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Cadeia Agroindustrial (Filière)

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Conforme já foi referida, em 1973, os pesquisadores franceses (de Montpellier), desenvolveram o conceito de Filière, mas apenas por meio da obra de Malassis (1979), intitulada ―economie agroalimentare” que o conceito ficou conhecido mundialmente. Contudo, vale destacar que esse trabalho só foi desenvolvido após esses pesquisadores terem acesso aos trabalhos de Harvard (ZYLBERSZTAJN, 2000). No entanto, Malassis, foi um dos primeiros autores a utilizar-se do conceito do sistema agroindustrial de commodities criado e desenvolvido por Davis e Goldberg. Além de traduzir o termo agribusiness para o idioma francês, procurou agregar ao conceito uma dimensão histórica, associando-o

como característico das etapas do desenvolvimento capitalista onde a agricultura se industrializa ( BATALHA, 2012; SILVA; GROSSI, 1998).

Para esses autores franceses, cuja referência é Malassis, quatro grandes estágios caracterizam a evolução do setor agroalimentar, começando com agroindústria; precedido de período pré agrícola, da agricultura de subsistência e do armazenamento diversificado. Portanto, vale destacar que por outro lado, essa sequência de períodos, consequentemente representou a evolução do pensamento humano (SILVA; GROSSI, 1998). Dessa forma, a última fase caracterizada pela agroindústria, que corresponderia à prática agropecuária das sociedades modernas ou desenvolvidas onde a produção de alimentos ocorre a partir de um processo complexo que requer conhecer claramente os agentes que oferecem suporte a agricultura propriamente dita tanto para frente (depois da porteira) como para trás (antes da porteira). Isto é, serviços e meios de produção (crédito, assistência técnica, pesquisa, fertilizantes, sementes, mudas, inseticidas, alimentos para animais, máquinas agrícolas entre outros).

Assim, a abordagem de filière pode ser conceituada de acordo com Malassis, (1979), como o percurso de um produto ou mais dentro de um contexto agroalimentar, considerando todas as atividades e agentes de apoio a sua concepção, armazenagem, processamento, beneficiamento e expedição (distribuição) para o consumidor final.

Para pesquisadores de Montpellier, “filière”, vai muito além da soma das operações envolvidas, pois acima de tudo, não existe apenas agricultores, as firmas e comerciantes, mas também as forças intelectuais como: pesquisa e inovação, as agências de extensão a publicidade e crédito. O estado não é apenas um agente neutro/passivo, e sim, um agente que assume papel central na configuração e na polarização dos interesses que se organizam (BELIK, 1982). Essa abordagem, também procura dar ênfase na dinâmica às relações estabelecidas na cadeia de produção.

Na concepção de filière, elemento chave para o desenvolvimento de um, país, região, localidade ou de terminado ramo de negócio, é a indústria processadora. Segundo Malassis (1979), para isso, adoção de técnicas contratuais, acelerada difusão do progresso tecnológico da indústria constitui condição ―sin equa non‖.

A difusão de técnicas modernas, induz a ocorrência da industrialização de toda cadeia agroalimentar, incluindo comércio, transporte e até mesmo atividades de

restauração entre outros. Dessa forma, é possível afirmar que as indústrias de transformação, podem assumir papel catalizador na modernização da agricultura e a realidade social onde se insere. Contudo, vale ressaltar que existe contradições de alguns autores sobre essa afirmativa.

A grosso modo, os dois conceitos, muito similares, apresentam, no entanto, algumas divergências. Por outro lado, apesar de suas contribuições para análise da agricultura num ângulo mais holístico, autores mais modernos atribuíram críticas, as quais serão posteriormente abordadas com mais detalhes.

É comum existir confusão em relação ao uso ou aplicação adequado dos termos sistema agroindustrial, cadeia agroindustrial e complexo agroindustrial como ferramenta de analítica. Isto é, qual dos conceitos se deve aplicar para um determinado objetivo de estudo. Dessa forma, embora os três conceitos (abordagens) apresentarem muitas similaridades, são, no entanto, diferentes no que concerne ao objeto que se pretende estudar, apesar de serem constantemente usados indistintamente pelos diferentes interessados (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2012; CALLADO, 2015; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Como forma de compreender melhor tais diferenças, a seguir será discorrido detalhadamente sobre suas definições e aplicações de acordo com alguns estudiosos da área.

O Conceito de sistema agroindustrial (SAG) se deriva da teoria neoclássica de produção, em particular do conceito matriz insumo-produto de Leontief (ALBERT OTTO HIRSCHMAN, 1958). Assim, um Sistema Agroindustrial (SAG), é caracterizado por um conjunto de atividades ou operações e agentes, que concorrem para a satisfação do consumidor final por meio de produção e oferta de produtos agroindustrial, que começa com a produção de insumos e termina com entrega de produto acabado ao consumidor final. Porém, vale destacar que a abordagem do SAG, não se restringe a uma única matéria prima ou produto específico. É uma abordagem mais abrangente, caracterizado por diferentes agentes que interagem em torno de um incentivo que visa atrair cooperação para obtenção do valor agregado dos possíveis produtos (BATALHA, 2001; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Conforme apresentado anteriormente, no sistema agroindustrial pode-se encontrar muitas cadeias e complexos agroindustriais que, embora sejam muitas vezes usados de maneira indistinta, são, porém, diferentes em suas abordagens e aplicações (BATALHA, 2001; ZYLBERSZTAJN, 2015). A cadeia agroindustrial (CAI)

é um arranjo produtivo que começa com identificação de um produto final como referência, e na sequencia pode-se constatar o encadeamento das atividades e operações de jusante a montante. O complexo agroindustrial (CAI),diferentemente da cadeia de produção agroindustrial, um complexo tem como ponto de partida, uma matéria-prima base que o originou (SILVA, 1996).

Assim, no entanto, pode-se afirmar que, em termos de resultado, a abordagem do sistema agroindustrial consegue maior amplitude de análise, uma vez que consegue integrar todos os fatores (internos e externos). Embora possuir múltiplas abordagens (sua abordagem possui diversos desdobramentos), os SAGs guardam de maneira constante um denominador comum, que os tornam importantes ferramentas balizadores no processo de formulação de políticas públicas e definição de estratégias empresariais. Seu enfoque pode permitir melhor conhecimento da realidade da agricultura e sua relação com a sociedade, e que podem ser vistas sob diversas formas de agregação. Isto posto, os SAG’s podem ser estudados sob diferentes graus ou níveis de detalhamento, envolvendo subsistemas estreitamente coordenados (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Em um SAG, pode-se encontrar uma certa pluralidade de arranjos, que se configuram em cadeias, redes, complexos de atividades ou operações sucessivas e interdependentes, que dão a sustentação produção, transformação e comercialização dos bens acabados ou intermediários. Dessa forma, seis etapas compõe o modelo de análise do SAG, sendo eles: serviços de apoio, insumos, agricultura, indústria de alimentos e fibras, distribuição agrícola e alimentar no atacado, no varejo e consumidor final (ARAÚJO, 2007; BATALHA, 2012; ZYLBERSZTAJN, 2000).

Por outro lado, segundo os autores como Batalha (2012), Zylbersztajn, (2015) e Callado (2015), um SAG se subdivide em três grandes segmentos. Sendo eles: Antes, Dentro e Depois da Porteira.

i. Antes da Porteira - que representa um ponto de partida para qualquer SAG’s e

envolve etapas de produção e fornecimento de insumos, matéria prima e serviços de apoio ao produtor. Como serviços tem-se entidades que operam em busca da prospecção e desenvolvimento do conhecimento sobre o ambiente econômico e institucional, como também na busca de concepção de novas tecnologias. Dentre eles pode-se destacar as instituições de credito, assistência técnica e gerencial,

pesquisa agropecuária, extensão rural, elaboração e análise de projetos entre outros.

ii. Dentro da Porteira - esse segmento abrange todas atividades produtivas

propriamente dita. Envolve toda atividade de produção (cultura, manutenção, colheita, armazenamento e comercialização realizada pelo agricultor), ou seja, diz respeito ao preparo e manejo do solos, irrigação, cuidados e tratos culturais, colheita, criação etc., processamento e transformação.

iii. Depois da Porteira ou a Jusante - tendo executado todas as etapas anteriores, o

grande desafio passa a ser a entrega do produto ao cliente final. Isto é, introduzi- lo no mercado. Diante disso, essa etapa (depois da porteira) envolve atividades de distribuição formada pelas firmas do atacado e varejo. Isto é, essa fase engloba o armazenamento, beneficiamento, industrialização, embalagens, etc.

Como forma de compreender as atividades e agentes da cadeia a partir da visão dos autores supracitados, a figura 1 vai ilustrar de forma sintética um sistema agroindustrial e seus fluxos de operações, materiais, recursos e interações dos agentes na geração do produto final ou intermediário para o mercado.

Figura 1: Sistema agroalimentar

Fonte: Adaptado de ZYLBERSZTAJN; NEVES (2000).

No entanto, esse modelo pode ser analisado de duas formas. i) por meio do ambiente institucional constituída por governo, leis, culturas, tradições, educação, costumes e valores; ii) através do ambiente organizacional composta por associações, cooperativas, informações, pesquisa e desenvolvimento, inovação, firmas entre outros. Ambiente Institucional- é constituída por ―regras de jogo‖, definida por uma determinada sociedade como forma de moldar as interações humanas no âmbito político, social e econômico por meio de restrições que definem

e limitam uma serie de escolhas individuais e/ou grupal. São caracterizadas pelas normas legais formais e regras informais que regem o comportamento e relação entre os agentes. Ambiente Organizacional- além das instituições e setores, um sistema agroindustrial, é também formado pelas entidades que dão suporte ao seu melhor funcionamento (NORTH, 1990; ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000).

Para Zylbersztajn (2015, p. 13), tais entidades não são empresas, pois se diferenciam delas através de objetivos de obtenção de lucros. A esse respeito, o autor afirma o seguinte:

São estruturas de representação setorial ou de sistemas de produtos organizações que compõe um sistema, ou organizados com base nos territórios onde atuam. Tais organizações podem ter caráter de ação coletiva, como cooperativas, instituições de pesquisa, agentes certificadores especializados ou agentes financeiros. [...] tais organizações existem para gerar margens ou defender margens dos seus membros e atuam na forma de lobby setorial. [...] realizam papel de interlocução com o governo e com outros setores (ZYLBERSZTAJN, 2015 p. 13).

O ambiente institucional deve ser considerado na análise uma vez que pode impactar sobre os incentivos destinados para soma de esforços conjuntos dos agentes e atividades, como forma de obter retornos maiores de maneira eficiente. E dessa forma, impacta não só no resultado do esforço e desempenho dos agentes separadamente, como também os do sistema ou cadeia como um todo. Isso se aplica, tanto para abordagem de Harvard, como para a de Montpellier (ZYLBERSZTAJN, 2015).

Assim, pode se concluir que as duas forças junto com os demais outros fatores, atuam na coordenação de uma cadeia agroindustrial. Diante disso, a partir de uma abordagem sistêmica da cadeia produtiva é possível analisar a forma como os dois ambientes (as duas forças) podem impactar no desempenho da cadeia.

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