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Ambiente Sociocultural

No documento Download/Open (páginas 144-148)

Social

A Guiné-Bissau é um país localizado na África Ocidental, seu IDH é dos piores no mundo. O país encontra-se fragilizado em diferentes indicadores sociais básicos como saúde, educação e saneamento. Em média um cidadão vive com menos de U$ 2 por dia. A maioria da população depende da agricultura para sobreviver. Em 2002 a pobreza era de 64,7% e em 2010 foi para 69,3%, tendo assim um aumento médio de cerca de 5%. Isso, no entanto, coloca o país longe do cumprimento dos objetivos do milênio (ODM) no âmbito da pobreza (ACTUALITIX WORLD ATLAS, 2018; FMI, 2015; WORLD BANK, 2016).

No que se refere a educação, o grau de escolaridade é baixo a nível nacional. Porém, esse fato se verifica mais na área rural em relação aos habitantes da zona urbana, quando se refere ao ensino básico e fundamental (INE, 2014). A nível do continente, o país apresenta um dos piores índices de escolaridade principalmente no ensino básico e fundamental, como também o que menos teve acesso à educação durante a era colonial nos países africanos, em particular CPLP. É também, o que mais recebeu tardiamente as universidades e centros de formação profissional tanto na comunidade de países de língua oficial portuguesa (CPLP) como na zona econômica da União Econômica Monetária dos países da Oeste

Africana (UEMOA), blocos econômicos na qual o país participa (CAMARÁ, 2014; FMI, 2015; SUCUMA, 2012).

De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2015), órgão dedicado a combate e erradicação da pobreza no mundo, em relação ao desenvolvimento, em 2014 a Guiné-Bissau registrou o IDH de 0.42 e com a esperança média de vida situada em 56 anos, figurando assim, na posição 175º entre os países analisados. Assim, o país registrou uma ligeira melhora em relação aos anos anteriores. Em 2013, este índice era de 0,40, com esperança média de vida de 54 anos e o país situava na posição 177º. Entre 2000 e 2014, no entanto, o país registrou uma taxa de crescimento médio do IDH de 0,9%. Este quadro, portanto, contrasta o número global registrado a nível da sub-região africana e de outros país com IDH mais baixos. A África subsaariana, registrou no mesmo período um crescimento anual em relação ao IDH de 2,2% enquanto que outros países também com IDH mais baixos do mundo registraram um crescimento de 1,9% (FMI, 2015; OEC; 2017).

Assim, pode-se constatar que a Guiné-Bissau se enquadra como um dos piores países africanos e a nível mundial, no que concerne aos indicadores sociais chaves, ainda que isso tem uma relação causal com os choques em outras variáveis ou fatores como econômico, político e institucional. Também, se comparado a outros países, da sub-região, vê-se que o país gasta muito pouco com educação, saúde e infraestruturas de transporte respectivamente. De acordo com o relatório do FMI (2015 pg. 18), conta o seguinte:

Devido ao envelope limitado das despesas globais do Estado (22% do PIB segundo as estimativas, relatório do FMI, maio 2010), a parte consagrada aos serviços sociais básicos figura entre os mais baixos da sub-região. Em 2006, por exemplo, apenas 4% dos gastos do governo foram direcionados à educação (10 USD ppp per capita), contra 6,7% (23 USD), no Senegal, com 12,2% (34 USD) no Mali e 10,6% (14 USD), no Níger. Em 2007, a despesa pública em saúde per capita foi estimado em US $ 4 na Guiné-Bissau, contra uma média de 11 dólares para os países de baixa renda e 34 USD para a região Africana. Para o ano 2011, a dotação orçamental para a educação e saúde é de apenas 20,7% do total, contra 40% recomendado a nível internacional relatório do FMI (2015 pg. 18).

Contudo, segundo a mesma fonte, esse quadro social é afetado diretamente pela pobreza e miséria provocadas pela baixa renda monetária e esperança média de vida global de 48,6 anos. São resultados da inexistência de oportunidade de ocupação e renda, como também aos serviços de saneamento básico de qualidade.

Desta forma, concomitantemente, o quadro social do país embora ser causado por fatores político, econômico e institucional, pode constituir grande desafio na busca pelo seu desenvolvimento sustentável, impactando inicialmente na implementação de projetos de desenvolvimento socioeconômico.

Assim, os apêndices 2 e 3 mostram o panorama comparativo entre a Guiné- Bissau e alguns países em relação a indicadores sociais chaves como a educação, saúde; IDH, esperança média de vida, população, emprego, produto base de economia, etc. Eles evidenciam a discrepância entre os indicadores sociais e econômicos da Guiné-Bissau com os demais países produtores de CCC e derivados. O país (Guiné-Bissau) apresenta um dos piores indicadores sociais e econômicos, o que pode explicar ou refletir em parte na vantagem competitiva dos mesmos em relação ao desempenho de suas cadeias produtivas de castanha de caju, em particular no beneficiamento e exportação da ACC e outros derivados.

Cultural

A Guiné-Bissau é constituída por muitas etnias/tribos e religiões, tendo assim uma grande diversidade étnico-racial e religiosa. O país, conta com uma forte diversidade étnica (volta de 36 etnias) e religiosa, apesar da predominância da religião muçulmana e cristã. No entanto, cada etnia, tem a sua língua, costumes sociais e cultura característico e/ou específico (CIA; SANI, 2013).

Assim, o cultivo do país varia muito em função da diversidade cultural e religiosa do país. As etnias se diferem muito na alimentação e cultivos, embora existirem algumas semelhanças no gosto e interesse por algumas frutas e cereais como arroz, caju, mandioca, batata, amendoim, feijão entre outras. Contudo, os objetivos e a forma de manejo durante o cultivo, ainda difere entre regiões e etnias. Algumas etnias utilizam certos produtos apenas para alimentação e subsistência, enquanto outras utilizam-se do mesmo, para fins comerciais (CARVALHO E MENDES, 2015; CIA, 2013).

A cajucultura, portanto, é uma atividade praticada por todas as etnias devido ao seu valor comercial (ANCA-GB, 2016). De acordo com o DRG6 (vice-presidente da câmara de comercio e indústria, agricultura e serviços - CCIAS),

No processo produtivo de castanha de caju, algumas etnias, tribos ou pessoas de uma certa religião, se preocupam mais com a produtividade e

exploração plena do caju em termos econômicos, isto é, a castanha e seus derivados como pedúnculo e cajuína, enquanto outras se dedicam apenas à castanha. Em cada região você vai encontrar a forma diferente de exploração econômica da cultura de caju.10

Ainda de acordo com o DRG6:

Os povos pertencentes à religião muçulmana por exemplo, têm uma relação um pouco ―limitada ―e cautelosa com a cajucultura. Eles apenas se preocupam em plantar e colher. Não se preocupam tanto com a manutenção e limpeza. Após a colheita, o pedúnculo separado da castanha é desperdiçado. Eles são empilhados e jogados fora. Como o pedúnculo também pode ser aproveitado para fazer aguardente ou cachaça, os muçulmanos pelo fato de suas crenças ir contra consumo de álcool, em geral, afastam-se logo do pedúnculo. Nos demais povos (cristãos, pagãos, protestantes, entre outros), têm-se um comportamento contrário em relação a cultura extrativista de caju. Estes buscam de forma permanente o aumento de ―ganhos‖ com a cajucultura. Eles praticam além da limpeza dos pomares, o desmatamento de forma a expandir suas culturas e produção. Também, além da castanha, essas etnias, exploram muito o pedúnculo que gera muito dinheiro. Segundo um dos dirigentes.11

As constatações do DRG6, revelam o poder de cultura e religião na forma de produzir, consumir e explorar economicamente os produtos agrícolas. Dessa forma, percebe-se de maneira geral, a forma como cultura de um povo, tem sido realmente, uma grande ferramenta de resistência dos mesmos, em relação à aceitação de qualquer instrumento de intervenção e transformação social.

De acordo com os dirigentes e/ou gestores do setor de caju entrevistados, as políticas de intervenção da assistência técnica adotados por algumas entidades de fomento no setor, não tiveram êxito, pois os ―extensionistas‖ na tentativa de introduzir pacotes tecnológicos novos e eficientes na cadeia no âmbito produtivo enfrentaram resistência dos produtores locais. De acordo com o DRG1 (presidente de ANAG-GB),

Os agricultores, por ―opção‖, preferem continuar a adotar formas de produzir adquirida com os seus antecessores (pais e avós). Contudo, vale também, salientar que as tentativas de assistência técnica aos produtores de caju, podem ter fracassados devido às metodologias utilizados para atingir o público alvo (agricultor). Os canais de informação e comunicação utilizados no campo, têm sido ineficientes. Ainda os canais são rádios, telefones e tv. Além dos canais, a linguagem utilizada pelos ―extensionistas‖, pode ser

10

Entrevista concedida pelo vice-presidente da CCIAS (DRG6). Entrevista VII [09 de Janeiro 2017]. Entrevistador: Alfa I. S. Samate. Bissau, 2017. Arquivo VIII mp3. 32:43 minutos 74,5 MB.

11

Entrevista concedida pelo vice-presidente da CCIAS (DRG6). Entrevista VII [09 de Janeiro de 2017]. Entrevistador: Alfa I. S. Samate. Bissau, 2017. Arquivo 8 mp3. 32:43 minutos 74,5 MB.

demasiado técnico a ponto de afetar a assimilação e interesse de esforçar para aprender por parte do agricultor.12

Conforme a visão do DRG1, é possível perceber que embora os serviços de assistência técnica apresentarem algumas ineficiências de ordem metodológica, no geral, sua efetividade é também influenciada por fatores culturais e religiosos.

Desta forma, conforme o modelo proposto, os fatores culturais podem sim impactar indiretamente no desempenho da cadeia como um todo no âmbito de produtividade e qualidade da matéria prima (castanha de caju e derivados) ofertada para indústria interna, podendo assim, comprometer a qualidade da amêndoa e cajuína, como também, a competitividade das fabricas.

Após a descrição contextual dos fatores do ambiente externo, por meio de resultados obtidos através de análise documental e entrevistas com os dirigentes (gestores) do setor de caju da Guiné-Bissau, a cessão que se segue, vai trazer resultados que caracterizam a cadeia produtiva da castanha de caju e derivados, de fora para dentro.

No documento Download/Open (páginas 144-148)