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Parte 5 ▪ Grandes eventos, ajustes internacionais e tópicos avançados

6.1 Inflação e desemprego

A Fig. 6.1 mostra a taxa de desemprego desde 1960. Por meio de um exame rápido, pode -se ver que a economia não estava bem no final de 2009. Compare esse fato com a baixa taxa de desemprego que a economia norte -americana desfrutou em 1999. Nesta seção, vamos discutir a curva de Phillips, que mostra o dilema entre desem- prego e inflação. Mais adiante no capítulo, faremos uma derivação mais rigorosa,

demonstrando a relação entre a curva de oferta agregada e a curva de Phillips (o PIB se relaciona com o desemprego; o PIB potencial se relaciona a taxa natural de desemprego e o nível de emprego se relaciona a taxa de inflação). Em uma base diá- ria, é muito mais fácil trabalhar com dados do desemprego na curva de Phillips do que com dados do PIB na curva de oferta agregada.

C U R V A D E P H I L L I P S

Em 1958, A. W. Phillips, então professor da London School of Economics, publicou um estudo abrangente do comportamento dos salários no Reino Unido para os anos de 1861 a 19572. A principal descoberta está resumida na Fig. 6.2, reproduzida a partir de seu artigo. A curva de Phillips é uma relação inversa entre a taxa de desemprego e a taxa de aumento dos salários nominais. Quanto maior a taxa de desemprego, me‑ nor a taxa de inflação dos salários. Em outras palavras, há um dilema entre infla‑ ção de salários e desemprego.

A curva de Phillips mostra que a taxa de inflação dos salários diminui com o au- mento da taxa de desemprego. Seja Wt o salário desse período e Wt + 1 como o salário do período seguinte, logo, a taxa da inflação dos salários, gw, é definida por:

gw = Wt + 1 – Wt

Wt

Com u* representando a taxa natural de desemprego3, podemos escrever a curva de Phillips simples como:

gw = – ∊(u – u*)

Em que∊mede a magnitude da resposta dos salários ao desemprego. Essa equa- ção mostra que os salários caem quando a taxa de desemprego excede a taxa natural, ou

2 A. W. Phillips, “The Relation between Unemployment and the Rate of Change of Money Wages in the United

Kingdom, 1861–1957,” Economica, November, 1958.

3 1) Você verá abaixo que há uma conexão próxima entre a taxa natural de desemprego, u*, e o produto poten‑

cial, Y*. 2) Muitos economistas preferem o termo “taxa de desemprego com inflação não acelerada” (NAIRU) (sigla em inglês para “nonaccelerating inflation rate of unemployment”) ao termo “taxa natural”. Ver Laurence

M. Ball e N. Gregory Mankiw, “The NAIRU in Theory and Practice,” Journal of Economic Perspectives, Novem- ber, 2002. Ver também neste livro, Cap. 7, nota 15.

(1) (2) 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004 2009 Taxa de desempr ego (per centual)

FigUrA 6.1 a taxa do desemprego da população economicamente ativa dos estados Unidos, 1959 ‑2010. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Taxa de desempr ego (per centual) 11 10 9 8 7 6 5 4 3 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004 2009

seja, quando u > u*, e sobem quando o desemprego está abaixo da taxa natural. A dife- rença entre o desemprego e a taxa natural, u – u*, é chamada de hiato do desemprego.

Suponha que a economia esteja em equilíbrio, com preços estáveis e o desemprego igual à taxa natural. Agora, considere um aumento do estoque de moeda de, por exemplo, 10%. Ambos, preços e salários, devem ter um aumento de 10% para que a economia volte ao equilíbrio. Mas a curva de Phillips mostra que, para os salários subirem em 10%, a taxa de desemprego terá de cair. Isso fará com que a taxa de variação dos salários aumente. Os salários começarão a subir, assim como os preços, e, no final, a economia voltará ao nível de produto de pleno emprego e o desemprego ao de pleno emprego. Esse ponto pode ser facilmente visto ao reescrever a Eq. (1), usando a definição da taxa de inflação de salários, a fim de examinar o nível dos salários hoje em relação ao nível do passado:

Wt + 1 = Wt[1 – ∊(u – u*)]

Para que os salários subam acima do seu nível anterior, o desemprego deve cair abaixo da taxa natural.

Embora a própria curva de Phillips relacione a taxa de aumento dos salários ou a inflação dos salários ao desemprego, como na Eq. (2) anterior, o termo “curva de Phillips” gradualmente passou a ser usado para descrever tanto a curva de Phillips original quanto uma curva que relaciona a taxa de aumento dos preços — a taxa de inflação — à taxa de desemprego. A Fig. 6.3 mostra os dados de inflação e desemprego dos Estados Unidos durante a década de 1960 que aparecem inteiramente consisten- tes com a curva de Phillips.

D I L E M A D A P O L Í T I C A E C O N Ô M I C A

A curva de Phillips rapidamente se tornou um fundamento da análise de política ma- croeconômica. Ela sugeriu que os formuladores de políticas econômicas poderiam

(2a)

–4

Taxa de variaç

ão dos salários nominais

(per

centual por ano)

Desemprego (percentual) –2 0 2 4 6 8 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 10

FigUrA 6.2 a Curva de Phillips original para o reino Unido.

Fonte: A. W. Phillips, “The Relation between Unemployment and the Rate of Change of Money Wages

in the United Kingdom, 1861–1957,” Economica, November, 1958.

10 8 6 4 2 0 –2 –4 Taxa de v ariaç

ão dos salários nominais

(per

centual por ano)

Desemprego (percentual) Curva ajustada aos dados de 1861-1913

escolher diferentes combinações de taxas de desemprego e inflação. Por exemplo, po- deriam ter baixa taxa de desemprego, desde que suportassem inflação alta — como a situação no final dos anos 1960 na Fig. 6.3. Ou poderiam manter inflação baixa ao ter alta taxa de desemprego, como no início dos anos 1960.

Você já sabe que a ideia de um dilema permanente entre inflação e desemprego deve estar errada, pois a curva de oferta agregada no longo prazo é vertical. A peça do quebra -cabeça que está faltando na curva de Phillips simples é o papel das expectati- vas de preços. Mas os dados na Fig. 6.3 devem deixar -lhe com duas impressões que parecem ser claras e corretas. Primeiro, existe um dilema entre desemprego e inflação no curto prazo4. Segundo, a curva de Phillips (e, portanto, a curva de oferta agregada), na verdade, é pouco inclinada no curto prazo. Ao aplicar econometria ocular à Fig. 6.35, é possível ver que a diminuição do desemprego em um ponto percentual (o que é muito) aumenta a taxa de inflação no curto prazo em cerca de meio ponto (um montante relativamente pequeno). Observe também que a taxas de desemprego mui- to baixas, o dilema entre inflação e desemprego se torna muito inclinado.

6.2 ESTAGFLAÇÃO, INFLAÇÃO ESPERADA E A CURVA DE