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5 CONTEÚDOS DAS DISCIPLINAS DE EMPREENDEDORISMO

No documento PROEJA - final.pdf (11.86Mb) (páginas 43-49)

Após o levantamento e a análise documental dos Planos de

Curso dos quatro cursos técnicos integrados da modalidade EJA

oferecidos pelo IFRN Câmpus Natal-Zona Norte (Comercio EJA, Manutenção de Computadores EJA, Eletrotécnica EJA e Informática EJA), foi possível constatar que apenas dois dos re- feridos cursos possuem, em suas grades curriculares, disciplinas com objetivos e conteúdos voltados especificamente para o ensino de empreendedorismo, conforme mostrado abaixo, no quadro 1. Quadro 1 – Disciplinas especificamente voltadas ao ensino de

empreendedorismo nos cursos técnicos integrados modalidade EJA do IFRN Câmpus Natal-Zona Norte.

Curso Disciplina

Manutenção de

Computadores EJA Gestão e Empreendedorismo Eletrotécnica EJA Não há

Curso Disciplina

Comércio EJA Não há

Informática EJA Gestão Empresarial

Fonte: IFRN (2010). Adaptado de: <www.ifrn.edu.br/ensino/cursos/cursos- tecnicos-integrados>. Acesso em: 20 abr. 2010.

Essas faltas de disciplinas de empreendedorismo nos cursos Comércio EJA e Eletrotécnica EJA, como podem ser observadas no quadro 1, evidenciam um indicativo de prejuízo na forma- ção dos futuros técnicos desses cursos, uma vez que o ensino do empreendedorismo, como visto na fundamentação teórica, pode ser um elemento colaborador da formação integral dos estudan- tes. Essas lacunas podem limitar, por exemplo, o contato direto desses alunos com conhecimentos e ações estimuladores de novas formas de se posicionar ou de se incluir no mundo do trabalho. Para Dolabela (1999, p. 54), “o desenvolvimento das habilidades empreendedoras coloca os jovens em melhores condições para en- frentar um mundo em constante mudança e oferece vantagens também àqueles que preferem disputar a corrida do emprego”.

Os cursos de Manutenção de Computadores EJA e Informáti-

ca EJA, por sua vez, apresentam, respectivamente, as disciplinas Gestão e Empreendedorismo e Gestão Empresarial abordando espe-

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Capítulo II | Figura 1 – Conteúdos programáticos das disciplinas de

empreendedorismo.

Fonte: IFRN (2010). Planos de cursos disponíveis em: <www.ifrn.edu. br/ensino/cursos/cursos-tecnicos-integrados>. Acesso em: 20 abr. 2010.

Como se pode constatar na figura 1, os conteúdos dessas disciplinas são praticamente iguais, com uma única diferença: a disciplina Gestão Empresarial tem adicionalmente o item 5.0, de- nominado “Apresentação de Planos de Negócios”.

O item “1. Empreendedorismo” dessas disciplinas contempla aspectos que dizem respeito ao mundo globalizado, à atitude e ao comportamento empreendedor (persistência, comprometimento, autoconfiança, planejamento, busca de informações e oportu- nidades, correr riscos calculados, entre outros). Não obstante, a aparição recorrente e predominante de termos como “negócio”, “empresariais” e “empresas” nos itens subsequentes expõe o dire- cionamento para um ensino de empreendedorismo mais ligado à abertura e ao gerenciamento de empresas.

Dessa forma, as ementas elencam inicialmente o empre- endedorismo como força criativa e inovadora, mas logo depois focalizam formas de negócio empresarial, deixando de prever es- pecificamente outras formas organizacionais que também podem ser consideradas empreendedoras, como cooperativas, associa- ções, arranjos produtivos locais, entre outras.

Alguns conteúdos dessas disciplinas apontam-nas como cola- boradoras para a formação integral dos estudantes a elas subme- tidos. Isso porque tais conteúdos se relacionam a princípios dessa formação integral (como mostrado no quadro 2), embora o pre- domínio no foco mercadológico possa limitar essa contribuição.

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Capítulo II | Quadro 2 – Relação entre conteúdos das disciplinas de empreende-

dorismo e os princípios da formação integral.

Tópico do conteúdo conforme baracho et al (2006), a que o tópico Princípio norteador da formação integral, da disciplina relaciona-se

1.1. O mundo globalizado e seus desafios e potencialidades.

A realidade concreta como uma totalidade, síntese das múltiplas relações. O currículo integrado deve levar o estudante a perceber o conjunto de fatos que compõem a realidade como um todo; levá-lo a entender o contexto no qual está inserido.

1.4. Competências e habilidades: persistência, comprometimento, exigência de qualidade e eficiência, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança, busca de oportunidades, busca de informações, planejamento e monitoramento sistemático, estabelecimento de metas, correr riscos calculados.

1.5. Identificação de oportunidades de negócio.

A pesquisa como princípio educativo. A pesquisa estimula a autonomia dos indivíduos, desen- volvendo, entre outros aspectos, as capacidades de aprendizado, interpretação, análise, crítica, reflexão, busca de soluções e alternativas.

4.2. Criando a empresa.

Homens e mulheres como seres histórico-sociais, capazes de interferir na realidade, produzindo- -se e transformando-se nas relações com os demais seres humanos.

Ao prever no subitem 1.1 um ensino sobre “O mundo

globalizado e seus desafios e potencialidades”, as disciplinas

de empreendedorismo abrem espaço para que possam ser trabalhados, junto aos alunos, variados aspectos da sociedade internacionalizada, tais como questões econômicas, políticas, culturais, ambientais e tecnológicas. Isso permite contribuir para elevar o entendimento do contexto no qual estão inseridos e a visão da realidade concreta como um todo derivado das diversas relações desses variados aspectos. Permite, portanto, contribuir para, como prescrevem os princípios norteadores da formação integral, “levar o aluno a perceber a realidade como um todo”, ter uma visão ampla da sociedade.

O subitem 1.4 – que prevê a abordagem de competências e habilidades empreendedoras como a independência, a busca de informações e de oportunidades – e o subitem “1.5. Identificação

de oportunidades de negócio” mostram, por sua vez, que as discipli-

nas em análise contemplam conteúdos voltados para o desenvol- vimento de competências como a autonomia, as capacidades de análise, reflexão e, sobretudo, de busca de soluções e alternativas para as questões práticas do cotidiano. Essas competências estão ligadas à pesquisa como um dos princípios educativos da formação integral, segundo Baracho et al (2006).

Com relação ao ponto “4.2 Criando a empresa” e ao item ao qual está relacionado, os próprios títulos evidenciam a intencio- nalidade pretendida: estimular e expor os meios para que o aluno crie uma empresa. Esse tópico expõe a capacidade das discipli- nas em contribuir para a formação integral do aluno, no que diz respeito a levá-lo a tornar-se agente de interferência da realidade onde vive. Isso porque, a partir daí, o professor pode abordar o estímulo à criação de empreendimentos que, apesar de considerar a obtenção de resultados financeiros, atendam necessidades laten- tes da comunidade de maneira sustentável. Ou seja, o professor pode incentivar os alunos a criar empresas éticas, que respeitam

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Capítulo II | o meio ambiente e os direitos sociais. De acordo com Dolabela (1999), a formação empreendedora nas escolas traz a oportunida- de de expor conteúdos de ética e de cidadania ligados à atividade econômica e profissional. Para esse autor, é possível, por exemplo, levar os estudantes a perceberem que os danos causados por frau- des em licitações públicas, pelas práticas de propinas, vão além dos ganhos ilícitos de alguns.

Entretanto, a presença desse tópico “4.2 Criando a empresa” reforça o foco exclusivo das disciplinas na criação de empreendi- mentos empresariais, que podem sugerir o estímulo à exploração capitalista e ao individualismo. Dessa forma, uma alternativa de melhoria seria adicionar às ementas tópicos tratando explicita- mente da criação de outras formas organizacionais com sistemas de gestão mais democráticos e funções sociais mais definidas, como cooperativas, associações, fundações e organizações não governamentais (ONGs).

No documento PROEJA - final.pdf (11.86Mb) (páginas 43-49)