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4. DESCRIÇÃO DO MODELO LÓGICA OPERACIONAL DA SECURITIZAÇÃO

4.3. Ambiente institucional e regulatório

A publicidade, conforme BLACK citado por CAMINHA é uma das precondições básicas para o desenvolvimento do mercado de capitais, pois a assimetria de informação afasta investidores e encarece o custo das captações pelas empresas. Relativamente ao cenário institucional, outros fatores críticos bastante desejáveis para o desenvolvimento desse

62 A título de exemplo, o checklist analisado pela Moody`s inclui a verificação de: i) se a cessão do recebível e

seu fluxo é perfeita e acabada, ii) se a cessão é valida e oponível contra terceiros credores, iii) se o veículo tem prioridade no recebimento dos recebíveis sobre outros credores com garantia real, iv) se os recebíveis foram efetivamente segregados do caixa dos originadores, v) se os administradores estão aptos a cumprir suas responsabilidades, vi) se os sistemas de cobrança (call center, cobradores, back-up) são adequados, vii) se a sistema de cobrança suplente para a hipótese de interrupção das atividades do cobrador, viii) habilidade financeira do custodiante, ix) volatilidade das taxas pré e pós, x) tipo de indexador que incide sobre os custos da operação; xi) gatilhos. (Conforme Moodys, apud Capital Aberto, jul. 2004)

mercado seriam: regras contábeis consistentes, Judiciário funcional, autoridades reguladoras presentes, regras claras e eficientes em matéria societária, de responsabilidade dos administradores e de combate à manipulação de mercado.

Atenta à questão, a legislação brasileira criou regras rígidas para o funcionamento do mercado de capitais, visando propiciar a prestação adequada de informações pelas companhias aos investidores, que em geral não participam de suas atividades. A Lei 6.385/76 atribui ao Conselho Monetário Nacional - CMN e à Comissão de Valores Mobiliários – CVM, competência para disciplinar, fiscalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários, entre outras atribuições elencadas em seu art. 4º63.

CAMINHA destaca que no Brasil não há legislação genérica sobre securitização, mas sim normas específicas aplicáveis para operações fundadas em determinados tipos de ativos- lastro. Seriam eles basicamente os ativos imobiliários, financeiros e, desde 2004, os recebíveis do agronegócio. Assim, a lacuna legal é suprida a partir da analogia e normas gerais.

Como conseqüência, a legislação (Lei 6.385/76 e Instrução CVM 400/03) fixou uma série de exigências em termos de transparência para as distribuições públicas, como por exemplo: i) obrigatoriedade de registro de emissões, ii) uso de intermediários nas ofertas públicas (instituição líder ou underwriter), iii) auditoria, iv) relatório de classificação de risco, v) ambiente de negociação dos valores mobiliários (CETIP ou BBM), vi) elaboração de prospecto com a indicação precisa e clara das principais regras de funcionamento do fundo, política de investimento, ativos que comporão o patrimônio, identificação dos responsáveis pela análise e seleção dos investimentos, riscos envolvidos na operação, entre outros.

Na mesma linha, o art. 24 da Instrução CVM 356/01 e o anexo III da Instrução CVM 414/04 exigem que os regulamentos de fundos e termos de securitização (no caso de companhias securitizadoras), além das informações básicas da operação, prevejam no mínimo itens

63 I - estimular a formação de poupanças e a sua aplicação em valores mobiliários; II - promover a expansão e o

funcionamento eficiente e regular do mercado de ações, e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social de companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais; III - assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados da bolsa e de balcão; IV - proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado contra: a) emissões irregulares de valores mobiliários; b) atos ilegais de administradores e acionistas controladores das companhias abertas, ou de administradores de carteira de valores mobiliários. c) o uso de informação relevante não divulgada no mercado de valores mobiliários. V - evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar condições artificiais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários negociados no mercado; VI - assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários negociados e as companhias que os tenham emitido; VII - assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; VIII - assegurar a observância no mercado, das condições de utilização de crédito fixadas pelo Conselho Monetário Nacional.

como: política de investimento e cobrança, critérios de integralização, amortização e resgate, prazos de carência e duração do investimento, informações sobre a natureza dos direitos creditórios a serem adquiridos e dos instrumentos jurídicos, contratos ou outros documentos representativos do crédito, descrição dos processos de formalização dos direitos creditórios e das políticas de concessão dos correspondentes créditos, procedimentos de cobrança dos direitos creditórios, inclusive inadimplentes, identificação e qualificação dos prestadores de serviço contratados, metodologia de avaliação dos ativos do fundo, entre outros. Em tese esse tipo de limitação da atuação do gestor, administrador e demais agentes diminuiria sensivelmente o impacto de suas decisões sobre o resultado da operação.

O art. 24 da Instrução CVM 356/01 também prevê que os regulamentos deverão conter gatilhos capazes de conter o agravamento das perdas aos investidores, sempre que concretizadas determinadas situações. Devem, assim, os regulamentos indicar os procedimentos a serem adotados em eventos como: rebaixamento de classificação, relação mínima entre o patrimônio líquido do fundo e o valor das cotas seniores, níveis mínimos de desempenho e de pulverização dos recebíveis e os eventos de liquidação antecipada da operação.

Por imposição legal, portanto, uma série de processos internos e mecanismos devem necessariamente ser incorporados às estruturas de forma a garantir um mínimo de ordem e padronização operacional, favorecendo um ambiente mais propício ao desenvolvimento do mercado de securitização. Os códigos de auto-regulação do setor vêm a fortalecer esses mecanismos, aliado às melhores práticas adotadas pelas instituições participantes.