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O objecto central do estudo será a genealogia das diferentes práticas de regimes disciplinares usados na correcção educativa de menores e da sua reciprocidade com a discursividade da pedagogia correccional durante a modernidade.

A extensão empírica deste objecto circunscreve-se às instituições que tinham como missão proporcionar, sob tutela, uma reintegração da criança pela construção da sua autonomia, através de algum tipo de formação, educação ou encaminhamento, recorrendo para esse fim a regimes que incluíam o internato e que estavam para isso especialmente concebidas. Apesar de o internamento constituir por si só uma tecnologia muito específica, procurou-se exponendá-lo delimitando-o a situações excessivas na sua forma, quando associada a uma intenção educativa, tais como as que se encontram nas metodologias disciplinares das instituições de correcção social. Assim, instituições como a Casa Pia, Casas de Correcção, Reformatórios, ou outras congéneres, serão eleitas como matéria de estudo das referidas práticas e como referência no estabelecimento de etapas inovadoras nas modalidades regimentais que foram significativas para a sedimentação da modernidade na educação correccional. Entre essas práticas regimentais das instituições, deu-se preferência às alterações das rotinas disciplinares que significaram uma inovação em termos de tecnologia educativa e à forma como pretendiam actuar no domínio moral, uma vez que reflectiam bem a percepção do

discurso de uma ideia de progresso pela humanização no tratamento relacional com a criança.

O discurso pedagógico da reeducação de menores estava endereçado num plano teórico para uma idealização dos métodos de uma educação mais eficaz, construindo esse discurso os códigos interpretatiyos das metodologias das instituições de enquadramento social da criança. Na dimensão da análise discursiva será usado material documental que possa revelar uma pedagogia prescritiva ditada por um posicionamento doutrinal. Também serão aceites fontes que, de algum modo possuam conteúdos que sendo ínfimos sejam detalhados, revelando factos que por terem sido comuns foram dados como esquecidos e esvaziados de significado. Assim, é possível serem invocadas fontes documentais muito diversas, mas que podem evidenciar determinadas racionalidades nos discursos que contêm.

Sobre a dimensão do objecto empírico, ao invés de procurar delimitá-lo rigorosamente, ou mesmo quantificá-lo por excessiva minúcia de enunciação, prefere-se antes conferir-lhe visibilidade e procurar focalizá- lo como matéria de análise, construindo gradualmente ao longo do texto um entendimento das representações que foram sendo geradas por múltiplos discursos e efeitos que se entrecruzam, esbatendo por vezes o objecto de estudo. Não só na sua temporalidade esse universo se pode dilatar ou contrair, especializando-se mais ou menos segundo o seu significado genealógico e não cronológico, assim como na sua dimensão espacial muitas questões abordadas vão assumir a exigência do exercício comparativo, invocando factos relevantes em campos por vezes muito alargados. Devido a este constrangimento da dispersão axial dos atributos em análise, prefere- se usar a expressão nitide\ do objecto, no sentido de procurar tomá-lo nítido através da compreensão' dos conceitos e métodos eni uso, em lugar de

limitá-lo por uma definição quantificada do arquivo. É o recurso a uma metáfora óptica, o ramo da Física que estuda a visibilidade dos objectos, que parece ajustar-se ao enquadramento cultural e aos pressupostos analíticos em que este texto assenta e à maneira como aborda o objecto.

Sobre a problemática das diferentes perspectivas em História sobre o uso do - espaço e do tempo, “pode-se acompanhar uma deslocação da investigação de um nível local para o enquadramento nacional, de uma territorialidade para um complexo de interdependências a nível mundial. Ela passou dos acontecimentos à delimitação de épocas, de uma periodização restrita para a fluidez de tempo cada vez mais alongado. Trata-se, num caso como noutro, de evoluções que marcam mais mudanças de escala que mudanças de natureza, porque a definição fisica do espaço e cronológica do tempo não são postas em causa” (Nóvoa, 1998: .15).

A problemática da “correcção social” é aqui usada para evocar uma vontade de generalização terapêutica, uma teleologia muito abrangente das técnicas de rectificação moral - não se debruçando por isso sobre o mais antigo “amparo” —, sendo uma opção usada em detrimento de uma acentuação na tónica de expressões como “reeducação” ou “reinserção”. Enquanto termos relativamente mais recentes, serão usados em citações ou quando o texto exigir a correspondência semântica mais aproximada ao contexto da época, de outro modo, mantém-se a preferência pela expressão “correcção . sodal”, numa interpretação que expressa genericamente a “vontade de mudar” as práticas de interacção social do menor, incluindo o amparo à orfandade. Quer o menor esteja. em risco moral, seja órfão, desamparado, indigente, deficiente, delinquente, anormal, incorrigível, ou qualquer outra sorte de categorização que tenha sido constituída, todos os métodos adoptados tinham como. justificação moral o bem social que

adviria duma ortopedia moral aplicada aos sujeitos. A centralidade deste trabalho não se'fixa assim na categorização médica, social ou jurídica desses indivíduos, nem na sua etnografia de internos, mas recupera-as como contributo genealógico dos regimes educativos que se foram constituindo como referência através dos seus processos.

Parece permissível estabelecer num certo sentido um paralelismo algo ousado entre a missão da escola de massas e o internato correcdonal, uma vez que ambos os sub-sistemas educativos têm uma teleologia transformadora e um e outro recorrem à regulação disciplinar sendo ambos, de um ponto de vista político, “instituições disciplinares de controlo social” agindo sobre populações distintas e definidas. Essa acção sobre-um conjunto vasto de indivíduos tem na correcção social a extensão moral da metáfora ortopédica de Michel Foucault sobre a rectificação forçada dos corpos que ele tão bem ilustra ao expor em Vigiar e Punir as gravuras de A Ortopedia ou a A rte de Prevenir e Corrigir; nas Crianças, as Deformidades do Corpo [1749], uma das quais estipula um padrão: uhec est regula recti” (Foucault, 1987: figs. 1-30). E a genealogia discursiva dessas técnicas de ortopedia social, as aplicações pedagógicas que gerou e as populações em que os regimes disciplinares foram exercidos, que se procuram evidenciar para definir uma perceptibilidade do nosso objecto de análise.

r Há campos • de estudo que não são facilmente definíveis ou identificáveis, muitas vezes não por serem de difídl visibilidade, mas porque o olhar que nos acostumámos a lançar-lhes está acomodado a categorias mais confortavelmente reconhecidas e arrumadas. Ao eleger-se as instituições de correcção de menores como espelho de alterações importantes nos métodos de organização de populações escolares e procurando fazê-lo de um ponto de vista pluridisdplinar, foi precisamente

para descompartimentar as categorias em que é habitual arrumar a actividade dessas instituições e procurando correlacionar entre si os múltiplos elementos do seu exercício. São locais onde se estabelecem situações-limite, “instituições totais” destinadas à “solidificação do eu”, merecedoras de uma análise microssodológica de interacções (Corcuff, 1997: 119; Goffrman, 1999a).

O arco temporal contemplado tem duas cambiantes distintas: uma, de cariz genealógico e início pouco definido, estende-se até ao final do século XIX, período marcador de uma profunda alteração paradigmática no relacionamento do Estado com os “menores desavindos” e no reconhecimento destes como uma população delimitável, a partir da qual se poderia então proceder à individualização de cada um, devendo ser gerida pela aplicação de racionalidades fundadas em discursos modernos e científicos, tomando-se expressão prática duma vontade política. A esse vínculo da correcção de menores à modernidade pode ser atribuída uma data simbólica - o ano de 1870, data da separação da população criminal de menores de 18 anos dos outros presos. É essa a data do início da segunda cambiante do arco temporal em estudo, que finaliza em 1962 aquando da reforma da reinserção social de menores que veio consolidar, pode-se dizê- lo, o alvor da pós-modemidade nas tecnologias correccionais.

Procura-se ainda, produzir um texto de síntese utilizando recursos conceptuais menos explorados, pretendendo sustentá-lo também com o complemento da mediação de outros trabalhos empíricos já cumpridos em estudos mais especializados e recorrendo também a registos documentais já coligidos. É essa a razão porque nos dispensamos de publicar em apêndice

uma panóplia documental cuja edição foi já contemplada1. Não se trata de eximir a consulta e tratamento do material de arquivo, o que, evidentemente, foi feito, mas sim de evitar uma recorrência editorial de dados que já estão compilados e disponíveis.

De qualquer forma, a ideia de arquivo aqui perfilhada não se ajusta ao simples acumular de um cotpus documental traduzível em dados empíricos, ou em análise de conteúdo dos textos. São pertença do “arquivo”, mas este, na acepção foucaultiana aqui adoptada, traduz-se por um conjunto de regras que num dado período e para uma determinada sociedade “permitem definir as limitações e as formas de expressividade; conservação; memória e reactivação ” ou seja, aquilo que permite ser dito, o que forma os enunciados e discursos duma temporalidade, mas também o que é condenado a desaparecer, a ser lembrado ou esquecido ou ainda recuperado em determinado momento (McHoul & Grace, 1993: 30; Silva,

2000).

Michel Foucault nunca foi presctitivo e, procurando traduzir esse preconceito, esta investigação procura não emitir juízos de valor, embora a aparente crueza da argumentação e a natureza muitas vezes dolorosa da

1 Destas, talvez a compilação mais exaustiva (cerca de 500 páginas) conste no vol. II da Tese de Mestrado de Em esto Candeias Martins (1994). No plano iconográfico e sociológico releva-se Carmo, Dam ela Sá & Lopes, João Teixeira (2001). A Tutoria do Torto - Estudo sobre a M orte Social Temporária. Porto: Edições Afrontamento. Sobre o refugio da Tutoria de Lisboa, Santo, João Miguel R. S. (2000). "Crianças Malfeitoras" a contas com a Justiça — Os menores catalogados pelo Refugio da Tutoria Central da Infanda da Comarca de Lisboa 1920-1930. Dissertação de M estrado - Universidade de Lisboa — Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Lisboa. No plano europeu, considerando as limitações linguísticas, é de realçar o trabalho de Jeroen Dekker, no que concerne aos estudos comparados e, sobre a história das instituições espanholas, Santolaria, Félix (1997). M argnaàôn y Educación - H istoria de ta Educación Social en la Espana M odernay Contemporânea. Barcelona: Ariel.

matéria empírica por vezes o sugira. Encerrando esta parte e a esse propósito, ficam estas eloquentes palavras de Mitchell Dean (1999: 40):

“An analytics of government gain a critical purchase on regimes of practices by making clear the forms of thought implicated in them. It may point to ‘inconvenient facts’ such as the disjunction between the stated aims of particular programs and other explicit rationalities and the logic or strategy of such practices that can be known through their diverse effects. More broadly, however, an analytics of government can be employed from a variety of ethic and politic perspectives”.

Al g u n s c o n c e it o sa d o p t a d o s

Começa-se por enunciar e procurar explicitar alguns conceitos essenciais sobre os quais se desenvolve a analítica proposta neste trabalho. Mais que inventariar ou procurar explanar teorias, trabalho abundantemente já feito e qualificado, procura-se no entanto esclarecer alguns conceitos aqui empregues, imprescindíveis para a filiação e construção do trabalho e que ajudem a suportar uma hermenêutica da forma mais coerente possível.

Apesar da introdução inicial de algumas concepções, ao longo do texto encontrar-se-âo outros paradigmas interpretativos, como “clausura”, “iniciação”, “regime”, “castigo”, “população”, etc., que serão solicitados e mais ou menos aprofundados à medida que pareça justificar-se. Por comodidade e fluência, o termo “menor” é usado genericamente em referência ao jovem ou à criança e inclui a infanda e a adolescência, preferindo não se adoptar nenhuma terminologia de ffacdonamento etário, embora fosse possível recorrer a diversas taxionomias disponíveis para as “idades da criança”1, mas é bem perceptível, contextualmente, que não se

1 Cfr. Ariès, Phillipe (1973). U Enfant et ia viefam iliale sous tancien régime. Paris: Editions du SeuiL No século IX usava-se o termo injans paxa designar crianças de 2 a 15 anos. A tradição hipocrádca medieval, já de raiz médica, portanto, dividia a infanda nos seguintes estádios: infantia — do nascimento até aos 7 anos; p u m tia — dos 7 aos 12 para as raparigas e dos 7 aos 14 para os rapazes; adokscentia — dos 12 ou 14, até aos 21 anos, cfr. Heywood, Colin (2001). A History o f Chiídbood - Chiidren andC hildhoodin the W estfrom M edieval to M odem Times. Cambridge: Polity Press. Para Comenius, que se baseava no desenvolvimento da linguagem, seria a primeira infância; segunda infância; juventude e adulte% No culminar da Modernidade, Jean Piaget fundou uma categorização pela evolução lógica da criança, iniciando uma epistemologia genética das aptidões e do desenvolvimento. Também Almeida Garrett teorizou sobre este tópico, cfr. O, Jorge

trata de crianças de tenra idade mas sim de jovens sujeitos a medidas correcdonais, tendo a abrangência dessas medidas incidido sobre um leque etário normalmente variável entre os 7 - 10 anos e os 18 - 21 anos.

Segue-se a explanação de alguns dos referidos conceitos adoptados.

A correcção social

A expressão “correcção social” e a noção de “correcção” ou “reeducação” são empregues no sentido de representarem uma acção que corrija no menor os distúrbios comportamentais que o impedem de ser integrado numa ordem social tida como normal.

São termos tomados em sentido muito amplo, uma vez que numa dimensão temporal tão grande como a modernidade - e só há correcção social na modernidade — esses termos foram assumindo diferentes nuances simbólicas como as de castigo ou correctivo, ou de ortopedia social e moral ou de reinserção, sendo normalmente interpretadas à luz de uma discursividade de cunho moralista. Esta opção por uma designação muito genérica — correcção social — deve-se às técnicas reeducativas empregues em diferentes modalidades serem mais do âmbito ou especialidade da acção da instituição que das suas metodologias. A diferença organizacional entre um.asilo e um orfanato, ou entre uma casa de correcção e uma prisão, residiam .mais nos regimes disponíveis à época que nas finalidades

Ramos do (2002). O Govemo de Si Mesmo — Modernidade pedagógica e encenações disciplinares do aluno liceal (último quartel do século XIX - meados do século XX). Dissertação de doutoramento em Ciências da Educação (H istória da Educação) — Universidade de Lisboa, Lisboa. Sobre as idades da criança no Portugal de seiscentos e setecentos, cfr. Ferreira, António Gomes (2000: 347-386). G erar Criar E ducar—A Criança no Portugal do

da instituição, que basicamente era a mesma em todas: a recuperação social de indivíduos através da sua correcção pelo adestramento, para que se pudessem tomar indivíduos aptos a toma vida social normal e participada. Mas esses regimes não eram muito distintos entre si, permitindo encontrar entre eles um conjunto de continuidades nas práticas disciplinares a que recorriam. Mesmo os alunos que não estivessem em regime de internato, acabavam por estar de alguma forma sujeitos às obrigações e imperativos das instituições, patronatos ou famílias que os regiam, procurando emendar-lhes o curso da vida.

Esta ideia de correcção social, almejando uma plena integração participada de todos os sujeitos numa ideia de bem comum, desenvolve em Portugal uma aplicação especialmente dedicada a estimular essa procura e que foi consagrada através da criação em 1935 do Instituto de Serviço Social, uma escola de assistentes sociais. A missão do serviço social era justamente, nao só assistir materialmente mas, “essencialmente, uma forma de acção cujo fim é a instauração e a restauração da ordem social, pela adaptação dos indivíduos à sociedade e pela adaptação das condições económicas e sociais às necessidade do indivíduo” (Nunes, 1943: 154).

Essa intenção de uma integração ajustada procurou expressar-se através dum conjunto de dispositivos disciplinares que foram procurando acompanhar o discurso da pedagogia dentífica e 'do Direito Penal nessa demanda de uma indusãó pacífica de todos os menores. Entre a mera punição retributiva de uma dívida sodal originada por uma infracção é a procura de recriação de um ambiente familiar em tomo da criança que, embora severo, facilitasse a regeneração pelas virtudes conviviais, desde o trabalho à aposta na educação, ou seja, variando as tecnologias empregues e muito mais òs discursos prescritivos, o fundamento de um conjunto de

instituições destinadas ao exercício de uma racionalidade política e social foi basicamente. semelhante — efectivar uma “correcção social” que permitisse a „inclusão pacífica e autónoma de todos os sujeitos numa moldura social normal ■

A vontade de alterar a situação social da criança esteve presente em diferentes subsistemas sociais, entre os quais a escola, mas no caso da criança cuja tutela não dependa da família mas sim de um colectivo institucional, assume então o carácter de um exercido de “correcção soaal” que tem por fim a sua devolução sorial, tomando-o autónomo de qualquer tutela. Quer dizer, não havendo uma tutela familiar e uma envolvente natural e eficazmente integradora, dispositivos disaplinares artificiais substituíam os riscos desse caminho natural corrigindo um percurso que doutro modo dele se desviaria, sendo este argumento um suporte à construção do discurso sobre a criança em risco moral.

A sem iótica da m odernidade

Uma dificuldade metodológica, apresenta-se com a interpretação de uma sinalética da modernidade, segundo um conjunto nítido de indicadores que possam ser alusivos a diferentes etapas de um período dito “moderno”, obrigando a lidar com inúmeras ambiguidades, sobretudo no que diz respeito ao seu inído, ao seu culminar e às suas viragens ou momentos mais marcantes. Começando pelo fim, alguns designam esse terminus por pós-modernidade, soaedade do conhecimento, pós-industrial, da informação, do.indivíduo, da troca do proteçdonismo.pela mutualidade do risco, do pós-positivismo e, ultimamente, a “globalização” tem servido

como o mais recente dos apontadores desse período. Para outros, a modernidade não atingiu nenhum clímax e os momentos “pós”, não são mais que extensões e efeitos da mesma modernidade.

Para o caso vertente deste estudo, o fim do segmento de modernidade em apreço é o ano de 1962, data em que se deu início às reformas constantes no Decreto-Lei n.° 44287 de 20 de Abril desse ano, contemplando a Reforma dos Serviços Tutelares de Menores e o Decreto- Lei n.° 44288, promulgado em simultâneo com o anterior, que determina-a Organização Tutelar de Menores e que, por brevidade, se assinala como uma viragem marcada pelo inído do uso consistente de técnicas com características ditas “pós-modemas” no campo correcaonal.

Quanto ao inído dessa temporalidade, ele demarca-se segundo a perspectiva adoptada na percepção de modernidade. Se foi Chateaubriand [1768-1848] que criou e universalizou o termo “modernidade”, fê-lo tendo em mente o firuto das reformas religiosas, do Renascimento, das Luzes, do positivismo e do radonalismo ou da dênda experimental, recortando uma época inidada no século XVI e que vdo a estender-se até à contemporanddade (Clément et al., 1999). Essa é a acepção mais generalista, adoptada de uma consideração comum na filosofia do concdto de modernidade e que se pode adequar a um determinado período e confinar a um espaço geográfico e cultural europeu. Essa abrangênda representa um conjunto de efeitos que significaram profundas alterações nas dimensões individuais e sociais, como seja a construção de uma “autonomia” — e, consequentemente, de uma responsabilidade pessoal — ou pela diferenciação institudonal expressa na progressiva secularização e radonaüzação dos processos empregues no seu ex eraao e na sua sustentação sodal e política, reflexo também da consolidação dos Estados

modernos. No entanto, é o projecto iluminista que mais se evidencia em finais do século Xvni e que parece ter criado uma influência ascendente sobre todo o século seguinte.

Foi já em meados do século XX que Hanna Arendt [1906-1975] conotou a modernidade com uma diluição da esfera do interesse “público” com o, “privado”, numa simbiose entre a ordem económica da produção .com a ordem política da acção, mas estudos mais recentes entendem a ideia .de ruptura da modernidade como possuindo marcadores diferentes. Para Michel Foucault, essa viragem situa-se nos finais do século XVm e inícios do século XIX quando surgiram nas ciências humanas novas formações discursivas evidentes na trilogia formada pela biologia, pela economia