• Nenhum resultado encontrado

Ana Schreck D´oria ∗

2.2 Alunos descendentes de imigrantes brasileiros

´

E fundamental perceber o n´umero de alunos que frequentam estas escolas, de modo a conseguir formar uma imagem da realidade, a n´ıvel nacional, o mais atualizada poss´ıvel.

Se observarmos o n´umero de alunos descendentes de brasileiros no 3o CEB

presentes nessas 83 escolas, conclu´ımos que nos estamos a referir a um total de 2637 alunos. Desses alunos, 77 est˜ao em escolas da regi˜ao Norte; 160 em escolas da regi˜ao Centro; 1828 em escolas da regi˜ao de Lisboa e 572 em escolas da regi˜ao do Algarve.

Na regi˜ao Norte, o munic´ıpio da P´ovoa do Varzim ´e aquele que apresenta o maior n´umero de alunos do 3o CEB com ascendˆencia brasileira (29 alunos),

logo seguido de Vila Nova de Gaia (27 alunos) e de Braga (21 alunos).

Na regi˜ao Centro do pa´ıs, o munic´ıpio que se destaca pelo maior n´umero de alunos descendentes de brasileiros ´e Alenquer (77 alunos), ao qual se seguem os munic´ıpios de Leiria e de Viseu, com 62 e 21 alunos, respetivamente.

Se analisarmos o n´umero de alunos descendentes de brasileiros nas esco- las do Algarve, que no conjunto somam 572 alunos, observamos que a maioria dos alunos se encontra em escolas de Albufeira (178 alunos) ou de Loul´e (158 alunos), mas tamb´em em escolas de Portim˜ao (102 alunos), Faro (54 alunos), Lagos (51 alunos) ou Silves (29 alunos).

Certamente que, seguindo a linha de pensamento praticada at´e agora, o n´umero de alunos na regi˜ao de Lisboa dever´a ser bastante superior ao do resto do pa´ıs e, de facto, ´e nesta regi˜ao que se concentram 69% dos alunos de origem brasileira a frequentar o 3o CEB em escolas p´ublicas portuguesas.

Na Grande Lisboa, mais uma vez sobressaem os munic´ıpios de Cascais (389 alunos), de Lisboa (338) e de Sintra (292). Nos restantes munic´ıpios, contabilizam-se 82 alunos na Amadora, 76 em Mafra, 105 em Odivelas, 88 em Oeiras e 65 em Vila Franca de Xira.

Na Pen´ınsula de Set´ubal ´e poss´ıvel destacar os munic´ıpios de Almada, com 139 alunos, de Set´ubal, com 101 alunos e do Seixal, com 79 alunos. Os mu- nic´ıpios do Montijo e de Sesimbra contabilizam ainda 24 e 20 alunos, respetiva- mente.

Considera¸c˜oes finais

No ˆambito do projeto de investiga¸c˜ao de Doutoramento, no qual este trabalho se insere, foram contactadas 54 escolas p´ublicas da ´Area Metropolitana de Lisboa, com o ensino do 3o Ciclo do Ensino B´asico. Esses contactos foram feitos pes-

soal e presencialmente, com visitas `as escolas, mas tamb´em por via eletr´onica e telef´onica e tiveram in´ıcio em Setembro de 2011.

No contacto com as referidas escolas, foi apresentado o projeto de inves- tiga¸c˜ao, bem como o esclarecimento dos seus m´etodos, calendariza¸c˜ao e t´opicos de trabalho para os quais se pedia a colabora¸c˜ao da escola. Foi ainda apresen- tado o Question´ario a ser aplicado aos alunos descendentes de brasileiros, assim como a sua avalia¸c˜ao e comprovativo de aprova¸c˜ao por parte do gabinete de Monitoriza¸c˜ao de Inqu´eritos em Meio Escolar, do Minist´erio da Educa¸c˜ao.

Das 54 escolas contactadas, e apesar das v´arias vias de contacto utilizadas, bem como muita persistˆencia, apenas 31 concretizaram uma resposta, das quais 11 foram negativas, n˜ao autorizando a aplica¸c˜ao dos question´arios nem a rea- liza¸c˜ao das entrevistas. De entre os motivos apresentados por essas escolas, a grande maioria justificou com a sobrecarga de pedidos deste tipo e a impossi- bilidade e indisponibilidade da escola para atender a todos.

O meu projeto de investiga¸c˜ao doutoral tem vindo, assim, a ser concretizado em 20 escolas p´ublicas do 3o Ciclo do Ensino B´asico, pertencentes `a ´Area

Metropolitana de Lisboa. Tentou-se que as escolas integradas no estudo cor- respondessem `a representa¸c˜ao geogr´afica dos brasileiros residentes em Portugal e dos respetivos descendentes. Assim, integraram o estudo 5 escolas do mu- nic´ıpio de Cascais, 4 escolas do munic´ıpio de Lisboa, 3 escolas do munic´ıpio de Sintra, 2 escolas do munic´ıpio de Odivelas, 2 escolas do munic´ıpio de Almada e 1 escola de cada um dos munic´ıpios de Mafra, da Amadora, de Set´ubal e de Oeiras. Previsivelmente, e com base nos dados disponibilizados pelo Minist´erio da Educa¸c˜ao, as 20 escolas inclu´ıdas nesta investiga¸c˜ao, contabilizariam cerca de 724 alunos descendentes de imigrantes, n´umero bastante superior ao que esta investiga¸c˜ao pretendia inquirir, que seria de, aproximadamente, 500.

Uma vez que os dados facilitados pelo Minist´erio da Educa¸c˜ao reportavam ao ano letivo de 2009/ 2010, previa-se que houvesse mudan¸cas no n´umero de alunos, pelo que se optou por integrar escolas que superassem o n´umero pre- tendidos de alunos a serem integrados no estudo. Essa op¸c˜ao, que se justificou tamb´em pela possibilidade de um aumento do retorno dos Brasileiros ao pa´ıs de origem e pela eventualidade dos Encarregados de Educa¸c˜ao n˜ao autorizarem a participa¸c˜ao neste estudo, revelou-se positiva, mas insuficiente.

Na realidade, quando consolidado o contacto com as escolas e iniciado o le- vantamento dos alunos nas condi¸c˜oes requeridas para a integra¸c˜ao no estudo, o n´umero de alunos diminuiu substancialmente, tendo-se aplicado somente cerca de 400 question´arios. A dr´astica redu¸c˜ao do n´umero inicialmente previsto para o n´umero confirmado posteriormente, pode justificar-se com base em dois mo- tivos principais: por um lado, a n˜ao autoriza¸c˜ao dos Encarregados de Educa¸c˜ao para a participa¸c˜ao neste estudo (apesar do question´ario ter sido avaliado e au- torizado pelo Minist´erio da Educa¸c˜ao e de ser garantido o anonimato) e, por outro, a redu¸c˜ao do n´umero de alunos descendentes de brasileiros em quase todas as escolas abrangidas pelo estudo (apenas uma escola n˜ao registou essa diminui¸c˜ao).

Esta diminui¸c˜ao significativa do n´umero de alunos descendentes de brasileiros nas escolas envolvidas neste estudo pode remeter para a hip´otese do retorno dos brasileiros ao pa´ıs de origem mas, para que essa ou outra conclus˜ao sejam con- solidadas, outras investiga¸c˜oes seriam necess´arias.

Referˆencias

Banks, J. (1994) An Introduction to Multicultural Education, Boston: Allyn & Bacon.

Banks, J. (2010) Multicultural Education (Major Themes in Education), New York, NY: Routledge.

Bernstein, B. (1975) Langage et Classes Sociales, Paris: Minuit.

Carneiro, R. (2001) Fundamentos da Educa¸c˜ao e da Aprendizagem: 21 Ensaios para o S´eculo 21, Lisboa: Funda¸c˜ao Manuel Le˜ao.

Hirschman, C. e Wong, M. (1986)The Extraordinary Educational Attainment

of Asian-Americans: a search for historical evidence and explanations in

Social Forces, Vol. 65, N.o 1, pp. 1-27.

INE (2003) Censos 2001: Recenseamento Geral da Popula¸c˜ao e da Habita¸c˜ao, Lisboa: INE.

INE (2009a) Anu´ario Estat´ıstico de Portugal, Lisboa, INE. INE (2009b) Anu´ario Estat´ıstico da Regi˜ao Lisboa, Lisboa, INE. INE (2009c) Estat´ısticas Demogr´aficas 2009, Lisboa, INE. INE (2010) Anu´ario Estat´ıstico da Regi˜ao Lisboa, Lisboa, INE.

Kao, G. e Tienda, M. (1995) Optimism and Achievement: the educational

performance of immigrant youth in Social Science Quarterly, Vol. 76, N.o

Machado, F.(1994) Luso-Africanos em Portugal: Nas Margens da Etnici-

dadein Sociologia – Problemas e Pr´aticas, N.o 16, pp. 111-134.

Machado, F. (2002) Contrastes e Continuidades. Migra¸c˜ao, Etnicidade e Inte- gra¸c˜ao dos Guineenses em Portugal, Oeiras: Celta Editora.

Machado, F., Matias, A. e Leal, S. (2005)Desigualdades sociais e diferen¸cas

culturais: os resultados escolares dos filhos de imigrantes africanosin An´alise

Social, N.o 176, pp. 695-714.

Machado, F. e Matias. A. (2006) Jovens descendentes de imigrantes nas so- ciedades de acolhimento: linhas de identifica¸c˜ao sociol´ogica, Lisboa: CIES- ISCTE.

Malheiros, J. e F. Vala (2004) Immigration and city change: the region of

Lisbon in the turn of the 20th century in Journal of Ethnic and Migration

Studies, 30 (6), pp. 1065–1086.

Malheiros, J. (Org.) (2007) Imigra¸c˜ao Brasileira em Portugal, Lisboa: ACIDI. Modgil, S.; Verma, G.; Mallick, K. e Modgil, C. (1986) Multicultural Education

- The Interminable Debate, Londres: The Falmer Press.

Padilla, Beatriz (2004) Integrations of Brazilian Immigrants in Portuguese

Society: Problems and Possibilities, comunica¸c˜ao apresentada `a 9th Inter-

national Metropolis Conference, Genebra (Publicada em Socius – Working Papers, ISEG/UTL, N.o1/2005).

Perotti, A. (1997) Apologia do Intercultural, Lisboa: Secretariado Entreculturas. Pires, R. (2003) Migra¸c˜oes e Integra¸c˜ao – Teoria e Aplica¸c˜oes `a Sociedade Por-

tuguesa, Oeiras: Celta Editora.

Pires, S. (2009) A Segunda Gera¸c˜ao de Imigrantes em Portugal e a Diferen- cia¸c˜ao do Percurso Escolar. Jovens de origem Cabo-verdiana versus Jovens de origem Hindu-indiana, Lisboa: ACIDI.

Portes, A. (1995a) Children of immigrants: segmented assimilation and its

determinants in Portes. A. (Ed.) The Economic Sociology of Immigration,

New York: Russel Sage Foundation, pp. 248-280.

Portes, A. (Ed.) (1996) The New Second Generation, New York: Russell Sage Foundation.

Portes, A. (1999) Migra¸c˜oes Internacionais. Origens, Tipos e Modos de Incor- pora¸c˜ao, Oeiras: Celta Editora.

Portes, A. e MacLeod, D. (1999)Educating the Second Generation: Determi-

nants of Academic Achievement Among Children of Immigrants in the United Statesin Journal of Ethnic and Migration Studies, 25 (3), pp. 373-396.

Portes, A. e L. Hao (2005)La educaci´on de los hijos de inmigrantes: efectos

contextualesin Migraciones, N.o 17, pp. 7-44.

Portes, A. e Zhou, M. (1993)The New Second Generation: Segmented Assim-

ilation and its Variantsin The Annals of the American Academy of Political

and Social Science, Vol. 530, pp.74-96.

Portes, A. e Rumbaut, R. (2001) Legacies: The Story of Immigrant Second Generation, Berkeley: University of California Press.

Plano para a Integra¸c˜ao dos Imigrantes (2007) Resolu¸c˜ao do Conselho de Mi- nistros no63-A/2007, DR 85 S´erie I, de 3 de Maio de 2007.

Rumbaut, R. (1997) Assimilation and its Discontents: Between Rhetoric and

Realityin International Migration Review, 31 (4), pp. 923-960.

Rumbaut, R. e Portes, A. (2001) Ethnicities: Children of Immigrants in Ame- rica, Berkeley: University of California Press/Russel Sage Foundation. Seabra, T. (1999) Educa¸c˜ao nas Fam´ılias. Etnicidade e Classes Sociais, Temas

de Investiga¸c˜ao 9, Minist´erio da Educa¸c˜ao, Lisboa: I. I. E. .

Seabra, T.(2010) Adapta¸c˜ao e Adversidade – O desempenho escolar dos alunos de origem indiana e cabo-verdiana no ensino b´asico, Lisboa: ICS.

Seabra, Teresa (Coord.) (2011) Trajetos e Projetos de Jovens Descendentes de Imigrantes `a Sa´ıda da Escolaridade B´asica, Lisboa: ACIDI, I.P.

SEF/Departamento de Planeamento e Forma¸c˜ao (2009) Relat´orio de Imigra¸c˜ao, Fronteiras e Asilo, Oeiras: SEF.

SEF/Departamento de Planeamento e Forma¸c˜ao (2010) Relat´orio de Imigra¸c˜ao, Fronteiras e Asilo, Oeiras: SEF.

Su´arez-Orozco, C. e Su´arez-Orozco, M. (2002) Children of Immigration, Cam- bridge: Harvard University Press.

De estudante `a migrante: percursos e percal¸cos