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Estimativas empíricas do crescimento

Parte 5 ▪ Grandes eventos, ajustes internacionais e tópicos avançados

3.2 Estimativas empíricas do crescimento

Os cálculos da seção anterior mostraram a importância da acumulação de capital para o crescimento, mas também sugeriram que o progresso técnico pode ser ainda mais importante. Um estudo antigo e famoso realizado pelo vencedor do Prêmio Nobel, Robert Solow, do MIT, examinou o período de 1909 a 1949 nos Estados Unidos, utilizando uma versão mais sofisticada dos cálculos que acabamos de fazer6. A con- clusão surpreendente de Solow foi a de que mais de 80% do crescimento do produto por hora trabalhada durante aquele período se devia ao progresso técnico.

De forma específica, Solow estimou uma equação do crescimento do PIB norte- -americano semelhante à Eq. (2), que identifica o crescimento do capital e do traba- lho juntamente com o progresso técnico como as fontes de crescimento do produto. Entre 1909 e 1949, o crescimento anual médio do PIB total foi de 2,9% ao ano. Dessa taxa, Solow concluiu que 0,32% era atribuível à acumulação de capital, 1,09% respon- dia por aumentos nos insumos de trabalho e o 1,49% restante devia -se ao progresso técnico. A produção per capita cresceu a 1,81% ao ano, com 1,49 pontos percentuais deste aumento como resultado do progresso técnico.

5 Como veremos a seguir, aperfeiçoamentos do capital humano também desempenham um papel.

Solow descobriu que os fatores importantes do crescimento do PIB são progres- so técnico, aumento da oferta de trabalho e acumulação de capital — nesta ordem. Os fatores importantes de crescimento do PIB per capita são progresso técnico e acumu- lação de capital.

O aumento da população, na realidade, diminui o PIB per capita, embora aumente o PIB. Embora isso possa parecer confuso, ambas as conclusões são extraídas diretamente da Eq. (2). Mais trabalhadores significa mais trabalho, mas o produto aumenta menos do que proporcionalmente. A Eq. (2) nos informa que cada ponto percentual do crescimento da força de trabalho leva a 1 – θ ponto percentual de aumento no produto, especificamen- te, cerca de 3/4 de um ponto. Como o crescimento é menor que para um, o produto cresce menos rapidamente do que o número de trabalhadores e o produto por trabalhador (PIB

per capita) cai. Há outra forma de dizer tudo isso: se você aumenta o número de trabalha-

dores sem aumentar de forma proporcional o número de máquinas, o trabalhador médio será menos produtivo, pois possui menos equipamento para trabalhar.

F A T O R E S A L É M D E C A P I T A L E T R A B A L H O

A função de produção e, portanto, as Eqs. (2) e (4) omitem uma longa lista de insumos além do capital e do trabalho — em parte porque capital e trabalho são os mais impor- tantes e, em parte, por simplificação. É claro que, em períodos e lugares específicos, outros insumos, além do capital e do trabalho, são bastante importantes. Este é o caso dos recursos naturais e do capital humano.

R e c u r s o s n a t u r a i s

Muito da prosperidade dos Estados Unidos se deve ao fértil e abundante solo do país. Entre 1820 e 1870, a área de terras dos Estados Unidos cresceu 1,41% por ano (contri- buindo grandemente para o crescimento), embora, nos tempos modernos, o cresci- mento da terra nos Estados Unidos tenha sido insignificante. A abertura do leste rus- so, praticamente, coincidiu com a abertura do oeste americano e, de forma similar, contribuiu para o crescimento econômico russo.

Para um exemplo mais recente da importância ocasional dos recursos naturais, considere o recente aumento acentuado no PIB norueguês (ver Fig. 3.1). Entre 1970 e

QuaDRo 3.2 o ResíDuo De solow

C

omo o progresso técnico é medido? Por definição, as variações em A explicam to- das as variações na produtividade que não se devem a variações nos insumos dos fatores. As variações em A algumas vezes são chamadas de variações na produtivida‑ de total dos fatores, ou PTF, termo mais neutro do que “progresso técnico”. Como os insumos e os produtos são diretamente observáveis, o que não ocorre com A, os eco- nomistas medem ∆A/A ao rearranjar a Eq. (2) colocando esse termo do lado esquerdo:

∆A/A = ∆Y/Y – [(1 – θ) × ∆N/N] – (θ × ∆K/K)

Tudo o que fica de fora é atribuído às variações na PTF. Medidas desta forma, as variações na PTF são chamadas de resíduo de Solow.

1990, o PIB per capita da Noruega cresceu de 67% para 80% do PIB per capita dos Estados Unidos. Muito desse salto do crescimento norueguês foi devido à descoberta e a exploração de enormes reservas de petróleo7.

C a p i t a l h u m a n o

Em países industrializados, o trabalho não qualificado é menos importante do que as habilidades e os talentos dos trabalhadores. O estoque da sociedade para tais habili- dades cresce pelo investimento em capital humano, através da instrução, treinamen- to no trabalho e outros meios, da mesma forma que o investimento físico leva a um aumento físico de capital (nos países pobres, o investimento em saúde é o determi- nante principal para o capital humano. Em períodos de pobreza extrema, um investi- mento fundamental pode ser o de fornecer aos trabalhadores as calorias necessárias para capacitá -los à colheita — e ao lucro com ela). Ao adicionar o capital humano, H, podemos escrever a função de produção como:

Y = AF(K, H, N)

A participação do capital humano é grande na renda de países industrializados. Um influente artigo escrito por Mankiw, Romer e Weil8 sugere que a função de produção seja consistente com as participações dos fatores de 1/3 cada para capital físico, trabalho bruto e capital humano. Um crescimento diferenciado desses três fatores pode explicar cerca de 80% da variação no PIB per capita por meio de uma amostra ampla de países, enfatizando o papel crucial da acumulação dos fatores no processo de crescimento.

De acordo com a seção anterior, um grande estoque de capital físico — resultado de uma razão de investimento alta — deveria levar a um PIB alto. A Fig. 3.2 (a) traça (em uma escala logarítmica) o PIB per capita em relação ao investimento (como fração do PIB) para um corte de países (cross section). É aparente que um alto investimento leva a uma alta renda. Mas existe uma relação semelhante entre o capital humano e o produto? O capital humano é difícil de medir de forma precisa, mas a média dos anos de instrução pode servir como uma proxy para o capital humano. Na Fig. 3.2 (b), vemos que a evidência apoia fortemente a relação positiva entre capital humano e produto. No capítulo seguinte, veremos que o capital humano, assim como o capital físico, pode continuar a se acumular e, portanto, pode contribuir para o crescimento permanente.

Qualquer variação em um importante fator produtivo irá impactar o produto. Em alguns países tropicais, o PIB depende da chegada das monções. A imigração impul- siona o produto per capita quando trabalhadores capacitados entram no país, um fato que tem beneficiado os Estados Unidos. Por outro lado, a imigração de refugiados de guerra, geralmente, diminui o produto per capita no curto prazo. Porém, um fator produtivo eleva o crescimento do produto apenas enquanto a oferta do fator em si estiver crescendo. Tais flutuações nos insumos dos fatores podem durar por vários

7 Embora a posse de ricos recursos naturais seja, teoricamente, uma contribuição para um maior padrão de

vida, algumas evidências empíricas sugerem que os países com mais recursos naturais, em média, têm um de- sempenho pior. Uma explicação é a de que tais países desperdiçam suas riquezas. Ver Jeffrey D. Sachs e Andrew M. Warner, “The Big Push, Natural Resource Booms and Growth”, Journal of Development Economics, 1999.

8 N. G. Mankiw, D. Romer e D. Weil, “A Contribution to the Empirics of Economic Growth,” Quarterly Journal

of Economics, May, 1992.

anos, mas raramente duram por várias décadas (embora a abertura do oeste norte- -americano e do leste russo sejam exceções).

As flutuações de curto prazo nos fatores de produção — que englobam tudo, de monções a fluxos de refugiados — às vezes são bastante importantes. Mesmo assim, em grandes movimentos da história, os dois fatores importantes são a acumulação de capital (físico e humano) e o progresso tecnológico. Nosso estudo da teoria do cresci- mento se concentra nesses dois fatores.