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CAPÍTULO 3 CONFIGURAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO

3.5 Características da oferta e demanda por açúcar e álcool

Azevedo (2007) realiza uma caracterização da oferta e procura por produtos agrícolas. O autor afirma que esses são bens de primeira necessidade e de baixo valor unitário, desta forma variações no preço não provocam mudanças significativas nas quantidades consumidas. No caso de escassez desses produtos, os preços tendem a subir significativamente a ponto de limitar o consumo e vice-versa. Assim, como a demanda é inelástica em relação aos preços, este varia significativamente em relação às pequenas variações nas quantidades ofertadas. Além de o consumo ser estável em relação aos preços, ele também é estável em relação ao tempo, mostrando-se regular ao longo do ano, com exceção dos produtos de consumo sazonal.

Em relação à oferta de produtos agrícolas o autor afirma que essa não é tão estável quanto o consumo. A oferta está condicionada às restrições impostas por aspectos de ordem natural e biológicos, como condições climáticas, período de maturação dos investimentos e sazonalidade.

O primeiro aspecto vem tendo seus efeitos aleatórios reduzidos por avanços tecnológicos e intensificação do uso do capital na atividade agrícola, porém, a oferta agrícola ainda é consideravelmente afetada por mudanças climáticas.

Quanto à maturação dos investimentos, há um hiato de tempo entre a decisão de investimento e a efetiva produção, o que limita a decisão da sua implementação e da sua maturação.

Em relação ao terceiro aspecto, a sazonalidade, que decorre da natureza biológica da produção agrícola, Azevedo (2007) afirma que devido à sucessão das safras e entressafras a oferta fica condicionada a esses períodos e, consequentemente, a comercialização dos produtos agroindustriais fica subordinada ao comportamento sazonal da oferta agrícola.

Nos mercados de açúcar e álcool, a oferta de matéria prima é concentrada entre os meses de abril e novembro da região Centro-Sul e entre novembro abril na região Norte- Nordeste, o que ocasiona nessas duas regiões períodos de entressafra e variações nos preços dos produtos finais ao longo do ano.

Essas variações nos preços podem se configurar como oportunidades para as usinas, o que dependerá da forma de comercialização escolhida. Se a usina optar por comercializar os produtos finais pelo sistema COPERSUCAR, ela deverá enviar açúcar e/ou álcool regulamente ao longo do ano, independente dos preços. Nesse sistema não há como captar os benefícios das variações de preços no mercado final, porém, a necessidade de estocagem será reduzida.

Se a usina optar por comercialização própria, ela poderá esperar o melhor momento para vender o açúcar e/ou álcool, dependendo dos preços oferecidos no mercado, porém, deverá disponibilizar de um sistema de estocagem mais elevado, o que envolve riscos, dado que o etanol é inflamável, e custos, dada a necessidade de manutenção dos estoques.

Nos mercados de açúcar e álcool, a oferta de matéria-prima é concentrada entre os meses de abril e novembro da região Centro-Sul e entre novembro abril na região Norte- Nordeste, o que ocasiona nessas duas regiões períodos de entressafra e variações nos preços dos produtos finais ao longo do ano.

Essas variações nos preços podem se configurar como oportunidades para as usinas, o que dependerá da forma de comercialização escolhida. Se a usina optar por comercializar os produtos finais pelo sistema COPERSUCAR, ela deverá enviar açúcar e/ou álcool regulamente ao longo do ano, independente dos preços. Nesse sistema não há como

captar os benefícios das variações de preços no mercado final, porém, a necessidade de estocagem será reduzida.

Se a usina optar por comercialização própria, ela poderá esperar o melhor momento para vender o açúcar e/ou álcool, dependendo dos preços oferecidos no mercado, porém, deverá disponibilizar de um sistema de estocagem mais elevado, o que envolve riscos, dado que o etanol é inflamável, e custos, dada a necessidade de manutenção dos estoques.

Há limites à expansão da produção de cana-de-açúcar no Brasil impostos pelo Zoneamento Agroecológico (MANZATTO et al., 2009) e, que, portanto, a expansão da produção de etanol dependerá do aumento da produtividade no campo e também de pesquisa e desenvolvimento em etanol de segunda e terceira geração.

Segundo Rüsgaard (2013), o etanol de primeira geração, aquele advindo do suco da cana-de-açúcar, é mais barato, pois o processamento é simplificado em relação ao de segunda geração. Porém, para cada tonelada de cana-de-açúcar são gerados 80 (oitenta) litros de etanol. Já, o etanol de segunda geração, aquele que advém de biomassa vegetal, como por exemplo, o bagaço da cana, apesar de ser mais complexo de se produzir do que o etanol de primeira geração gera 240 (duzentos e quarenta) litros de etanol para cada tonelada de bagaço. Logo, enquanto for mantida a produção de etanol de primeira geração, o desenvolvimento e uso de tecnologias avançadas como variedades adequadas aos diferentes solos e clima e a intensificação dos tratos culturais das lavouras serão determinantes no incremento da produtividade no campo. Para que isso ocorra, há necessidade de maior coordenação da cadeia produtiva pelas usinas.

Szmrecsányi (1979) caracterizou a demanda interna por açúcar no Brasil como dependente do desenvolvimento econômico e social, mediante a ampliação do consumo decorrente do crescimento demográfico, da crescente urbanização e industrialização do País, da melhoria da infraestrutura de transportes e de comercialização e da elevação dos níveis de renda da população. Esse último elemento tem potencial bastante limitado sobre a demanda por açúcar, pois há baixa elasticidade-renda dos produtos alimentares essenciais, mas para Szmrecsányi (1979, p. 92) existe nessa afirmação uma “meia verdade”, pois:

(1) A elasticidade-renda não é a mesma para toda a população, mas varia de uma faixa de ingressos per capita para outra, tendendo a ser maior para as camadas mais pobres; (2) no caso específico do açúcar, ele varia através do tempo, não só em função da elevação do nível de renda da população, mas também em decorrência de alterações na estrutura do seu consumo, através da crescente preponderância das formas indiretas.

Belik e Vian (2003) afirmavam haver restrições à expansão do complexo canavieiro, pois os produtos que foram responsáveis por sua expansão, ao longo das décadas de 70, 80 e 90, eram então caracterizados por mercados amadurecidos, com taxas de crescimento muito pequenas e demanda inelástica. Essa situação era plausível, pois o mercado de etanol ainda não havia ganhado relevância na economia brasileira.

Há que se considerar também que, em relação à afirmação desses autores, o mercado de etanol, que vem sendo puxado pela produção de carros bicombustíveis, ainda deve crescer, dado o crescimento da renda e condições macroeconômicas mais sólidas do que as observadas até meados dos anos 1990, o que poderá puxar investimentos por parte das usinas para o atendimento da demanda. Essa situação era plausível, pois o mercado de etanol ainda não havia ganhado relevância na economia brasileira.

Considerações finais

Este capítulo permitiu o entendimento sobre as várias etapas da produção de cana-de-açúcar no Brasil e suas peculiaridades, assim como o entendimento das características regionais de produção.

Em relação à produção foi possível observar que a participação da cana própria e de terceiros se alterou ao longo do tempo em função das alterações no ambiente institucional e que o PROÁLCOOL teria estimulado a concentração da produção de cana nas mãos das usinas, pois naquele momento foi estimulada a implantação de novas usinas para compensar a dificuldade de abastecimento interno.

Essas chamadas “usinas do PROÁLCOOL” iniciaram a produção comprando e arrendando terras, o que aumentou a proporção de cana advinda de fontes próprias. Após a desregulamentação estatal e com o aumento do número de usinas e da concorrência por terras para plantio de cana e fornecedores, a participação de terceiros aumentou no total da moagem.

Logo foi possível observar que a alteração do ambiente institucional também alterou a participação dos dois grandes grupos de estruturas de governança – cana própria e de terceiros.

Além disso, houve a constatação de que os pequenos fornecedores independentes (até 12.000 ton.) na região Centro-Sul são responsáveis pela maior parte da cana fornecida. Na última safra disponível, eram responsáveis por aproximadamente 93% da cana recebida de terceiros. O tamanho reduzido das propriedades dos produtores dificulta a mecanização da área e já é um determinante da escolha por propriedades de algumas usinas.

A partir das informações regionais, de produção a campo e industrial, dá-se o início do estudo sobre as usinas pesquisadas nesta tese em especial sobre as transações de abastecimento de cana no oeste paulista.