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4. SOBRE OS POEIRAS: CIRCUITO ALTERNATIVO DE EXIBIÇÃO

4.1. Espaços alternativos de exibição

4.1.4. Aliança Francesa

A primeira aparição da Aliança Francesa no jornal foi sobre a programação do Festival de Cinema Francês, em 1962, que seria sediada nesse espaço. No dia 29 de maio, no Correio Estudantil, foi publicada finalmente uma nota sobre uma atividade que aconteceria exclusivamente na Aliança. Tratava-se de pré-estreias cinematográficas para sócios do Club dos Avant-Premières.

Neste primeiro ano, 1962, a Aliança Francesa funcionou em instalações provisórias. Poucas notícias foram veiculadas sobre programação cinematográfica, restringindo-se as duas informadas acima. Contudo, um novo prédio estava previsto para ser construído, o que daria maior estrutura para as futuras atividades cinematográficas no local. No dia 17 de novembro, Ari Cunha noticiou a construção do novo prédio: “A Aliança Francesa começará, nestes próximos dias, a sua construção na W4. O projeto de Oscar Niemeyer será executado por uma firma francesa e as fundações pelas Estms França.” (CUNHA, 1962)

Ivonne Jean publicou uma matéria completa sobre o novo prédio da Aliança Francesa, em 10 de fevereiro de 1963. Na reportagem, foi anexada uma imagem da maquete da futura sede dessa instituição, projetada por Oscar Niemeyer. No texto, Jean revelou que estaria previsto um cinema:

BAR, LIVARIA, TEATRO E CINEMA – Haverá um bar e uma livraria francesa para fazer hora como se Brasília já fôsse, mesmo, uma grande cidade agitada. Haverá um teatro que, além de receber conferencistas franceses e brasileiros, será emprestada cada vez que Brasília precisar de um palco para um espetáculo teatral. Haverá muitas outras coisas das quais destacamos duas iniciativas importantes: A primeiro há de alegrar a todos: é o cinema, pois funcionará todos os dias, apresentando documentários e também grandes filmes. Além do mais, cogita-se da criação do primeiro cine-clube de Brasília. (JEAN, 1963)

Figura 14 – Reportagem sobre o novo prédio da Aliança Francesa escrita por Ivonne Jean e publicada em 10 de fevereiro de 1963.

No ano de 1963, a Aliança Francesa apareceu com mais frequência nas colunas, notas e matérias do Correio Braziliense. No dia 19 de maio, foi anunciado na coluna de Yvonne Jean a pré-inauguração do novo auditório. Nesta ocasião “Foram apresentados filmes técnicos de curta-metragem, filme sobre a construção de sinos, sobre o papel pintado, as vistas do famoso aeroporto de Orly, a construção de hangares” (JEAN, 1963)

Fritz Teixeira Sales também passou a comentar a programação apresentada na Aliança Francesa na coluna Cinema, como o fez em 16 de junho quando citou sobre a exibição do

filme Brinquedo Proibido (1952), de René Clement; ou como em 12 de setembro, quando destacou a importância da Aliança Francesa dentro do cenário exibidor da cidade. Contudo, a maior entusiasta fora Yvonne Jean. Antes da inauguração do novo prédio, ela publicou em sua coluna O ensino dia-a-dia, no dia 04 de setembro:

A Aliança Francesa prepara-se para inaugurar seu novo prédio. É um acontecimento importante. Não somente porque o programa de festejos tem elevado sentido cultural e foi bem estruturado (tanto assim que o citamos abaixo, desde já na íntegra), mas também porque a Aliança Francesa é um dos organismo mais importantes da Brasília Pioneira. Quando ninguém cogitava ainda de vida cultural numa cidade em plena construção, sem conforto e que requeria todas as energias para cumprir o programa inicial de implementação, quando ninguém pensava em cultura inglesa, instituto Brasil-Estados Unidos ou outras instituições internacionais, duas pessoas resolveram criar a Aliança Francesa em Brasília, sem maiores delongas. Duas pessoas enérgicas e ativas. Citei o professor Claude de Morgy e a professora Clarisse Ferreira da Silva. Não se contentaram em dar algumas aulas. Tentaram criar um ambiente e transmitir a muitos a cultura francês que a guerra e certas conjunturas da atualidade afastaram, nos último decênios, da mocidade brasileira. E tão bem reduziram o que programaram que muito rapidamente a quase totalidade dos jovens da nova capital seguia as aulas da Aliança, aprendia francês, lia francês, interessavam-se pela língua, literatura e cultura da França. O resultado foi que Brasília tornou-se a única cidade do Brasil em que o estudante em vez de escolher o inglês como segunda língua, falava francês e, principalmente, lia francês. Isso merecia ser lembrado agora. (JEAN, 1963)

Para os festejos programados a partir do dia 09, estava prevista exibição de filmes de arte, sobre as principais obras do século XX. Também haveria um festejo em homenagem ao pintor Pierre Courtion e um seminário sobre Arte Barroca, ministrado por Alcides da Rocha Miranda, diretor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília.

Em novembro, foram exibidos dois filmes de Jean Cocteau. Na semana do dia 07, foi exibido L'aigle à deux têtes (1948) e na semana do dia 12, La belle et la bête (1946). No dia 07 de novembro, Frtiz discorreu na coluna Cinema sobre a filmografia do cineasta francês. Já no fim deste mês, a partir do dia 26 até o 30, foi exibido o filme Paris 1900 (1947).

Com as novas instalações, o Cine Clube de Brasília passou a realizar sessões neste espaço, sendo informado que seriam essas as primeiras exibições do clube, com a projeção de três comédias de Charles Chaplin, no dia 04 de dezembro. A entrada seria permitida apenas para sócios quites. A última sessão informada no ano de 1963 foi no dia 08 de dezembro. Em tal data ocorreu a projeção do filme La Bas Fonds (1936), de Jean Renoir e baseado na novela de Gordi.

Diante da revelação das informações disponíveis acerca deste espaço, percebe-se que ele passou a ser mais utilizado para atividades cinematográficas após a construção do novo prédio, onde estava previsto um local específico para cinema. É a partir desse ano que a

Aliança Francesa passa a ter papel preponderante dentro da programação cinematográfica da nova Capital.