Capítulo I Conceitos fundamentais da Contabilidade de Gestão
1.4 Os custos e o processo de tomada de decisão
1.4.5 Custos diferenciais
Quando a gestão inicia o processo de tomada de decisão, não deve deixar de ponderar diferentes alternativas antes de decidir (Mortal, 2007).
O autor considera que as análises diferenciais são uma forma de obter informação relevante para a tomada de decisão, pelo que podem ser usadas para avaliar os diferentes rendimentos e gastos associados a cursos alternativos de ação.
O custo diferencial calcula as diferenças entre os gastos de duas ou mais alternativas (Caiado, 2009). Este gasto aparece como sendo o custo direto de uma escolha (como o custo de compra de um equipamento novo, tendo efeito direto na substituição do antigo), ou como sendo um custo indireto associado a outra opção (como no caso de se substituir o equipamento e isso levar a uma diferença nos custos de manutenção, ou de energia) (Ferreira et al., 2014).
Alguns autores alertam que o custo diferencial normalmente baseia-se na diferença dos custos variáveis, no entanto pode, ou não, incluir custos fixos, dependendo se estes variam, ou não, entre alternativas (Drury, 1996; Mortal, 2007; Franco et al., 2015).
Este conceito é facilmente apresentado pela seguinte fórmula: Δ C = C2 – C1
Sendo, o custo diferencial igual aos custos originados pela alternativa 2, menos, os custos originados pela alternativa 1.
Paralelamente a este tipo de custo, podemos calcular os rendimentos diferenciais. Segundo Franco et al. (2015), estes dizem respeito à diferença entre o rendimento associado à nova situação, designada por P2 e o rendimento existente antes da decisão, designada por P1, podendo ser repre-
sentado como:
Δ P = P2 – P1
Muitas das decisões administrativas baseiam-se na comparação do custo com os corres- pondentes rendimentos diferenciais. Seguindo esta lógica, de acordo com os autores, a comparação poderá ser feita pelo cálculo do resultado diferencial que os compara:
Δ R = R2 – R1= Δ P– Δ C
Apurando estas diferenças, o gestor consegue obter o panorama geral das alternativas, facilitando todo o processo de tomada de decisão. Apesar de na contabilidade não existir nenhuma categoria em que este tipo de custo e rendimento se insira, deve ser calculado e levado em consi- deração na hora de decidir.
Alguns autores alertam para a possível confusão entre os conceitos de custo diferencial, custo marginal e custo incremental, uma vez que são conceitos económicos similares (Drury, 1996; Mortal, 2007; Caiado, 2009). Por esse motivo, é importante distinguir que o custo diferencial é a diferença entre os custos de duas ou mais alternativas (Mortal, 2007); o custo marginal representa um aumento do custo total pela produção de uma unidade extra de produto (Drury, 1996; Mortal, 2007); enquanto o custo incremental representa os custos adicionais resultantes do acréscimo da produção num determinado número de unidades (Drury, 1996; Mortal, 2007).
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Exemplo de uma análise diferencial (Adaptado de Mortal, 2007):
A empresa OMEGA fabrica apenas o produto α, tendo nas suas instalações uma capacidade de produção instalada de 3.000 unidades por ano.
Relativamente à atividade do corrente ano, temos os seguintes dados: - Custo variável unitário (industrial + comercial) 3,25€ - Custos fixos totais 2.250,00€ - Preço de venda no mercado nacional 4,75€ - Produção anual prevista para mercado nacional 2.000 unid.
Surgiu uma oportunidade de a empresa exportar 750 unidades a um preço de venda de 4,25€ por unidade de produto, com um custo adicional variável de 0,35€ por unidade.
A empresa deverá ou não aceitar esta encomenda?
Resolução:
Numa primeira análise, olhando para a capacidade de produção instalada da empresa (3.000 unidades), e para a produção prevista para o mercado nacional (2.000 unidades), verificamos que a produção das 750 unidades para exportar será perfeitamente possível, pois o volume de pro- dução pretendida encontra-se dentro dos limites da capacidade instalada.
Mas será que monetariamente esta encomenda é vantajosa?
Afinal, o preço de venda unitário dos produtos para esta encomenda é de apenas 4,25€, ou seja, inferior ao preço unitário praticado a nível nacional (4,75€). Além disso, ainda temos um custo acrescido de 0,35€ por unidade produzida. Ou seja, fazendo uma análise superficial, estes indica- dores mostram que a proposta muito provavelmente não é vantajosa.
Mesmo assim, de forma a chegarmos a uma decisão acertada, o melhor será comparar as duas alternativas que se mostram evidentes:
Alternativa 1 – Não se aceita a encomenda, vendendo apenas as 2.000 unidades a nível nacional;
Alternativa 2 – Aceita-se a encomenda, vendendo as 2.000 unidades a nível nacional e exportando as 750 unidades.
Portanto, realizando uma análise diferencial podemos verificar: Custo diferencial
ΔC = C2– C1= (2.000 x 3,25 + 2.250 + 750 x (3,25 + 0,35)) – (2.000 x 3,25 + 2.250) = 11.450,00 – 8.750,00 = 2.700,00 €
Pela análise ao custo diferencial, verifica-se que a alternativa 2 poderá não ser vantajosa pois acarreta mais custos. No entanto, sabemos que na alternativa 2 estamos a produzir mais 750 unidades com um custo acrescido de 0,35€, pelo que deveremos aprofundar mais a nossa análise, não devendo tomar uma decisão apenas na análise dos custos.
Rendimento diferencial
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Na análise ao rendimento diferencial a alternativa 2 demonstra ser a mais vantajosa. Con- tudo esta diferença nos rendimentos pode ser justificada pelo facto de na alternativa 1 se vender 2.000 unidades, e na alternativa 2 se vender mais 750 unidades, mesmo que a um preço inferior.
Assim sendo, como as conclusões obtidas são contraditórias, chegamos a um impasse. A melhor forma de resolver esta questão será analisar o resultado diferencial, pois este, ao comparar os custos e os rendimentos de ambas as alternativas, já terá em conta todas as particularidades, proporcionando assim uma conclusão mais ponderada de qual das alternativas será a melhor. Resultado diferencial
Δ R = R2 – R1 = (P2 – C2)– (P1 – C1) = ΔP – ΔC = 3.187,50 – 2.700,00 = 487,50 €
De acordo com esta última análise, podemos finalmente concluir com segurança que a al- ternativa 2 é a mais vantajosa. Assim conclui-se que a empresa poderá aceitar a encomenda de exportação, uma vez que consegue obter um resultado positivo.
Chama-se à atenção para o facto de neste exercício os custos fixos não sofrerem altera- ções, portanto poderíamos fazer os cálculos desta análise diferencial sem os incluir, pois os resul- tados seriam exatamente os mesmos. No entanto, é preciso ter sempre em atenção, tal como já foi referido, que se os custos fixos das alternativas variarem, devem ser tidos em conta, pois influen- ciam o resultado da análise diferencial.
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