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CAPÍTULO 1 ECONOMIA INSTITUCIONAL: AS GOVERNANÇAS HÍBRIDAS E

1.1 A Nova Economia Institucional

1.1.1 Economia dos custos de transação

1.1.1.3 O papel do ambiente institucional na determinação da governança

North (1991) define instituições como restrições criadas pelos humanos que estruturam as interações políticas, sociais e econômicas, que podem ser informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) e formais (constituições, leis, direitos de propriedade etc.) e que foram criadas para reduzir a incerteza nas trocas.

North (1994, p. 13) faz uma distinção útil entre instituições e organizações. O autor afirma que, as instituições constituem, como afirmado em parágrafo anterior, em regras formais, limitações informais e os mecanismos responsáveis pela eficácia desses dois tipos de normas, ou seja, “o arcabouço imposto pelo ser humano a seu relacionamento com os outros.” As instituições constituem então as “regras do jogo” e as organizações são seus “jogadores”. As organizações compõem-se de grupos de indivíduos que exercem alguma atividade desenvolvida com algum fim.

Para North (1994), a matriz institucional, juntamente com outras restrições normais, em qualquer economia desenham o conjunto de oportunidades e, portanto, o tipo de organizações que serão criadas.

As instituições, juntamente com os padrões de restrições econômicas, definem o conjunto de escolhas e assim determinam os custos de produção e transação e consequentemente a lucratividade e a viabilidade de se ingressar em uma atividade econômica (NORTH, 1991).

As fontes das mudanças institucionais, segundo North (1994), são as oportunidades percebidas pelos empresários políticos ou econômicos que são os demandantes dessas mudanças. Esses empresários realizam essas demandas no contexto dos custos percebidos como necessários para alterar a estrutura institucional em várias frentes.

North (1991) considera que, mesmo que os agentes envolvidos em uma transação tenham os mesmos objetivos como, por exemplo, maximizar os lucros, a transação consumirá recursos; mas no contexto de comportamento unilateral de maximização e informação assimétrica sobre atributos valiosos da transação, os custos de transação são determinantes críticos do desempenho econômico. Assim, as instituições e a eficiência de seu

enforcement (poder de execução) determinam os custos de transação. O desempenho econômico, segundo North (1994) é função das instituições e da sua evolução.

Para o autor, pouco se sabe como reverter a direção das economias em busca de eficiência adaptativa. Essa mudança exige a alteração das organizações existentes ou mesmo a criação de novas, cujos empresários consigam visualizar as vantagens no desempenho das atividades produtivas e tenham incentivos a modificar direta ou indiretamente a estrutura institucional.

Para North (1994, p. 34), “as instituições e organizações eficazes podem reduzir os custos de cada transação, de forma a obter uma parcela maior dos ganhos potenciais de cada interação humana”.

North (1994, p. 11) faz uma relação entre instituições, custos de transação e crescimento econômico e afirma que “um conjunto de instituições políticas e econômicas que ofereça transações de baixo custo viabiliza a existência de mercados de produtos e fatores eficientes necessários o crescimento econômico”.

Azevedo (1997, p. 64) afirma que “conforme a complexidade do mundo em que se insere uma transação, diferente será o ambiente institucional adequado para viabilizar essa transação.” Nesse sentido, Oxley (1999) questiona o trabalho de Williamson (1991) afirmando que ao modelo proposto por este não há considerações entre nações nas decisões sobre estruturas de governança que estão profundamente enraizadas em sue ambiente. Há de se mencionar que Williamson (1991) considera o ambiente institucional como dado.

Azevedo (1997) divide o processo de troca em três tipos para analisar a relação entre complexidade da troca e as instituições que seriam necessárias à sua viabilidade. O primeiro tipo estaria relacionado aquele utilizado em sociedades mais primitivas caracterizado pela repetição das transações e homogeneidade cultural, o que implicaria em incerteza reduzida e um elevado custo à ação oportunista. Para este tipo de ambiente, não há necessidade de se construir um quadro institucional complexo, pois os custos de transação serão sempre baixos.

Um segundo processo encontra-se na classe das trocas mais abrangentes, que se distancia das características do primeiro processo. Nesse tipo é mais comum o desenvolvimento de instituições que regulam a ação dos agentes de forma a inibir a ação oportunista entre eles.

E, por fim, o terceiro tipo de troca, que é caracterizado por extrema complexidade, que não possui instituições suficientes para assegurar o cumprimento do contrato. Nesse caso, é necessária a construção de um quadro institucional mais complexo que compreenda também os litígios contratuais.

Para Oxley (1999), as diferenças no ambiente institucional mudam os custos relativos das estruturas alternativas de governança, logo todo padrão de formas organizacionais observadas podem diferir entre países. Para o autor a escolha de uma forma ótima de governança é amplamente definida a partir de um conjunto de fundamentos políticos, regras legais e sociais de conhecimento geral que estabelece a base para produção, troca e distribuição. Nesse conjunto de variáveis do ambiente institucional que pode impactar a governança do investimento estrangeiro, há as chamadas variáveis de controle como a distância cultural, sociedade confiável (societal trust), educação, regulação do investimento, risco político, tamanho do mercado, alianças prévias e estrutura de escolha para alianças.

Em relação à primeira variável, a distância cultural, ele afirma, a partir de Kogut e Singh (1988)7, que ela aumenta os custos de aquisições e investimentos por investidores estrangeiros. Isso ocorre devido às dificuldades em integrar a gestão externa existente. Outros custos advindos da distância cultural, segundo Oxley (1999), podem ser citados como os de monitoramento e execução em parcerias internacionais.

Quanto à confiança na sociedade, quanto mais confiável ela for, menor é a necessidade de monitoramento para deter o comportamento oportunista, e por isso, o contrato é possível para uma ampla variedade de transações em relação aos modos mais hierárquicos de coordenação.

Em relação ao nível de educação, mensurado por competências e capacidades, o racional é que competências maiores por parte do país receptor do investimento facilitem os contratos de longo prazo de transferências de tecnologia. Se as capacidades dos países divergem e as atividades desenvolvidas envolvem riscos, os custos relativos de um arranjo contratual aumentarão quanto maiores forem as necessidades de treinamento e outras relativas ao desenvolvimento da parceria.

Em relação à regulação sobre os investimentos, os governos podem interferir em decisões de investimentos de firmas estrangeiras. Essa possibilidade de intervenção gera incertezas quanto ao desenvolvimento das atividades e os ganhos advindos delas e a possibilidade de revisões e renegociações de planos.

O risco político, como definido, pode ser muito relevante para o investimento estrangeiro, pois, historicamente, revoluções, revoltas estiveram associadas com riscos elevados de expropriação dos ativos estrangeiros pelos governos, aumentando potencialmente os custos de relações com firmas locais ou investimentos individualizados.

Quanto ao tamanho do mercado, Contractor8, citado por Oxley (1999), argumenta que o poder de barganha do país hospedeiro do investimento é maior em mercados maiores e de rápido crescimento e isso os permite forçar suas preferências por formas mais integradas, como, por exemplo, as joint-ventures, com os produtores locais.

7KOGUT, B., SINGH, H. The effect of national culture on the choice of entry mode, Journal of International Business Studies, p. 411-432, fall 1988.

8 CONTRACTOR, F. Ownership patterns of U.S. joint ventures abroad and the liberalization of foreign government regulations in the 1980s: Evidence from the benchmark surveys, Journal of International Business Studies (First Quarter), p. 55-73, 1990.

A estrutura de uma aliança em particular pode ser condicionada pelas alianças prévias das firmas envolvidas reduzindo, por exemplo, o risco de comportamento oportunista entre as partes e então diminuindo a necessidade de laços jurídicos em uma aliança.

Por fim, o autor cita a estrutura de escolha de alianças prévias, argumentando, a partir dos economistas evolucionistas, que a história da firma importa desde que as firmas desenvolvam rotinas que moldem suas escolhas estratégicas e organizacionais.