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Análise comparativa de alguns indicadores de educação e formação na Hungria,

No documento Alargamento da União Europeia: (páginas 49-54)

CAPÍTULO 4. ALGUNS PONTOS DE ATRACÇÃO DA HUNGRIA,

4.2. Educação e formação profissional

4.2.2. Análise comparativa de alguns indicadores de educação e formação na Hungria,

Uma característica estrutural da população portuguesa é os baixos níveis de escolaridade relativamente à média da União. Com o recente alargamento a situação degrada-se ainda mais, porque continuando Portugal no último lugar do ranking, os elevados índices de escolaridade destes países elevaram a média europeia, o que significa maiores desafios para qualificar, educar e formar a nossa população activa até à convergência.

Desde a adesão à Comunidade Europeia em 1986, que Portugal, país relativamente carenciado, recebe Fundos Estruturais com vista à aproximação ao nível de desenvolvimento médio comunitário, numa perspectiva de coesão económica e social. O III Quadro Comunitário de Apoio (2000-2006) é a derradeira oportunidade para Portugal obter ajudas europeias, no entanto persistem as baixas qualificações, os baixos índices de escolaridade, as elevadas taxas de abandono escolar e “(...) a fraca especialidade técnica da população activa (80% da população não ultrapassa o nível do ensino básico e as formações de nível secundário ou de qualificação profissional de nível III34 têm importância reduzida)”, (Ramos, 2003, p.213).

Seguidamente efectuamos uma análise comparativa de alguns indicadores de educação e formação profissional entre Portugal, Hungria, República Checa e Polónia, encontrando-se no anexo 10 uma caracterização mais pormenorizada da situação deste sector nos PECO.

As ajudas da União permitiram a Portugal aumentar as despesas públicas em educação e espera-se que o mesmo aconteça nos países do alargamento. Em 200035, Portugal é o país cuja despesa pública total no ensino secundário em percentagem do PIB é maior (2,5% do PIB.), no entanto está próximo do valor checo (2,2% do PIB). A

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despesa pública total no ensino superior português é de 1% do PIB, assim como na Hungria, sendo nos restantes países de 0,8% no mesmo ano.

Em 2001, apenas 19,8%36 da população total entre os 25 e 64 anos completou o ensino secundário em Portugal, enquanto na Hungria esse valor é de 86,3%, na Polónia de 80,4% e na República Checa de 70,1%37. Nem mesmo a média da União escapa: é de 63,8% contra 77,4% (FEF38) dos países candidatos. Neste ponto de vista, Portugal está claramente em desvantagem. Quando analisamos a percentagem de alunos nas áreas vocacionais no ensino secundário (ISCED nível 339) em 2000/01 verificámos que Portugal apresenta um valor geralmente mais baixo (28%, cerca de metade da média europeia), cerca de três vezes inferior ao da República Checa (80%) e duas vezes menor que o da Polónia (62%), o que revela a importância que este tipo de ensino, voltado para o mercado de trabalho tem nestes países. Segundo Ramos (2003, p.214), o ensino secundário é uma “plataforma essencial do sistema educativo”, que exige em Portugal uma mudança de atitude, nomeadamente valorizar e aumentar a oferta de cursos tecnológicos e profissionais, promover os regimes de estudo em alternância e reabilitar os activos excluídos do ensino.

Relativamente aos níveis de ensino mais elevados podemos ver algumas nuances. Segundo dados da FEF em 2001, somente 9% dos portugueses com 25 a 64 anos terminaram o ensino superior, ao passo que 11,7% dos polacos, 14% dos húngaros e 26,8% dos checos possuem esse diploma, ou seja, as disparidades não são tão acentuadas como no ensino secundário. A média dos candidatos é inferior à da UE-15 (13,9% contra 21,6%, respectivamente).

Mas se escolhermos outros indicadores a posição relativa de Portugal é mais favorável, podendo ser até a melhor. Por exemplo, no quadro 21 vemos que em 2001, 38 em cada mil indivíduos com idades entre os 20 e 29 anos detinha um diploma (ISCED 5-640), sendo o 2º maior valor dos quatro países considerados (o valor mais elevado é o da Polónia com 71 em mil indivíduos).

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Eurostat Yearbook, 2003 37

Statistical Yearbook on Candidate Countries – data 1997-2001 38

Relatório Thirteen years of cooperation and reforms in vocational education and training in the

acceding and candidate countries da Fundação Europeia da Formação.

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ISCED 3 - Educação secundária superior. Este nível geralmente começa no fim da escolaridade obrigatória. A sua duração varia entre 2 e 5 anos.

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ISCED 5 - Educação superior (1º fase). A entrada exige ter o nível 3 ou 4. Inclui programas de ensino superior com orientação académica (tipo A) e com uma orientação ocupacional (tipo B)

Quadro 21: Diplomados (ISCED 5–6), em 2001 UE 15 Portugal Repúblic

a Checa Hungria Polónia 46 38 25 36 71

Fonte: Eurostat, Estatísticas de Educação, UOE

Legenda: Total de diplomados (ISCED níveis 5–6) por 1000 indivíduos com idades entre 20 e 29 anos

Se considerarmos somente o ISCED 6, 18 em cada 10000 portugueses com idades entre os 25 e 34 anos em 2001 obtiveram esse diploma, mais de metade do registado em qualquer dos outros países e mesmo superior à média europeia (13 em cada 10000 europeus), (Eurostat, Estatísticas da Educação).

Quadro 22: Diplomados (ISCED 6) UE 15 Portugal Repúblic

a Checa Hungria Polónia

13 18 7 6 8

Fonte: Eurostat, Estatísticas de Educação, UOE

Legenda: Diplomados (ISCED nível 6) por 10000 indivíduos com idades entre 25 e 34 anos, em 2002

Quanto ao abandono escolar (quadro 23), em 2003 e segundo dados do Eurostat, 41,1% dos jovens com idades entre 18 e 24 anos que não estavam a estudar ou em formação e cujo nível de escolaridade é pelo menos o ensino secundário inferior (ISCED 2), abandonaram precocemente a escola. Este é um dado preocupante já que corresponde a mais do dobro da União (18,0%) e é muito superior ao verificado nos outros países, cujo valor mais alto é o da Hungria com 11,8%.

Quadro 23: Jovens que abandonaram precocemente a escola

2002 2003 UE 25 16.5 p 15.9 p UE15 18.5 p 18.0 b Portugal 45.5 41.1 República Checa 5.5 6.0 Hungria 12.2 11.8 b Polónia 7.6 6.3

Fonte: Eurostat, Indicadores Estruturais, Coesão Social

Legenda: total em percentagem da população com idades entre 18-24 anos que não estão a estudar ou em formação e cujo nível de ensino é pelo menos o ensino secundário inferior; b – ruptura na série; p – valor provisório.

Quanto à formação em 1999, em qualquer rubrica, Portugal apresenta sempre o menor número de empresas a fornecerem formação (sempre claramente inferiores à média da União), ao passo que a República Checa verificou sempre os valores mais elevados (bastante superiores à média europeia). Por exemplo, apenas 11 em cada 100 empresas portuguesas fornecem cursos de formação profissional contínua (FPC), enquanto esse valor é de 61% para as empresas checas, (Eurostat).

Quadro 24: Empresas que fornecem formação em percentagem de todas as empresas 1999 UE 15 Portugal República

Checa Hungria Polónia

Qualquer tipo de formação 62 22 69 37 39

Cursos de FPC 54 11 61 24 26

Outros tipos de formação 53 20 59 30 36

Fonte: Eurostat, CVTS2 (2nd Continuing Vocacional Training Survey)

As empresas portuguesas desvalorizam assim a importância do sector no desenvolvimento das capacidades e conhecimentos dos recursos humanos e dos efeitos positivos que estes cursos têm na resposta ao progresso científico e tecnológico, por exemplo, relativamente às restantes empresas.

Nota-se uma preocupação relativa maior nas empresas portuguesas com “novas tecnologias”, já que 29% (segunda melhor marca) dos empregados participaram em 1999 em cursos de FPC, contra somente 7% dos empregados nas empresas sem “novas tecnologias” frequentaram os mesmos cursos. Mais uma vez, as empresas checas são as melhores posicionadas e, enquanto todas as outras se encontram abaixo da média europeia, apresentam um maior número de trabalhadores participantes em cursos de FPC do que a média europeia nas empresas com “novas tecnologias”(49% contra 45%, respectivamente).

Quadro 25 - Cursos de FPC em empresas com e sem “novas tecnologias”, 1999

UE 15 Portugal Repúblic

a Checa Hungria Polónia Empresas com “novas

tecnologias” 45 29 49 19 25

Empresas sem “novas

tecnologias” 32 7 32 8 9

Fonte: Eurostat, CVTS2

Analisando a taxa de desemprego por nível educacional obtido e faixa etária em 2002, na generalidade das faixas etárias as maiores taxas de desemprego são no nível educacional baixo, particularmente nos mais jovens (excepção para Portugal). A

Polónia é o país que apresenta as mais elevadas taxas de desemprego em qualquer faixa etária ou nível educacional, o que demonstra as dificuldades reorganizativas da economia relativamente mais acentuadas, segundo dados do Eurostat.

Estes resultados vão de encontro aos estudos41 realizados e referidos por Ramos (2003) que concluíram que o desemprego era tanto maior e crescia tanto mais depressa quanto menor era o nível de formação e que o desencontro entre formação, qualificação e desemprego explicava grande parte do desemprego verificado.

Uma observação importante é que os elevados índices de escolaridade e a relativa melhor posição nos indicadores de FPC tem de ser contextualizados, já que podem corresponder a uma menor qualidade, sobretudo tendo em conta a descoordenação entre o sistema produtivo, empresarial e educativo devido à transição para uma economia de mercado desde a década de 90 e a situação de obsolescência destes sistemas, nomeadamente dos equipamentos e pedagogias na educação e formação profissional, assim como a excessiva formação académica dos professores pouco adaptada às necessidades de mercado. As profundas reformas institucionais e legais e a maior responsabilização dos parceiros sociais e sector privado no sector da educação e formação profissional marcam este período de transição. No entanto, não deixam de ser excelentes níveis de partida, tendo em conta os fundos estruturais e os programas de apoio que receberão da União. Deste modo, com estes fundos específicos direccionados para a educação e formação profissional poderão colmatar as restrições orçamentais, promover visões de longo prazo nos agentes económicos e modernizar estes sectores.

“O nosso sistema produtivo e a sua necessária modernização são condicionados pela fraca qualificação dos recursos humanos e pela reduzida capacidade do sistema de formação face às necessidades”, (Ramos, 1995a, 1998, citado em Ramos, 2003). Neste sentido surgem mudanças no sistema educativo português com a aprovação no dia 13 de Maio da Lei de Bases da Educação que prevê a possibilidade das universidades e institutos politécnicos de facultarem Cursos de Especialização Tecnológica (CET)42, voltados para a formação profissional. Em entrevista ao Diário Económico de 11 de Maio de 2004, Maria da Graça Carvalho, Ministra da Ciência e Ensino Superior declarou que são 50 cursos de dois anos e que conferem uma

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qualificação profissional ao nível 443 da União já no próximo ano lectivo. Estes cursos são financiados pelo orçamento de estado e por verbas do PRODEP. Os alunos poderão ainda prosseguir estudos superiores. Estes cursos visam intervir na requalificação da população activa e como podem “assentar em parcerias que envolvem as estruturas empresariais”, poderão responder melhor às necessidades de mercado, combatendo o desemprego. No sector privado são o ISLA44 e o Instituto Novas Profissões que têm um programa de financiamento destas formações com o ministério. Os Ministérios da Ciência e Ensino superior, Educação e Trabalho passarão a tutelar a formação profissional, devendo coordenar as actuações nas áreas da formação vocacional e profissional de modo a que “ninguém aceda ao mercado de trabalho sem uma qualificação e se eliminem discriminações” e ainda a garantir “qualificações profissionais iniciais, para quem não tenha frequentado a educação escolar ou a tenha abandonado prematuramente”. No anexo 11 encontram-se os novos CET.

No documento Alargamento da União Europeia: (páginas 49-54)