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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2 Caracterização dos participantes da pesquisa

Em ambas as turmas, as professoras contavam com o auxílio de professoras auxiliares. Na turma do 2º ano foi a própria professora quem contratou a sua auxiliar de sala, já na turma do 3º ano, a estagiária havia sido contratada pela secretaria de educação da rede de ensino do município. Todas tiveram seus nomes modificados para preservar suas identidades, portanto chamamos a professora do 2º ano de Ana – sua estagiária de Ester, e a professora do 3º ano de Betânia – sua auxiliar de Inês.

Quadro 2: Síntese dos perfis das professoras

Professora ANA Professora BETÂNIA

Idade 58 50

Formação Superior

Pedagogia Pedagogia

Especialização Psicopedagogia Não possui

Formação

como professora Alfabetizadora

CEEL (UFPE)

Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes

PNAIC

Pró Letramento e

Alfabetizar com Sucesso (Rede Municipal de Lagoa dos Gatos) PNAIC Experiência na Docência 20 anos12 34 anos13 Experiência em Turmas do Ensino Fundamental 13 anos 03 anos

Vínculo Profissional Efetiva Efetiva

Atividades Extras Não exerce Não exerce

A professora Ana, 58 anos de idade, formou-se pela Universidade Salgado Filho (UNIVERSO), em Pernambuco, no curso de Pedagogia, e fez especialização em Psicopedagogia na mesma Faculdade. A referida professora possuía 20 anos de experiência como docente e já atuava há 13 anos em turmas do 1º ciclo do Ensino Fundamental (que compreende do 1º ao 3º anos). No ano das observações estava lecionando como professora efetiva (concursada da Rede Municipal de Jaboatão dos Guararapes) em horário integral (manhã e tarde) em uma turma do 2º ano, não

12Essa professora relatou que passou os sete primeiros anos de sua carreira docente nas “turmas

maiores” (4º e 5º anos), e desde 2002 é que vem trabalhando nos anos iniciais do ciclo (do 1º ao 3º ano).

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Segundo a professora relatou, atuou por vinte e cinco anos nas turmas multisseriadas e por seis anos na Educação Infantil.

trabalhando no horário da noite. Em sua turma estavam matriculados 30 alunos, sendo que destes, 28 eram frequentes e 2 haviam saído da escola. Segundo nos informou, participou de formação específica para ser alfabetizadora através do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL) da Universidade Federal de Pernambuco, no ano de 2002. Desde então, vinha participando de diversas formações promovidas pelos municípios em que atuava e especificamente nos anos de 2013, 2014 e 2015, também participou das formações do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).

A professora Ester, auxiliar da professora Ana (2º ano), 39 anos de idade, foi contratada como estagiária pela rede do município. A mesma cursava o quarto (e último) ano do Normal Médio, na escola Marcelino Champagnat. Segundo nos informou esse era o segundo ano de seu estágio, no ano passado auxiliou uma turma do 1º ano e neste estava como auxiliar na turma do 2º ano. Apesar de ter sido contratada como auxiliar de sala, seu sonho era fazer faculdade na área de serviço social e não pretendia seguir na carreira de pedagoga. Ester afirmou que era estagiária e estava ali apenas para auxiliar na ausência da professora, mas, quando necessário, se colocava à disposição para acompanhar alunos com algum tipo de dificuldade, como era o caso da aluna Je (apresentava um distúrbio neurológico, facilmente confundível com autismo) e da aluna Mila (dificuldade de aprendizagem, segundo a professora Ana).

A escola em que tais professoras trabalhavam era constituída estruturalmente por 7 salas de aula (correspondentes as seguintes turmas: Infantil 1, Alfabetização, 1º, 2º 3º, 4º e 5º anos), 1 biblioteca que funcionava também, como sala de vídeo, 1 sala da direção, 1 sala dos professores, 1 pátio, 2 banheiros para os alunos (1 masculino e 1 feminino), 2 banheiros para os funcionários (sendo 1 adaptado para deficientes), 1 cozinha e 1 área ao ar livre, com 3 bancos em cimento (usada como sala de espera). Segundo a diretora, este foi o primeiro ano do regime Integral na escola, que antes funcionava nos três turnos.

A professora Betânia, 50 anos de idade, formou-se pela Faculdade de Garanhuns, em Pernambuco, no curso de Pedagogia, e não possui especialização. A referida professora possuía 34 anos de experiência como docente e atuou nas turmas multisseriadas por 25 anos. Segundo nos informou, este foi o terceiro ano de experiência com turmas organizadas em ciclo, pois durante seis anos ensinou nas turmas da pré-escola. No ano da pesquisa estava lecionando como professora efetiva

(concursada da Rede Municipal de Lagoa dos Gatos) no horário da manhã em uma turma do 3º ano, não trabalhando nos demais horários. Inclusive, a professora acompanhava esta turma desde o 1º ano do EF, ou seja, desde 2013. Em sua turma havia 29 alunos matriculados, mas com a transferência de um na metade do ano, restaram 28 alunos, todos frequentes. Segundo nos informou, participou de algumas formações no próprio município, como o Pró – Letramento, também as do PNAIC, realizadas em Caruaru, pelas formadoras do Centro de Estudos em Educação e Linguagem (CEEL) da Universidade Federal de Pernambuco, nos anos de 2013, 2014 e 2015.

A professora Inês, auxiliar da professora Betânia (3º ano), 30 anos de idade, foi contratada pela própria professora da turma, que lhe pagava um terço do salário, pois o município não oferecia auxiliares de sala ou estagiárias. Inês fez o antigo Magistério e formou-se em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco, no polo de Caruaru. Segundo nos informou, já ensinava há pelo menos dez anos, sendo que metade desse tempo foi nas turmas multisseriadas, onde começou a lecionar. Os outros 5 anos foram nas turmas do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. A professora Inês nos relatou que fazia parte de um programa chamado “Vida nova”, que funcionava no período da tarde, inclusive atendia com reforço escolar, alguns alunos da turma da professora Betânia.

A escola era constituída por 9 salas de aula (onde funcionavam 9 turmas pela manhã e 9 turmas à tarde), 1 sala da diretoria, 1 sala dos professores, 1 biblioteca (usada para armazenar materiais diversos), 2 banheiros para os alunos (1 masculino e 1 feminino), 1 banheiro para os funcionários, 1 cozinha, 1 pátio ao ar livre, 1pátio interno, 1 sala de espera (usada por alunos e pais), 1 área externa de acesso à escola e 1 área lateral (usada para guardar bicicletas).

Também foram sujeitos da pesquisa os alunos de ambas as turmas, especificamente os seis identificados nos três níveis de alfabetização – alfabético (2 alunos), alfabético não consolidado (2 alunos) e não alfabético (2 alunos) após aplicação e análise das diagnoses.

Com relação às turmas, o gráfico 1 indica o quantitativo de alunos por gênero e o gráfico 2 indica o quantitativo de alunos por idade:

Gráfico 1: Quantitativo de alunos na turma/gênero:

Gráfico 2: Quantitativo das idades dos alunos/turma:

Com relação ao gráfico 1, notamos que havia um certo equilíbrio entre o número de meninos e meninas em ambas as turmas. Ao analisarmos o gráfico 2 percebemos que as idades variaram mais na turma do 3º ano, inclusive com alunos bem acima da idade esperada (2 alunos eram repetentes).

Após aplicação da diagnose e análise dos resultados obtidos, pudemos selecionar os doze alunos que acompanhamos de modo mais específico. Nesta pesquisa, classificamos os alunos em três níveis de escrita, considerando a psicogênese da escrita de Emília Ferreiro. Classificamos o primeiro como Não Alfabético (que corresponde ao nível pré-silábico ou silábico), o segundo como

Alfabético não consolidado (que corresponde ao silábico alfabético) e o terceiro como Alfabético (que corresponde ao alfabético). Conforme o gráfico a seguir:

Gráfico 3: Resultado das diagnoses/turma:

Antes de analisarmos o gráfico 3, queremos deixar claro que dois alunos do 3º ano ficaram de fora da classificação. Um porque recebeu ajuda direta dos colegas, impossibilitando que identificássemos seu nível de escrita a partir da diagnose aplicada, e outro porque não esteve presente em nenhum dia observado. No entanto, notamos, durante as observações de aula, que o aluno cujo nível de escrita não identificamos, apesar de não ler com autonomia, compreendia as atividades de escrita propostas pela professora.

Como demonstra o gráfico 3, identificamos que 75% da turma (21 alunos) do 2º ano já estavam no nível alfabético e apenas 10,7% (3 alunos) no nível mais elementar. Na turma do 3º ano 59,26% (16 alunos) já estavam no nível alfabético, enquanto 23,1% (6 alunos) estavam no nível mais elementar. Assim, quando comparamos as duas turmas vimos que no 3º ano havia o dobro de alunos não alfabéticos, quando o que esperávamos era que houvesse um maior número de alunos num nível mais avançado ou intermediário. Nossa hipótese é que essa diferença deva ser consequência da distorção idade/série, já que a maioria dos alunos classificados como não alfabéticos (66, 7%) estavam acima da idade esperada para o 3º ano, ou seja, estavam com idades entre 9 e 12 anos.

De cada nível e em cada turma, escolhemos dois alunos para acompanharmos o trabalho da professora com tais estudantes, em relação aos demais da turma, no que diz respeito à heterogeneidade quanto ao SEA. Para a escolha destes alunos, além dos níveis de escrita, consideramos a frequência nas aulas acompanhadas e a participação dos mesmos durante as atividades propostas pelas professoras. Usamos nomes fictícios para os alunos selecionados após diagnose, enquanto os demais da turma foram representados apenas pela letra inicial. No quadro a seguir, seguem os alunos selecionados após diagnose:

Quadro 3: Alunos por turma e nível de escrita14

2º Ano 3º Ano

Nome Idade Frequência Nível de

Escrita

Nome Idade Frequência Nível de Escrita

Juca 8 anos

6 Alfabético Ana 9 anos 4 Alfabético

Leo 8 anos

6 Alfabético Carlos 9 anos 4 Alfabético

Beto 8 anos 5 Alfabético Não Consolidado Eudes 10 anos 4 Alfabético Não Consolidado Sam 8 anos 6 Alfabético Não Consolidado

Fábio 8 anos 4 Alfabético Não Consolidado Mila 6 anos 6 Não Alfabético Bruna 10 anos 4 Não Alfabético Neto 8 anos 5 Não Alfabético

Daniel 8 anos 4 Não

Alfabético

Com relação aos alunos do 2º ano, destacamos que os dois do nível alfabético, Juca e Leo, eram os mais participativos nas aulas. Estavam sempre respondendo ou comentando o que a professora colocava de questionamentos para a turma. O aluno Leo era sempre solicitado pela professora para fazer as leituras, pois tinha boa fluência na leitura. Dos outros quatro, apenas a aluna Mila (não alfabético) tinha pouca participação. Era considerada portadora de um déficit cognitivo, embora sua mãe não tenha entregado laudo que confirmasse tal especificidade. A aluna passava muito tempo brincando com a ficha silábica que a professora lhe mandava estudar.

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Os nomes dos alunos foram alterados, embora os pais e/ou responsável tenham assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em conformidade junto ao Conselho de Ética da Universidade.

Com relação aos alunos do 3º ano, apenas a aluna Ana (alfabética) era a mais participativa, inclusive, durante as leituras coletivas, ela sempre acabava lendo pela turma, porque os demais não acompanhavam as leituras até o final. Os demais alunos participavam muito pouco durante as atividades.

Apresentamos no tópico seguinte as categorias elaboradas a partir de nossas reflexões sobre cada dado coletado na pesquisa.