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Caracterização do sector da educação e formação profissional nos

No documento Alargamento da União Europeia: (páginas 86-92)

No fim da década de 80, a situação dos PECO é marcada pela ruptura com o paradigma económico socialista/comunista, que significou a perda das suas ligações administrativas tradicionais; pelos profundos choques da transição para uma economia predominantemente de mercado, e pela situação de obsolescência, nomeadamente dos sistemas produtivo e empresarial. Simultaneamente surgia um novo fenómeno, o desemprego, que aumentava, assim com situações de pobreza e exclusão social. Os sistemas de formação profissional também apresentam lacunas quanto às reformas feitas na UE desde a década de 80 e às problemáticas relativas aos recursos humanos do Conselho Europeu de Lisboa55.

As conclusões apresentadas resultam de estudos empreendidos pela Fundação Europeia para a Formação (FEF)56em coordenação com observatórios localizados nos países.

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As temáticas foram a sociedade da informação, a formação ao longo da vida e o combate à exclusão. 56

A FEF actua em parceria com as instituições da EU, estados membros e grandes agências de desenvolvimento, nomeadamente apoiando as reformas e promovendo as boas práticas e cooperação efectiva. Efectua consultadoria política e monitorização, complementando a actuação do Centro de Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP). Este é a principal fonte de conhecimento e informação sobre a evolução das políticas nos estados membros.

A escolarização

Segundo dados do Eurostat em 2000/01, as taxas de escolarização (ISCED 1-6)57 na faixa etária dos 15-24 anos são superiores à média da EU-15 (58%) nos Países Bálticos, Polónia e Eslovénia, variando os valores entre 59% (Letónia) e 65% (Lituânia). Os valores mais baixos verificam-se em Malta (37%), Chipre (40%) e Roménia (42%).

Diversificação das estruturas, das áreas e dos conteúdos de formação profissional As áreas de ensino técnico e profissional, áreas vocacionais, têm grande peso no total dos estudantes (ISCED 3)58 em muitos países, sobretudo na República Checa (80%), Eslováquia (78%) e Eslovénia (72%), com valores muito acima da UE-15 (55%), enquanto noutros tem pouca expressão, como na Hungria (12%) e Chipre (14%)59

Com as reformas encetadas desde 1990, as colectividades locais e o sector privado ganharam responsabilidades acrescidas na formação profissional, definindo as escolas. As áreas e os conteúdos de formação60 mais adequados ao mercado de trabalho. Consequentemente, o número de escolas e de centros de formação aumentou, em particular na República Checa. De referir que não podemos dizer que o sector da formação profissional se reestruturou, mas antes que um conjunto heterogéneo de iniciativas se sobrepôs ao antigo sistema obsoleto.

Algumas das principais tendências identificadas (Masson, 2000) com as reformas são:

- uma orientação mais tardia para as áreas de formação técnica ou profissional, após a escolaridade obrigatória de carácter geral;

- a diversificação das áreas, reduzindo ou mantendo a duração dos cursos equivalentes ao nível do ensino secundário, com prioridade para as áreas de

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Ensino primário ao superior. 58

ISCED 3 - Educação secundária superior. Este nível geralmente começa no fim da escolaridade obrigatória. A sua duração varia entre 2 e 5 anos.

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Eurostat (2004), Estatísticas de Educação, UOE, sendo dados do ano lectivo 2000/01. 60

Formação é o "conjunto de conhecimentos necessários para o exercício de determinada função, adquiridos, tanto por formação escolar ou extra-escolar, orientada para o exercício da actividade

“dupla competência” que possibilitam o acesso a uma qualificação61 e a continuação de estudos superiores;

- as formações centradas nas competências chave, ainda que o ensino teórico e prático em atelier não esteja perfeitamente coordenado;

- a criação de centros de orientação escolar;

- os constrangimentos na modernização dos equipamentos das escolas; - a importância crescente das escolas profissionais na formação dos adultos. De acordo com a Comunicação da Comissão62, os sistemas de formação e educação profissional nos PECO ainda estão em reestruturação profunda, nomeadamente nos sistemas de reconhecimento das qualificações e de certificação das instituições de formação dos adultos.

Particularmente, na República Checa, Polónia e Lituânia verificam-se progressos na definição de estratégias credíveis e de quadros operacionais para a educação e formação ao longo da vida63.

Mais meios empregues na educação

Segundo dados do Eurostat, em 2000, a República Checa (4.38%), Hungria (4.54%), Malta (4.91%) e Eslováquia (4.15%) apresentaram uma despesa pública em percentagem do PIB inferior à média da UE 15 (4.94%). Os valores dos Países Bálticos e Chipre foram bastante acima da média europeia - o mais elevado foi a Estónia com 6.66%. Verificou-se um reorientação para o sector da educação, após a prioridade dada desde 1997 às medidas passivas de tratamento do desemprego. Muitos governos têm adoptado uma estratégia de longo prazo de racionalização64 de recursos na educação, dado que a população alvo têm vindo a diminuir com graves consequências no ensino secundário desde 1995.

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Qualificação são" os conhecimentos e capacidades advindos da formação geral e profissional e da experiência”, (Rodrigues, 1988, p. 185; Kóvacs et al., 1994, p.16, citado por Ramos (2003), p.22). 62

Comunicação da Comissão ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões sobre a evolução da execução dos documentos de avaliação conjunta quanto às políticas de emprego nos países aderentes de 6 de Novembro de 2003.

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Este conceito relaciona-se com o de aprendizagem ao longo da vida, que segundo a Estratégia Europeia para o Emprego, é toda a acção de aprendizagem empreendida de modo contínuo que visa a aquisição de conhecimentos, aptidões e competências, (Ramos, 2003, p. 19).

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Muitas escolas possuem um quadro efectivo reduzido e taxas de enquadramento de professores por aluno superiores às da U.E., trabalhando com meios geralmente obsoletos, (Masson, 2000)

No âmbito das medidas de tratamento do desemprego, o financiamento público de medidas activas de fomento do emprego verificou um decréscimo em 1999 e os mecanismos de tratamento do desemprego65 encetados desde 1990 perderam eficácia. Actualmente, ainda é preciso actuar activa e preventivamente no mercado de trabalho, nomeadamente promovendo a inserção profissional66. (LDE67 1) dos jovens68 que apesar dum nível de educação relativamente elevado estão no desemprego. Também é importante passar dos programas piloto para uma aproximação geral, já que mesmo nos países com baixa taxa de desemprego, a sua duração tende a aumentar.

Relativamente ao financiamento privado de acções de formação profissional, segundo Masson (2000), muito poucas empresas, em particular PME´s facultam formação inicial69, nomeadamente de aprendizagem70, recorrendo ao mercado de trabalho para obter as competências que necessitam.

No ano 1999, o sector da formação contínua alargava-se, por vezes de modo excessivo, nas áreas modernas da Informática, Línguas Estrangeiras, Turismo e Comércio, beneficiando da acção do governo e do crescimento económico. Tal foi o caso na Hungria que criou em 1993 um fundo específico. Em 1999, o peso das acções de formação profissional na massa salarial era de 2% neste país, relativamente a 3,2% na U.E. e na República Checa de 0,9%.

Insignificância do papel dos parceiros sociais

A cultura sindical passiva71, a inexperiência e a existência de outras prioridades do patronato (por exemplo a procura de crédito) não potenciavam um “diálogo social construtivo”. Para combater estas fraquezas, os governos criaram conselhos tripartido – estado, empregadores, assalariados - nomeadamente à escala regional. Outros países adoptaram este modelo nas instituições responsáveis pela formação, em particular na

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Nomeadamente devido às reestruturações na indústria na Roménia, Eslováquia, Bulgária e Polónia 66

Em muitos países estas medidas, em particular as relativas à formação centraram-se no emprego temporário

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Linha Directora para o Emprego 68

Proporção de jovens de 20 a 24 anos com pelo menos um diploma de ensino secundário superior 69

Formação que é base inicial para o desempenho de uma profissão, visando uma especialização ou preparar par um trabalho, (Ramos, 2003, p.19).

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A formação profissional de que falamos nos PECO não corresponde a uma divisão de responsabilidades entre a escola e a empresa, nem confere ao estudante o estatuto de assalariado, tratando-se sobretudo de aulas teóricas e de actividades práticas em ateliers.

definição dos curricula, da avaliação ou da certificação. No entanto, têm tido efeitos restritos, faltando envolver os actores sociais na política de formação profissional. As escolas que actuam em coordenação com as empresas, recebendo alunos em estágio ou engenheiros e quadros das empresas para actividades de formação, são poucas.

Constrangimentos na formação contínua

Desde o período de transição que foram criados organismos competentes em matéria de emprego72. O seu financiamento advém de contribuições dos agentes económicos para Fundos Nacionais que suportam iniciativas de reciclagem73, para além das habituais indeminizações e apoios ao emprego.

Segundo a Comissão (2003), a participação efectiva na formação ainda é fraca (gráfico 4, anexo 8) e muito resta a fazer, nomeadamente no quadro institucional e legal, para atingir o objectivo da EU (LDE 4) de alcançar uma taxa de participação da população adulta em idade de trabalhar na educação e formação ao longo da vida de pelo menos 12.5%. Outro facto preocupante são as baixas taxas de participação dos adultos pouco qualificados74 na educação e formação, abaixo dos 1% na República Checa, Hungria e Polónia e as elevadas assimetrias regionais. Num contexto de reestruturações e de pressões futuras do mercado único, as transferências inter-sectoriais da mão-de-obra beneficiarão os mais qualificados, exigindo a promoção da mobilidade regional e profissional. Também a definição de incentivos à formação nas empresas e indivíduos é essencial. Por exemplo, Hungria já instaurou um sistema bastante completo de incentivos financeiros (prestações e crédito de imposto) a favor dos trabalhadores, dos desempregados e dos inactivos.

Os excluídos do sistema

A exclusão do mercado de trabalho e do sistema educativo é um grave problema nos PECO. Afecta, por exemplo as minorias ciganas da Europa Central e dos Balcãs,

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Esses organismos foram serviços nacionais de emprego ligados aos ministérios do trabalho e agências nacionais mais independentes.

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Acção de formação, nomeadamente para a actualização de conhecimentos numa profissão em virtude do progresso tecnológico e científico, (Ramos, 2003, p.22).

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População com idades entre os 25 e 64 anos que não obteve um diploma do ensino secundário superior com dados somente para a Eslováquia, República Checa, Hungria e Polónia

cuja maioria das crianças estudam em escolas especializadas, sem acesso ao ensino geral. A UE fez desta questão uma prioridade política no contexto da adesão destes países, que continuam a intervir. No Chipre, a mão-de-obra estrangeira com contrato temporário tem um peso significativo, o que deve ser considerado na política global de emprego e social. O relatório JAP75 chamou a atenção para o maior risco de desemprego na população não indígena nos Países Bálticos, em particular na Estónia e Letónia. Na maior parte dos novos membros é preciso criar condições e prever recursos necessários para permitir o acesso às medidas fomentadoras de actividade e aos serviços de emprego, de modo a reduzir os diferenciais das taxas de desemprego em favor dos desfavorecidos (LDE 7).

Outro grupo excluído é o novo contingente de desempregados de longa duração, advindo das indústrias em reestruturação tais como a siderurgia, as minas e o sector do armamento. Os casos mais graves em 200176 são a Bulgária com 12.6% dos activos há pelo menos 12 meses no desemprego, a Eslováquia (11.3%), a Letónia (7.4%) e a Estónia (6.2%). Os outros países têm valores próximos da EU 15 (3.2%).

Por fim, a exclusão afecta também os jovens que abandonam prematuramente o sistema educativo, cujo número aumentou na década de 90, sobretudo no ensino secundário, nas áreas de ensino técnico e profissional. O abandono deveu-se ao aumento da pobreza que motivou os jovens a trabalhar (como aconteceu na Roménia nas explorações agrícolas) e às dificuldades de adaptação de alunos e professores a inovações pedagógicas. Segundo a Comissão (2003), os Países Bálticos e a Hungria agiram contra o abandono prematuro dos estudos. O objectivo europeu é de no máximo apenas 10 % dos jovens abandonarem a escola precocemente até 2010 (LDE 7).

Preparação da adesão à U.E.

A adopção do acervo comunitário no tema do emprego e da formação obriga os PECO a encetar políticas de acordo com os pilares que regem as estratégias de emprego na U.E., tais como a promoção da empregabilidade, do empreendedorismo e da igualdade de oportunidades. Os programas do FSE devem definir estratégias e acções

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concretas para responder aos desafios identificados no JAP tendo em vista o financiamento pelo FSE., o que exige mecanismos de regionalização e/ou descentralização que realmente envolvam os agentes económicos e atraiam novos projectos, numa lógica de desenvolvimento sustentado. Também é importante o aproveitamento de sinergias77 entre as políticas de emprego e social, onde os países têm progredido.

No documento Alargamento da União Europeia: (páginas 86-92)