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Comercialização e distribuição de alimentos

3. AGRICULTURA URBANA EM SÃO PAULO

3.6 Serviços e ações públicas para Agricultura Urbana em São Paulo

3.6.4 Comercialização e distribuição de alimentos

O crescimento da visibilidade da AU em São Paulo se deu em um contexto político, social e econômico específico. O contexto social e político já foi mencionado anteriormente. O contexto econômico diz respeito ao crescimento da demanda de mercado por produtos livres de agrotóxicos. Esse movimento ocorreu junto com a expansão das feiras orgânicas no município. Atualmente, no âmbito do município existem cinco feiras orgânicas e duas feiras orgânicas experimentais organizadas pela prefeitura de São Paulo (São Paulo, 2016).

Tradicionalmente, os agricultores urbanos, principalmente aqueles que cultivam em terrenos da Sabesp, Eletropaulo e Transpetro, vendem seus produtos na própria horta para a população local. Muitas vezes, esses produtos são vendidos por preços abaixo do mercado135 e alguns produtores da Zona Leste relataram que as pessoas consomem os produtos da horta por diferentes motivos. Há pessoas que consomem por conta da proximidade com as suas casas e/ou pelo preço, que é abaixo do mercado, mesmo em comparação com os alimentos cultivados com agrotóxicos, e

há pessoas que consomem na horta pelo fato dos alimentos serem cultivados através de métodos orgânicos136.

Entre aqueles que produzem em terrenos públicos ou privados, há agricultores que preferem comercializar seus produtos na horta como é o caso do seu Genival, da dona Sebastiana e do seu José na Zona Leste137, pois a comercialização em feiras implica em uma logística de transporte e em perdas. Já a dona Terezinha, por exemplo, prefere realizar feiras para vender os produtos por um preço melhor e também porque ela relatou que se vender na horta deixa de trabalhar no cultivo, e essa é uma forma de separar o trabalho de produção e venda138.

Participar de feiras implica uma logística de transporte, que muitas vezes não é viável para os agricultores, pois a maioria não tem veículos próprios. Além disso, os produtores deixam de trabalhar na roça e correm o risco de colher alimentos e não vender tudo na feira, ocasionando perda de produtos. Por isso, a Associação de Agricultores da Zona Leste e a Cooperapas têm se estruturado para comercializar de forma conjunta. Para as entregas específicas, essa dinâmica de venda conjunta tem sido mais organizada. Porém, realizar feiras de forma conjunta ainda é um grande desafio, pois isso implica que algumas pessoas fiquem responsáveis pela venda de agricultores que não estão presentes nas feiras, o que gera desconfiança entre os agricultores e dificuldade de reconhecer o trabalho daqueles que estão realizando a venda dos produtos. Além disso, como a venda nas feiras pode ser imprevisível existe uma dificuldade maior de organizar a seleção dos produtos a serem vendidos de forma coletiva139.

As principais feiras orgânicas e pontos de consumo orgânicos da cidade encontram-se no centro expandido de São Paulo, e nessas feiras os produtos têm um preço diferenciado e devem ter certificações orgânicas. Porém, a certificação por auditoria é um custo alto para os pequenos produtores e, por isso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu dois tipos de certificação

136 Entrevista com Seu Oliveira e conversa com diferentes agricultores da Horta da Sabesp, Zona Leste (março de 2015). Conversa com seu José e seu Genival (junho de 2014).

137 Conversas com seu Genival, dona Sebastiana e seu José durante visitas de campo realizadas em julho de 2014.

138 Entrevista com dona Terezinha Santos Matos em julho de 2014.

139 Informações obtidas por meio de entrevista com Nelson da Cooperapas (fevereiro de 2016), relatos de agricultores na reunião da Associação de Agricultores da Zona Leste (maio de 2015), relatos de agricultores em encontro com alunos da disciplina intitulada “Negócios de Impacto Social” ministrada pela Fundação Getulio Vargas (outubro, 2016).

participativa, a Organização de Controle Social, que permite a realização de produtos orgânicos apenas por venda direta e a SPG, que permite a obtenção de um selo oficial de produto orgânico, emitido pela Sisorg e, consequentemente, permite realizar vendas indiretas para mercados e intermediários.

Em Parelheiros, alguns agricultores cultivam de acordo com os métodos da agricultura biodinâmica e tem certificado por SPG, emitido pela Associação Biodinâmica. Porém, nem todos os agricultores são biodinâmicos, e muitos se utilizam de outras técnicas de cultivo orgânico. Com isso, desde 2015, alguns membros da Cooperapas estabeleceram um grupo de certificação participativa, com apoio da CAE-Zona Sul, que permite a participação da Cooperapas em feiras orgânicas da cidade. Um dos projetos do FEMA 10, gerido pelo Instituto Kairós, é o apoio para o estabelecimento de uma OCS, grupo de certificação participativa, na Zona Leste e de uma SPG para abranger os produtores orgânicos do município de São Paulo.

A certificação produz um aumento potencial na comercialização dos produtos. Mas, algumas alternativas foram criadas para os agricultores que não possuem certificado. A prefeitura criou algumas feiras com base no conceito de agricultura limpa, que significa que os produtos vendidos não possuem agrotóxicos apesar de não serem oficialmente certificados como orgânicos. Esse é o caso da Feira do Largo da Batata e do Parque do Carmo e do Parque Ceret. Para participar dessas feiras, a prefeitura emite um parecer técnico, que permite a venda direta dos produtores que cultivam alimentos com métodos orgânicos, mas não possuem certificado.

Outro grande avanço para a comercialização dos produtores agroecológicos da Zona Leste e extremo Sul do município de São Paulo foi a venda para o Instituto Chão, OSCIP que vende produtos orgânicos pelo preço do consumidor e oferece a liberdade para o consumidor escolher quanto quer pagar pelo serviço da organização. Desde 2015, a Cooperapas vende seus produtos para a organização e a Associação dos Agricultores da Zona Leste iniciou a venda conjunta para o Instituto Chão no segundo semestre de 2016.