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CAPÍTULO 4 GOVERNANÇAS HÍBRIDAS E PLURAIS NAS NEGOCIAÇÕES DE

4.2 Sistemas de remuneração

O sistema de remuneração pela tonelada da cana é bastante diferenciado entre as usinas. Há usinas que optam apenas por um sistema e outras que adotam mix de sistemas de remuneração no conjunto de suas transações ou para uma mesma transação. O quadro 4.2 mostra essas diversas formas de pagamento:

Quadro 4.2 – Sistemas de pagamento da cana-de-açúcar Grupo/

Autônoma Usina CONSECANA litros/tonelada ATR fixo relativo ATR apurado ATR produtividade Prêmio por

Grupo 1 A x x Autônoma B x x x x Autônoma C x Grupo 2 D x x E x x Autônoma F x Autônoma G x x Grupo 3 H x Grupo 4 I x x J x x

Fonte: Elaboração do autor a partir da pesquisa de campo 2011/2012

De acordo com os entrevistados, o sistema CONSECANA é o modelo mais equilibrado e ponderado de pagamento porque, além de ratear benefícios e oportunidades, é um sistema que também sana o problema de abastecimento anual da cana na usina.

Um dos entrevistados colocou que esse sistema é uma forma bastante conveniente e vantajosa de pagamento, porém não considera que seja o mais transparente, pois é baseado em “amostragens de amostragens” e o fornecedor não confia nessa forma de cálculo do preço do ATR pela tonelada.

Esse processo de recolhimento de amostras é acompanhado pelas associações de fornecedores, porém foi mencionado durante as entrevistas que os fornecedores não confiam na pesagem da balança em algumas usinas. A UDOP realiza palestras para esclarecer como funciona o sistema de pagamento CONSECANA, mas o maior problema é a pesagem da cana e o desvio de caminhões.

Quanto ao sistema de pagamento de litros de álcool/tonelada, esse pode se realizar à vista, a prazo ou no preço médio. No pagamento à vista, fica a critério da usina vender os litros de álcool que tem armazenado dos fornecedores de acordo com as alterações de preço no mercado, porém o fornecedor recebe à vista pela tonelada vendida. O valor do

litro de álcool é fornecido pela Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo).

Se o fornecedor optar pelo sistema a prazo, a usina armazena o álcool e o fornecedor é quem decide quando pode ser vendido, o que o permite especular sobre o melhor momento para receber pela cana fornecida. Quando o álcool é armazenado há um deságio de aproximadamente 7% no pagamento da quantidade de litros por tonelada. Esse deságio ocorre devido aos riscos incorridos pela usina devido à evaporação e risco de explosão dos tanques, além dos custos normais de estocagem.

Se o fornecedor optar pelo preço médio, ele receberá um percentual do valor até dezembro do ano corrente e o restante quando se encerra a safra. Este valor é estabelecido de acordo com o preço médio do litro do álcool praticado na safra.

Uma desvantagem do sistema litros/tonelada para a usina é que a qualidade da cana não é relevante para o fornecedor, o que pode dificultar ainda mais o aproveitamento da capacidade industrial. Isso é parcialmente sanado por meio de premiações pela qualidade da lavoura, o que nem todas as usinas praticam, como mostrou o quadro 4.2

O fornecedor deve decidir qual a forma de pagamento até o início do ano safra. Se ele resolver alterar a forma de pagamento depois do início do ano safra, em algumas usinas que utilizam esse sistema, ele recebe uma penalidade. Segundo os entrevistados, o fornecedor escolhe a forma de pagamento dependendo de suas necessidades. Normalmente fornecedores menores escolhem o pagamento à vista e os maiores, os mais capitalizados, tem opção de escolha mais flexível.

Como as usinas não possuem condições de armazenar todo o álcool comprado, no contrato fica estabelecido que o fornecedor só pode armazenar até um determinado percentual o que dependerá das condições de armazenamento da unidade. Em alguns casos abrem exceções armazenando até 100% da produção. Isso ocorre para que sejam mantidos os fornecedores que a usina já possui.

Para alguns dos entrevistados, o pagamento litros/tonelada é uma distorção do sistema de remuneração, pois se utiliza como referência apenas um produto – o álcool – desconsiderando-se as variações no preço do açúcar.

Se a usina paga o ATR fixo, ou seja, uma quantidade de kg de ATR/tonelada, o mais interessante é que para ela, a cana seja colhida no momento em que a cana esteja mais madura. Já para o fornecedor que recebe nesta forma de pagamento, ele se torna indiferente do momento que a usina decide colher sua cana, pois a quantidade de ATR será a mesma em qualquer época do ano. Já para o fornecedor que recebe pelo ATR relativo, ele não irá autorizar a

colheita da cana quando ela estiver com o ATR baixo e a usina tem a necessidade de se programar para colher esta cana quando ela estiver com o ATR mais elevado.

O ATR Relativo (ATRr) é calculado pela seguinte equação (OLICANA, S/D): ATRr = ATRfq - ATRuq + ATRus,

onde:

ATRr = Açúcar Total Recuperável relativo do fornecedor; ATRfq = Açúcar Total Recuperável do fornecedor na quinzena;

ATRuq = Açúcar Total Recuperável da usina (própria + fornecedor) na quinzena; e

ATRus = Açúcar Total Recuperável da usina (própria + fornecedor) na safra. O argumento para a utilização do ATR relativo é a de que a cana de terceiros deve ser entre ao longo da safra de acordo com a capacidade diária de moagem, o que é difícil ocorrer, pois, em especial para os pequenos e médios fornecedores. Considera-se que o ATR relativo corrige esse problema de entrega, sem desestimular a busca pela melhoria da qualidade da cana (OLICANA, S/D).

A remuneração por ATR fixo independe da qualidade do produto que os fornecedores entregam. Essa forma de remuneração constitui para usina um elemento de risco moral, pois independente da qualidade da cana que o fornecedor entrega, a remuneração será sempre a mesma.

Há concordância por parte dos entrevistados de que o pagamento por ATR fixo provoca um desestímulo à melhoria da qualidade da lavoura, porém não representa, até o momento, motivo de preocupação da usina, pois as que se utilizam desse sistema possuem mecanismos para verificar com frequência a qualidade da cana que está sendo entregue. Se o material não está de acordo com as qualificações mínimas desejadas, em um momento de mercado equilibrado, esse fornecedor pode não ter o contrato renovado. A produtividade do canavial também irá depender do “corpo a corpo” que é realizado pelos técnicos e agrônomos em campo.

Algumas usinas utilizam sistemas mistos de remuneração entre os fornecedores, em um mesmo contrato ou sistemas diferenciados em unidades do mesmo grupo. Em um dos casos, apesar de duas unidades pertencerem ao mesmo grupo, possuem sistemas de remuneração diferenciados. Enquanto uma utiliza o sistema CONSECANA, a outra utiliza o sistema litros/tonelada – usinas do grupo 2. Segundo o entrevistado, essa diferenciação da forma de remuneração se dá com base na tradição da região. Houve tentativa de aplicar o CONSECANA nas duas unidades, porém foi necessário adequar-se a outro

sistema de pagamento, pois na região onde a unidade está instalada utiliza-se a forma de pagamento litros de álcool/tonelada e essa é a política das outras usinas. Para o entrevistado essa é uma distorção do sistema de remuneração, pois foi estabelecida como forma de atrair fornecedor.

Em outras são utilizados sistemas mistos de remuneração entre os fornecedores, no qual ele pode escolher qual sistema deverá remunerá-lo. E, em um dos casos, observou-se sistemas flexíveis de pagamento pela cana-de-açúcar recebida, pois o fornecedor pode escolher mais de uma modalidade.

A utilização de mais de um sistema de pagamento ou mesmo de contratos flexíveis para um mesmo fornecedor deve-se ao fato de que, pela concorrência existente na região por fornecedores, institucionalizou-se formas diferenciadas de pagamento, não permitindo às usinas se utilizarem apenas do sistema CONSECANA.