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Ajustamentos, quebras e sobras, normais e anormais, nos inventários

No documento Contabilidade de gestão simplificada (páginas 163-165)

Capítulo IV Fatores de custo de produção

4.2 Matérias

4.2.4 Ajustamentos, quebras e sobras, normais e anormais, nos inventários

Os inventários são considerados elementos preciosos para as empresas, pois sem estes dificilmente conseguiriam desenvolver a sua atividade. Daí a necessidade de serem refletidos de forma correta e real nas demonstrações financeiras, permitindo o apuramento do lucro com maior precisão (Drury, 1996; Rosário, 2013).

Devido às características de certas atividades empresariais, bem como motivos de conjun- tura económica, é natural verificar-se situações referentes à desvalorização ou quebras de inventá- rios.

Apesar dos termos serem muito semelhantes uma vez que se traduzem os dois em “perdas”, estas são duas situações distintas. A desvalorização traduz-se numa perda de valor no inventário que dará origem a um ajustamento contabilístico, e por outro lado, as quebras e/ou sobras são diminuições e/ou aumentos verificados nas quantidades dos inventários (Rosário, 2013).

Ajustamentos de inventários

Segundo a NCRF 18 (§ 9), os inventários devem ser avaliados pelo custo ou valor realizável líquido, sendo que destes dois deve ser aplicado o mais baixo. No parágrafo 6, a norma define como valor realizável líquido “é o preço de venda estimado no decurso ordinário da atividade empresarial menos os custos estimados de acabamento e os custos estimados necessários para efetuar a venda” o preço de venda estimado, menos os custos estimados de acabamento e os custos estima- dos necessários a efetuar a venda, ou seja, as quantias líquidas que a empresa pensa usufruir com as vendas no decurso normal da sua atividade (Aviso nº 8256/2015; Rosário, 2013).

Portanto, existindo algum ajustamento ao valor dos inventários, este nunca será superior ao custo, uma vez que os bens não devem ser registados por quantias superiores às que previsivel- mente vão ter pela venda desses. Pelo que, quando apenas se justifique, o valor dos inventários é reduzido para o valor realizável líquido (Rosário, 2013).

Deste modo, segundo o autor, os inventários podem ser valorizados inicialmente ao custo de aquisição, uma vez que normalmente no início este é sempre o valor mais baixo, e posterior- mente, em cada período subsequente deve-se fazer uma nova avaliação ao valor realizável líquido, pois os inventários podem ser desvalorizados face aos atuais valores de mercado.

Este ajustamento, de acordo com o referido autor, traduz-se em termos contabilísticos numa perda por imparidade, e deve ser feito item a item, não obstante em algumas situações ser possível agrupar por unidades semelhantes. Quando as causas que levaram ao ajustamento deixarem de existir, ou mesmo o valor realizável líquido aumentar, o autor considera que a quantia do ajusta- mento inicial deverá ser revertida, por forma a contabilidade espelhar o valor mais baixo entre o custo e o valor realizável líquido revisto.

Rosário (2013) considera um bom exemplo as lojas de roupa, pois quando têm peças de roupa fora de estação e decidem vende-las em saldos, por um valor mais baixo do que o preço atual, esses devem ser ajustados contabilisticamente, pois perderam valor. Segundo este, esse ajustamento deverá ser feito pela diferença entre o valor registado dos inventários e o valor previsto com as vendas das roupas, tendo em conta que o preço venda será reduzido.

Efetivamente, conclui que o ajustamento não tem implicações nas saídas dos bens dos in- ventários.

Quebras e sobras dos inventários

Quando falamos em quebras nos inventários, significa que o seu valor já não poderá ser recuperado, pois poderão estar danificados, estar total ou parcialmente obsoletos ou até mesmo ter

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o seu preço de venda reduzido definitivamente, devendo por isso, deixar de fazer parte dos inven- tários e serem reconhecidos como gasto (Rosário, 2013).

As quebras, como exemplo por derrame, deterioração, evaporação, entre outras, poderão ser normais ou anormais (Silva, 1991).

No que respeita às quebras normais, se estivermos a falar, por exemplo, de desperdícios alimentares no caso da restauração, estas consideram-se inerentes ao próprio processo produtivo, e como tal não são objeto de nenhum registo contabilístico, pois presume-se que o próprio preço de venda absorve tais perdas. Se por outro lado, falarmos de produtos alimentares que se deterioram, como frutas ou os que passam da validade, são considerados contabilisticamente como quebras, afetando diretamente os gastos de fabrico (Silva, 1991; Rosário, 2013).

Rosário (2013) chama a atenção de que em termos fiscais, estes gastos referentes às que- bras normais são aceites fiscalmente, pois fazem parte do exercício da atividade do sujeito passivo.

Quanto às quebras anormais, estas sim constituem verdadeiros prejuízos, sendo que o exemplo mais normal para estes casos é o roubo de mercadorias. Este tipo de quebra tem um caráter imprevisível, ou seja, resultou de factos alheios à atividade da empresa, e como tal deverá ser considerada em termos contabilísticos como um sinistro na referida conta (6841-Perdas em in- ventários – Sinistros), permitindo ao sujeito regularizar as mercadorias em armazém (Silva, 1991; Rosário, 2013).

Neste caso, para efeitos de dedutibilidade fiscal, Rosário (2013) considera que se deve ter algum cuidado, pois deverá ter um documento que faça prova dos bens roubados e ainda o docu- mento que originou esse abate, ou seja o documento da Autoridade Tributária a confirmar o roubo. Quando ocorrem entradas superiores, ou saídas inferiores às registas, acréscimos de peso devido à humidade, como por exemplo no caso da lã e do barro, surgem as chamadas sobras de inventários (Silva, 1991). Quando os inventários reais forem superiores aos saldos das respetivas contas, e não houver possibilidade de justificar estas diferenças, o autor refere que se deve reco- nhecer em termos contabilísticos, tal como no caso das quebras. Ou seja, se a sobra surgir da atividade normal da empresa, esta será tratada como uma sobra normal e terá o tratamento inverso ao das quebras normais, se por outro lado, a sobra surgir por motivos alheios à atividade da enti- dade, esta deverá ser tratada como uma sobra anormal, e ter um tratamento oposto ao das quebras anormais.

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Capítulo IV – Fatores de custo de produção

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