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Parte 5 ▪ Grandes eventos, ajustes internacionais e tópicos avançados

2.3 Algumas equações importantes

Nesta seção, resumimos a discussão das seções anteriores ao apresentar um conjunto de relações de contabilidade nacional que utilizamos de forma extensiva no resto do livro. Introduzimos aqui algumas notas e convenções que seguiremos por todo o livro.

Para um trabalho analítico nos capítulos seguintes, simplificamos nossa análi- se ao fazer suposições que garantem que a renda nacional seja igual ao PIB. Na maioria das vezes, desconsideramos a depreciação e, portanto, a diferença entre o PIB e o PIL, bem como a diferença entre investimento bruto e investimento líquido. Referimo -nos apenas aos gastos com investimentos. Também desconsideramos os impostos indiretos e as transferências entre empresas. Com essas convenções em mente, referimo ‑nos à renda nacional e ao PIB como sinônimos de renda e pro‑ duto. Essas simplificações não causam sérias consequências e são feitas apenas por conveniência. Finalmente, somente na próxima subseção, omitimos os setores go- vernamental e externo.

U M A E C O N O M I A S I M P L E S

Representamos o valor do produto em nossa economia simples, a qual não possui governo nem um comércio exterior como Y. O consumo é representado por C e os gas- tos com investimentos por I. A primeira equação básica é a de que os produtos produ- zidos igualam -se aos produtos vendidos. O que acontece com o produto que não foi vendido? Contabilizamos a acumulação de estoques como parte do investimento (como se as empresas vendessem os bens a si mesmas para somar aos seus estoques)

e, portanto, todo o produto é consumido ou investido. O produto vendido pode ser expresso em termos dos componentes da demanda como a soma dos gastos com con- sumo e investimentos. Por consequência, podemos escrever:

Y ≡ C + I

O próximo passo é estabelecer a relação entre poupança, consumo e PIB. Como a renda será alocada? Parte será gasta no consumo e parte será poupada4. Assim, po- demos escrever:

Y ≡ S + C

S denota a poupança do setor privado. A Eq. (5) nos mostra que toda a renda é

alocada tanto para o consumo como para investimento. A seguir, as Eqs. (4) e (5) po- dem ser combinadas como:

C + I ≡ Y ≡ C + S

A parte à esquerda da Eq. (6) mostra os componentes da demanda, e a parte à direita mostra a alocação da renda. A equação enfatiza que o produto gerado é igual ao produto vendido. O valor do produto gerado é igual à renda recebida, e esta, por sua vez, é gasta em bens ou poupada.

A Eq. (6) pode ser levemente reformulada para mostrar a relação entre poupança e investimento. Ao subtrair o consumo de cada parte da Eq. (6), temos:

I ≡ Y – C ≡ S

A Eq. (7) mostra que em uma economia simples, o investimento é idêntico à poupança. Pode -se pensar de várias formas sobre o que está por trás desta relação. Em uma economia bem simples, a única forma pela qual o indivíduo pode poupar é pelo ato do investimento físico — por exemplo, o armazenamento de grãos ou a construção de um canal de irrigação. Em uma economia um pouco mais sofisticada, pode -se pensar em investidores que financiam suas aplicações ao tomar emprestado de indivíduos que poupam.

R E I N T R O D U Ç Ã O D O G O V E R N O E D O C O M É R C I O E X T E R I O R

Reintroduzimos agora o setor público e o setor externo5. Indicamos as compras de bens e serviços do governo como G e todos os impostos como TA. Transferências ao setor privado (incluindo os juros da dívida pública) são denotados como TR. As ex- portações líquidas (exportações menos importações), por NX.

Voltamos à equação entre os produtos produzidos e os vendidos, levando agora em conta todos os componentes da demanda, incluindo G e NX. Portanto, apresenta- mos novamente a equação básica:

Y ≡ C + I + G + NX

A seguir, voltaremos à derivação da importantíssima relação entre o produto e a renda disponível. Agora, precisamos reconhecer que parte da renda é gasta em impos- tos e que o setor privado recebe transferências líquidas (TR), além da renda nacional.

4 As decisões sobre a poupança são feitas pelas empresas, bem como diretamente pelos consumidores. É

conveniente ignorar a existência das corporações e consolidar, ou somar conjuntamente, todo o setor privado.

5 Aqui, “governo” significa o governo federal mais os governos estaduais e municipais.

(4)

(5)

(6)

(7)

A renda disponível (YD), desta forma, é igual à renda, mais as transferências, menos os impostos:

YD ≡ Y + TR – TA

A renda disponível, por sua vez, é alocada para consumo e poupança:

YD ≡ C + S

Ao reorganizar a Eq. (9) e substituindo, no lugar de Y, a Eq. (8), temos:

YD – TR + TA ≡ C + I + G + NX

Ao colocar a Eq. (10) na Eq. (11), produz -se:

C + S – TR + TA ≡ C + I + G + NX

Com alguma reorganização, obtemos:

S – I ≡ (G + TR – TA) + NX

P O U P A N Ç A , I N V E S T I M E N T O S , O R Ç A M E N T O D O G O V E R N O E C O M É R C I O A Eq. (13) não pode ser subestimada. O primeiro conjunto de termos no lado direito (G + TR – TA) é o déficit orçamentário do governo (BD). G + TR é igual ao gasto público

total, que consiste nas compras de bens e serviços do governo (G) mais as transferên- cias do governo (TR). TA é o montante de impostos recebidos pelo governo. A diferença

(G + TR – TA) é o excesso de gastos governamentais sobre a sua receita, ou o déficit or-

çamentário do governo, BS (o déficit orçamentário é o negativo de um superávit orça- mentário, BS = TA – [G + TR]). O segundo termo no lado direito é o excesso de exporta-

ções sobre as importações, ou as exportações líquidas de bens e serviços, ou, de forma abreviada, as exportações líquidas, resumidamente. NX também é chamado de superá‑

vit comercial. Quando as exportações líquidas são negativas, temos um déficit comercial.

Assim, a Eq. (13) determina que o excesso de poupança sobre os investimentos (S – I) no setor privado é igual ao déficit orçamentário do governo mais o superávit comercial. A equação sugere, de forma correta, que existem relações importantes en- tre o excesso de poupança privada sobre os investimentos (S – I), o orçamento do go- verno (BD) e o setor externo (NX). Por exemplo, se, para o setor privado, a poupança for igual aos investimentos, então o déficit (superávit) orçamentário do governo é re- fletido em um igual déficit (superávit) externo.

A Tabela 2.2 mostra a importância da Eq. (13). Para fixar as ideias, suponha que a poupança do setor privado, S, seja igual a US$ 1 trilhão. Nas duas primeiras linhas, con- sideramos que as exportações são iguais às importações, de modo que o superávit co- mercial seja igual a zero. Na linha 1, consideramos que o orçamento do governo está equilibrado. Os investimentos, por consequência, devem ser iguais a US$ 1 trilhão. Na linha seguinte, supomos que o déficit orçamentário do governo é de US$ 150 bilhões.

Dado o nível da poupança, de US$ 1 trilhão, e uma balança comercial zero, deve ser

verdade que os investimentos, agora, estão abaixo de US$ 150 bilhões. A linha 3 mostra como esse relacionamento é afetado quando existe um superávit comercial.

Qualquer setor que gasta mais do que recebe como renda tem de tomar empres- tado para pagar pelo excesso de gastos. O setor privado possui três maneiras de des- tinar sua poupança. Ele pode emprestar para o governo que, assim, paga pelo seu

(9) (10) (11) (12) (13)

TABELA 2.2 O déficit orçamentário, o comércio, a poupança e os investimentos (bilhões de dólares).

poupanÇa (S) InVestImentos (I) oRÇamentáRIo (BD)DÉfICIt eXpoRtaÇÕes líQuIDas (NX)

1.000 1.000 0 0

1.000 850 150 0

1.000 900 0 100

A renda disponível (YD), desta forma, é igual à renda, mais as transferências, menos os impostos:

YD ≡ Y + TR – TA

A renda disponível, por sua vez, é alocada para consumo e poupança:

YD ≡ C + S

Ao reorganizar a Eq. (9) e substituindo, no lugar de Y, a Eq. (8), temos:

YD – TR + TA ≡ C + I + G + NX

Ao colocar a Eq. (10) na Eq. (11), produz -se:

C + S – TR + TA ≡ C + I + G + NX

Com alguma reorganização, obtemos:

S – I ≡ (G + TR – TA) + NX

P O U P A N Ç A , I N V E S T I M E N T O S , O R Ç A M E N T O D O G O V E R N O E C O M É R C I O A Eq. (13) não pode ser subestimada. O primeiro conjunto de termos no lado direito (G + TR – TA) é o déficit orçamentário do governo (BD). G + TR é igual ao gasto público total, que consiste nas compras de bens e serviços do governo (G) mais as transferên- cias do governo (TR). TA é o montante de impostos recebidos pelo governo. A diferença

(G + TR – TA) é o excesso de gastos governamentais sobre a sua receita, ou o déficit or-

çamentário do governo, BS (o déficit orçamentário é o negativo de um superávit orça- mentário, BS = TA – [G + TR]). O segundo termo no lado direito é o excesso de exporta- ções sobre as importações, ou as exportações líquidas de bens e serviços, ou, de forma abreviada, as exportações líquidas, resumidamente. NX também é chamado de superá‑

vit comercial. Quando as exportações líquidas são negativas, temos um déficit comercial.

Assim, a Eq. (13) determina que o excesso de poupança sobre os investimentos (S – I) no setor privado é igual ao déficit orçamentário do governo mais o superávit comercial. A equação sugere, de forma correta, que existem relações importantes en- tre o excesso de poupança privada sobre os investimentos (S – I), o orçamento do go- verno (BD) e o setor externo (NX). Por exemplo, se, para o setor privado, a poupança for igual aos investimentos, então o déficit (superávit) orçamentário do governo é re- fletido em um igual déficit (superávit) externo.

A Tabela 2.2 mostra a importância da Eq. (13). Para fixar as ideias, suponha que a poupança do setor privado, S, seja igual a US$ 1 trilhão. Nas duas primeiras linhas, con- sideramos que as exportações são iguais às importações, de modo que o superávit co- mercial seja igual a zero. Na linha 1, consideramos que o orçamento do governo está equilibrado. Os investimentos, por consequência, devem ser iguais a US$ 1 trilhão. Na linha seguinte, supomos que o déficit orçamentário do governo é de US$ 150 bilhões.

Dado o nível da poupança, de US$ 1 trilhão, e uma balança comercial zero, deve ser

verdade que os investimentos, agora, estão abaixo de US$ 150 bilhões. A linha 3 mostra como esse relacionamento é afetado quando existe um superávit comercial.

Qualquer setor que gasta mais do que recebe como renda tem de tomar empres- tado para pagar pelo excesso de gastos. O setor privado possui três maneiras de des- tinar sua poupança. Ele pode emprestar para o governo que, assim, paga pelo seu

(9) (10) (11) (12) (13)

TABELA 2.2 O déficit orçamentário, o comércio, a poupança e os investimentos (bilhões de dólares).

poupanÇa (S) InVestImentos (I) oRÇamentáRIo (BD)DÉfICIt eXpoRtaÇÕes líQuIDas (NX)

1.000 1.000 0 0

1.000 850 150 0

1.000 900 0 100

1.000 950 150 –100

excesso de gastos sobre a renda que recebe dos impostos. Ou o setor privado pode emprestar para estrangeiros, que estão comprando mais de nós do que estamos com- prando deles. Portanto, eles estão ganhando de nós menos do que precisam para pa- gar pelos bens que compram, e temos de emprestar a eles para cobrir a diferença. Ou, ainda, o setor privado pode emprestar para as empresas que utilizam os fundos para investimentos. Nesses três casos, as famílias serão pagas depois, ao receber juros ou dividendos, além da quantia que emprestaram.

Nos anos 1950 e 1960, o orçamento do governo e a balança comercial dos Estados Unidos estavam usualmente em superávit, como a Fig. 2.5 mostra. A história, desde o final dos anos 1970 até meados dos anos 1990, era de déficits orçamentários do governo e déficits comerciais persistentes. Na virada do milênio, o orçamento tornou -se superávit pela primeira vez em muitos anos, mas a balança comercial con- tinuou em déficit. O superávit orçamentário dos Estados Unidos não durou muito, tem ficado em déficit desde o terceiro trimestre de 2001.

A Fig. 2.6 mostra a dívida federal*, que é o acúmulo dos déficits passados. A maior parte da dívida federal resulta de guerras, mas uma quantia considerável foi somada

FigUrA 2.5 Superávits orçamentário e comercial como percentual do PIb, 1947 ‑2009. Fonte: Bureau of Economic Analysis.

1947195019531956195919621965196819711974197719801983198619891992199519982001200420072010 P er centual 8 6 4 2 0 –2 –4 –6 –8 –10 –12

Superávit/déficit corrente do governo (% do PIB) Exportações líquidas

* N. de T.: Federal Debt. Em tradução literal, “dívida federal”. Em inglês, é também chamada de government

debt, national debt e public debt. Em português, respectivamente, “dívida governamental (ou do governo)”,

FigUrA 2.6 Dívida federal em poder do público como fração do Produto nacional bruto, estados Unidos, 1790 ‑2009.

Fonte: Congressional Budget Office e Bureau of Public Debt, U.S. Department of the Treasury.

1790 1800 1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2010 2000 Guerr a Revolucionária Guerr a de 1812 Guerr a Civil Recessão de 1873 a1875 Recessão de 1882 a 1885 Recessão de 1890 a 1896 Recessão de 1921 1ª Guer ra Mundial 2ª Guerr a Mundial Recessão de 1937 a 1938 Gr ande Depr essão Recessão de 1961 Recessão de 1970 Recessão de 1975 Recessão de 1980 a 1983 Recessão de 1949 Guerr a da Cor eia Recessão de 1954 Recessão de 2001 Recessão de 1958 Recessão de 1990 a 1991 A Gr ande Depr essão Guerr a do Vietnã

Início da Segunda Guerr

a do Golfo

em 2003

120 100 80 60 40 20 0

Perce ntual

nos anos 1980, embora os Estados Unidos estivessem em paz. O pacote de incentivos fiscais utilizado para enfrentar a Grande Recessão de 2007 a 2009 também aumentou de forma significativa a dívida federal.