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O contexto da administração municipal de São Paulo

3. AGRICULTURA URBANA EM SÃO PAULO

3.2 O contexto da administração municipal de São Paulo

A administração pública do município de São Paulo conta com 26 secretarias e 32 prefeituras regionais, subdivididas em 96 distritos (São Paulo, 2016). Ainda assim, há outras divisões administrativas que podem variar entre os diferentes setores da administração municipal. Mas, apesar de alguns instrumentos de planejamento e gestão regional da cidade, sua estrutura administrativa é bastante centralizada. No ano

de 2016, as despesas regionalizadas das subprefeituras representaram 10,9% das despesas municipais (São Paulo, 2016). Muito embora a cidade de São Paulo tenha o maior PIB das cidades brasileiras e represente o principal polo econômico da América Latina, as suas desigualdades socioeconômicas são alarmantes e elas se manifestam nas configurações espaciais da cidade (Rolnik e Frúgoli, 2001).

Ademais, São Paulo passou por um processo de rápida urbanização, aterrando rios e construindo grandes avenidas, o que resultou em uma cidade pouco integrada aos seus ecossistemas naturais. Assim, a gestão do município de São Paulo tem três desafios marcantes: (i) a centralização administrativa; (ii) as desigualdades socioeconômicas; (iii) o desenvolvimento e planejamento urbano. Essas questões estruturais do município tangenciam o campo da Agricultura Urbana, da mesma forma que essa atividade também pode oferecer transformações para as desigualdades e o desenvolvimento urbano.

No que diz respeito às desigualdades, o município possui cerca de 12 milhões de habitantes e, de acordo com o IBGE (2010), a renda domiciliar de 33% da população corresponde a no máximo um salário mínimo, R$937,00 (2017), e 60% da população tem renda domiciliar de até dois salários mínimos. Além disso, de acordo com uma publicação da SMDU (2014), 14,69% da população encontra-se em estado de vulnerabilidade à pobreza. Embora tenha ocorrido uma redução nos índices da extrema pobreza e pobreza da população do município, com renda per capita de até R$70,00 e R$140,00 respectivamente, as desigualdades sociais cresceram nos últimos dez anos. De acordo com a SMDU (2014), no ano 2000, a renda de 1% da população mais favorecida da cidade correspondia a 13,03% dos rendimentos da cidade, e em 2010, a renda dessa população passou a representar 20,45% do rendimento total da cidade. No mesmo período, a renda de 10% da população passou de 47,95% para 53,68%. Enquanto isso, o rendimento da população menos favorecida, que representa 50% da população, correspondia a 11,65% dos rendimentos totais da cidade no ano 2000, e em 2010 o rendimento dessa parcela da população passou a representar 10, 57% dos rendimentos totais da cidade.

De acordo com Rolnik e Frúgoli (2001), as desigualdades sociais do município se manifestam de diferentes formas e seu principal ponto de convergência encontra-se em sua configuração espacial. Os grupos sociais mais ricos estão concentrados nas regiões mais centrais da cidade, e as regiões periféricas, além de

serem habitadas por pessoas de mais baixa renda, são marcadas pela precariedade de serviços e de infraestrutura urbana. Uma avaliação realizada pela Rede Nossa São Paulo78 (2016), cujo nome é “Mapa da Desigualdade”, identificou que os 34 distritos com piores indicadores sociais e indicadores de acesso a serviços públicos estão nas extremidades do município, com exceção do distrito da Sé.

Dentre muitos problemas na história do planejamento da cidade, há dois movimentos marcantes: (a) a centralização dos serviços e das atividades econômicas da cidade, com consequente marginalização da periferia da cidade, (b) a rápida urbanização e a falta de integração das áreas verdes da cidade, que causa grandes problemas ambientais e para a saúde pública. Embora o município tenha 42,2% de cobertura vegetal, grande parte dessa cobertura está localizada em áreas de preservação ambiental e não estão integradas à cidade (Amato-Lourenço et.al 2016).

A OMS recomenda no mínimo 12 m2 de área verde por habitante e a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) recomenda 15 m2. Na cidade Ademar, há apenas 0,773 m2 de área verde por habitante e em Parelheiros, 341,44 m2

79(Rede Nossa São Paulo, 2016). Porém, ao isolar as áreas verdes concentradas em parques e áreas de preservação, apenas 5 distritos possuem o mínimo de área verde por habitante, recomendada pela SBAU (Amato-Lourenço et.al. 2016). Nessa lógica, a subprefeitura de Parelheiros conta com apenas 0,28 m²/hab de área verde utilizável como espaço de lazer (Amato-Lourenço et.al. 2016).

Diante de um contexto de fortes desigualdades socioeconômicas e falta de integração com a natureza, a AU possibilita maior integração com as áreas verdes da cidade, além de gerar emprego e renda no nível local, evitando grandes deslocamentos na cidade e promovendo a descentralização da oferta de serviços no setor alimentício. Porém, essa atividade tem enfrentado vazios institucionais e pouco apoio governamental, apesar de ter conquistado muitos avanços em detrimento de pressões políticas e sociais.

O processo de reconhecimento e legitimação desse campo tem ocorrido por diferentes ações e articulações da sociedade civil nos âmbitos comunitário, social, político e econômico. Essas ações têm mobilizado ideias e formação de redes,

78 Disponível em: http://www.nossasaopaulo.org.br/arqs/mapa-da-desigualdade-completo-2016.pdf?v=1

79 Dados disponíveis em: http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/regiao/pirituba/area-verde-por-habitante

impulsionando transformações nesses quatro âmbitos. Assim, tanto a sociedade civil como as instituições têm se tornado mais fortes e ativas. Como resultado, as estruturas de serviços para a Agricultura Urbana avançaram em pontos específicos, especialmente na assistência técnica e no apoio à comercialização de produtos da AU, em regiões específicas. Porém, os serviços ambientais, de acesso à terra e de gestão de riscos ainda são muito precários.

As seções subsequentes irão apresentar de forma mais detalhada a progressão histórica do fortalecimento da sociedade civil e do governo local diante de diferentes mobilizações de ideias e redes de ação no campo da Agricultura Urbana. Por fim, serão analisadas as influências dessas ações para a estrutura de serviços básicos para a AU.