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DE EDUCAÇÍO REAL Educação moral

6,50 75,13 Bolacha d merenda, 50 grammas 1,10 15,

Ceia

Carne guisaria com balatas, pão. Carue de vacca 130 granunos, ou sem osso 104 granunas.

A to ie C artw n io Caroo. ... 3,12 11,44 . Batatas, 60 grarnmas... 0,19 6,00 Pão, 100 granunas... 1,80 38,00 Toucinho, 5 gramraas... 0,05 • 3,55 5,10 59,50

Total, 17,13 de azo te; 239.69 de carbonio. Total da carne ci-ua 290 graminas; sem osso, 232 grarnmas.

Os physiolo^istas estabelecem que a carne deve entrar no sustento na rasSo dc 2j por cento do peso lotai da comida. O peso total da comida que figura no nosso exemplo è de ()k,890,2 ; 25 por cento 222 graminas, c nós damos 232 gramraas; logo a nossa ração de carue d avantajada.

Begulando-nos pelo hygiunisla Smilh, o nual exige para a epochn da puberdade elementos nutritivos, que contenham em si equivalen­ tes de azote 15,26 c 218,10 de carhouio, vemos qua u ração adoptada na Casa Pia,'no easo mais desfavoravél de alimentação, satisfaz ple­ namente, por isso que os seus equivalentes perfazem 17,13 de azoto e í39,G9 de carbonio.- -

Comparaudo com as indicações da commissSo francesa, chegãmnx ao segninlé resultado:

Temos na actualidade 274 orphãos de seis a doze annos, 54 d» di»e a quinze, e 6 de quinze a dezoito annos; ao lodo 334.

Sfio as quantidades estabelecidas pela commissão franeeza. como dissemos, dc 200 graramas para os primeiros, 240 para os segundos e 820 grainmas para os terceiros..

Da escola medieval que homogeneizava a criança e o adulto passou- se ao colégio que estabeleceu um princípio de modernidade regimental de governação hierarquizada, embora pedagogicamente ainda aglutinasse crianças e adolescentes numa mesma massa de escolares. No século x v m , o uniforme militar vai ajudar a destrinçar as crianças dos jovens, reforçando junto destes uma imagem de virilidade que não se associava à meninice:

“Cette notion d’adolescence transformera la pédagogie: les . éducateurs reconnaissent désormais à l’uniforme et a la

discipline militaire une valeur morale. T .’assimilation de l’adolescent et du soldat, à l’école, conduit à accentuer des caractères jusqu’alors négligés, de rudesse, de virilité, désormais recherchés pour eux-mêmes. Un sentiment nouveau est apparu, quoique encore embryonnaire distint de celui de l’enfance: le sentiment de l’adolescence” (Ariès, 1973: 297). '

As ideias científicas positivistas e a ascensão da psicologia como métodó diagnóstico e prescritivo dotaram essas instituições correctivas com uma função terapêutica que exigia avaliação científica do estado da criança, bem como a posterior avaliação do resultado das suas aplicações educativas. Essa acção continuada de classificar/configurar/devolver, constituiu uma genuína contabilidade pedagógica, facilitando o estudo e a aferição permanente de resultados denotando, através dessa conjugação de práticas e discursos educativos, a‘evolução da condição e responsabilidade social da criança perante um Estado que pretendia consumar a integração de todos òs segmentos populacionais da infanda nos seus mecanismos de governação política.

Embora os regimes de correcção se constituíssem por técnicas e conceitos disponíveis em cada momento, sendo pois evolutivos e não disruptivos, pode-se discernir alguns pontos de viragem na formulação regimental que distinguia essas instituições e, Sobretudo, na evolução dos

discursos institucionais sobre “o que é a criança”, subjacentes à sua acção. Alguns desses “momentos de viragem”, nas formas de govemo da criança delinquente adquiriram expressão prática através -de instituições pioneiras numa acção correctiva que traduzisse os enunciados da modernidade, ao assumirem modalidades inovadoras de terapia e inclusão social que se foram desenvolvendo por vias progressivamente mais especializadas e liberalistas.:

Partindo de uma metáfora de camadas sedimentares como uma ideia da progressão da .modernidade, pode-se adoptar o exercício de aglutinar determinados regimes disciplinares numa temporalidade fraccionada em fases ou camadas sedimentares, uma vez que cada novo período de vigência regimental, resultante de novas formações discursivas e de novos saberes, surgia por ter adquirido o seu espaço de poder conquistado a uma ordem antecedente. Pode então fazer-se uma tentativa simplista de operadonalizar temporalmente algumas inovações regimentais na correcção social de menores, agregando as instituições mais paradigmáticas dos diferentes modelos disciplinares do seguinte modo: .

I Fase -1780-1870:

Instauração de um regime correcaonal com intenções educativas e de auxílio público, graças à abertura da Casa Pia de Lisboa. A originalidade da instituição, a sua abertura à flexibilidade educativa e a experimentalidade dos seus métodos pedagógicos e de interacção soaal, apontam a CPL como deasiva. para o inído da modernidade no campo das práticas disaplinares que ambidonavam corrigir por m dos institudonais as crianças sodalmente desreguladas. . ..

. II F ase-1870-1911:

Trata-se de um período relativamente curto, para a época em apreço, mas representativo de uma. grande transição nas prátiças

regimentais e no discurso pedagógico, afirmando definitivamente um pensamento moderno. A legislação que concede a abertura da Casa de Detenção e ■ Correcção de Lisboa, ao separar definitivamente a responsabilização penal dos menores da dos adultos, consagra a criança como uma população autónoma e passível de aplicações de práticas de govemo especializadas, tal como a expansão da escola de massas fazia junto de populações de menores socialmente enquadradas pelo govemo da família. Este período coincide com a acção do P.e António de Oliveira, figura central nessas reformas políticas que estabeleceram em definitivo as formulações da modernidade no que respeita à relação com a criança marginal.

- m Fase-1911-1962:

j Materializa-se o alastramento e consolidação da intervenção do Estado,, que erige um modelo duradouro segundo a orientação das ideias republicanas; prevalência crescente dos métodos científicos de avaliar e medir, introdução da psicologia e das noções terapêuticas; obscurecimento gradual da evidência dos métodos disciplinares na relação pedagógica. Elevado número de pequenas reformas mas sem grandes rupturas.

IV F ase-1 9 6 2 : ' >

- Reforma de fundo com a criação dos institutos de reeducação. E uma décâda em que se inicia o declínio do internamento compulsivo como dispositivo recomendado. Nikolas Rose (1999: 237), invocando Stan Cohen (1985), aponta os finais dos anos sessenta como o início do “desencarceramento”, caracterizando assim uma mudança nas estratégias de controlo social que se traduziu na prática pela diminuição significativa das populações em instituições de sequestro e controlo e, por outro lado, assistiu-se ao incremento dos dispositivos médico-psiquiátricos e dos

cuidados comunitários. Não foram • as instituições e os sistemas que desapareceram, foi o esbatimento das fronteiras entre o “dentro” e o “fora” dos sistemas de controlo social devido à dispersão de mecanismos, contribuindo para a invisibilidade dos sistemas • que, ao espalharem-se. e especializarem-se ainda mais, se dedicaram a infracções da. ordem

normativa cada vez menores (Rose, 1999: 238). :

O presente está-muito -marcado pelas mudanças no paradigma relacional com a criança, ocorridas numa década que deu início a um pensamento designado por muitos como “pós-modemo”, período em que a publicação da Carta dos Direitos da Criança contribuiu para desencadear consequências fundamentais nos discursos da “pedagogia social” , da infância, mas essa proximidade do objecto afasta-se do âmbito deste trabalho, delimitando assim o arco temporal escolhido. Pode-se acrescentar, no mínimo, que em Portugal, pela natureza do regime da época e pelo contexto criado pela administração dos territórios coloniais, as mudanças podem ter chegado mais tarde mas acabaram por se produzir, pelo menos no que toca às práticas correccionais de menores.

O excurso seguinte, , feito pelas instituições de correcção social, não pretende ser um inventário dos estabelecimentos de reeducação — que se foram sempre multiplicando sob diversas e inúmeras formas, embora mantendo entre si uma uniformidade em tomo das posições discursivas dos pedagogistas .sociais pretende, sim, traçar um- quadro , breve mas expressivo dos estabelecimentos onde se inauguraram modalidades regimentais até aí inéditas, segundo1 o ângulo da emergência de uma tecnologia educativa e disciplinar específicas, aprofundando mais o olhar sobre aquelas que talvez tenham originado rupturas mais- significativas e fomentado uma descendência genealógica das pedagogias correctivas que

representaram. Exemplificando, a Colónia Correcdonal de Izêda, aquela que se tòmou talvez a mais importante entre as suas congéneres, não inaugurou nenhuma modalidade disciplinar ou educativa inédita, pelo que não é aqui destacada na proporção do prestígio institucional que adquiriu. O mesmo se aplica à Colónia Correcdonal de S. Bemardino para o sexo feminino, uma população que desde 1903 dispunha de instituições que sobre ela aplicavam espeaalidades correctivas, apesar de o seu Director o negar expressamente na Monografia que traçou da instituição, quando se lhe refere como uma “Colónia Correcdonal para o sexo feminino, tipo de estabdedmento que até então não existia em Portugal” (Sena, 1931: 14) ou o caso do Instituto Navarro de Paiva, continuador e não fundador da institudonalização das técnicas empregues no Instituto Aurélio da Costa Ferreira havia quinze anos.

O período selecaonado [1870-1962], para além da CPL já ter sido abordada no final da parte anterior, é aquele em que mais se intensificou e acelerou a produção discursiva pedagógica e a difusão de instituições que procuraram práticas educativas e regimentais que se pudessem associar a viragens na evolução da modernidade pedagógica no âmbito correcdonal.

Pára facilitar uma visão macro desse arco temporal tão extenso e das zonas tecnológicas que o ocuparam, segue-se um quadro sinóptico que servirá de introdução e referênaa cronológica à parte seguinte, sendo deliberadamente pouco detalhado, pois a investigação sistemática e rigorosá dò percurso de todas as instituições que se dedicaram à correcção sodal dos menores é um empreendimento a que este estudo não procura dar resposta.

D eten ção e C orrecção C olónia P enal A grícola C orrecção F em in in a T rib u n a is d e M enores M ed icin a P ed a g ó g ica 1871 * 1880 Casa de Detenção e Correcção ■ Colónia Agrícola de Vila Fernando (Eivas) 1895 (M órõcasaté 1903) (Inibo de actividade) 1903 Casa de Detenção e Correcção de Lisboa (feminino) 1911 1915 E seob Central d e Reforma de Lisboa E sco hd e Reforma de Lisboa Tutoria de ln â n c b Refugio da Tutoria 1925 R eform ator» Central de Lisboa “Padre Colónia Agrícola Correcdonal de Refoccnatódo de Lisboa Instituto Médico- . Pedagógico 1927 António de O bvein V ib Fernando Colónia • Correcbonal de S. Bernardino, Peniche (feminino) 1962 InstinitDS d e Reeducação

Figura 11 — Cronologia da especialização correctiva institucional