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Resumo

No Brasil, final do s´eculo XIX inicia a imigra¸c˜ao europ´eia em grande escala. A Microrregi˜ao de Aimor´es/MG, foi o destino de muitas fam´ılias italianas provenientes do Norte da It´alia que desembarcaram no porto de Vit´oria/ES. A chegada `a regi˜ao desses imigrantes e descendentes acon- teceu no in´ıcio do s´eculo XX, promovendo uma nova configura¸c˜ao a esse territ´orio. Ao longo dos anos, com o fracionamento das terras, a sobre- vivˆencia dos descendentes fica comprometida, pois n˜ao h´a mais perspec- tiva de continuar tirando o sustento somente da terra. Para adquirir me- lhores condi¸c˜oes de vida, muitos descendentes buscaram o reconhecimento da cidadania italiana com a finalidade de emigrar. O estudo tem como objetivo analisar a imigra¸c˜ao e a emigra¸c˜ao na Microrregi˜ao de Aimor´es. Passados quase cem anos da chegada dos imigrantes italianos `a regi˜ao, muitos dos seus descendentes iniciam o caminho de retorno `a It´alia, com o objetivo de fazer poupan¸ca, investir e retornar `a Microrregi˜ao.

Palavras-chave: territ´orio; imigra¸c˜ao italiana; emigra¸c˜ao dos descen- dentes

Introdu¸c˜ao

O fenˆomeno migrat´orio, compreendido neste contexto como mobilidade popu- lacional, n˜ao ´e um fenˆomeno recente. Os deslocamentos de popula¸c˜oes sempre existiram na hist´oria da humanidade. As migra¸c˜oes internas e internacionais se constituem num elemento essencial para compreens˜ao da forma¸c˜ao das so- ciedades e das identidades culturais.

Trabalho apresentado no 2oSemin´ario de Estudos sobre a Imigra¸c˜ao Brasileira na Europa,

realizado em Lisboa/Portugal, de 04 a 06 de junho de 2012.

Mestranda do Programa de P´os Gradua¸c˜ao Stricto Sensu em Gest˜ao Integrada do Ter-

rit´orio da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE/Brasil: k nicolinicoli@hotmail.com

Professora do Programa de P´os Gradua¸c˜ao Stricto Sensu em Gest˜ao Integrada do Ter-

rit´orio da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE/Brasil. Doutora em Ciˆencias Humanas: k suelisq@hotmail.com

O Brasil, desde seu descobrimento em 1500, ´e um importante cen´ario onde se desenrola o fenˆomeno das migra¸c˜oes internacionais. ´E por meio delas que se formou a popula¸c˜ao e a cultura brasileira. No contexto da coloniza¸c˜ao, visando a apropria¸c˜ao militar e econˆomica da terra, os portugueses tiveram destaque. A hist´oria da imigra¸c˜ao no Brasil inicia-se com estes europeus. Esta corrente migrat´oria se diferencia das demais pela sua longevidade e ao menor retorno de seus imigrantes `a terra natal.

O in´ıcio da produ¸c˜ao agr´ıcola no Brasil, em grande escala, deu origem a uma imigra¸c˜ao for¸cada. Com o tr´afico negreiro, cerca de trˆes milh˜oes de africanos s˜ao introduzidos no pa´ıs no per´ıodo de 1550 a 1850. Essa migra¸c˜ao caracterizou uma fase do desenvolvimento econˆomico baseado na monocultura da cana-de- a¸c´ucar, seguida pela minera¸c˜ao do ouro. Estes africanos eram a for¸ca que movia as lavouras e as minas (Camargo,1981).

Com a press˜ao da superpotˆencia da ´epoca, Gr˜a-Bretanha, em acabar com o tr´afico negreiro, o qual supria as necessidades de m˜ao-de-obra com a importa¸c˜ao de escravos da ´Africa, houve a diminui¸c˜ao da m˜ao-de-obra nas zonas que se ex- pandia a cultura do caf´e. Al´em disso, uma grande parte do territ´orio geogr´afico brasileiro ainda estava inexplorada. O pa´ıs necessitava de pessoas para povoar estas terras e m˜ao-de-obra para o trabalho na lavoura cafeeira.

Neste contexto, na segunda metade do s´eculo XIX, inicia em grande escala, a imigra¸c˜ao europ´eia, principalmente a italiana. Os Estados onde situavam as grandes lavouras passaram a financiar a imigra¸c˜ao da for¸ca de trabalho. No per´ıodo de 1880 a 1903 ingressaram aproximadamente 1.850.985 imigrantes eu- ropeus. No in´ıcio do s´eculo XX, com a crise cafeeira e a proibi¸c˜ao da emigra¸c˜ao1

por parte do Estado Italiano, devido `as p´essimas condi¸c˜oes de trabalho, ocorreu uma dr´astica diminui¸c˜ao da entrada dos imigrantes italianos no Brasil (Ca- margo,1981).

O movimento de migra¸c˜ao em massa na It´alia iniciou por volta da d´ecada de 1860, quando os italianos se mudavam para outros pa´ıses europeus. Uma d´ecada depois, eles come¸caram a migrar para o continente Americano – principalmente Estados Unidos da Am´erica, Argentina e Brasil.

V´arias foram `as raz˜oes para que os italianos deixassem sua p´atria, entre elas a situa¸c˜ao em que se encontrava o pa´ıs depois de um longo per´ıodo de lutas pela unifica¸c˜ao. Com o fim destas guerras, a economia da It´alia estava desabilitada, al´em dos problemas de alta taxa demogr´afica e desempregos, e com uma po- pula¸c˜ao rural empobrecida, tendo dificuldades de sobreviver seja nas pequenas propriedades que possu´ıam ou trabalhavam (Trento,1989).

Descrevendo esses acontecimentos que impulsionaram os italianos a emi- grarem para o Brasil,Trento(1989, p. 30) afirma que foia mis´eria a verdadeira

1 O Decreto Prinetti proibia a emigra¸c˜ao gratuita para o Brasil. S˜ao Paulo e os Estados do

Sul financiavam o processo de imigra¸c˜ao dos trabalhadores europeus, principalmente italianos. A imigra¸c˜ao europ´eia para o Brasil teve como um de seus objetivos n˜ao remunerar o escravo rec´em liberto como trabalhador livre. Al´em disso, existia uma pol´ıtica de branqueamento da popula¸c˜ao (Siqueira,2009).

causa da emigra¸c˜ao transoceˆanica entre 1880 e a Primeira Guerra Mundial.

Assim, a imigra¸c˜ao era uma quest˜ao de sobrevivˆencia para as fam´ılias italianas. A depress˜ao agr´ıcola que provocou a falta de alimentos tamb´em contribuiu para a falta de dinheiro e o aumento dos impostos. A op¸c˜ao pela imigra¸c˜ao estava sendo mais atraente que continuar na p´atria m˜ae.

Al´em desses fatores, outro fator importante que fez com que o caminho dos imigrantes italianos se direcionasse em maior escala para o Brasil, foi `a cria¸c˜ao de barreiras imigrat´orias pelo maior receptor de imigrantes – Estados Unidos, dificultando assim, a entrada de imigrantes europeus neste pa´ıs. A crise vivida na It´alia e a id´eia de que o Novo Mundo poderia proporcionar uma vida melhor motivaram muitos a aventurar-se nas Am´ericas (Boni,1990).

Em seu livro A presen¸ca italiana no Brasil, esse autor, tamb´em comenta que a imigra¸c˜ao europ´eia significou muito para o Brasil, em termos de crescimento demogr´afico, desenvolvimento econˆomico, agr´ıcola e industrial. Al´em de marcar a vida civil e pol´ıtica do pa´ıs.

As regi˜oes brasileiras, Sul e Sudeste, foram expressivas em rela¸c˜ao `a imi- gra¸c˜ao italiana. No sul, a corrente migrat´oria foi not´oria devido `a concen- tra¸c˜ao em colˆonias e suas produ¸c˜oes agr´ıcolas. A regi˜ao Sudeste teve um grande destaque em rela¸c˜ao a esta imigra¸c˜ao e foi a que recebeu a maioria dos imi- grantes. Isso provavelmente pelo processo de expans˜ao das lavouras cafeeiras no Estado de S˜ao Paulo e tamb´em pela extens˜ao territorial do sudeste brasileiro. Entre os quatros Estados desta regi˜ao, Minas Gerais tornou-se um n´ucleo signi- ficativo da coloniza¸c˜ao italiana no Brasil (Trento,1989).

Diferentemente dos trˆes Estados vizinhos que recebiam os italianos em seus portos mar´ıtimos, Minas Gerais foi o ´ultimo destino destes imigrantes, devido sua posi¸c˜ao geogr´afica. Os imigrantes italianos, que destinaram para Minas, em sua maioria, j´a possu´ıam experiˆencia imigrat´oria em um dos trˆes Estados da regi˜ao sudeste. V´arias foram `as propagandas realizadas por Minas para atrair os imigrantes, em especial, os italianos. No Estado mineiro, diversos foram os destinos destes imigrantes, sendo poss´ıvel destacar algumas localidades como: Aimor´es, Belo Horizonte, Itueta, Juiz de Fora, Machado, Po¸cos de Caldas, Ponte Nova, Resplendor, Santa Rita do Itueto e S˜ao Jo˜ao Del Rey.

Monteiro(1994) em sua pesquisa, buscando esclarecer o papel do Estado no processo imigrat´orio, o que de concreto se fez sob sua influˆencia, e, finalmente, mostrar a realidade da imigra¸c˜ao e coloniza¸c˜ao estrangeira em Minas, registrou que o per´ıodo do in´ıcio da Rep´ublica at´e a Revolu¸c˜ao de 1930 ´e o de maior significado para a imigra¸c˜ao e coloniza¸c˜ao em Minas Gerais.

Mais adiante, a mesma autora destaca que foi a corrente italiana a que mais se impˆos em Minas. Embora outras origens europ´eias, como portuguesa, alem˜a, francesa fossem tamb´em solicitadas, a escolha do agricultor mineiro reca´ıa sobre o italiano, principalmente o da Alta It´alia. Sua adapta¸c˜ao aos costumes do pa´ıs n˜ao era t˜ao dif´ıcil. Os italianos eram considerados excelentes trabalhadores,

acomodando-se com relativa facilidade ao sistema de mea¸c˜ao ou parceria.2 O

italiano era n˜ao s´o ´util como m˜ao-de-obra, mas atendia tamb´em como elemento colonizador (Monteiro,1994).

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E preciso destacar que, levas expressivas de imigrantes italianos desembar- caram no porto de Vit´oria, capital do Esp´ırito Santo no final do s´eculo XIX e in´ıcio do XX, sendo direcionados ao interior do Estado que abriga uma das maiores colˆonias italianas do Brasil. Estes imigrantes enfrentaram a mata virgem e foram abandonados num lugar desconhecido e inexplorado. Ali sofre- ram com a adapta¸c˜ao ao clima e `a alimenta¸c˜ao, enfrentaram animais selvagens, desbravaram e colonizaram os locais a eles destinados, plantaram, colheram, constru´ıram suas casas e numerosas fam´ılias. Em poucos anos j´a era poss´ıvel perceber o crescimento populacional e o desenvolvimento das localidades onde havia a presen¸ca desses imigrantes italianos.

Muitos desses imigrantes que foram para a regi˜ao de Alfredo Chaves – ES, em sua maioria, oriundos do Norte da It´alia, ap´os um per´ıodo de crescimento po- pulacional e desenvolvimento econˆomico deste local, optaram por migrar para outras localidades diante de um cen´ario de estagna¸c˜ao econˆomica e impossi- bilidade de garantir o sustento das novas fam´ılias constitu´ıdas pelos filhos dos italianos a partir da pequena propriedade familiar. Os destinos mais procurados foram `a regi˜ao de Castelo interior do Esp´ırito Santo que estava em plena fase de povoamento e desenvolvimento, e as terras mineiras, localizadas pr´oximas `a divisa dos dois Estados.

Biasutti, Loss e Loss(2003) comentam sobre esta leva de imigrantes italianos que foram para Minas Gerais pois, segundo os autores, n˜ao apenas pelo porto do Rio de Janeiro chegaram os imigrantes italianos, levas expressivas tamb´em aportaram em Santos-SP, outra numerosa aportou em Vit´oria–ES, tendo depois de um determinado tempo subido pelo Vale do Rio Doce.

Diferentemente das regi˜oes do Esp´ırito Santo em que os imigrantes ital- ianos foram instalados, o Vale do Rio Doce por volta dos anos de 1903, via sua paisagem sendo modificada com a abertura da floresta para a constru¸c˜ao e fornecimento de carv˜ao para a Estrada de Ferro Vit´oria a Minas que em 1942, passa a ser administrada pela Companhia Vale do Rio Doce3– CVRD.

Como era essa regi˜ao antes da chegada dos imigrantes italianos? Espindola (2005, p. 311) descreve o Sert˜ao do Rio Doce como um territ´orio com es-

pessa cobertura florestal, habitado por ´ındios pouco conhecidos e mal-afamados, com alto grau de insalubridade, com rios de dif´ıcil navega¸c˜ao, com geografia desconhecida. Essa regi˜ao fazia fronteira com outras densamente povoadas e

conhecidas, como a regi˜ao mineradora e o litoral esp´ırito-santense.

Em 1907 os trilhos da ferrovia chegam `a localidade de Aimor´es4e em 1910 `a

2 O sistema de mea¸c˜ao ´e quando a metade da produ¸c˜ao ´e dividida entre o propriet´ario

da terra e o colono (meeiro). O sistema de parceria ´e aquele em que as partes s˜ao divididas diferentemente entre o propriet´ario e o colono.

3 Atual Vale – l´ıder mundial na produ¸c˜ao de min´erio de ferro.

atual cidade de Governador Valadares, ambas no Estado de Minas Gerais. No percurso da ferrovia, que corta os Estados brasileiros de Minas e Esp´ırito Santo, v´arios povoados nasceram ou se desenvolveram, entre eles, v´arias localidades da Microrregi˜ao de Aimor´es que teve boa parte de sua extens˜ao geogr´afica cortada pela ferrovia.

Este artigo tem como objetivo descrever o movimento imigrat´orio dos itali- anos e seus descendentes na Microrregi˜ao de Aimor´es, mais especificamente nos munic´ıpios de Aimor´es, Itueta, Resplendor e Santa Rita do Itueto, a partir dos relatos dos descendentes mais antigos. Tamb´em tem como proposta discutir as condi¸c˜oes de emigra¸c˜ao dos descendentes mais jovens para a It´alia. Trata- -se de um estudo descritivo que utiliza uma abordagem qualitativa. Para sua produ¸c˜ao foram realizadas seis entrevistas com descendentes mais velhos e uma com descendentes emigrantes da Microrregi˜ao de Aimor´es/MG com experiˆencia emigrat´oria para a It´alia. Destaca-se que s˜ao usados nomes fict´ıcios para preser- var a identidade dos informantes.

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O caminho dos imigrantes nas Minas Gerais

A Mesorregi˜ao mineira do Vale Rio Doce ´e dividida em sete Microrregi˜oes,5entre

elas, a Microrregi˜ao de Aimor´es como pode ser observada no mapa a seguir, mais especificamente, os munic´ıpios de Aimor´es, Itueta, Resplendor e Santa Rita do Itueto foi ponto de chegada de imigrantes italianos oriundos do Norte da It´alia vindos principalmente das localidades de Alfredo Chaves e Castelo no Esp´ırito Santo. A chegada `a regi˜ao desses primeiros imigrantes aconteceu no in´ıcio do s´eculo XX, promovendo uma nova configura¸c˜ao a esse territ´orio, inserindo novas t´ecnicas de manejo da terra, novos costumes e valores.

Fonte:www.google.com.br/imagens, acesso em 29–06–2011.

Figura 1: Mapa da Microrregi˜ao de Aimor´es – MG

Esp´ırito Santo.

5 O conceito de microrregi˜ao proposto peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estat´ıstica

– IBGE ´e agrupar munic´ıpios, dentro de um mesmo Estado, que constituem ´areas com ca- racter´ısticas homogˆeneas e vinculadas a localiza¸c˜ao. Para fins estat´ısticos e com base em similaridades econˆomicas e sociais.

O vale do Rio Doce participou do movimento de imigra¸c˜ao de europeus mais tardiamente, quando o interesse governamental pelo povoamento desta regi˜ao abriu caminho aos colonos fixados nas ´areas montanhosas do Esp´ırito Santo e de outras regi˜oes mineiras (Rezende e ´Alvares,1995). Em torno do ano de 1918, come¸cam a desembarcar nas esta¸c˜oes ferrovi´arias de Aimor´es e Resplendor di- versas fam´ılias italianas. Com elas desembarcam al´em de pequenas bagagens essenciais para a sobrevivˆencia, os sentimentos de inseguran¸ca, esperan¸ca e so- nhos nesta nova vida de imigrantes em territ´orio desconhecido.

Neste territ´orio, os imigrantes italianos e seus descendentes tiveram destaque nos econˆomicos, culturais e pol´ıticos. O munic´ıpio de Aimor´es ´e o maior – den- tre os quatro munic´ıpios estudados, em extens˜ao territorial e recebeu imigrantes italianos e descendentes tanto na sua ´area rural quanto urbana. J´a o munic´ıpio de Itueta que foi desmembrado dos vizinhos – Aimor´es e Resplendor, e ´e cor- tado pelo rio Doce, recebeu uma significativa leva de imigrantes italianos e descendentes na parte sul do seu territ´orio. A parte norte deste munic´ıpio foi colonizada por imigrantes alem˜aes.

Os imigrantes que fixaram em Resplendor em sua maioria se dedicaram ao com´ercio e posteriormente ao servi¸co p´ublico. Situado na parte mais alta da Microrregi˜ao, o munic´ıpio de Santa Rita do Itueto se diferencia dos demais em rela¸c˜ao ao clima que ´e mais ameno – prop´ıcio para o plantio do caf´e, sua ex- tens˜ao territorial n˜ao foi cortada pela ferrovia e foi o territ´orio que teve maior concentra¸c˜ao de imigrantes italianos.

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E interessante destacar que no momento de maior entrada desses imigrantes, somente o munic´ıpio de Aimor´es havia emancipado em 1915, os outros trˆes mu- nic´ıpios ainda n˜ao estavam formados pol´ıtico-administrativo. O munic´ıpio de Resplendor emancipa-se em 1939, Itueta em 1948 e por ´ultimo o munic´ıpio de Santa Rita do Itueto em 1963. Estes trˆes ´ultimos, contaram com a presen¸ca de imigrantes italianos em seu territ´orio no momento de emancipa¸c˜ao pol´ıtica.6

Os italianos e seus descendentes se fizeram presentes na Microrregi˜ao de Aimor´es, apesar de todas as dificuldades vivenciadas em diversos momentos de suas vidas. Segundo relatos dos descendentes mais velhos, os pais e os nonos sempre contavam como foi dif´ıcil a chegada e instala¸c˜ao nesse local onde era tudo mata - a floresta cobria as localidades, enfrentaram animais selvagens, n˜ao havia ´agua encanada e povoamento. Os alimentos que consumiam e tratavam os animais eram produzidos por eles. Alguns chegaram `a regi˜ao e compraram pequenas propriedades, outros trabalharam como meeiros em terras de famili- ares ou vizinhos e mais tarde adquiriram o seu pr´oprio peda¸co de terra. Todo crescimento observado atualmente foi adquirido com os esfor¸cos de cada fam´ılia que desbravaram e povoaram os locais com seus numerosos filhos.

Desmataram para a constru¸c˜ao das casas, currais e galp˜oes para armazenar os produtos colhidos e tamb´em para a forma¸c˜ao das lavouras de caf´e, milho, feij˜ao, arroz entre outros. As fam´ılias que chegaram `a regi˜ao ap´os a instala¸c˜ao

6 As datas de emancipa¸c˜ao pol´ıtica dos referidos munic´ıpios foram acessadas atrav´es dos

dos primeiros imigrantes italianos receberam ajuda destes atrav´es de mutir˜ao onde todos ajudavam a preparar o terreno para iniciar a planta¸c˜ao das sementes. Aos poucos e com toda a fam´ılia nas lavouras, os descendentes de italianos come¸caram a adquirir mais terras e gados para melhorar a renda familiar. Nesse ponto ´e importante destacar que a produ¸c˜ao era familiar e todos os homens, mulheres e crian¸cas a partir dos seis anos de idade trabalhavam arduamente na terra. Assim, suas terras foram crescendo e se tornaram importantes produtores de caf´e e criadores de gado para corte e produ¸c˜ao de leite e queijo na Micror- regi˜ao at´e os dias atuais.

SegundoBassanezi (1995), esta corrente imigrat´oria, no Brasil, revelou es- pecificidades: a imigra¸c˜ao familiar foi mais volumosa que nos demais pa´ıses receptores e a regi˜ao do Vˆeneto, na It´alia, foi a que mais forneceu imigrantes.

Estudando a imigra¸c˜ao italiana no Rio Grande do Sul, Zanini(2010) des- creve que eram migra¸c˜oes familiares, composta por cat´olicos em sua maioria, provenientes do Norte da It´alia e predominantemente de camponeses pobres. A Regi˜ao de Aimor´es, Itueta, Resplendor e Santa Rita do Itueto – MG, tamb´em seguiu esse mesmo padr˜ao.

Nestas localidades expressaram sua f´e e devo¸c˜ao construindo diversas capelas em homenagem aos santos (as) da igreja cat´olica. Aos domingos as fam´ılias se reuniam para rezarem o ter¸co e a ladainha a Nossa Senhora, as mulheres eram respons´aveis por todo o momento de ora¸c˜ao. As festividades dos padroeiros (as) eram comemoradas por todos – as fam´ılias italianas e descendentes n˜ao traba- lhavam na terra ou no com´ercio nestes dias de festejo. Havia comidas t´ıpicas, dan¸cas e cantos italianos, era um momento de encontro entre as fam´ılias italia- nas e de muita alegria. Atualmente estas capelas se transformaram em grandes e bonitas igrejas nas diversas localidades da Microrregi˜ao de Aimor´es.

Com os poucos moradores n˜ao descendentes de italianos7 mantiveram uma

rela¸c˜ao de respeito e amizade. Por´em, os casamentos eram entre fam´ılias de descendˆencia italiana. At´e a terceira gera¸c˜ao poucos s˜ao os que se casaram com n˜ao descendentes e quando isso acontecia era motivo de discrimina¸c˜ao. Segundo os relatos dos mais velhos, casar com a mesma descendˆencia ´e melhor, pois os costumes, valores e virtudes s˜ao os mesmos. Atualmente ´e poss´ıvel perceber que a quarta gera¸c˜ao n˜ao tem tanta restri¸c˜ao ao casamento com outra descendˆencia,