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Algumas conceitos fundamentais para compreender o processo de alfabetização

1 HETEROGENEIDADE: PARA INÍCIO DE CONVERSA

2 HETEROGENEIDADE E ALFABETIZAÇÃO: CONCEPÇÕES E PRÁTICA DOCENTE

2.1 Algumas conceitos fundamentais para compreender o processo de alfabetização

tomando como principal referência um estudo realizado em 2014 por Leal e colaboradores, que identificaram algumas tensões que permeiam a alfabetização no Brasil. Nesse sentido, buscamos discutir processos pedagógicos de ensino da Língua Portuguesa nos documentos curriculares, a partir das análises feitas pelas referidas autoras, considerando-se a heterogeneidade das crianças quanto ao domínio do SEA. Antes, porém, achamos pertinente apresentarmos as reflexões de teóricos sobre os principais conceitos que aparecem nas discussões das autoras em relação à alfabetização: código, sistema notacional, sistema de escrita e letramento.

2.1 Algumas conceitos fundamentais para compreender o processo de alfabetização

As discussões que tratam da alfabetização implicam no uso de determinados termos que nos levam a refletir sobre o que de fato podemos considerar como estar alfabetizado. O primeiro deles está relacionado à compreensão sobre o ensino da escrita alfabética enquanto aquisição de um código ou como apropriação de um sistema notacional.

Conforme afirma Soares (2014), o código é (pode ser) utilizado como modo de substituição de símbolos ou caracteres ou signos por outros já existentes. Desse modo, quando necessário, a mensagem pode ser convertida em favor dos que precisam, de alguma forma, trocar informações sem que os demais (estranhos, intrusos, inimigos, etc.) as compreendam. Assim, considerar a alfabetização como aquisição de um código implica conceber que os aprendizes aprendem como associar

um símbolo, caractere ou signo a outro já existente. Logo, teriam que memorizar qual elemento substitui outro, para ter acesso a um código usado na sociedade.

Morais (2012) afirma que não é conveniente considerar a aprendizagem da escrita alfabética como aquisição de um código, porque tal concepção pressupõe que para escrever o aluno precisa “decifrar”, “decodificar” ou “codificar” palavras (...) depois frases e textos (p. 47).

Nesse sentido, concordamos com os autores acima citados, e reafirmamos que alfabetizar está além da mera decodificação de um sistema de escrita, haja vista que se faz necessário compreender como e o que essa escrita nota. Portanto, parece um equívoco restringir a alfabetização ao conceito de codificação da escrita alfabética.

O que é essa aprendizagem, então?

De acordo com Morais (2012), a escrita alfabética é um sistema notacional, uma vez que a usamos para representar, através de grafemas (letras), os sons da fala ou a pauta sonora. Logo, é um sistema de escrita porque, segundo Carvalho (2014), indica uma lógica de funcionamento e determinada regularidade de registro do significado – que registra elementos que permitem associar pensamentos e ideias, e do significante – que grafa elementos que remetem aos sons. Ainda segundo este autor, o sistema de escrita da língua portuguesa prevê, em sua escrita, uma relação entre letras e fonemas, o que o caracteriza como um sistema de escrita alfabético. Desse modo, a alfabetização engloba a apropriação de conhecimentos sobre como esse sistema funciona.

Segundo Morais (2012), o conjunto de representações (o sistema de escrita alfabético) é constituído de uma série de propriedades e convenções que devem ser apreendidas ao longo do processo de alfabetização (quais letras usar, como e quando usá-las, que outras marcas usamos na escrita das palavras, etc.). No entanto, ainda segundo este autor, não é apropriado abordar tal ensino como um pré-requisito para a inserção dos estudantes em práticas sociais de leitura e escrita de textos. É possível, e desejável, que simultaneamente sejam tratados aspectos da aprendizagem do sistema de escrita e dos usos sociais da leitura e da escrita. Isso implica que é necessário, em todo o processo, considerar as trajetórias individuais e as práticas coletivas de leitura e escrita.

Quando colocamos a questão do individual, estamos nos referindo aos processos ou etapas individuais que todo aprendiz percorre para se apropriar do sistema de escrita, e, no caso do coletivo, estamos nos referindo a toda a dinâmica

social, ou seja, às práticas sociais de escrita em que este está inserido. Nesse contexto é que chegamos à mesma compreensão de vários teóricos: não basta alfabetizar, é preciso alfabetizar letrando, sendo necessário, portanto, discutir sobre o conceito de letramento.

Segundo Soares (2014), o letramento está relacionado ao desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita eficientes, para interação por meio da escrita em diferentes situações de comunicação, sejam elas pessoais, escolares, sociais. Haja vista que há em circulação dentro dos variados contextos, diferentes textos e gêneros, apresentados em diferentes suportes e com diferentes finalidades, dentre outros aspectos, a alfabetização também engloba a apropriação de conhecimentos sobre os textos e os gêneros adotados para produzi-los. Assim, “a alfabetização é uma prática de letramento, própria das atividades escolares, com metas e fins específicos, portanto, trata-se de uma prática social situada” (KLEIMAN, 2010 apud VALSECHI, 2010).

Conforme Mendonça (2007, p. 46), o termo letramento foi criado para “nomear um conjunto de práticas sociais de uso da escrita em diversos contextos socioculturais”. As práticas de letramento são vivenciadas nas sociedades que fazem uso da escrita. No entanto, indivíduos que não fazem uso da escrita convencional, como a conhecemos, também possuem práticas de letramento. Mesmo sem dominar o sistema notacional, as pessoas acabam se envolvendo em práticas de leitura e escrita através da mediação de uma outra pessoa alfabetizada e nesse contexto acaba conhecendo os gêneros que circulam na sociedade (ALBUQUERQUE, 2007).

Tais conceito aqui tratados são mobilizados em diferentes abordagens teóricas acerca da alfabetização. Apresentamos nos próximos tópicos as principais concepções de alfabetização que circulam no Brasil hoje e suas relações com a heterogeneidade.