• Nenhum resultado encontrado

O movimento histórico em luta pela agroecologia

3. AGRICULTURA URBANA EM SÃO PAULO

3.1 Políticas e movimentos pela agricultura orgânica e ecológica no Brasil

3.1.1 O movimento histórico em luta pela agroecologia

Frente às externalidades negativas da modernização agrícola, cientistas e intelectuais iniciaram um movimento pela luta ecológica na agricultura. José Lutzenberg lançou o livro “Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?” (1976), Adilson Paschoal publicou o livro “Pragas, praguicidas e crise ambiental” (1979) e Ana Maria Primavesi publicou o livro “O manejo ecológico do solo” (1980) (Luzzi, 2007). Essas ideias foram alvo de muitas críticas nas escolas agrícolas, mas a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo – AEASP acatou as

75 Acesso ao documento oficial do INCA em:

http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/posicionamento_do_inca_sobre_os_agrotoxicos_ 06_abr_15.pdf

ideias da agricultura ecológica e formou um grupo de agricultura alternativa, que posteriormente se consolidou na atual Associação de Agricultores Orgânicos – AAO. O grupo contou com a participação e liderança de José Lutzenberg e Ana Maria Primavesi.

Posteriormente, a Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil (FAEAB) também passou a apoiar as propostas da agricultura ecológica assumindo um posicionamento crítico à modernização da agricultura no final da década de 1970. Esses grupos passaram a promover Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa – EBAA. Daí surgem articulações entre as associações de agrônomos, trabalhadores rurais e demais movimentos sociais do campo. Essas articulações deram origem ao Projeto Tecnologias Alternativas, que na década de 1990, ao entrar em contato com outros movimentos da América Latina passaram a incorporar o termo agroecologia, na luta por uma agricultura mais ecológica.

Segundo Luzzi (2012), o termo contemporâneo passou a ser utilizado de forma mais enfática na década de 1970 quando Miguel Altieri e Stephen Gliessman conceituam o termo de forma científica atribuindo uma conotação sociológica, econômica e ambiental ao termo. A agroecologia passa a ser uma ciência que envolve técnicas de produção orgânica que mantém a biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais, articuladas ao comércio justo e à ética com os produtores. Assim, a agroecologia remete à valorização da articulação entre produção e consumo local com o objetivo de evitar a poluição decorrente do transporte dos alimentos, assim como a aproximação entre produtor e consumidor para remunerar melhor os produtores evitando a exploração dos mesmos por atravessadores. A figura abaixo ilustra as múltiplas dimensões da agroecologia:

73

Figura 3 Agroecologia

Fonte: Altieri, 2000

De acordo com a Lei 10.831/2003, que dispõe sobre a agricultura orgânica, essa agricultura consiste na adoção de técnicas biológicas e culturais para a produção de alimentos em consonância com a preservação dos recursos naturais e os benefícios sociais, sendo vedados o uso de produtos sintéticos como o agrotóxico e organismos geneticamente modificados. Devido aos processos de certificação orgânica, não é possível vender um alimento que não faça uso de agrotóxicos como produto orgânico, caso ele não detenha uma certificação. Assim, os movimentos sociais passaram a entender que o conceito de orgânico foi esvaziado dos seus conceitos sociais e se restringiu aos produtos certificados. Já o agroecológico, traz a perspectiva da economia solidária e da responsabilidade social, e tem sido defendido pelos movimentos sociais.

No Brasil, a primeira vez que a palavra agroecologia surgiu em uma política pública foi na regulamentação da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER em 2003 (Caporal e Petersen, 2012). Já na Agricultura Urbana, a proposta da sua articulação com a agroecologia surgiu no 1o Simpósio Nacional de Agricultura Urbana que teve o objetivo de apresentar os resultados da pesquisa de Santandreu e Louvo (2007) sobre Agricultura Urbana no Brasil, desenvolvida por meio de uma parceria entre MDS, FAO e RUAF. Foi nesse simpósio que surgiu a proposta de uma Política Nacional de AUP, que foi discutida em diversas conferências de SAN e entrou como Projeto de Lei em julho de 2015.

22

· Asistencia de los más pobres a través de un proceso de autogestión. · Un alto nivel de participación de la comunidad en decidir la dirección de su

propio desarrollo agrícola.

· Conservación y regeneración de los recursos naturales.

Figura 1. El rol de la agroecología en la satisfacción de los objetivos mútiples de la agricultura

sustentable.

Es claro que no será posible lograr simultáneamente todos estos objetivos en todos los proyectos de desarrollo rural. Existen intercambios (trade-offs) entre los diferentes objetivos, ya que no es fácil obtener a la vez alta producción, estabilidad y equidad. Además, los sistemas agrícolas no existen aislados. Los agroecosistemas locales pueden ser afectados por cambios en los mercados nacionales e internacionales. A su vez, cambios climáticos globales pueden afectar a los agroecosistemas locales a través de sequías e inundaciones. Sin embargo, los problemas productivos de cada agroecosistema son altamente específicos del sitio y requieren de soluciones específicas. El desafío es mantener una flexi-bilidad suficiente que permita la adaptación a los cambios ambientales y socioeconómicos impuestos desde afuera.

Equidad, viabilidad económica Autosuficiencia alimentaria Satisfacción de necesidades locales Desarrollo Rural Integrado OBJETIVOS ECONÓMICOS OBJETIVOS SOCIALES OBJETIVOS AMBIENTALES Producción estable Biodiversidad Función ecosistémica Estabilidad productiva

Tecnología de bajo insumo AGROECOLOGÍA

Nos últimos anos, devido às pautas da agricultura agroecológica levantadas por movimentos sociais como a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), MST e demais movimentos dos agricultores familiares, os incentivos à produção agroecológica tem se fortalecido, ainda que sejam muito incipientes.

Em 2012 foi criada a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, por meio da Lei no 7794/2012 e foi criado o primeiro Plano de Agroecologia e Produção Orgânica (2013/2015), onde consta o apoio ao fortalecimento da agricultura Urbana e Periurbana. Como a agroecologia remete à importância da produção local e da aproximação entre consumidores e produtores, a Agricultura Urbana também passou a ser articulada com as propostas da agroecologia por movimentos sociais e também por organismos internacionais e alguns governos locais.

Nos últimos anos, também foram lançados financiamentos específicos para as agriculturas mais ecológicas como o Pronaf Agroecologia, Pronaf Florestas e Pronaf Eco. Porém, os agricultores urbanos não conseguem participar desses programas, pois apesar de terem sido reconhecidos legalmente para participarem dessas políticas76, suas estruturas não condizem com o perfil de agricultor familiar delineado pelos respectivos programas. Os agricultores urbanos cultivam em terrenos públicos e muitas vezes em cooperação com outras famílias. Além disso, como vivem na cidade, muitas vezes outros membros da família trabalham em outros setores, o que os caracteriza como agricultores urbanos e não familiares.

Caporal e Petersen (2012) criticam os incentivos à agricultura agroecológica argumentando que não há apoio às mudanças no redesenho dos agro-ecossistemas, pois os incentivos estão limitados a uma troca de insumos e continuam seguindo a lógica da agricultura convencional. Além disso, segundo os autores, os incentivos à produção agroecológica ainda estão focados em mercados de nichos, o que produz mais uma forma de diferenciação social (Carol e Petersen, 2012). Nesse sentido, a Agricultura Urbana pode apresentar uma possibilidade de aproximação entre produtores e consumidores oferecendo alimentos orgânicos e agroecológicos a preços

76 A portaria 24/2014 do MDA, em seu artigo 4o, dispõe sobre as características dos agricultores aptos a emitirem uma DAP (Declaração de Aptidão ao PRONAF) incluindo os agricultores da zona urbana conforme pode ser verificado: “e) identificação com a produção rural - na emissão da DAP deve ser observado se a atividade desenvolvida é rural, não importando se a localização se dá em ambiente geográfico estritamente rural ou urbano (Portaria 24/2014, art. 4o, e).

mais justos e contribuindo com a democratização do acesso a esses alimentos. No Brasil, algumas iniciativas de AU receberam apoio do governo federal, mas outras surgiram no nível local sem contar com apoios federais ou estaduais, mas com grande iniciativa da sociedade civil. Esse é o caso do município de São Paulo, conforme será apresentado a seguir.