• Nenhum resultado encontrado

Figura 3 — Entrada, processo e devolução.

Fonte: CPL, Celebração do 150.° aniversário da sua fundação (1930). ' ' A preparação militar, quando aliada à educação primária, facilitava o prosseguimento de uma carreira no exército e a quebra da dependência do asilo. Instituições de.benemerência particular, .exclusivamente dedicadas ao amparo, também não dispensaram as possibilidades disciplinares, oferecidas pela formação castrense, como-o Asilo ..Profissional. do Terço que, em

1931, perante o Congresso da Assodação Internacional de Protecção à Infanda, elogiava assim as virtudes do seu “Ensino Militar Preparatório”:

“E de ver com orgulho a maneira como os nossos queridos rapazes se conduzem, já enfileirados com a mais norteada disciplina, já ostentando os preceitos cívicos de que se vêem possuídos, e em que se assinalam com um garbo admirável” (Monografia do Asilo Profissional do Terço, 1931: 25).

Pelo final do século XIX já estava muito enraizada a preocupação das saídas profissionais para os asilados. O visconde de Ribamar tinha já fundado o ensino profissional de forma a preparar os asilados para o “momento perigoso de ficarem entregues a si próprios”. As educandas também se procurava proporcionar “casamentos convenientes,” prática que a Casa Pia também seguiu, bem como deixá-las “aptas para costureiras, modistas, criadas de servir e outros mesteres apropriados” (Costa, 1885: 201) mas, em meados do século XX, criava uma “Comissão de Orientação Profissional”, constituída pelos chefes dos Serviços Escolares e de Assistência Médica e o Subchefe dos Serviços médico-pedagógicos, tendo por encargo “reunir e coordenar os elementos necessários ao estudo da orientação profissional de cada aluno”, sendo estes observados para esse fim até aos 14 anos (Orientação profissional dos alunos da Casa Pia, 1945).

Na década de 1950, no Reformatório Central de Lisboa, a passagem para a vida livre era feita já depois de um aprendizado profissional, mesmo assim temia-se que a transição fosse brusca, pois haveriam “muitos internados para quem uma libertação completa, a seguir ao internamento, poderia prejudicar gravemente as vantagens adquiridas durante este”. Criaram então uma secção de semi-intemato para os que estavam prestes a sair, como meio de os preparar de forma gradual para a liberdade, mas também para os pôr à prova e melhor os conhecer (Fernandes, 1958: 96).

A Re a l Ca s a Pi a d e Li s b o a ea c o r r e c ç ã o s o c i a l

Não é neste momento nem na dimensão deste trabalho que cabe uma análise rigorosa e profunda da história da Casa Pia de Lisboa, por isso, não é tal o que aqui se pretende verter, mas não é possível dissociar essa instituição da influência e, sobretudo, do pioneirismo que representou nas tecnologias de correcção social da criança, o que a situa num percurso muito particular da evolução na modernidade das instituições correcdonais. A extensão temporal da sua acção, as suas ongens e os métodos empregues sobre as populações a que se dedicou, aliadas a algumas personalidades que a lideraram desde a sua fundação, posicionam a Casa Pia como a mais paradigmática instituição correccional portuguesa e conferem-lhe um papel distinto e notável no panorama das suas congéneres europeias. Não comportando aqui, como já se disse, uma história da instituição, por muito ligeira que fosse, opta-se por traçar cortes temporais suficientemente alargados para permitirem percepcionar algumas descontinuidades significativas nos discursos pedagógicos e nas práticas regimentais que lá vigoraram.

No universo das instituições dedicadas à protecção e acção pedagógica de reenquadramento social da criança, a Casa Pia evidenda-se por inúmeras razões, algumas já suficientemente estudadas e referenciadas, mas nao exclui que se procure aprofundar, sob diferentes aproximações conceptuais e metodológicas, uma clarificação dos contributos trazidos à genealogia das instituições correctivas. Entre tantos

dos seus traços distintivos evidencia-se facilmente a antiguidade da instituição, a procura consistente de novas metodologias educativas e as modalidades e especializações adoptadas.

Quanto à precocidade da Casa Pia na instauração de um regime de apropriação dos indivíduos e ao recurso a práticas escolares que incluíam afinidades carcerárias, mesmo sem estar a considerar o fim com que o fazia, se punitivo, educativo, de amparo ou regenerador, recorde-se que, no sistema penal europeu, o encarceramento como punição não está vigente antes das reformas francesas de 1780 - 1820 (Foucault, 1997: 23), existindo formas de detenção sim, mas não consagradas como punição criminal ou reformadora. A Casa Pia, ao estabelecer-se em 1780 e demarcando já duas populações distintas, uma, sujeita à punição da Casa da Força, outra, beneficiando do auxílio do asilo educativo e profissional, toma-se uma instituição reguladora de comportamentos sociais, recorrendo a um regime disciplinar de clausura e internato, conjugando-o com uma acção educativa de tipo escolar ou formativa. Como pretexto de reflexão e estímulo à investigação, faça-se desde já a justiça de perceber que a mítica casa de Mettray só surgiu 60 anos depois.

No contexto escolar, no mínimo, a Casa Pia acompanhava as recentes modalidades surgidas em França, ou em Inglaterra nas pubkc schools do final do século XVm, mas antedpava-se certamente, embora nem sempre com o reconhecimento merecido, às instituições que acabaram por aparecer por vários países da Europa no início do século XIX. Teófilo Braga, insere-a mesmo na promoção de um movimento crescente de descoberta da “afectividade” e da “igualdade humana perante o sofrimento” que, segundo ele, marcou a segunda metade do século XVm (Braga, 1896).

Referindo-se à CPL de finais do século XIX, António Costa, sobre a CPL, colocava a ênfase na constância de todos os momentos educativos è da sua importância para a interiorização de valores na construção moral dos sujeitos:

"A educação moral exerce-se a todos os momentos, em todos os lugares e em todos os assuntos, subordinada aos seguintes preceitos fundamentais: Amor de Deus, da humanidade, da família, da verdade da justiça, da liberdade, da instrução, do trabalho, da economia, e das virtudes domésticas. Em cada uma das aulas se ministram aqueles princípios. É a Moral prática da vida. Deste modo os princípios da moral não são papagueados, para já nos últimos a razão infantil se ter esquecido dos primeiros, mas vão-se entranhando no entendimento dos moços, que em lugar de os dizerem só de memória, os recebem praticamente dos professores, dos prefeitos, do director, ficando-lhes assim gravados, como um cunho de oiro em espíritos de cera”

(Costa, 1885: 121).

Foi por esses tempos que se iniciou um conjunto de práticas assentes no pressuposto da eficácia educativa do regime de internamento dos escolares, revelando uma visão instrumental e disciplinar da escola e que teria como fim a constituição de um ser humano idealizado.

QUADRO SYNOPTICO

Vista Taclo Educação dos sentidos ^ Ouvido

Olphato Paladar Educação physica Educação intellectual Respiração Alimentação Vestuário Aceio Habitação Hygiene Gymnaslica

Desenvolver as

{acuidades 4a

alma

Sensibilidade

Percepção

Atienção

Joizo

Raciocioio

Memoria

Imaginação Reflexão Vonlade Teudeucias Hábitos

IX “

anàlytica Redacção Escripta Gallygraphia descriptiva

Figura 4 — 0 “currículo” casapiano em meados de Oitocentos.

DE EDUCAÇÍO REAL