demanda por produtos orgânicos e não estão conseguindo atendê-la, pois há mais demanda do que oferta103.

Os membros da cooperativa também organizaram uma Organização de Controle Social cadastrada no Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento com o objetivo de realizar uma certificação participativa para a venda direta de produtos orgânicos. Esse tipo de certificação não envolve nenhum custo, mas é necessário que haja uma visita mensal aos sítios com a presença de consumidores, técnicos e produtores para que o grupo certifique que o produtor está cultivando de acordo com as regras da certificação orgânica.

Essa certificação não permite o uso do selo orgânico, e autoriza apenas a venda direta nas feiras. Mas, através do FEMA 10, as organizações envolvidas e a prefeitura estão organizando a instituição de um Sistema Participativo de Garantia – SPG, onde forma-se um grupo de auditoria com custo mais baixo do que as Certificadoras por Auditoria como o Instituto Biodinâmico – IBD. O SPG, constituído por um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – OPAC, regulamentada pelo MAPA, permite que a emissão do selo orgânico para a venda indireta dos produtos.

De acordo com os relatos dos produtores, não há mais problemas de demanda pelos produtos orgânicos, na realidade, nesse momento, faltam produtos para suprirem a demanda. Seus principais desafios dizem respeito à falta de acesso ao crédito, aumento da produção, e a conquista do selo orgânico104. A técnica da CAE-Zona Sul, Aline Dias Ferreira, relatou durante entrevista que apesar da transformação da região em zona rural, há muitas dificuldades dos produtores emitirem a DAP para participar do PRONAF. Segundo a entrevistada, muitos não tem contrato de compra e venda da terra e os bancos não tem equipe para realizar esse tipo de crédito, por meio do PRONAF, mesmo o Banco do Povo que teria uma atuação maior com os programas sociais. Finalmente, a técnica relata que as principais dificuldades do serviço de assistência técnica refere-se à equipe reduzida, falta de infraestrutura e orçamento reduzido.

103 Informações obtidas durante participação da reunião da OCS (Organização de Controle Social) de Parelheiros em julho de 2015.

104 Informações obtidas através de relatos de agricultores em reuniões da OCS de julho e agosto de 2015.