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Todas as alterações ambientais mencionadas pelos docentes do grupo inicial já causaram, ou causam, de alguma forma, "danos" à vida na Terra, corroborando grande parte

dos autores citados no primeiro tópico do referencial teórico; todavia, além de citarem alterações que ocorreram ou ocorrem de formas naturais, mas que podem estar ocorrendo por causa do ser humano, algumas dentre as citadas pelos professores acontecem apenas por ação humana e não naturalmente, como crescimento urbano, caça predatória, consumo exagerado, desmatamento e poluição (estas duas última estando entre as mais citadas). Já para os finais, observou-se que nenhuma das alterações citadas aconteceu apenas por ação humana, mostrando que os docentes deste grupo puderam discernir entre as ações da natureza e aquelas que surgiram por implicação da ação do ser humano no planeta.

Perguntados se acham que os registros paleontológicos e arqueológicos podem contribuir para estudos de alterações ambientais "danosas" que vêm sendo observadas atualmente, exatamente 35,88% dos docentes iniciais acha que sim, enquanto 9,3% acreditavam que não, e 55,81% não sabia se os registros poderiam ser utilizados para esse fim, ou não responderam o questionamento. No caso dos docentes finais, 100% deles afirmaram que sim, esses registros podem contribuir para os estudos ambientais.

Dentre os iniciais que responderam que sim, 33,33% não responderam ou não souberam dizer como os registros paleontológicos e arqueológicos poderiam contribuir para o estudo das alterações ambientais "danosas" que vem sendo observadas; já no entender de outros 20%, os registros podiam contribuir, pois "através deles é possível se conhecer os seres que foram extintos e o que os extinguiu", enquanto que 13,33% achavam que eles contribuíam, pois "confirmam que existem alterações ambientais hoje parecidas com as do passado". Uma porcentagem de 6,67 dos professores citou que os registros paleontológicos e arqueológicos poderiam contribuir "buscando neles evidências de como as alterações ambientais aconteceram antes e relacionando-as com as de agora" (Quadro 30).

Cada professor do grupo final da pesquisa ofereceu sua resposta e soube dizer como os registros paleontológicos e arqueológicos contribuiriam para o estudo das alterações ambientais "danosas" que vem sendo observadas. A maior parte deles, 27,27%, citou que esses registros "contribuem nos estudos sobre extinções de ecossistemas e espécies atuais ao compará-las com as do passado"; em seguida, 27,27% que "com seu uso pode-se saber como o homem vem afetando a Terra e os seres vivos desde que surgiu"; e 18,18% disse que eles "mostram que a vida já quase foi extinta naturalmente no passado e que pode acontecer de novo por causa do homem" (Quadro 30).

Quadro 30 - Motivos pelos quais os professores do município de São João do Cariri, participantes da pesquisa acham que os registros paleontológicos e arqueológicos podem contribuir para estudos de alterações ambientais "danosas" que vem sendo observadas atualmente.

Motivos Frequência Pré-Teste Frequência Pós-Teste AB RE % AB RE %

Não sabe / não respondeu 5 33,33% - -

Resposta desconexa 2 13,33% - -

Através deles pode-se realizar estudos de como eram o clima e a vida

no passado, e comparar como são hoje 1 6,67% - - Através deles pode-se conhecer os seres que foram extintos e o que os

extinguiu 3 20,00% - -

Com eles podem ser feitos novos estudos e descobertas sobre

alterações ambientais 1 6,67% - -

Confirmam que existem alterações ambientais hoje parecidas com as

do passado 2 13,33% - -

Buscando neles evidências de como as alterações ambientais

aconteceram antes e relacionando-as com as de agora 1 6,67% - - Contribuem nos estudos sobre extinções de ecossistemas e espécies

atuais ao compará-las com as do passado - - 2 18,18% Ajudam a entender as mudanças climáticas atuais ao se estudar as

antigas - - 1 9,09%

Com seu uso pode-se saber como o homem vem afetando a Terra e os

seres vivos desde que surgiu - - 3 27,27%

Ajudam a saber qual poderá ser o futuro da humanidade e do Terra ao

mostrarem o que já aconteceu de destrutivo no passado - - 1 9,09% Com eles podem ser feitos novos estudos e descobertas sobre

alterações ambientais - - 1 9,09%

Mostram que a vida já quase foi extinta naturalmente no passado e que

pode acontecer de novo por causa do homem - - 3 27,27%

TOTAL 15 100% 11 100% Fonte: Dados da pesquisa, 2014/2016.

O que foi observado nessas últimas questões interligadas foi certo padrão que mostram que, em geral, os professores percebem que a Terra passou por uma grande quantidade de alterações durante toda sua história, e que essas trouxeram todo tipo de efeitos em sua biosfera, de forma que em certos momentos eles foram 'danosos' e em outro 'benéficos' a mesma, principalmente no pós-teste, onde todos os professores não deixaram de responder nenhuma das questões e onde suas respostas foram mais completas que no pré-teste. Quanto a humanidade, salvo poucas exceções, os professores a viram como um problema para a vida neste planeta. Diversos autores como Frankel e Soulé (1981), Lawton e May (1995), Gibbs (2001), Marques et al. (2002), Huber e Caballero (2003), Pereira (2007), Nield (2007a; 2007b; 2007c), , Faria (2010) e Suguio (2008) concordam com essa afirmação e as anteriores, o que demonstra a consciência dos docentes sobre os impactos naturais e aqueles negativos que o homem vêm

causando desde que surgiu. Impactos que de muitas formas, no passado, só ocorriam apenas causados por drásticas e grandes mudanças ambientais.

Não se pode deixar de ressaltar que as palavras 'beneficamente', 'benéficas', 'benéficos', 'danosamente', 'danos', 'danosas' e 'danosos', foram utilizadas entre aspas simples nesses questionamentos interligados, pois as mesmas não denotam algo que seja permanentemente danoso ou benéfico à vida na Terra, mas sim algo que a afete durante um dado espaço de tempo, e que em algum momento pode chegar a criar oportunidades da vida se fortalecer no futuro, como por exemplo: ocorre uma extinção em massa que dizima grande parte da vida, no entanto, após a extinção vários nichos ecológicos vão estar abertos, podendo levar à rápida evolução de vários seres, com o intuito de preencher esses nichos, fazendo com que mais uma vez o ambiente fique em equilíbrio (CARVALHO, 2010).

Na penúltima questão foi pedido que os professores listassem pelo menos cinco seres extintos, e citando a seguir, caso achassem que alguns dos seres referidos foi extinto por consequência de ações dos humanos pré-históricos ou modernos, quais seriam estes seres. Cerca de 15% dos iniciais não soube ou não respondeu a esse questionamento, mas os que o fizeram, assim como os 100% dos finais que responderam, contribuíram para a obtenção de uma ampla quantidade de respostas.

Os seres citados foram divididos em categorias que foram nomeadas a partir da família a que eles pertenciam, ou seja: "plantas", "invertebrados", "peixes", "anfíbios", "répteis", "aves", "mamíferos", "fictícios". Os mais mencionados no pré-teste foram "dinossauros" (sem especificação de espécie(s)) da categoria "répteis", seguidos por "mamute" da categoria "mamíferos", canário, pombo viajante e ararinha azul da categoria "aves". Deve-se destacar que a maioria dos seres mencionados por eles ("asa branca", "azulão", "xexéu de bananeira", "canário", "canário da terra", "rolinha", "arara azul", "papagaio" e "ararinha azul" da categoria "aves"; "preá", "guaxinim", "tatu-bola", "tatu", "gato do mato", "tamanduá bandeira" e "tamanduá" da categoria mamíferos; e "tejuaçu" e "cascavel" da categoria "répteis") não está extinta (considerando que os docentes estão se referindo apenas aos nomes populares de gêneros vivos, pois dentro de vários dos citados, é possível que existam espécies ou subespécies específicas extintas) (Quadro 31).

É possível que alguns desses seres, como "asa branca", "azulão", "guaxinim", "xexéu de bananeira", "preá", "canário da terra", "tejuaçu" e "rolinha", tenham sido citados, pois os mesmos habitam(vam) a Caatinga onde se insere São João do Cariri, e os docentes não mais observam no Meio Ambiente local, de acordo com a fala oferecida por um dos docentes ao responder a esta questão:

Eu não sei dizer se esses bichos estão mesmo extintos, mas sei que faz muito tempo que não vejo canário da terra, guaxinim, preá, xexéu de bananeira, azulão, asa branca, tejuaçu e rolinha por aqui,

então pode ser que eles não existam mais, né? (Resposta de um dos

docentes no pré-teste).

Dentre os seres citados, mas que não estão extintos, alguns estão ameaçados de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN)8 ("azulão", "tatu-bola", "gato do mato", "tamanduá bandeira" e "arara azul"), o que demonstra que os professores que os citaram podem estar equivocados quanto a eles estarem extintos, mas mesmo assim, é possível que eles possuam conhecimentos sobre como os seres vivos da Terra estão sendo levados à extinção por fatores que podem ser derivados de ações deletérias a biosfera causadas pelos seres humanos.

No pós-teste, novamente, os mais citados foram "dinossauros" (e mais uma vez, sem especificação de espécie(s)), junto com "preguiça gigante" e "tatu gigante" da categoria "mamíferos", seguidos por "tigre-de-dentes-de-sabre", "mastodonte" e"toxodonte", também da categoria "mamíferos", e por "dodô" da categoria "aves". Deve-se destacar que mesmo com uma quantidade bem menor de professores tendo respondido o pós-teste, o número de seres citados foi superior ao do pré-teste; outra diferença está em que a maioria destes está realmente extinta. Contudo, ainda assim, também foram citados seres que não estão extintos ("náutilo" e "caranguejo ferradura" da categoria "invertebrados"; "celacanto" da categoria "peixes"; "ginko" e "cicadácea" da categoria "plantas"; e assim como no pré-teste, "asa branca" e "gato do mato"), mas em quantidade bem menor (Quadro 31).

Nota-se que todos os seres não extintos citados, exceto "asa branca" e "gato do mato", são conhecidos popularmente como fósseis vivos, que como citam Eldredge e Stanley (1984), é uma expressão utilizada informalmente para qualificar organismos de grupos biológicos atuais que são morfologicamente muito similares a organismos dos quais há conhecimento no registro fóssil, e que, frequentemente, pertencem a grupos biológicos que no passado geológico da Terra foram muito mais abundantes e diversificados que atualmente. Ou seja, uma possibilidade é que essa informação possa ter causado certa confusão aos professores que os citaram nessa questão do pós-teste.

Um fato interessante do pré-teste é que um dos docentes citou "Godzilla", um monstro gigante de filmes de ficção científica, como um ser extinto. Não é possível ter conhecimento do motivo que levou o docente a citar um ser fictício, pois há várias razões possíveis para tal,

8 IUCN 2016 - IUCN Red List of Threatened Species - Version 2016.2 – Disponível em <http://www.iucnredlist.org>. Acesso em: 25 jan. 2017.

desde um simples engano até a possibilidade do professor realmente achar que este personagem fosse um ser real, já que em seus filmes o monstro é representado com uma aparência que faz lembrar a ultrapassada visão de dinossauro carnívoro. Sendo assim foi criada a categoria "fictícios" apenas para abarcar essa citação.

Outra informação importante verificada no pré-teste é que nenhum tipo de planta ou ser de outro Reino dentre os seres vivos foi mencionado pelos professores, apenas do Animalia (animais), e mesmo dentre estes, nota-se que não houve a citação de nenhum invertebrado, fosse extinto naturalmente, pelo ser humano, ou mesmo, não extinto. Esse é um indício que pode refletir o pouco conhecimento científico acerca desse grupo na Caatinga, conforme Brandão e Yamamoto (2003), ao afirmar que a Caatinga é o ambiente onde se tem menos conhecimento sobre todos os seus grupos de invertebrados. Corroborando com isso, Florentino e Abílio (2012a), ao estudarem a percepção dos professores de uma escola em São João do Cariri acerca da biodiversidade aquática da bacia Hidrográfica do Rio Taperoá também observaram que os docentes não reconheceram nenhum grupo de invertebrados. Essa não citação de invertebrados também pode mostrar que esses seres não são tratados como uma parte importante da biosfera, como dinossauros, grandes mamíferos, e outros animais "superiores", mesmo eles possuindo uma história natural muito diversificada e serem muito importantes para a manutenção do ambiente.

No pós-teste ocorreu de forma diferente, pois foram citados "invertebrados", tanto extintos ("trilobite" e "amonite"), quanto não extintos ("náutilo" e "caranguejo ferradura"), um "peixe" não extinto ("celacanto") e "plantas" não extintas ("ginko" e "cicadácea"). Isso pode demonstrar uma ampliação no entendimento dos professores sobre a importância biológica desses seres. Mais uma vez, os não extintos citados são os chamados fósseis vivos, provavelmente relacionados a questão de confusão já citada.

Observa-se que parte substancial dos seres realmente extintos citados tanto no pré quanto no pós-teste é bem conhecida popularmente, como "dinossauros", "mamute", "tigre- de-dentes-de-sabre", "dodô", etc., mas outros, como "camelo com tromba", "onça gigante", "emu negro", "sapo dourado", "golfinho chinês de rio", não são, sendo necessário que haja certa pesquisa sobre seres extintos pouco conhecidos para se obter informações sobre eles, ou para o caso dos docentes finais, trazerem ao pós-teste informações repassadas as eles durantes os encontros de atividades vivenciais.

Quadro 31 - Categorias e subcategorias referentes aos seres extintos na opinião dos professores do município de São João do Cariri, participantes da pesquisa.

Categoria Subcategorias Frequência Pré-Teste Frequência Pós-Teste

AB RE % AB RE % Plantas Ginko - - 1 0,91% Cicadácea - - 1 0,91% Invertebrados Náutilo - - 1 0,91% Caranguejo ferradura - - 1 0,91% Trilobite - - 4 3,64% Amonite - - 2 1,82% Peixes Celacanto - - 1 0,91%

Anfíbios Sapo dourado - - 1 0,91%

Répteis Tejuaçu 3 3,33% - - Cascavel 1 1,11% - - Pterossauros - - 3 2,73% Arcossauros - - 1 0,91% Mosassauros - - 1 0,91% Dinossauros 16 17,78% 11 10,00% Tiranossauro 4 4,44% - - Aves Arara azul 3 3,33% - - Papagaio 2 2,22% - - Rolinha 1 1,11% - - Canário da terra 2 2,22% - - Canário 6 6,67% - - Dodô 3 3,33% 7 6,36% Emu anão 1 1,11% - - Pombo viajante 5 5,56% 1 0,91% Ararinha azul 5 5,56% 4 3,64% Ave do terror - - 1 0,91% Asa branca 3 3,33% 1 0,91% Azulão 1 1,11% - - Xexéu de bananeira 1 1,11% - - Moa - - 5 4,55% Mamíferos Tamanduá 1 1,11% - - Tamanduá bandeira 1 1,11% - -

Golfinho chinês de rio 1 1,11% 3 2,73%

Tatu 2 2,22% - -

Gato do mato 2 2,22% 1 0,91%

Guaxinim 1 1,11% - -

Tatu-bola 4 4,44% - -

Continuação do Quadro 31. Mamíferos Tigre da Tasmânia 4 4,44% 5 4,55% Quagga 3 3,33% 6 5,45% Mamute 6 6,67% 2 1,82% Preguiça gigante 2 2,22% 9 8,18% Tigre-de-dentes-de-sabre 4 4,44% 3 2,73% Mastodonte - - 10 9,09% Toxodonte - - 1 0,91% Tatu gigante - - 9 8,18% Cachorro pré-histórico - - 1 0,91%

Urso gigante de cara curta - - 2 1,82%

Onça gigante - - 3 2,73%

Peba gigante pré-histórico - - 1 0,91%

Lhama pré-histórica - - 1 0,91%

Camelo pré-histórico - - 2 1,82%

Camelo com tromba - - 1 0,91%

Cavalo pré-histórico - - 3 2,73%

Fictícios Godzilla 1 1,11% - -

TOTAL 90 100% 110 100%