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Parte 5 ▪ Grandes eventos, ajustes internacionais e tópicos avançados

3.1 Contabilidade do crescimento

Nesta seção, utilizamos a função de produção para estudar duas fontes de crescimen- to. O produto cresce por meio de aumentos nos insumos e por meio de aumentos na produtividade, resultantes do aperfeiçoamento tecnológico e de uma força de traba- lho mais qualificada1. A função de produção fornece uma relação quantitativa en‑ tre insumos e produtos. Para simplificar, primeiro consideramos que o trabalho (N) e o capital (K) sejam os únicos insumos importantes. A Eq. (1) mostra que o produto (Y) depende dos insumos e do nível da tecnologia (A). (Dizemos que A representa o nível de tecnologia, pois, quanto maior for A, mais produto é obtido para um determi- nado nível de insumos. Algumas vezes, A é chamado apenas de “produtividade”, um termo mais neutro do que “tecnologia”.)

Y = AF (K, N)

Mais insumo significa mais produto. Em outras palavras, o produto marginal do

trabalho (MPL) (marginal product of labor — aumento do produto gerado pelo au-

mento do trabalho) e o produto marginal do capital (MPK) (marginal product of capi‑

tal — aumento do produto gerado pelo aumento do capital) são ambos positivos.

A Eq. (1) relaciona o nível de produto aos níveis de insumos e ao nível da tecnologia. Frequentemente, é mais fácil trabalhar com taxas de crescimento do que com níveis. A função de produção na Eq. (1) pode ser transformada em uma relação bem específica entre o crescimento do insumo e o crescimento do produto. Isso pode ser resumido pela

equação da contabilidade do crescimento (derivada no apêndice deste capítulo)2: ∆Y/Y = [(1 – θ) × ∆N/N] + (θ × ∆K/K) + ∆A/A

Em que (1 –θ) e θ são pesos iguais à parcela do trabalho e do capital na renda3. A Eq. (2) resume as contribuições do crescimento de insumos e da melhoria da produtividade ao crescimento do produto:

• O trabalho e o capital contribuem, cada um, com uma quantidade igual às suas taxas individuais de crescimento multiplicadas pela participação daquele insumo na renda.

1 Para uma análise refinada da contabilidade do crescimento, ver Robert J. Barro, “Notes on Growth Accoun-

ting”, Journal of Economic Growth, June, 1999.

2 A premissa de uma economia competitiva é necessária para que possamos ir da Eq. (1) para a Eq. (2). Essa

premissa é discutida no apêndice. O Quadro 3.1 começa com um exemplo que utiliza a função de produção Cobb -Douglas (o exemplo continua no apêndice), mas a Eq. (2) não exige de forma alguma essa função de produção específica.

3 A “parcela do trabalho” significa a parcela do produto total que se destina a remunerar o trabalho — em

outras palavras, salários, remunerações, e assim por diante, divididos pelo PIB.

(1) Crescimento = econômico

(

)

(

)

(2) progresso técnico parcela do trabalho crescimento do trabalho parcela do capital crescimento do capital × + × +

QuaDRo 3.1 a funÇão De pRoDuÇão CoBB ‑Douglas

A

fórmula geral para a função de produção é Y = AF(K,N). Se você prefere pros- seguir a discussão com uma fórmula específica, pode usar a função de pro‑ dução Cobb ‑Douglas, Y = AKθ N1 ‑θ. Ao menos para os Estados Unidos, θ ≈ 0,25 torna a função Cobb -Douglas uma aproximação muito boa para a economia real, portanto, ela pode ser escrita como Y = AK0,25N0,75. Os economistas gostam da forma funcional da Cobb -Douglas, pois ela fornece uma descrição relativamen- te exata da economia e é bastante fácil de ser manipulada algebricamente. Por exemplo, o produto marginal do capital é:

econômico é resultado da acumulação dos fatores de produção, especialmente de ca- pital, e de uma maior produtividade. Neste capítulo, veremos como esses fatores ex- plicam o crescimento econômico e como as taxas de poupança e o crescimento popu- lacional determinam a acumulação de capital. No próximo capítulo, focaremos no motivo do crescimento da produtividade.

3.1 CONTABILIDADE DO CRESCIMENTO

Nesta seção, utilizamos a função de produção para estudar duas fontes de crescimen- to. O produto cresce por meio de aumentos nos insumos e por meio de aumentos na produtividade, resultantes do aperfeiçoamento tecnológico e de uma força de traba- lho mais qualificada1. A função de produção fornece uma relação quantitativa en‑ tre insumos e produtos. Para simplificar, primeiro consideramos que o trabalho (N) e o capital (K) sejam os únicos insumos importantes. A Eq. (1) mostra que o produto (Y) depende dos insumos e do nível da tecnologia (A). (Dizemos que A representa o nível de tecnologia, pois, quanto maior for A, mais produto é obtido para um determi- nado nível de insumos. Algumas vezes, A é chamado apenas de “produtividade”, um termo mais neutro do que “tecnologia”.)

Y = AF (K, N)

Mais insumo significa mais produto. Em outras palavras, o produto marginal do

trabalho (MPL) (marginal product of labor — aumento do produto gerado pelo au-

mento do trabalho) e o produto marginal do capital (MPK) (marginal product of capi‑

tal — aumento do produto gerado pelo aumento do capital) são ambos positivos.

A Eq. (1) relaciona o nível de produto aos níveis de insumos e ao nível da tecnologia. Frequentemente, é mais fácil trabalhar com taxas de crescimento do que com níveis. A função de produção na Eq. (1) pode ser transformada em uma relação bem específica entre o crescimento do insumo e o crescimento do produto. Isso pode ser resumido pela

equação da contabilidade do crescimento (derivada no apêndice deste capítulo)2: ∆Y/Y = [(1 – θ) × ∆N/N] + (θ × ∆K/K) + ∆A/A

Em que (1 –θ) e θ são pesos iguais à parcela do trabalho e do capital na renda3. A Eq. (2) resume as contribuições do crescimento de insumos e da melhoria da produtividade ao crescimento do produto:

• O trabalho e o capital contribuem, cada um, com uma quantidade igual às suas taxas individuais de crescimento multiplicadas pela participação daquele insumo na renda.

1 Para uma análise refinada da contabilidade do crescimento, ver Robert J. Barro, “Notes on Growth Accoun-

ting”, Journal of Economic Growth, June, 1999.

2 A premissa de uma economia competitiva é necessária para que possamos ir da Eq. (1) para a Eq. (2). Essa

premissa é discutida no apêndice. O Quadro 3.1 começa com um exemplo que utiliza a função de produção Cobb -Douglas (o exemplo continua no apêndice), mas a Eq. (2) não exige de forma alguma essa função de produção específica.

3 A “parcela do trabalho” significa a parcela do produto total que se destina a remunerar o trabalho — em

outras palavras, salários, remunerações, e assim por diante, divididos pelo PIB.

(1) Crescimento = econômico

(

)

(

)

(2) progresso técnico parcela do trabalho crescimento do trabalho parcela do capital crescimento do capital × + × +

QuaDRo 3.1 a funÇão De pRoDuÇão CoBB ‑Douglas

A

fórmula geral para a função de produção é Y = AF(K,N). Se você prefere pros- seguir a discussão com uma fórmula específica, pode usar a função de pro‑ dução Cobb ‑Douglas, Y = AKθ N1 ‑θ. Ao menos para os Estados Unidos, θ ≈ 0,25 torna a função Cobb -Douglas uma aproximação muito boa para a economia real, portanto, ela pode ser escrita como Y = AK0,25N0,75. Os economistas gostam da forma funcional da Cobb -Douglas, pois ela fornece uma descrição relativamen- te exata da economia e é bastante fácil de ser manipulada algebricamente. Por exemplo, o produto marginal do capital é:

MPK = θAKθ-1N1 -θ = θA(K/N) -(1 -θ) = θY/K

A taxa de aperfeiçoamento tecnológico, chamada de progresso técnico, ou cresci‑

mento da produtividade total de fatores, é o terceiro termo da Eq. (2).

A taxa de crescimento da produtividade total dos fatores é o montante pelo qual o produto crescerá como resultado do aperfeiçoamento nos métodos de produção, com todos os insumos constantes. Em outras palavras, há crescimento da produtividade total dos fatores quando obtemos mais produto a partir dos mesmos fatores produtivos4.

Exemplo: Considere que a parcela do capital na renda seja de 0,25 e que a do trabalho

seja de 0,75. Esses números correspondem, aproximadamente, aos valores atuais para a economia dos Estados Unidos. Ademais, seja o crescimento da força do trabalho de 1,2% e o crescimento do estoque de capital de 3%, e considere que a produtividade total dos fato- res cresça à taxa de 1,5% ao ano. Qual é a taxa de crescimento do produto? Ao aplicar a Eq. (2), obtemos uma taxa de crescimento de ∆Y/Y = (0,75 × 1,2%) + (0,25 × 3%) + 1,5% = 3,15%.

Um ponto importante na Eq. (2) é que as taxas de crescimento do capital e do trabalho são ponderadas pelas suas respectivas parcelas na renda. Como a parcela deste é maior, o aumento de um ponto percentual aumenta mais o produto do que uma variação no capital de um ponto percentual. Como os pesos somam 1, se ambos, capital e trabalho, crescem em 1% adicional, o mesmo ocorre com o produto.

Este ponto — o de que o crescimento dos insumos é ponderado pelas parcelas dos fatores — acaba sendo bem crucial ao perguntarmos qual a quantidade de crescimento adicional é obtida pelo aumento da taxa de crescimento de capital por meio da, digamos, implementação de políticas do lado da oferta. Suponha que, no exemplo anterior, o cresci- mento de capital tenha sido duas vezes maior — 6%, em vez de 3%. Ao utilizarmos a Eq. (2), percebemos que o crescimento do produto aumentaria de 3,15 para 3,9%, uma elevação de menos de um ponto percentual, embora o crescimento do capital tenha sido de três pontos.

C O N T A B I L I D A D E D O C R E S C I M E N T O N O P R O D U T O P E R C A P I T A

A Eq. (2) descreve o crescimento do produto total. Mas, realmente, nos importamos com a renda nacional total ou com a renda de uma pessoa comum, o chamado PIB per

4 Há diferença entre produtividade do trabalho e produtividade total dos fatores. A produtividade do trabalho é

simplesmente a razão entre o produto e o insumo do trabalho, Y/N. A produtividade do trabalho, certamente, cresce como resultado do progresso técnico, mas também devido à acumulação de capital por trabalhador.

capita? A Suíça é um país “rico” e a índia é um país “pobre”, embora o PIB agregado in-

diano seja maior. A nossa noção de “padrão de vida” refere -se ao bem -estar individual. O PIB per capita é a razão do PIB em relação à população. Ao estudar o cresci- mento, é tradicional utilizar letras minúsculas para valores per capita, portanto defi- nimos y ≡ Y/N e k ≡ K/N. A taxa de crescimento do PIB é igual à taxa de crescimento do PIB per capita mais a taxa de crescimento da população: ∆Y/Y = ∆y/y + ∆N/N, e ∆K/K = ∆k/k + ∆N/N. Para traduzir a equação da contabilidade do crescimento em termos per capita, subtraia o crescimento populacional, ∆N/N, de ambos os lados da Eq. (2) e reorganize os termos:

∆Y/Y – ∆N/N = θ × [∆K/K – ∆N/N] + ∆A/A A Eq. (3) é reescrita em termos per capita como:

∆y/y = θ × ∆k/k + ∆A/A

O número de máquinas por trabalhador, k, também chamado de razão capital‑

‑trabalho, é um determinante essencial do montante de produto que um trabalhador

pode gerar. Como θ é cerca de 0,25, a Eq. (4) sugere que um aumento de 1% na quan- tidade de capital disponível para cada trabalhador aumenta o produto per capita em apenas cerca de 0,25%

A C O N V E R G Ê N C I A P Ó S - G U E R R A D A S E C O N O M I A S

D O S E S T A D O S U N I D O S E D O J A P Ã O

O processo de uma economia alcançar a outra é chamado de convergência. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, o padrão de vida no Japão praticamente alcançou o dos Estados Unidos. Quanto da notável convergência do pós -guerra entre os Estados Unidos e o Japão pode ser explicado por uma relação contábil simples como a Eq. (4)? A Tabela 3.1 apresenta os dados necessários.

A tabela a seguir mostra que a taxa de convergência japonesa em relação aos Estados Unidos era maior no início do período pós -guerra do que recentemente, por- tanto, dividimos a análise em dois períodos, 1950 -1973 e 1973 -1992. Observamos an- tes o primeiro período, no qual a maior taxa de acumulação de capital no Japão res- ponde por grande parte da diferença no crescimento do produto.

Entre 1973 e 1992 (segunda linha), o Japão superou os Estados Unidos no cresci- mento do PIB per capita em 1,65% por ano. Em menos de 20 anos, o produto no Japão

(3) (4)

TABELA 3.1 taxas de crescimento anuais pós ‑guerra (percentuais).

pIB Per CAPITA não ResIDenCIal Per CAPITAestoQue De CapItal

ESTADOS

UNIDOS JAPÃO DIFERENÇA ESTADOS UNIDOS JAPÃO DIFERENÇA

1950 -1973 2,42 8,01 5,59 1,78 7,95 6,17

1973 -1992 1,38 3,03 1,65 2,12 6,05 3,93

1950 -1992 1,95 5,73 3,78 1,93 7,09 5,16

Fonte: Angus Maddison, Monitoring the World Economy 1820 -1992 (Paris: Organization for Economic

cresceu 36% mais do que o produto dos Estados Unidos. O que explica essa realiza- ção? Ao colocar os números da Tabela 3.1 na Eq. (4), a diferença de 3,93% por ano no crescimento do capital per capita (∆k/k) na última coluna da tabela prevê um diferen- cial no crescimento do PIB per capita de 0,98% (0,98 = ∆y/y = θ × ∆k/k = 0,25 × 3,93).

Em outras palavras, algo tão simples como a Eq. (4) responde por pouco mais da me- tade (0,98 de 1,65) da diferença observada nas taxas de crescimento.

Durante o início do período pós -guerra, o crescimento japonês era de surpreen- dentes 5,59 pontos acima do crescimento dos Estados Unidos. Podemos mostrar que essa diferença é grande demais para ser explicada pela acumulação de capital relati- vo. Colocando os dados da primeira linha da Tabela 3.1 na Eq. (4), pode -se explicar apenas 1,54 (1,54 = ∆y/y = θ × ∆k/k = 0,25 × 6,17) pontos da diferença. Isso deixa 4,05 pontos a serem explicados por diferenças relativas às mudanças na tecnologia5, ∆A/A. Durante o início do período pós -guerra, o Japão importou ativamente tecnologia do Ocidente. Começando a partir de um nível de tecnologia mais baixo, grande parte do crescimento foi possível por causa da “convergência tecnológica”. No período pós- -guerra mais recente, a transferência de tecnologia se tornou mais uma via de mão dupla. Hoje, as diferenças entre os japoneses e os norte -americanos em ∆A/A são muito menos importantes do que no passado.

Cálculos semelhantes mostram que, embora a acumulação de capital não seja a única determinante do PIB, ela é um fator muito importante. Portanto, gostaríamos de saber o que determina a taxa de tal acumulação. Quando voltarmos para a teoria do crescimento ao final do capítulo, analisaremos como a taxa de poupança determi- na o crescimento do capital.