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Ambiente Econômico

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A nível socioeconômico, a Guiné-Bissau constitui uma das piores economias do mundo e consequentemente um dos mais pobres do planeta, perdendo apenas pela Somália. (FMI, 2015; FAOSTAT, 2017). No país, tem mais de dois terços da população a viverem com menos de 2 dólares por dia e mais de 21% com menos de 1 dólar.

No âmbito econômico, a Guiné-Bissau após sua independência até os dias atuais, adotou vários modelos e políticas econômicos que acompanhado com sua realidade e histórico sócio político, não tiveram sucesso como é o caso do programa de ajustamento estrutural (PAE). O país participa desde a década de 1990 em

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Entrevista concedida pelo presidente de ANCA-GB (DRG3). Entrevista III [08 de janeiro de 2017]. Entrevistador: Alfa I. S. Samate. Bissau, 2017. Arquivo III mp3. 29:33 minutos –28,6 MB.

diferentes blocos econômicos como a UEMOA/CEDEAO e consequente adesão à moeda única, o franco cfa, da sub-região africana e também na CPLP (FMI, 2015).

A agricultura absorve um pouco mais que 1/3 da população empregada e com a situação declarada. A população empregada representa um total de 488.644 (27% da população geral) pessoas, sendo que 311.692 e 176.952 vivem nas áreas rurais e urbanas respectivamente (INE, 2015; OEC, 2017).

O agronegócio ou setor primário, consegue oferecer ocupação à 72,4% da população, seguido de comércio/vendas com 10% e por fim serviços representando 7,3% da população (BCEAO, 2015; WORLD BANK; INE, 2015). Cabe destacar que a cultura de caju contribui com mais de 90% da participação da agricultura para o crescimento do PIB. A castanha de caju representa cerca de 98% da exportação do país, 13% do PIB, ocupa cerca de 5% da área total cultivável (AICEP, 2016; OEC, 2017). Essa cultura, assume, no entanto, um papel vital no aspecto socioeconômico do país. É uma atividade ainda que de forma temporária, que mais renda e ocupação (65% da mão de obra empregada) gera para o país.

A exportação guineense tem evoluído bastante de 2000 a 2015. Porém, a balança comercial tem sido deficitária ao longo dos anos, desde a sua independência. Entre 1997 a 2015 o saldo da balança comercial, tem sido negativo (ICEP 2016). O quadro 9 traz uma breve ilustração da balança comercial guineense entre 1997 e 2015.

Quadro 9: Balança comercial da Guiné-Bissau entre 1997 a 2015 (em milhões de US$).

1997 1998 1999 2000 2001 2002 Exportações Líquidas -31.333 -24.264 -12.307 -13.045 -19.268 -19.632 Exportações 32.079 18.603 33.974 48.073 49.371 42.432 Bens 28.300 16.600 31.460 44.244 46.100 37.903 Serviços 3.779 2.003 2.514 3.829 3.271 4.529 Importação 63.412 42.867 46.281 61.118 68.639 62.064 Bens 51.066 38.813 36.424 52.917 63.141 47.952 Serviços 12.346 4.054 9.857 8.201 5.498 14.112 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Exportações Líquidas -21.605 -23.101 -27.915 -46.580 -45.881 -50.236 Exportações 41.137 44.092 49.986 40.554 67.267 76.978 Bens 37.652 40.024 47.270 38.763 51.297 57.372 Serviços 3.485 4.068 2.716 1.791 15.970 19.606 Importação 62.742 67.193 77.901 87.134 113.148 127.214 Bens 45.666 50.906 64.251 76.975 91.742 101.671 Serviços 17.076 16.287 13.650 21.406 21.406 25.543 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Exportações -63.487 -64.431 -21.017 -51.222 -38.142 -51.331 -24.710

Líquidas Exportações 73.076 83.742 139.392 78.595 95.275 116.016 159.389 Bens 57.437 62.701 116.223 67.524 76.433 91.816 136.220 Serviços 15.639 21.041 23.168 11.071 18.842 23.200 23.168 Importação 136.563 148.173 160.409 129.817 133.471 167.347 184.099 Bens 108.229 110.901 129.164 107.987 105.026 128.434 152.864 Serviços 28.334 37.272 31.245 28.391 28.391 38.912 31.235

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Fonte: BCEAO; WORLD BANK; FMI (2015); INE, (2016).

Conforme o quadro 9, o Estado guineense importa mais bens e serviços, enquanto exporta menos, incapacitando o mesmo, de fazer poupança do capital necessário para financiar de forma sustentável os investimentos em áreas sociais e setores econômicos.

A Guiné-Bissau por outro lado, gasta mais do que arrecada com tributos. O orçamento geral do Estado, evidencia a incapacidade de a Guiné-Bissau direcionar recursos necessários para setores sociais e econômicos como educação, pesquisa e desenvolvimento, infraestruturas de transporte, energética, hídrica, entre outros (FMI, 2015; BCEAO, 2015).

Historicamente, grande parte dos gastos públicos, são suportados pelas doações regionais e internacionais dos parceiros de desenvolvimento (WORLD BANK, 2016). Desta forma, o atual quadro econômico da Guiné-Bissau faz dela um país insustentável economicamente e consequentemente, sem credibilidade ao nível dos credores internacionais (BCEAO, 2015; FMI; 2015; SANGREMAN; 2016).

Segundo o World Bank (2016), os gastos públicos (investimentos em diferentes setores sociais, econômicos e pagamento de salários dos funcionários públicos) da Guiné-Bissau, são sustentados em mais de 95% por doações e empréstimos dos parceiros de desenvolvimento (AICEP, 2016; FMI, 2015; MEFRAOGE, 2015; SANGREMAN, 2016). Assim, a fraca capacidade da Guiné- Bissau enquanto país, assumir de forma sustentável seus gastos ou orçamentos públicos, são evidenciados na tabela 10 a seguir, que traz o histórico de investimento guineense e origem/fontes de recursos relacionados entre 1997 a 2015.

Tabela 10: Fonte e/ou origem de recursos de financiamento aos setores sociais e

econômicos no governo da Guiné-Bissau entre 1997 a 2015.

Fontes e/ou origem de financiamento do investimento público em bilhão de FCFA

Origem/Anos 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Finan. Exterior 18.544 0 0 7.881 16.684 0 24.800 17.337 11.012 8.128 Donativos 7.547 0 0 5.404 13.358 0 19.018 9.130 4.808 6.010 Empréstimos 10.997 0 0 2.477 3.326 0 5.782 8.207 6.204 2.118 Finan. Interno 403 0 0 3.616 2.473 0 1.059 478 1.053 311 Total 18.947 0 0 11.497 19.157 0 25.859 17.815 12.065 8439 Origem/Anos 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Finan. Exterior 26.128 17.180 34.638 32.782 28.229 21.055 23.419 39.233 45.151 - Donativos 21.605 17.151 33.602 27.867 21.196 15.195 17.516 26.179 35.115 - Empréstimos 4.523 29 1.036 4.915 7.033 5.110 5.903 13.054 10.035 - Finan. Interno 1.182 184 1.066 0 178 0 0 1.697 3.536 - Total 27.310 17.364 35.704 32.782 28.407 21.055 23.419 40.930 48.685 -

Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte: BCEAO (2015), WORLD BANK (2016);

SANGREMAN (2016).

A tabela 10, evidencia a forte dependência da Guiné-Bissau em relação à recursos externos para execução e sustentação de seus gastos e despesas públicos. Os donativos, empréstimos, recursos internos (recursos oriundos de arrecadações internas) e contrapartidas, são elementos que compõem a estrutura do orçamento geral de Estado (OGE) da Guiné-Bissau, desde a sua independência até os dias atuais. A estrutura de OGE da Guiné-Bissau, é representada em média, por 75% a 80% de donativos (doações), 15% de empréstimos e 5% dos recursos internos (arrecadações). Ao longo dos anos, os recursos internos e contrapartidas diminuíram consideravelmente suas participações em apoio aos gastos e despesas públicas, devido as constantes instabilidades políticas (MEFRAOGE, 2015).

Portanto, diante de recorrentes instabilidades no país, tais recursos muitas vezes não têm sido devidamente aplicados, sendo assim desviados para outros fins indevidos ou atender necessidades de alguns grupos no poder - governos legítimos ou de transição (FMI, 2015; WORLD BANK, 2016).

Ademais, pode-se concluir que a estrutura econômica vigente no país (fraca capacidade de arrecadação), aliada a seu contexto político, constituem principais razões da fraca capacidade de investimento público e privado nos setores sociais e econômicos.

De acordo com o FMI (2015), a situação fiscal e consequentemente dos gastos públicos, são afetados pelas constantes instabilidades políticas e governamentais vivenciadas no país. As perturbações políticas, levaram a

fragilização das instituições públicas e ao baixo desempenho dos setores econômicos nacionais, como também, redução de doações externas. Por outro lado, segundo World Bank (2016), as instabilidades políticas vivenciadas nos últimos anos na Guiné-Bissau nos últimos anos, levaram a queda de subsídios em projetos para 57%, o que representa assim, a maior parte do declínio de 24% das receitas. Também, os projetos antes financiados internamente foram descontinuados, e as atividades bancadas por fontes externas diminuídos em 50%.

Na mesma linha, o FMI (2015. Pg.10), afirma que, ―a fragilidade na economia da Guiné-Bissau tem sido agravada pela instabilidade política, sobretudo devido aos golpes militares que interromperam programas de reformas estruturais e prejudicaram progressos socioeconômicos‖. Segundo o relatório da AICEP (2016 pg.4), ―ausência de estabilidade política não tem permitido o desenvolvimento da economia guineense o que motivou uma variação negativa do PIB no início da presente década‖. De acordo com o World Bank (2016), acelerar ou manter no mesmo ritmo, a luta pela redução da pobreza na Guiné-Bissau, será, no entanto, complicado ou impossível, sem, no entanto, resolver primeiro os problemas relacionados com a situação política e institucional.

Desta forma, pode-se concluir que o fraco desempenho econômico que a Guiné-Bissau tem apresentado ao longo dos anos que precederam a sua independência, tem uma relação causal com o seu histórico sociopolítico. Portanto, tais fatos, aliado a outros problemas relacionados aos indicadores sociais acima referidos, têm caracterizado um conjunto de desafios a enfrentar pelos atuais e futuros governos guineense e seus parceiros de desenvolvimento. Desta forma, torna-se importante mobilizar conjunto de esforços capazes de reverter o atual quadro, por meio de criação de mecanismos eficientes de promover a paz e melhorias nas infraestruturas físicas e intangíveis do ambiente do negócio do país, de forma a promover a competitividade do mesmo, em seus diferentes setores econômicos.

Isto posto, com base no modelo proposto, o cenário econômico da Guiné- Bissau em relação à baixo grau de emprego e renda da sua população consumidor, assim como a fraca capacidade econômica do país, na visão de Barney e Hesterly (2011), comprometem a sustentabilidade operacional e desenvolvimento dos negócios que ali atuam. Nesse cenário, tendo os consumidores internos pouco

poder de consumo, torna-se menos atrativo os investimentos, o que também leva à diminuição da produção.

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