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O planeta Terra possui espécies vivas em quantidade muito maior do que qualquer ser humano é capaz de imaginar. Mesmo que tendo contato com regiões distantes pela televisão ou pela Internet, a humanidade só conhece uma pequena parte do grande conjunto de espécies vivas existentes atualmente3.

No início de sua existência, a Terra era um ambiente turbulento e hostil a todo tipo de vida conhecida pelo ser humano, e por todos seus 4,6 bilhões de anos, sofreu os mais diversos tipos de catástrofes. Apesar disso, o planeta sobreviveu a tudo, posteriormente revertendo certos malefícios para beneficiar a vida. Suas interações reguladoras mantiveram condições favoráveis para a vida durante bilhões de anos (PEREIRA, 2007).

Por várias vezes, extinções em massa reduziram drasticamente a biodiversidade em diferentes períodos da história da Terra, talvez durante milhares ou milhões de anos, mas a vida sempre resistiu e conseguiu evoluir e se modificar para se adaptar às novas oportunidades. A grande biodiversidade da Terra pode ser explicada pela sua evolução durante inimaginavelmente longos períodos de tempo (NIELD, 2007a)

Extinção é o evento no qual o último representante de uma espécie deixa de existir. É o total desaparecimento de espécies, subespécies ou grupos de espécies. A extinção de uma espécie é geralmente inevitável quando há apenas um indivíduo da espécie restando, ou apenas indivíduos de um mesmo sexo. De modo mais abrangente, extinção é o momento a partir do qual os indivíduos remanescentes de uma espécie mostram-se incapazes de produzir descendentes viáveis ou férteis (FRANKEL; SOULÉ, 1981).

Apesar de ser um fato aceito hoje em dia, a ideia da ocorrência de extinções durante a trajetória histórica da vida na Terra, somente recebeu adesão, após a divulgação dos trabalhos do naturalista francês Georges Cuvier (1769 - 1832), que ao formular as leis da Anatomia Comparada possibilitou as reconstruções paleontológicas dos organismos que eram conhecidos somente na forma fóssil e que não tinham correspondentes vivos na atualidade, ou seja, extintos (FARIA, 2010).

Extinções são fenômenos tão naturais quanto o surgimento de novas espécies por meio da evolução biológica. A maior parte das espécies, ou seja, mais de 99,9%, de plantas, animais, fungos, bactérias, e seres de todos os outros reinos que já povoaram a face da Terra se extinguiu devido a causas naturais antes mesmo do aparecimento do homem, e os

3 Ciência à Mão: Portal de Ensino de Ciências - A diversidade da vida na Terra – Disponível em <http://www.cienciamao.usp.br/dados/t2k/_ciencias_05cie. arquivo.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2017.

paleontólogos reconhecem cinco períodos em que extinções em massa reduziram drasticamente a biodiversidade no planeta (GIBBS, 2001).

Sendo algo natural, é realmente preciso se preocupar com as espécies que hoje estão ameaçadas de extinção? Bom, primeiramente, é necessário compreender o processo pelo qual as espécies tornam-se extintas, e mais do que o evento da extinção em si.

Durante os bilhões de anos de existência da Terra, ocorreram diversas alterações, e os registros do passado encontram-se "gravados nas rochas". Os elementos dessa história estão contidos na natureza, através das acumulações de gelo e de poeiras, em sedimentos lacustres e oceânicos, nos sedimentos de campos dunares e de terraços fluviais, em fósseis de plantas e animais, na geologia de antigas linhas de costa, no crescimento de corais, nos anéis de troncos de árvore e de formações calcárias em grutas, assim como em indícios arqueológicos e escritos de sociedades do passado (NIELD, 2007b).

Os climas e ambientes da Terra não permanecem sempre iguais, mas apresentam mudanças, que podem exibir diferentes escalas. Os cientistas que investigam o dinâmico sistema terrestre têm noção da sua complexidade e dos seus constantes reajustes.

Pode ser citada como exemplo a investigação do surgimento do fenômeno El Niño há cerca de 36 milhões de anos, durante o final do Período Eoceno da Era Cenozóica, que foi causado por alterações nas conformações dos continentes que levaram a modificações nas correntes marítimas, causando o congelamento dos polos e a extinção em massa que marca o fim do período (HUBER; CABALLERO, 2003).

Ou o efeito estufa, pois a existência de CO2 na atmosfera terrestre provoca o fenômeno

natural que tem mantido a temperatura média global propícia para a vida. Se o teor deste gás fosse de 0%, a temperatura média na superfície terrestre cairia para -18º centígrados, transformando-a em ambiente inóspito à vida da maioria dos seres (SUGUIO, 2008).

Os humanos, que ao longo de toda a sua história, passaram por modificações extremas em seu ambiente e por muitos desafios à sua sobrevivência causados pela complexa e contínua dinâmica planetária da Terra, sendo que algumas destas, quase leva ram a sua extinção. Contudo, muitas também beneficiaram a humanidade, e a moldaram no que ela é hoje, fazendo com que a modificação do Meio Ambiente através do desmatamento, de queimadas, da caça, da agricultura, bem como por várias outras maneiras, para adaptá-lo às suas necessidades se tornasse uma característica definidora do que é o ser humano desde praticamente o seu surgimento4.

4 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) - Serviço Geológico do Brasil - Planeta Terra – Disponível em <http://www.cprm.gov.br/ publique/media/planeta_terra.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2017.

O ser humano não é a espécie mais populosa nem a mais poderosa fisicamente do planeta, mas tornou-se dominante por ter essa capacidade de alterar o ambiente natural, adaptando-o às suas necessidades e, assim, reduzindo em extensão e em qualidade os habitats nos quais vive a maior parte dos demais seres vivos (MARQUES et al., 2002).

Desde o surgimento dos humanos, os processos que em algum momento levariam ao desaparecimento das espécies existentes foram "acelerados" pela ação humana. Na Pré- História, o homem antigo pode ter caçado até a extinção parte da megafauna, contudo, hoje a grande ameaça à maioria dos organismos é a perturbação, fragmentação e, finalmente, destruição de seus habitats.

Contudo, os efeitos dessas transformações nos tempos antigos eram, comumente, restritos ao habitat local ou regional, entretanto nos últimos séculos, o homem tem agido de forma equivocada, causando grandes danos ao planeta, com isso, a sociedade atual afeta o Meio Ambiente numa escala inteiramente nova, com consequências globais5.

O resto da vida no planeta, ao cuidar de si mesma, também dá aos humanos uma chance de sobreviver. Os microrganismos, os mais diversos seres viventes da Terra, e os macrorganismos atuam em favor da vida, estando permanentemente gestando-a e renovando-a em todo o planeta, e isso acontece ao natural (PEREIRA, 2007).

As mudanças climáticas naturais, ou mesmo o fenômeno de exacerbação de aquecimento global dos últimos 100 anos, que é considerado principalmente antrópico, causam mudanças ambientais paulatinas e, portanto, não resultam em numerosas vítimas como intensos terremotos ou maremotos, e com isso, não são facilmente percebidas (SUGUIO, 2008).

Atualmente, pela primeira vez, uma espécie, o Homo sapiens, tornou-se o principal agente de transformação do Sistema Terra e dos padrões climáticos. Os homens estão a observar e tentar entender o modo como essas transformações ocorrem, e para isso é necessário perceber a diferença entre a variabilidade natural e a variabilidade devido à influência humana. Contudo, com o passar do tempo, esta distinção aparentemente clara tornar-se-á cada vez mais nebulosa (NIELD, 2007b).

Os fenômenos naturais são muito complexos e, ao mesmo tempo, são atribuíveis a várias causas, que atuam em diferentes tempos e com diferentes intensidades. Aqueles que comumente produzem consequências calamitosas são os seguintes: elevação do nível médio do mar; deglaciação de geleiras; epidemias; migração em massa de seres vivos; mortandade

5 Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) - Serviço Geológico do Brasil - Planeta Terra – Disponível em <http://www.cprm.gov.br/ publique/media/planeta_terra.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2017.

generalizada de corais; ondas de calor; grandes secas e incêndios florestais; tempestades e nevascas violentas; invernos extremamente curtos; entre outros (SUGUIO, 2008).

É possível que haja uma forte interferência humana nas alterações climáticas que estão ocorrendo, com crescimento das cidades e emissões gasosas, que têm uma forte influência no aquecimento global; nas modificações na cobertura vegetal, com desflorestamento, causando grave degradação da biodiversidade; e nas mudanças na química atmosférica, com produção de milhares de novas substâncias químicas sintéticas, cujo efeito na biosfera não é totalmente conhecido (SUGUIO, 2008).

O homem tem elevado a taxa de desaparecimento das espécies existentes, ao mesmo tempo em que interfere no processo de evolução biológica, responsável pelo surgimento de novas espécies. Estima-se que, durante o século XX, a taxa de extinção de espécies foi 100 vezes maior do que aquela existente antes do surgimento do homem (LAWTON; MAY, 1995). Apesar disso, é necessário compreender a importância relativa do homem face às influências naturais nos sistemas climáticos, no sentido de se perceber a origem das alterações observadas (SUGUIO, 2008).

A diversidade biológica do planeta constitui um patrimônio natural comum, sendo a fonte de muitos dos recursos naturais renováveis explorados para alimentação, produção de energia, pelas indústrias farmacêutica e cosmética, e muitos outros. Com isso, há a necessidade de refrear o ritmo atual de degradação biológica, e para isso é necessário identificar as espécies em maior risco de desaparecimento e, assim, a estabelecer prioridades de pesquisa e conservação (MARQUES et al., 2002). É preciso influenciar, encorajar e dar suporte às sociedades pelo mundo em seus esforços de conservar a integridade e diversidade natural para garantir que qualquer uso dos recursos naturais seja equânime e ecologicamente sustentável.

Os humanos, dotados da capacidade de decidir e de fazer escolhas, podem optar por conservar a vida ou não, mas o mais coerente seria ter atitudes de cuidado, para assim receberem respostas positivas e saudáveis da natureza (PEREIRA, 2007). Fica evidente a importância de sensibilizar diferentes atores sociais para que ajam de modo responsável e com consciência, conservando o ambiente saudável no presente e para o futuro, para que saibam exigir e respeitar os direitos próprios e os de toda a comunidade, e se modifiquem tanto interiormente, quanto nas suas relações com o ambiente (ABÍLIO; FLORENTINO, 2016).

Pois, se a humanidade necessita da Terra, depende completamente dela, uma vez que seu surgimento e evolução só puderam ocorrer a partir das condições oferecidas pelo planeta, e assim, a mesma permanecerá como parte dele para sempre, apenas existindo por cortesia do autossustentável Sistema Terra. Contudo, o inverso não é verdadeiro. Por 4,6 bilhões de anos, a

Terra nunca necessitou ou dependeu do elemento humano, e não necessita ou depende dele agora. Se ele deixar de existir, nada vai mudar, pois o planeta vai continuar com a sua jornada por mais 5 bilhões de anos, até seu fim derradeiro com a morte do Sol (NIELD, 2007c).