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CAPÍTULO 1 ECONOMIA INSTITUCIONAL: AS GOVERNANÇAS HÍBRIDAS E

1.1 A Nova Economia Institucional

1.1.1 Economia dos custos de transação

1.1.1.4 Análise crítica à NEI

A NEI caminhou em paralelo com a teoria neoclássica da firma e trouxe novas interpretações sobre o funcionamento da firma para além das decisões sobre preços e quantidades. Porém, os desenvolvimentos desta literatura e da teoria neoclássica são recentes quando comparado aos outros campos das ciências e, por isso, estão sujeitos à contestações e críticas.

Para Furubotn (2001), da firma neoinstitucional não se pode esperar a hipótese da alocação mais eficiente dos recursos, sugerida pelo modelo neoclássico, ou as soluções de eficiência relativa como no modelo do ótimo de Pareto. O problema básico surge da dificuldade de encontrar tal configuração ideal para a firma quando a variedade de opções tecnológicas e organizacionais é muito ampla, a informação é custosa e a capacidade cognitiva dos tomadores de decisão é limitada.

Para este autor, quando as firmas operam em um ambiente caracterizado por custos de transação positivos e racionalidade limitada, o comportamento econômico muda significativamente do padrão neoclássico. Isso ocorre, segundo o autor, por quê:

a) da firma neoinstitucional não se pode esperar que realize os resultados da eficiência sugeridos pela literatura neoclássica;

b) a firma neoinstitucional não se move instantaneamente ou sem custo para uma posição de equilíbrio estável. Ela tende a continuar procurando por configurações superiores pelo mecanismo de erro e acerto;

c) dado que a firma é forçada a investir tempo e recurso em qualquer tentativa de ajuste, pode-se considerar que ela ou busque um melhor arranjo produtivo dentro de um conjunto de opções existentes ou que invista no desenvolvimento de um novo conhecimento e novo arranjo;

d) dada a incerteza que circunda a tomada de decisões, essas devem ser tomadas por verdadeiros empreendedores e não por gerentes de rotina; e

e) a firma atuando em um ambiente neoinstitucional pode empregar os procedimentos de otimização ortodoxos para resolver alguns problemas que encontra desde que não estejam envolvidos complexidade e altos custos de solução.

O mesmo autor considera também que, não parece totalmente necessário ou desejável rejeitar completamente as explicações fornecidas pela escola neoclássica. A falta de fricção do modelo neoclássico pode ser estendida levando-se em consideração um comportamento que se revela em um sistema que exibe custos de transação positivos e racionalidade limitada.

Em relação ao modelo apresentado por Williamson (1975), no qual as atividades produtivas poderiam ser realizadas todas dentro de uma firma não fossem os custos de transação, e que a partir deles se avaliaria qual a melhor forma organizacional, Masten (1996), Menard (2006) e Ruester (2010) afirmam que ele possui duas limitações. Uma delas é a de que esses custos podem ser difíceis de serem observados, e, consequentemente, de cálculos complexos. A outra é a de que nas formas ainda não implementadas, os custos simplesmente não podem ser observados.

Ruester (2010) também afirma que há outras limitações com a literatura dos custos de transação e seus desenvolvimentos. Primeiramente a autora afirma que isso ocorre, pois uma parte dos estudos não é totalmente consistente com as proposições desenvolvidas dentro da teoria dos custos de transação. A maioria dos estudos não testa todos os atributos da transação. É mais comum encontrar estudos focando as especificidades dos ativos e a incerteza do que a dimensão frequência.

Além disso, poucos estudos exploram os efeitos da interação entre as variáveis dos custos de transação e outros fatores potencialmente relevantes. Os estudos empíricos fornecem um amplo suporte para uma relação positiva entre investimentos específicos e a probabilidade de formas de governança mais hierárquicas, este não é sempre o caso para outros atributos da transação.

Ruester (2010) afirma que, em um mercado estático, que é livre de incerteza, a racionalidade limitada é irrelevante e a análise dos custos de transação não é interessante. A racionalidade limitada se torna relevante em um ambiente de incerteza e complexidade que faz com que os contratos sejam renegociados periodicamente.

Além dessas constatações, Ruester (2010) afirma que numerosos estudos empíricos investigam os efeitos da incerteza sobre a escolha da governança e apresentam resultados poucos significativos e até mesmo ambíguos. Por isso, estudos empíricos deveriam

dividir a incerteza em componentes, investigar os efeitos opostos e determinar quais dimensões da incerteza são relevantes para uma determinada transação.

Em outros casos proxies imperfeitas para variáveis-chave são empregadas. O investimento específico é considerado o mais importante determinante das escolhas de governança, no entanto, essa variável é a mais difícil de medir e há apenas aproximações grosseiras do constructo teórico.

Uma terceira limitação está relacionada à falta de atenção que se dá às variáveis endógenas, que são escolhidas simultaneamente e são dependentes da forma de governança. Variáveis instrumentais são difíceis de identificar e aos pesquisadores falta o acesso aos contratos escritos de forma que eles não têm informações sobre provisões contratuais.

Entre outras limitações, Ruester (2010) cita que a maioria das análises é baseada em modelos que não oferecem a possibilidade de testar as proposições da teoria diretamente, pois os custos de transação são difíceis ou mesmo impossíveis de se medir e só podem ser observados após a governança ser escolhida e não para uma forma alternativa.

Ruester (2010) afirma também que estudos futuros sobre a ECT deveriam considerar questões como: (1) o aperfeiçoamento de testes empíricos com o desenvolvimento de proxies mais precisas para constructos teóricos; (2) ao conceito de incerteza deveria ser considerada uma série de dimensões e à frequência da transação deveria ser dado um tratamento empírico e teórico mais intensivo; (3) mais testes empíricos que investiguem a escolha das governanças desejáveis; (4) análises que vão além da transação como simples unidade de análise e que considerem transações interdependentes aperfeiçoariam a estratégia da firma como um todo; e (5) avançar para a escolha simultânea de provisões contratuais como a duração dos contratos e seu nível de completude forneceriam importantes insights para suas interações.

A crítica de Bradach e Eccles (1989) ao corpo teórico tradicional da NEI é a de que mercados e hierarquias têm sido vistos como mecanismos alternativos de se alocar recursos. Uma das contribuições seminais a respeito desse assunto é a de Coase (1937) e desenvolvida posteriormente por Williamson (1975; 1985), para o qual as formas de governança são determinadas para contornar o problema da racionalidade limitada dos agentes e inibir o comportamento oportunista. Assim, Williamson (1975; 1985), procurava argumentar que os arranjos organizacionais eram uma resposta às considerações sobre eficiência.

Bradach e Eccles (1989) discordam da concepção de que as três formas de governança são mutuamente exclusivas. Para eles os três mecanismos estudados, preço, autoridade e confiança, são conceitos úteis que reconhecem serem independentes e podem ser combinados uns com os outros em uma variedade de formas.

Nesse trabalho os autores afirmam que as transações são enraizadas em um contexto de outras transações, assim como em um contexto social, focando especialmente as formas plurais – um arranjo onde mecanismos de controle distintos são operados simultaneamente para a mesma função em uma mesma firma.

A aposta em formas únicas de governança, segundo Bradach e Eccles (1989), apresenta obviamente dificuldades. Como alguns autores colocaram, o contrato é problemático sem uma experiência interna e as dificuldades associadas com a hierarquia são amplamente reconhecidas. O recurso para essas dificuldades pode ser o uso simultâneo de dois mecanismos, criando em essência a competição entre eles.