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As pol´ıticas nacionais e regionais de regula¸c˜ao profissional exercem uma in- fluˆencia decisiva na inser¸c˜ao profissional dos imigrantes altamente qualificados. Assim, o primeiro paso necess´ario para a pr´atica profissional de um imigrante altamente qualificado, neste caso m´edico(a), ´e o reconhecimento do diploma uni- versit´ario e o reconhecimento profissional. Os procedimentos para a equivalˆencia

do diploma em Medicina e da especialidade m´edica, bem como para o reconheci- mento profissional atrav´es da inscri¸c˜ao nas respetivas organiza¸c˜oes profissionais, s˜ao distintos na Espanha e em Portugal (ver Tabela 3).

Reconhecimento da titula¸c˜ao em Medicina

Na Espanha, o ´org˜ao respons´avel do reconhecimento dos t´ıtulos estrangeiros ´e o Minist´erio da Educa¸c˜ao. Trata-se de um processo totalmente administrativo e burocr´atico, atrav´es da apresenta¸c˜ao de uma serie de documentos solicitados, e em geral costuma ser um procedimento relativamente r´apido. Espanha tem acordos ou convˆenios bilaterais no ˆambito da educa¸c˜ao com grande parte dos pa´ıses latino-americanos, como Colˆombia e Argentina, o que facilita o processo de reconhecimento da titula¸c˜ao em Medicina e condiciona a rapidez do processo. No caso dos(as) m´edicos(as) brasileiros(as), este procedimento ´e mais demorado em compara¸c˜ao com outros m´edicos latino-americanos,1 devido ao Brasil n˜ao

ser um dos pa´ıses com o qual a Espanha tem acordo bilateral neste ˆambito. Em Portugal, as institui¸c˜oes respons´aveis da equivalˆencia dos diplomas uni- versit´arios s˜ao as entidades de ensino superior, neste caso, as Faculdades de Medicina. Para obter a equivalˆencia do t´ıtulo de Medicina em Portugal, o(a) m´edico(a) estrangeiro(a) deve passar uma prova de avalia¸c˜ao de conhecimento m´edico, consistente numa parte te´orica e uma parte pr´atica. Al´em deste exame, os(as) m´edicos(as) formados(as) num pa´ıs de l´ıngua n˜ao portuguesa, que n˜ao ´e o caso do Brasil, devem passar uma prova de proficiˆencia em l´ıngua portuguesa. Por outro lado, h´a facilidades no caso de alguns m´edicos(as) brasileiros(as) quando houver acordo entre as universidades de origem e de destino em que a equivalˆencia da titula¸c˜ao pode ser autom´atica.

Processo de reconhecimento profissional atrav´es das organiza¸c˜oes profission- ais

Para poder exercer a profiss˜ao de m´edico, tanto na Espanha como em Portu- gal, ´e necess´aria a inscri¸c˜ao nas respetivas organiza¸c˜oes profissionais de m´edicos: em Portugal na Ordem dos M´edicos e na Espanha no Colegio de M´edicos. Na Espanha, uma vez que o m´edico j´a tem o t´ıtulo de licenciado em Medicina re- conhecido pelo Minist´erio da Educa¸c˜ao, este procedimento tamb´em ´e adminis- trativo e burocr´atico e normalmente decorre com bastante facilidade e agilidade. Em Portugal, os obst´aculos para desempenhar a profiss˜ao de m´edico s˜ao maiores em compara¸c˜ao com a Espanha. Assim, a Ordem dos M´edicos estabe- lece um sistema complexo de acredita¸c˜ao profissional que distingue o exercicio autˆonomo da profiss˜ao do exercicio tutelado. Para o exercicio da Medicina Autˆonoma em Portugal no caso dos(as) m´edicos(as) estrangeiros(as), ´e exigido o comprovativo de trˆes anos de experiˆencia profissional nos ´ultimos cinco anos. A maioria destes m´edicos(as) conseguem o exercicio tutelado, de modo que tˆem que fazer um per´ıodo de est´agio profissional sob a supervis˜ao de um(a)

1 Enquanto o processo pode demorar entre um e trˆes meses para os(as) m´edicos(as) latino-

americanos(as) de pa´ıses que tem convˆenio com a Espanha, para os(as) brasileiros(as) este procedimento pode demorar cerca de um ano.

m´edico(a), semelhante ao ano de Internato Geral em Portugal. Al´em disto, e diferente da Espanha, a Ordem dos M´edicos estabelece uma prova lingu´ıstica chamada prova de Comunica¸c˜ao M´edica para aqueles(as) m´edicos(as) forma- dos(as) em Medicina num pa´ıs de l´ıngua n˜ao portuguesa, n˜ao sendo aplicado no caso dos(as) brasileiros(as).

Reconhecimento da especialidade m´edica

Tanto na Espanha como em Portugal o reconhecimento da especialidade m´edica ´e dif´ıcil de conseguir porque ´e um processo muito exigente e demorado em compara¸c˜ao com o reconhecimento do diploma em Medicina. S˜ao poucos os casos de m´edicos(as) estrangeiros(as) que consiguem obter esta equivalˆencia em ambos os pa´ıses. Dadas estas dificuldades, alguns m´edicos(as) escolhem fazer uma segunda especialidade m´edica no pa´ıs de destino.

Em Portugal o organismo respons´avel da equivalˆencia da especialidade m´e- dica s˜ao os distintos Col´egios das Especialidades da Ordem dos M´edicos, que estabelecem o exame final de acesso ao t´ıtulo da especialidade, que ´e o mesmo para nacionais e estrangeiros. Para este procedimento, os(as) m´edicos(as) tˆem que apresentar um CV extenso e muito detalhado sobre a experiˆencia profis- sional e acadˆemica, bem como o programa de forma¸c˜ao da especialidade no pa´ıs de origem. Uma vez avaliada esta primeira fase, o Col´egio da Especialidade cor- respondente determina se o(a) m´edico(a) pode ou n˜ao passar `a fase do exame final da especialidade, e no caso afirmativo quase sempre est´a condicionado `a realiza¸c˜ao de um per´ıodo de est´agio na especialidade. A seguinte fase ´e o exame de acesso ao t´ıtulo da especialidade que ´e formado por um conjunto de provas te´orico-pr´aticas.

Na Espanha, o ´org˜ao competente da equivalˆencia da especialidade m´edica ´e o Minist´erio da Sa´ude. Tal como o reconhecimento da titula¸c˜ao em Medicina e o processo de colegiaci´on, e at´e a nova legisla¸c˜ao de 2010, a equivalˆencia da especialidade tamb´em era um processo administrativo e burocr´atico, mas n˜ao por isso mais f´acil de conseguir em compara¸c˜ao com Portugal. Assim, a antiga normativa de 1991 (Orden de 14 de octubre de 1991 ) para o reconhecimento das especialidades na Espanha era restritiva e pouco ´agil e flex´ıvel, chegando a de- morar v´arios anos para dar uma resposta e na maioria dos casos com resultado negativo sobre a aprova¸c˜ao da equivalˆencia.

Em 3 de maio de 2010 foi publicada a nova normativa para o reconheci- mento da especialidade m´edica (Real Decreto 459/2010, de 16 de abril, por el que se regulan las condiciones para el reconocimiento de efectos profesionales a t´ıtulos extranjeros de especialista en Ciencias de la Salud, obtenidos en Estados no miembros de la Uni´on Europea). Com este novo regulamento procura-se dar uma via de solu¸c˜ao aos m´edicos que j´a estavam exercendo como especialistas dentro do sistema de sa´ude sem ter o t´ıtulo reconhecido, atrav´es de um acesso especial e um per´ıodo de est´agio profissional,2 al´em de estabelecer um sistema

2 Este procedimento especial ´e estabelecido desde que os m´edicos reunem as seguintes

caracter´ısticas: ter o t´ıtulo oficial de m´edico especialista no seu pa´ıs de origem e ter desem- penhado na Espanha uma atividade pr´opia da especialidade por um per´ıodo n˜ao inferior a um ano durante os ´ultimos cinco anos num centro reconhecido. Para esses casos, h´a duas op¸c˜oes

de reconhecimento mais dinˆamico e ´agil para as pessoas que chegam ao pa´ıs. Por´em, apesar das maiores facilidades para o reconhecimento da especiali- dade atrav´es desta nova normativa, o procedimento parece estar paralisado e ainda n˜ao sa´ıram os resultados da avalia¸c˜ao dos processos. As circunstˆancias econˆomicas e a consequente menor press˜ao dos empregadores, podem estar in- fluenciando nesta demora.

Tabela 3: Processos de integra¸c˜ao institucional dos profissionais m´edicos es- trangeiros na Espanha e Portugal

Espanha Portugal Equivalˆencia

do diploma -Minist´erio da Educa¸c˜ao -Faculdades de Medicina - Processo administrativo

e burocr´atico -Prova de avalia¸c˜ao do conhecimento m´edico (parte te´orica e pr´atica) -Processo relativamente r´apido -Prova de proficiˆencia em l´ıngua

portuguesa -Facilidades no caso de alguns

m´edicos(as) brasileiros(as) quando houver acordo entre as universidades

de origem e de destino Reconhecimento

profissional -Colegio de M´edicos -Ordem dos M´edicos -Processo administrativo

e burocr´atico -Sistema complexo de acredita¸c˜ao profissional (exercicio autˆonomo ou tutelado)

-Prova de Comunica¸c˜ao M´edica Equivalˆencia

da especialidade -Minist´erio da Sa´ude -Ordem dos M´edicos – Col´egio das Especialidades -Orden de 14 de octubre de 1991 :

processo administrativo e burocr´atico,

mas restritivo e pouco ´agil -CV extenso e detalhado, est´agios na especialidade, exame final da especialidade (provas te´orico-pr´aticas com j´uri) -Real Decreto 452/2010:

via especial para o reconhecimento de fato (est´agios profissionais / exame).

Por enquanto, processo paralisado -Processo demorado, exigente e

dif´ıcil de conseguir

-Processo demorado, exigente e dif´ıcil de conseguir

para obter o reconhecimento da especialidade: realizar trˆes meses de est´agio remunerado num centro de trabalho ou fazer um exame te´orico-pr´atico em Madrid.