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Parte 5 ▪ Grandes eventos, ajustes internacionais e tópicos avançados

2.4 Medição do produto interno bruto

Há uma variedade de sutilezas no cálculo do PIB. Há também uma variedade de pro- blemas que não são sutis. Começamos pelos pontos simples6.

B E N S F I N A I S E V A L O R A D I C I O N A D O

O PIB é o valor dos bens e serviços finais que foram produzidos. A insistência em bens e serviços finais é apenas para garantir que não vamos fazer dupla contabiliza- ção (ou dupla contagem). Por exemplo, não gostaríamos de incluir o preço total de um automóvel e, em seguida, incluir como parte do PIB o valor dos pneus que foram comprados pela montadora do automóvel para utilização no carro. Os componen- tes do carro que foram comprados pelas montadoras são chamados de bens inter‑

mediários, e seus valores não estão incluídos no PIB. De forma similar, o trigo que

faz parte de uma torta é um bem intermediário. Contabilizamos apenas o valor da torta como parte do PIB; não o valor do trigo vendido ao moleiro e o valor da farinha vendida ao padeiro.

Na prática, evita -se a dupla contabilização trabalhando com o valor adicionado. Em cada estágio da manufatura de um bem, apenas o valor adicionado a ele naquele momento é contabilizado como parte do PIB. O valor do trigo produzido pelo fazen- deiro é contabilizado como parte do PIB. A seguir, o valor da farinha vendida pelo moleiro, menos o custo do trigo, é o valor adicionado do moleiro. Se seguirmos adian- te com esse processo, veremos que a soma do valor adicionado de cada estágio de processamento é igual ao valor final do pão vendido.

P R O D U T O C O R R E N T E

O PIB consiste no valor do produto correntemente produzido. Portanto, o PIB exclui as transações com mercadorias*já existentes, tais como casas ou pinturas dos antigos mestres (Old Masters**). Contabilizamos a construção de novas casas como parte do PIB, mas não somamos o valor das vendas das casas já existentes. No entanto, conta- bilizamos o valor das comissões de vendas dos corretores de imóveis como parte do

6 Para um relato legível sobre como os valores do PIB são compilados ao redor do mundo, ver “Taking the

Pulse of the Economy: Measuring GDP”, por J. Steven Landefeld, Eugene P. Seskin e Barbara M. Fraumeni,

Journal of Economic Perspectives, Spring, 2008.

* N. de T.: Commodities. Em sua tradução para o português, “mercadorias”. No singular, “commodity”. É um termo utilizado em transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias. ** N. de T.: Old Masters. O termo, que em tradução literal significa “Antigos Mestres”, designa telas e desenhos feitos por notáveis pintores europeus antes de 1800. Embora seja um termo considerado vago por historiado- res, permanece atual no mercado de artes, onde leilões podem dividir as vendas em “pinturas old masters”, “pinturas do século XIX” e “pinturas modernas”.

PIB. O corretor fornece um serviço corrente ao aproximar o vendedor e comprador, e isso faz, adequadamente, parte da produto corrente.

P R O B L E M A S D E M E D I Ç Ã O D O P I B

Os dados do PIB são, na prática, utilizados não apenas como uma medida do quanto está sendo produzido, mas, também, como uma medida do bem -estar dos residentes de um país. Os economistas e os políticos dão a entender que um aumento do PIB significa que as pessoas estão em melhor situação. Mas, tais dados estão longe da per- feição, tanto em relação ao produto, quanto em relação ao bem -estar7. Estes são, de forma específica, os três principais problemas:

Alguns produtos são medidos de forma deficiente, pois não são comercializados no mercado. Se você assa tortas caseiras, o valor do seu trabalho não é contabilizado nas esta- tísticas oficiais do PIB. Se você comprar uma torta (sem dúvida, de qualidade inferior), o trabalho do padeiro é contabilizado. Isso quer dizer que a participação extremamente maior das mulheres na força de trabalho tem aumentado os valores do PIB oficial sem re- dução de compensação para a diminuição da produção caseira (nós medimos oficialmen- te o valor da creche, mas tomar conta de seus próprios filhos é contabilizado como zero).

Observe também que os serviços do governo não são diretamente precificados pelo mercado. As estatísticas oficiais supõem que um dólar gasto pelo governo vale um dólar em valor8. O PIB é medido de forma incorreta em um âmbito em que um dólar gasto pelo governo gera um produto valorizado pelo povo em mais ou menos o mesmo valor.

7 Ver os artigos de M. J. Boskin, B. R. Moulton e W. D. Nordhaus sob o título “Getting the 21st Century GDP

Right”, em American Economic Review, May, 2000, e “Beyond the GDP: The Quest for a Measure of Social Wel- fare”, Journal of Economic Literature, December, 2009.

8 Provavelmente, você tem a reação imediata de que um dólar gasto pelo governo em ensino superior vale

muito mais do que um dólar gasto em refrigerante — assim esperamos.

QuaDRo 2.1 luz e VeRDaDe

P

ara esclarecer sobre o quanto a mudança na qualidade pode ser importan- te, William Nordhaus, da Yale University, calculou a melhoria da ilumina- ção dentro das casas de hoje em relação às do passado, com base nas estima- tivas de necessidade de energia por lúmen. Os avanços — apesar do pouco que aparece em estatísticas oficiais — são enormes. A energia elétrica de hoje é cerca de 25 vezes mais eficiente do que a de Edison em 1883.

Não é novidade a existência de aperfeiçoamentos de qualidade não mensu- rados. Nordhaus calcula que cinco litros de óleo de gergelim custariam a um trabalhador da Babilônia cerca de meio siclos* (aproximadamente o salário de duas semanas). A luz equivalente a duas velas que queimam por uma hora cus- tariam a um babilônio o equivalente ao salário de uma hora de trabalho**. * N. de T.: Siclo, em inglês “shekel”, é uma unidade de peso de diversos povos na Antiguidade (babilônios, hebreus, sírios, gregos etc.).

** Para outras comparações sérias, porém divertidas, ver William D. Nordhaus, “Do Real Output and Real Wage Measures Capture Reality? The History of Lighting Suggests Not”, em Robert J. Gordon e Timothy F. Bresnahan (eds.), The Economics of New Goods (Chicago: University of Chicago Press, 1997), pp. 29 ‑66.

Algumas atividades medidas como acréscimos ao PIB, na verdade, representam o uso de recursos para evitar ou conter “males” como crimes ou riscos à segurança nacional. De forma parecida, as contas não subtraem nada para a poluição e degrada- ção ambientais. Essa questão é especialmente importante nos países em desenvolvi- mento. Por exemplo, um estudo realizado na Indonésia alega que a contabilização apropriada da degradação ambiental reduziria a taxa de crescimento econômico me- dido em cerca de 3%9.

É difícil contabilizar de forma correta o aperfeiçoamento na qualidade dos bens. Especialmente, este foi o caso dos computadores, cuja qualidade tem melhorado ra- dicalmente, enquanto seus preços têm caído bruscamente. Porém, isso se aplica a quase todos os bens, como carros, cuja qualidade se altera ao longo do tempo. Os encarregados da contabilidade nacional tentam fazer ajustes por causa dos aperfeiçoa- mentos da qualidade, mas a tarefa não é fácil, principalmente quando novos produtos e modelos são inventados.

Foram feitas tentativas de construir uma série de PNB ajustado que considera algumas dessas dificuldades, aproximando -se de uma medição do bem -estar. O mais abrangente desses estudos, feitos pelo saudoso Robert Eisner, da Northwestern University, estima uma série do PNB ajustado, em que seu nível real é cerca de 50% maior do que as estimativas oficiais10.