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Cadeias Produtivas e o Desenvolvimento Econômico

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Uma cadeia produtiva envolve diversas atividades e agentes interconectados na produção de bens e serviços para o consumidor final. Pode ser entendido como um processo de agregação de valor. Essa abordagem, no entanto, está assente na visão de que a produção de um determinado produto obedece às etapas sistematicamente conectadas, na qual ocorre fluxo de recursos (materiais, informação, comunicação, capital etc.), necessários na execução de atividades que começa na produção da matéria prima, beneficiamento e acaba na entrega de do produto final ao cliente (AMYOT, 2009; CASTRO; LIMA; CRISTO, 2002; PESSOA; LEITE, 1998).

Silva (1996), afirma que sistema econômico de um país, região, setor, é constituído por meio de relações entre atividades ali executados. Tais relações ocorrem por intermédio de encadeamento sistemático e controle, propiciando assim, novos mercados, tecnologias de produção, podendo assim gerar importante transformação social.

Dessa forma, o modelo de desenvolvimento capitalista dá-se através de atividades produtivas instaladas em um determinado meio e, sua interação com outras atividades do mesmo ou de segmento diferente. Assim, o resultado dessa interação sistemática (efeito em cadeia) entre atividades e setores, oferece condições propícias à acumulação de riqueza e consequentemente o crescimento econômico (SILVA, 1996).

Assim, entende-se que as cadeias produtivas de diversos setores da economia, constituem importantes indutores de desenvolvimento não só no meio em que se instalam, mas também de maneira geral, isto é, em todo país. Em parte, elas se destacam pelos seus desempenhos sociais no que tange à oferta de empregos, renda, redução de fome e pobreza, contribuindo assim, na garantia da cidadania e dignidade humana (CARVALHO, 2012).

Diante disso, pode-se afirmar que só é possível a ocorrência de tal efeito, graças a própria natureza de algumas atividades produtivas em oferecer, certo dinamismo econômico no meio em que se inserem. Portanto, implantar e consolidar novas atividades, acumular capital, e alcançar um desenvolvimento sustentável almejado, apenas é possível com ―novos investimentos‖, busca pelos potenciais consumidores (penetração de mercados) e manutenção dos mercados já existentes (RIPPEL, 2005).

Em 1986, Albert Hirschman através do seu trabalho ―A Economia e Ciência Moral‖, tentou explicar o processo na qual ocorre o encadeamento e seu desdobramento de forma a impactar no crescimento econômico. Assim, o autor criou o conceito de ―efeito de encadeamento‖, que serviu de modelo no desenho e escolha de estratégias político-econômicas nos países em desenvolvimento. Reconheceu que o mesmo (desenvolvimento) se dá por meio de sucessão de etapas preestabelecidas que são, no entanto, indispensáveis para seu alcance.

O conceito de ―efeito de encadeamento‖ pressupõe que o desenvolvimento pode ser alcançado por intermédio de diversas situações de desequilíbrio. Para explicar como se dá esse processo, Hirschman utilizou-se do modelo Insumo- Produto ou matriz de coeficientes diretos e indiretos de interdependência setorial de Leontief, como instrumento capaz de captar os efeitos que direta ou indiretamente, os encadeamentos dos processos causam na estrutura econômica. Isto é, os vínculos presentes entre diversos elos e setores que compõem um determinado sistema econômico.

Em sua análise, o autor afirma que em uma economia, diante da escassez de recursos e abundancia de projetos, exige ―priorizar investimentos‖. Isto é, selecionar sequências de cadeias que se apresentam como as mais eficientes na execução de projetos, na maximização de ganhos, como também, na geração de desequilíbrio e aceleração do ritmo econômico e social até então presente.

Para o autor, o grau de intensidade das interações de complementaridade, pode ser medido por meio de encadeamento para frente (a jusante) e para trás (a montante), que se verifica no crescimento interdependente de algumas indústrias de abastecimento (fornecedores), e de consumo (indústrias compradoras de insumos e transformadores de matéria prima.

Tais efeitos podem ser avaliados de duas maneiras: I) produtos do investimento inicial que são ofertadas para outras cadeias; II) prováveis garantias de que os investimentos iniciais resultarão na ampliação de outras firmas (propriedades) ou permitiria o surgimento de outras atividades ou setores (HIRSCHMAN, 1986; RIPPEL, 2005).

Na opinião de Rippel (2005), os encadeamentos também podem ser medidos por meio da matriz de relações interindustriais, onde setores cujos vínculos apresentarem estreita intensidade em relação aos demais, devem merecer prioridades nos investimentos no processo de desenvolvimento de um país, região, cidade devido a sua capacidade de influenciar de modo eficiente, essas economias. Isto posto, encadeamentos para frente de um dado setor mede-se pela quantidade de produtos finais que este consegue destinar para indústrias de consumo, enquanto que os efeitos do encadeamento para trás, é avaliado através do percentual de produtos que adquire dos elos anteriores. Ou seja, o peso que suas compras representam sobre as receitas do setor em que atua ou de outros setores (RIPPEL, 2005). Enfim, o caminho a percorrer em busca de desenvolvimento, deve ser aquela que oferece condições para combinação tanto de encadeamentos para trás, assim como para frente (HIRSCHMAN, 1986, RIPPEL, 2005).

Em sua abordagem mais recente, Hirschman (1986), redefine o conceito de ―efeitos de encadeamento‖ em um setor ou produto específico, como ―forças‖ geradoras de investimentos e desequilíbrio que se apresentam por meio da relação insumo-produção. E que efeitos ―retrospectivos‖ e ―prospectivos‖ levam a novos

investimentos tanto nos agentes fornecedores de insumos (inputs), como aquelas utilizadores da produção (outputs).

Na visão do autor, apesar do conceito (efeitos da cadeia) apenas expandir-se e popularizar-se devido sua abordagem com base industrial, também há possibilidade de aplicação no âmbito da análise da produção agrícola. Dessa forma, pode-se constatar que o conceito de ―efeito da cadeia‖ se converge com a noção do ―produto primário de exportação‖ ao tentar demonstrar de certa forma, como o crescimento econômico de certos países estão diretamente ligados a exportação de produtos primários para o exterior, embora tal efeito seria mais vantajoso (rentável), se tais produtos fossem mais elaborados (HIRSCHAMAN, 1986).

Em suma, Hirschman (1986), buscou demonstrar a relação de ―causalidade‖ entre as atividades do mesmo segmento/setor ou não, e setores relacionados, como também, se preocupou em demonstrar como isso influencia o crescimento econômico e consequentemente no bem-estar social. Análise das relações de intensidade de vínculos oferece condições para a tomada de decisão sobre prioridades de investimentos para sequência de cadeias mais eficientes e rentáveis. Ou seja, aquelas capazes de maximizar os retornos, gerar excedentes além de fortalecer (ampliar) o setor e outros segmentos a ele ligados, consegue criar outras atividades, serviços, mercado, isto é, o desequilíbrio e posteriormente o crescimento econômico do país.

Dessa forma, é possível, afirmar que as cadeias produtivas, são sim, capazes de impactar sobre o crescimento econômico a partir do momento em que se verifica desequilíbrio de um segmento (setor) da economia em função dos investimentos que influenciam o crescimento econômico e permite fazer emergir novos componentes (elos) na cadeia produtiva. Por outro lado, e de grosso modo, isso se torna possível graças, ao estreito vínculo entre as cadeias produtivas que compõe certa economia. A teoria do ―efeito de encadeamento‖ de Hirschman, se enquadra dentro de uma perspectiva de olhar a cadeia de forma ampla para que se possa ter a noção do seu funcionamento integrado a nível interno e externo com outras cadeias diante das oportunidades e desafios da globalização.

Analisar a cadeia produtiva no âmbito agroindustrial, oferece condições de identificar e compreender os fluxos de atividades e seus impactos na dinâmica do setor. Permite além de caracterizar o papel que a produção de certa linha de produto exerce sobre a produção local e em relação aos aspectos econômicos e sociais,

dimensionar a grandeza (influência) da produção no âmbito local, assim com a rentabilidade das propriedades (firmas) ali instaladas. Por outro lado, permite verificar e acompanhar mudanças de atitude do consumidor, atualidades, tendências e alternativas tecnológicas, como forma de dar suporte à tomada de decisões estratégicas das propriedades rurais (VIEIRA, 2008; ZYLBERSZTAJN; NEVES; CALEMAN, 2015).

Isso, reforça a ideia de ter em mente que não será possível, fazer projetos e planos de forma isolado, isto é, para apenas um segmento sem, portanto considerar os demais desdobramentos (relação de causalidades entre as atividades e agentes) ao longo da cadeia (CASTRO; ANTÔNIO; FILHO, 1999; LIMA; WILKINSON, 2002; PESSOA; LEITE, 1998).

3.5.1 O efeito encadeamento da Indústria

A aposta no desenvolvimento industrial tem sido defendida por diferentes autores devido a sua importância no desenvolvimento sustentável de toda cadeia produtiva agrícola.

Assim como a agricultura familiar, a indústria vem assumindo um papel de destaque no desenvolvimento e sustentabilidade econômica da atividade produtiva primária e comercial agrícola e da pecuária. É um elo da cadeia produtiva do agronegócio que mais gera receita nesse segmento, devido a sua capacidade de oferecer maior taxa de empregos, renda fixa, arrecadação/divisa. Também, ela é importante do ponto de vista de desenvolvimento de pesquisa e inovação, como também na introdução de técnicas mais eficientes principalmente no sentido montante da cadeia produtiva (LOURENÇO et al., 2009; STEFANELO, 2008). Corroborando com essa abordagem, Zylbersztajn (2015) e Vidal (2016), afirmam que, embora o agronegócio de forma geral desempenhe papel importante a nível mundial em termos socioeconômicos, sua sustentabilidade é uma função do segmento da industrialização ou transformação dos produtos primários em bens acabados ou semiacabados.

Lourenço (2009); Stefanelo (2008); Batalha (2015) e Zylbersztajn (2017), são da opinião de que no agronegócio, todos os elos desempenham o papel importante para operação adequada das cadeias produtivas, mas, sua modernização e

consequente aprimoramento dos processos, seguido pelo aumento da produtividade, qualidade dos produtos, valor agregado e maiores ganhos, foram possíveis apenas com a industrialização/beneficiamento. Conforme eles, a indústria, permite a disseminação de tecnologias desenvolvidas e financiadas por ela para os elos à montante de modo a ―forjar‖ no campo, a produção de produtos (matéria prima) com qualidade, introdução de técnicas de aumento da produtividade e armazenamento adequado. Diante disso, muitos países têm vindo a mobilizar esforços de modo a apoiar a criação e desenvolvimento de indústria sem suas cadeias produtivas de alimentos.

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