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7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

No documento PROEJA - final.pdf (11.86Mb) (páginas 166-175)

Diante dos resultados da pesquisa, podemos afirmar que o estudo ora apresentado não tem caráter conclusivo da questão proposta, tampouco está atrelado a soluções imediatistas no que se refere à prática de leitura dos sujeitos da EJA. Antes, entendemos que os resultados são elementos para uma reflexão da escola como um todo (gestores, professores, servidores, setor biblioteca), como também para os alunos e a família acerca da questão tratada.

Procuramos traçar o perfil dos alunos da EJA em relação às práticas de leitura, identificando, entre outros aspectos, o que e por que os alunos leem, que tipos de leitura fazem, que tipo de material de leitura utilizam, frequência com que vão à biblioteca e propósitos com que o fazem, dificuldades que encontram para a prática de leitura.

De um modo geral, verificamos que a maior parte dos alunos reconhece a relevância da leitura para suas práticas cotidianas (no ambiente escolar, na família, no trabalho) e a dificuldade de com- preender o que leem. Também identificamos que há empecilhos à consolidação das práticas de leitura, seja pela falta de tempo ou de interesse alegada pela maioria dos entrevistados. Constatamos

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Capítulo VII | ainda que a maior parte das atividades de leitura em que os alu- nos se engajam relaciona-se ao ambiente escolar, visto como o principal espaço de promoção à leitura. Nesse sentido, o professor é apontado como o principal incentivador para o desenvolvimen- to do gosto pela leitura, fato que também foi verificado em outros estudos que analisamos.

Correlacionamos as repostas aos questionários de alunos e professores para identificar possíveis pontos de convergência e/ou divergência. Constatamos, por exemplo, que, em relação ao fator dificuldade em compreender os conteúdos dos diversos compo- nentes curriculares, há uma convergência de dados em relação às afirmativas dos professores e dos alunos, pois ambos apontam para resultados semelhantes.

Reconhecendo que a capacidade de leitura na sociedade atual pode ser considerada como uma ferramenta importante para que os sujeitos tenham a oportunidade de responder às mais diversas demandas sociais nos mais variados contextos em que atuam, e considerando os resultados que a pesquisa apontou, lançamos algumas considerações como ponto de reflexão coletiva e necessária.

É importante refletirmos inicialmente sobre a figura do pro- fessor, que intervém e é mediador no processo de desenvolvimen- to da competência de leitura dos alunos, conforme apontam os dados de nossa pesquisa e outros trabalhos que investigaram essa questão. Assim, em relação à dificuldade de compreensão dos conteúdos e da própria leitura, é preciso analisar e discutir qual o caminho que o professor pode apontar para esses jovens e adultos, que, apesar das adversidades, buscam retomar um caminho há muito interrompido.

Apesar de reconhecer que a função da escola está além do ensino da leitura, a pesquisa mostra esse espaço como o ambiente principal das práticas de leitura. Nesse sentido, acreditamos ser necessário à escola ter o conhecimento das dificuldades que os

alunos apresentam, de modo que possa buscar formas de mini- mizá-las. Grande contribuição pode vir, aliás, da base de pesquisa em Educação de Jovens e Adultos do Câmpus Natal-Zona Norte.

Também destacamos, nesse contexto, o papel da bibliote- ca, que pode contribuir para o incentivo à leitura, não apenas com a finalidade de desenvolver estudos e pesquisas (propósitos principais apontados pelos alunos entrevistados), mas para o en- tretenimento, para o deleite, para o prazer. Nesse sentido, os pro- fissionais desse setor podem implementar projetos que visem a esse objetivo, tais como: rodas de leitura, sarau literário, encontro com o escritor, mural literário, além de reforçar os já existentes a exemplo da cesta e da colheita literária, que foram implantados no IFRN, Câmpus Natal-Zona Norte no ano de 2008.

Importante ainda é enfatizar o que cabe aos alunos. O que eles têm procurado fazer para suplantar as dificuldades de leitu- ra das quais são conscientes? Assumimos que é necessário haver, também por parte deles, uma mobilização coletiva para buscar mecanismos de vencer essas dificuldades. Embora saibamos que existem iniciativas individuais, acreditamos na relevância e neces- sidade de uma ação coletiva.

Com base numa concepção de prática de leitura como ativi- dade participativa, consciente e libertadora, entendemos que esse processo demanda o envolvimento de todos, de modo a promover os alunos à condição de partícipes do seu mundo e capazes de res- ponder às demandas sociais das diferentes esferas/instâncias das quais venham tomar parte.

Destacamos, por fim, a contribuição que o estudo ora apre- sentado pode fornecer ao trabalho de docentes e demais profissio- nais do IFRN Câmpus Natal-Zona Norte no que diz respeito às práticas de leitura, à possível melhoria no desempenho acadêmico de seus alunos e à formação de profissionais cidadãos.

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Capítulo VII |

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Rejane Gomes Ferreira* rejane.gomes@ifrn.edu.br

Maria Luíza de Medeiros Galvão** luiza.galvao@ifrn.edu.br

1 INTRODUÇÃO

N

o percurso histórico da Psicologia como ciência, os aspec- tos cognitivos e afetivos das funções psicológicas têm sido tratados separadamente. Por muito tempo, e até metade deste sé- culo, a Psicologia teve o domínio dos behavioristas, para os quais apenas o comportamento observável de forma objetiva podia ser estudado cientificamente. Essa visão científica distorcida está mudando aos poucos, à proporção que a Psicologia passa a reco- nhecer a função primordial do sentimento no pensamento, atra- vés da reunião desses dois aspectos, buscando uma recomposição de um ser psicológico completo.

Numa visão sociointeracionista do conhecimento, o processo de ensino e de aprendizagem inclui uma relação dialógica entre * Pedagoga no IFRN - Câmpus Currais Novos/RN, psicopedagoga, especialista em

PROEJA.

** Professora de Geografia no IFRN - Câmpus Natal-Central, pesquisadora/orientadora da Base de Pesquisa – NUPEG – IFRN/Natal-RN.

Capítulo VIII

e|

Reflexões sobre o processo de aprendizagem dos jovens e adultos (PROEJA) à luz da teoria

os sujeitos caracterizados como ensinantes e aprendentes, além da relação com o ambiente no qual estão inseridos. O chamado fracasso escolar não é um processo que ocorre no sentido contrá- rio ao do “aprender”, mas exatamente a outra face, o seu lado in- verso. Acredita-se que são muitos os fatores que contribuem para o sucesso e o não sucesso da aprendizagem escolar. Nessa pers- pectiva, a aprendizagem é entendida como um processo comple- xo que compreende uma relação integrada entre o indivíduo e o seu ambiente, do qual resulta uma mudança de comportamento. Observa-se nessa definição, o reconhecimento de um sujeito que aprende inserido em um contexto sociocultural que se utiliza tan- to da objetividade, quanto da subjetividade para aprender, con- siderando a influência de aspectos internos e externos ao sujeito.

O objetivo deste trabalho centra-se em compreender como se dá o processo de aprendizagem nos jovens e adultos, sujeitos considerados excluídos, marginalizados nas diversas instâncias sociais, devido a sua condição sócio-histórica. Como campo de pesquisa, foi escolhido o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) - Câmpus Santa Cruz, em especial duas turmas do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática na Modalidade da Educação de Jovens e Adultos. Nessa perspectiva, busca-se verificar como realmente os alunos concebem o processo de aprendizagem tentando res- ponder à questão: “De que forma você aprende melhor?”.

O tema foi abordado numa visão sociointeracionista do co- nhecimento, tomando como base as ideias de Vygotsky, Freire, entre outros. No sentido de uma leitura mais específica concer- nente à problemática da aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA), buscou-se, também, alguns documentos oficiais do Programa Nacional de Integração da Educação Profissio- nal com a Educação Básica na Modalidade de Jovens e Adultos (PROEJA). Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa e

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Capítulo VIII | discussão a partir das análises realizadas, tendo como subsídios os referenciais teóricos inerentes à proposta de estudo.

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