No Brasil, a região semiárida representa cerca de 13,5% de seu território, e no Nordeste esse percentual aumenta para 74,3% (DINIZ, 1995). Na região, o clima é do tipo Semiárido quente de baixa latitude e altitude (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002). A região do Semiárido corresponde basicamente à delimitação do Bioma Caatinga que é o principal ecossistema lá existente, ocupando uma área de aproximadamente 982 mil km2, e estendendo-se pelos estados da Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, parte do Maranhão e norte de Minas Gerais (PRADO, 2005) (Figura 01).
O Semiárido nordestino é caracterizado pelas irregularidades no regime pluviométrico, definido pela escassez, a temperatura é elevada e precipitações anuais variam entre 250 a 1000 mm, distribuídos em um curto período, de 3 a 6 meses. Acerca do regime pluviométrico, no Semiárido não há período fixo de chuvas, nem lugar certo, para chover. Essa variação de tempo e espaço dificulta, mas não impede a boa convivência com o ambiente (MALVEZI, 2007).
Devido à proximidade com o Equador, o clima do Semiárido brasileiro possui uma configuração própria, o que permite ser considerado um dos climas mais complexos do mundo, devido principalmente a seu sistema de circulação atmosférica. Ao atuarem na região, os bloqueios atmosféricos podem provocar longos períodos de estiagem. Já o período de chuvas está associado à passagem de frentes frias e a atuação da Zona de Convergência Intertropical e das bordas dos vórtices ciclônicos em altos níveis troposféricos (POMPÊO, 1999).
Dentro do Semiárido nordestino existem duas áreas que recebem a denominação Cariri, e estas são: a Microrregião do Cariri no estado do Ceará e o Cariri paraibano, que por sua vez é subdividido na Microrregião do Cariri e na Microrregião do Cariri Ocidental. Essa denominação foi dada as essas regiões, pois, muito antes da chegada dos colonizadores, as mesmas eram áreas ocupadas originalmente pelas populações indígenas da etnia Cariri (BEZERRA; RODRIGUEZ, 2000).
O Cariri paraibano ocorre na parte oriental do Planalto da Borborema, encontra-se localizado na porção centro-sul do estado da Paraíba, apresentando elevações que variam entre 400 a 600 metros e ocupando uma área de aproximadamente 13.845 km2, composta por 29 municípios, com uma população de cerca de 194000 habitantes (CANTALICE; MARTINS; CÂNDIDO, 2006). Além disso, é considerado área prioritária para a conservação da Caatinga, dado o seu elevado grau de instabilidade, bem como a insuficiência de conhecimento científico sobre a região (VELLOSO; SAMPAIO; PAREYN, 2002).
Figura 01 - Mapa do Brasil com destaque para a região semiárida.
Fonte: Ruffo (2016).
Ele constitui uma das mais carentes regiões naturais do Semiárido, apresentando um quadro grave de precariedade econômica e desigualdade social, assim como acelerado processo de degradação, determinado pelo efeito combinado entre as condições climáticas próprias da região, falta de políticas públicas adequadas, práticas inadequadas de uso e aproveitamento dos recursos hídricos e demais recursos naturais (LEAL; TABARELLI; SILVA, 2005).
Em nível de Brasil, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios do Cariri paraibano é baixo, visto que a união possui IDH de 0,755, valor considerado
"elevado". O IDH é uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. Dentre estas dimensões, a "educação" é a que mais contribui para a redução dos níveis de IDH dos municípios do Cariri paraibano (RUFFO, 2016).
Como citado anteriormente, esse estudo foi realizado no município de São João do Cariri, estado da Paraíba. O mesmo está localizado na Mesorregião da Borborema, Microrregião do Cariri Oriental, distando 216 km da capital, João Pessoa (Figura 02).
Figura 02 - A. Localização do município de São João do Cariri no território paraibano; B. Município de São João do Cariri; e C. Imagem de satélite da área urbana do município de São João do Cariri.
Fontes: A - modificado de <http://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregião_do_Cariri_Oriental>; B e C - modificados de <https://www.google.com.br/maps/place/São+João+do+Cariri+-+PB>. Acessos em: 25 jan. 2017.
São João do Cariri tem área de cerca de 702 km², está a uma altitude de 458 metros acima do nível do mar e população de 4344 habitantes (sendo 2347 na zona urbana e 1997 na rural), com um IDH de 0,622, classificado como "médio" (IDH entre 0,555 a 0,699), não muito distante da média do estado da Paraíba, que possui IDH de 0,658, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 2010.
Todo seu território está inserido no Bioma Caatinga e faz divisa com dez municípios, Serra Branca, Gurjão, Parari, Santo André, Boa, Vista, Cabaceiras, São Domingos do Cariri, Barra de São Miguel, Caraúbas e Coxixola. Todos esses municípios estão localizados em plena "diagonal seca", onde se observa os menores índices médios anuais históricos de precipitação pluviométrica do Semiárido brasileiro, estes inferiores a 400 mm, muito concentrados no tempo e irregulares, além de elevadas temperaturas (médias anuais em torno de 26ºC) e fracas amplitudes térmicas anuais (NASCIMENTO; ALVES, 2008).
Além disso, deve-se mencionar que São João do Cariri contém parte da APA do Cariri paraibano inserida em seu em seu territórios, assim como acontece para com os municípios vizinhos de Cabaceiras e Boa Vista (Figura 03).
Figura 03 - Mapa de localização geográfica da APA do Cariri paraibano.
Uma APA, segundo o Artigo 15 do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é uma área, em geral, extensa, constituída por terras públicas ou privadas, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida das populações humanas que lá residem. Ela tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. De acordo com o SNUC, as APA são unidades de conservação que têm como objetivo assegurar o bem-estar das populações humanas e conservar ou melhorar as condições ecológicas locais, voltada para a proteção de riquezas naturais que estejam inseridas dentro de um contexto de ocupação humana (SILVA; GAMA; ARAUJO, 2015)..
O estabelecimento de áreas protegidas é uma estratégia importante para conter a ocupação indisciplinada da terra e o uso predatório dos recursos naturais, mas sua implementação tem enfrentado inúmeros desafios, pois a pressão antrópica sobre as áreas de preservação ambientais são inevitáveis (BENSUSAN, 2006). A falta de fiscalização associada à rápida ocupação dessas áreas geram intensos impactos aos ecossistemas, como degradação em nascentes e rios, manejo do solo inadequado, com práticas de queimadas e retirada da cobertura vegetal, que o desprotege e aumenta os processos de desertificação, transpondo o âmbito legal (SILVA; GAMA; ARAUJO, 2015).
A APA do Cariri paraibano foi criada pelo Governo do Estado da Paraíba através do Decreto nº 25.083, de 08 de junho de 2004, com a finalidade de proteger o meio físico, biológico, social e histórico de uma grande feição geomorfológica (um maciço rochoso com aproximadamente 16 km de comprimento e 2 km de largura, que se estende de nordeste para sudoeste, nos municípios de São João do Cariri, Boa Vista e Cabaceiras), assim como no seu entorno. Sua área é de 18.560 hectares, com uma altitude média de 500 metros, e sempre necessitou de proteção, por estar inserida em uma região em franco estado de desertificação, mas só foi estabelecida graças à ação conjunta de proprietários de terras locais, com intuito de utilizá-la para fins turísticos (FIALHO; ARAÚJO; BAGNOLI, 2010). Nela estão contidos diversos monumentos geológicos com áreas de afloramentos graníticos onde encontram-se grandes lajedos rochosos e matacões que contêm uma quantidade significativa de sítios6 onde foram descobertos vários vestígios arqueológicos,
6 Apesar da busca em diversas fontes, incluindo o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Disponível em <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/236>. Acesso em: 25 jan. 2017.) e pesquisas como Azevedo Netto (2005b) e Santos (2009a), não foi possível obter as coordenadas geográficas (latitude e longitude) dos sítios arqueológicos da APA do Cariri e de São João do Cariri.
paleontológicos e geológicos. A APA também possui monumentos naturais e paisagens do Bioma de Caatinga de beleza cênica, e que apresentam importância biológica e ambiental por conta de suas ricas fauna e flora arbórea e arbustiva regionais que precisam ser conservadas (FIALHO; ARAÚJO; BAGNOLI, 2010).
É por conter todas essas características citadas acima que, apesar do estudo da APA não ser o foco direto dessa pesquisa, faz-se importante que a mesma seja citada como parte da área de estudo, já que muitas das atividades que foram desenvolvidas com os professores, tiveram ligação direta com ambientes inseridos na mesma, ou mesmo foram realizadas dentro da APA.
Sobre o público que constituiu o universodessa pesquisa, é necessário ser dito que a mesma foi desenvolvida com um grupo inicial de 43 professores dos Ensinos Fundamental e Médio (do 1º ao 9º ano, e da 1ª a 3ª série, respectivamente, e dos turnos da manhã e tarde) de nove escolas públicas das áreas urbana e rural de São João do Cariri. A ênfase nesse aspecto amplo de unidades escolares, evitando uma centralização se deu em virtude de que parte significativa dos professores leciona em mais de uma escola dentro do município.
As nove escolas onde os professores lecionam são: Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental (EMEIF) Nossa Senhora dos Milagres, EMEIF Constantino de Farias Castro, EMEIF Etelvina Maria Batista, EMEIF Inácio Ferreira de Farias, EMEIF Hilda Maria de Souza Brito, EMEIF Oscar de Sousa Pinto, Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Severino Medeiros Ramos, EEEFM Jornalista José Leal Ramos, Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Deputado Tertuliano de Brito.