• Nenhum resultado encontrado

Análise do custo-volume-resultados multiproduto

No documento Contabilidade de gestão simplificada (páginas 127-131)

Capítulo III Relações Custo/Volume/Resultados

3.9 Análise do custo-volume-resultados multiproduto

Na realidade, as empresas produzem e vendem vários produtos, por vezes até com unida- des físicas diferentes (unidades, quilogramas, entre outras), por forma a não ficarem dependentes de um ou dois produtos (Caiado, 2009; Ferreira et al., 2014).

Como se referiu aquando do cálculo do ponto crítico das vendas em quantidades (Q’), este não pode ser aplicado em empresas que produzam e comercializam mais do que um produto. Os referidos autores consideram que essa limitação pode ser ultrapassada pelo cálculo do ponto crítico em valor (V’) que possibilita a análise CVR neste contexto.

Consideram ainda que, embora nestas circunstâncias a metodologia de análise CVR seja similar à utilizada para empresas que apenas se dedicam a um único produto, o ponto crítico apre- senta algumas especificidades pois não garante a evolução das quantidades e da margem de forma idêntica para todos os produtos. Existem algumas técnicas que, aliadas a alguns pressupostos pouco objetivos, podem ser utilizadas para ultrapassar o problema.

Ponto crítico de multiprodutos em função do valor das vendas

De acordo com Franco et al. (2015) e Ferreira et al. (2014), as empresas poderão adotar o procedimento que passa pela identificação dos produtos como componentes de um único produto global. Calcula-se o preço de venda médio e o custo variável médio de todos os produtos, de acordo com o peso de cada um nas vendas globais da empresa.

Nesta opção, o ponto crítico é definido pela percentagem das vendas de cada produto, isto supondo que existe proporcionalidade constante das vendas ao longo de todo o período em análise (Caiado, 2009).

Vejamos por exemplo o caso de uma empresa que vende três tipos de produtos, o X, Y e Z, aos preços de 250€, 400€, e 325€, respetivamente. No perído n, a empresa produziu e comerci- alizou 3.500, 7.000 e 10.000 unidades, suportando custos variáveis na ordem dos 150€, 125€ e 200€, respetivamente. Os custos fixos da empresa ascendem aos 2.467.500,00€.

Esquematizando a informação e determinando o preço de venda médio e o custo variável médio ponderados com o peso relativo de cada produto nas vendas globais da empresa, tem:

Vendas Preço de venda Custo variável

Quat. % Unitário Médio pon-

derado Unitário Médio pon- derado Prod. X 3.500 17,0731707 250,00 42,68293 150,00 25,60976 Prod. Y 7.000 34,1463414 400,00 136,58537 125,00 42,68293 Prod. Z 10.000 48,7804878 325,00 158,53659 200,00 97,56098 Total 20.500 100,0000000 337,80489 165,85367

Tabela 20 - III - Determinação do preço médio de venda e o custo variável médio ponderado Fonte: Elaboração própria

Com esta informação facilmente determinamos o ponto crítico das vendas globais em valor e em quantidade: V′= cf m′= cf pv médio − cv médio pv médio = 2.467.500,00 337,80489 − 165,85367 337,80489 = 4.847.500 €

110 Contabilidade de Gestão Simplificada

Q′= cf

pv médio − cv médio=

2.467.500,00

337,80489 − 165,85367= 14.350,00 unidades

Daqui conclui-se que o volume de negócios que a empresa deverá atingir no global é de 4.847.500,16€ e 14.350,00 unidades, sendo que aplicando a este valor a percentagem das quanti- dades vendidas de cada produto, podemos verificar o ponto crítico em quantidade e em valor de cada produto da seguinte forma:

Q′de X = 14.350,00 x 0,170731707 = 2.450,00 unidades Q′de Y = 14.350,00 x 0,341463414 = 4.900,00 unidades Q′de Z = 14.350,00 x 0,487804878 = 7.000,00 unidades E, V′de X = 2.450 x 250,00 = 612.500,00€ V′de Y = 4.900,00 x 400,00 = 1.960.000,00€ V′de Z = 7.000,00 x 325,00 = 2.275.000,00€

Ponto crítico de multiprodutos em função das margens mais elevadas

Segundo esta hipótese, os primeiros produtos a serem vendidos são os que proporcionam maior margem para cobrir os custos fixos e, pela lógica, contribuir para a formação do resultado (Caiado, 2009).

Para melhor compreensão desta teoria, tomemos o exercício anterior. Sabemos que a mar- gem de contribuição unitária equivale aos preços de venda menos os custos variáveis, pelo que tendo em conta isto, temos:

m unitária de X = 250,00 − 150,00 = 100,00€ m unitária de Y = 400,00 − 125,00 = 275,00€ m unitária de Z = 325,00 − 200,00 = 125,00€

Daqui verificamos que o produto com maior margem unitária é o produto Y, pelo que se- guindo esta lógica deverá ser o primeiro a ser vendido. Assim sendo, a sua venda proporciona uma margem de 1.925.000,00€, faltando ainda cobrir 542.500,00€ dos custos fixos totais da empresa.

De acordo com as margens de contribuição unitárias, o produto Z é aquele que apresenta a segunda melhor taxa, pelo que será necessário vender a quantidade correspondente aos 542.500,00€ por forma a cobrir o restante dos custos fixos da empresa.

Ou seja, o ponto crítico em quantidade neste caso seria: Q′de Y = 7.000 unidades Q′de Z =542.500,00

325,00 ≈ 1.669 unidades Sendo que em valor será:

V′de Y = 1.925.000,00€ V′de Z = 542.500,00€

111

Capítulo III – Relações Custo/Volume/Resultados

Ponto crítico de multiprodutos em função do “mix” das vendas

Nesta abordagem, admite-se que o nível de procura/vendas é uma taxa constante, pelo que para determinar a proporcionalidade, ou seja, taxa das vendas, recorremos ao conceito de “mix” das vendas (Caiado, 2009).

Portanto, para Franco et al. (2015), está-se perante diferentes possíveis combinações de vendas dos vários produtos, o chamado “mix”, que apresentam uma margem global própria, resul- tante dos preços de venda e dos custos variáveis unitários de cada um dos produtos.

Os autores consideram ainda que, como a cada “mix” corresponde uma margem de contri- buição diferente, e como os custos fixos são comuns aos vários produtos, então a cada possível “mix” corresponde um ponto crítico diferente.

V′(mix) = cf m′(mix)

Assim, consideram que o ponto crítico não se refere aos produtos individualmente, mas ao respetivo “mix”, podendo-se calcular as contribuições de cada um dos produtos para o ponto crítico, pela multiplicação de V’ pelo peso relativo das vendas no global.

Podemos determinar o ponto crítico do “mix” em quantidades se pegarmos no somatório das diferentes contribuições para o ponto crítico em valor e dividirmos pelos respetivos preços de venda (Franco et al., 2015). No entanto, defendem que se deve ter em atenção de que o ponto crítico em quantidades apenas terá significado económico se as unidades de medida dos diferentes produtos forem iguais.

Concluem que o “mix” que proporcionar uma maior margem de contribuição é aquele que conduz a um resultado mais elevado.

Tendo por base o exemplo abordado até aqui, podemos determinar o “mix” das vendas: Vendas Quat. Pv (€) Valor (€) % Prod. X 3.500 250,00 875.000,00 12,635379 Prod. Y 7.000 400,00 2.800.000,00 40,433213 Prod. Z 10.000 325,00 3.250.000,00 46,931408 Total 20.500 6.925.000,00 100,00

Tabela 21 - III - Determinação do "mix" de vendas Fonte: Elaboração própria

Para proceder à determinação do ponto crítico das vendas do “mix”, é necessário determinar a margem de contribuição deste:

Margem de contribuição (€)

Quat. Unitária Total

Prod. X 3.500 100,00 350.000,00

Prod. Y 7.000 275,00 1.925.000,00

Prod. Z 10.000 125,00 1.250.000,00

Total 20.500 3.525.000,00

Tabela 22 - III - Determinação da margem de contribuição do "mix" de vendas Fonte: Elaboração própria

112 Contabilidade de Gestão Simplificada

m′= m Vendas=

3.525.000,00

6.925.000,00= 0,50902527 Assim temos que o ponto crítico das vendas para este “mix” é de:

V′= cf m′=

2.467.500,00

0,50902527 = 4.847.500,00€

Então de acordo com a estrutura das vendas analisada, podemos determinar o ponto crítico por produto: V′de X = 4.847.500,00 x 0,12635379 = 612.500,00€ V′de Y = 4.847.500,00 x 0,40433213 = 1.960.000,00€ V′de Z = 4.847.500,00 x 0,46931408 = 2.275.000,00€ Em quantidades, Q′de X =612.500,00 250,00 = 2.450,00 unidades Q′de Y =1.960.000,00 400,00 = 4.900,00 unidades Q′de Z =2.275.000,00 325,00 = 7.000,00 unidades

Nesta análise deverá ter-se em atenção o pressuposto de que não se alteram os pesos relativos das vendas de cada produto nas vendas globais da empresa, pois uma alteração nesses pesos levaria a um outro “mix” de produtos, indo alterar o valor do ponto crítico e consequentemente a rendibilidade e risco da empresa no curto prazo (Ferreira et al., 2014).

Consideram que a análise CVR nas empresas com o regime de produção multiproduto é importante para o planeamento operacional, possibilitando a análise alternativa de diversos “mix” possíveis, de acordo com o mercado e a capacidade produtiva da empresa, escolhendo assim o “mix” de produtos que conduz a maior rendibilidade e menor risco operacional.

113

Capítulo III – Relações Custo/Volume/Resultados

No documento Contabilidade de gestão simplificada (páginas 127-131)