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CAPÍTULO 2 A EVOLUÇÃO DO APARATO INSTITUCIONAL DO SETOR

2.3 Criação de programas e órgãos de interesse do setor

Para se apoderar das parcelas dos lucros da comercialização, as usinas começaram a se unir em formas de cooperativas que tinham como função inicial a comercialização do açúcar das cooperadas e a compra de insumos em conjunto.

As funções desse tipo de organização evoluíram também para a viabilização de financiamentos para o pagamento de despesas e estocagem, construção de armazéns e reservatórios para o açúcar e álcool prestação de assistência administrativa, fiscal e técnica

aos cooperados, adiantamento de recursos necessários para a produção e manutenção de centros de pesquisa científica para aprimorar a produção agrícola e industrial.

As primeiras a surgirem, segundo Vian (2002), foram duas cooperativas regionais: a Cooperativa Piracicaba de Usinas de Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (COOPIRA) e a Cooperativa de Usineiros do Oeste de São Paulo (COOPERESTE). Essas cooperativas surgiam como uma forma de retirar esses encargos das mãos dos usineiros permitindo-os focar a produção industrial e reduzindo alguns custos como, por exemplo, os juros, os de estocagem da produção entre outros.

Pela união das duas cooperativas citadas anteriormente e a Refinaria Paulista, surge, em 1959, a Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool de São Paulo (COPERSUCAR), que compartilhava algumas funções do IAA, como financiamento e comercialização do açúcar.

A COPERSUCAR, segundo Vian (2002), foi um caso bem sucedido de união e coordenação setorial, que permitiu aos usineiros controlarem não só as atividades ligadas verticalmente à produção de açúcar e álcool – produção até comercialização do produto final – como as de fabricação de equipamentos – “processo que teve êxito até meados da década de 70 quando ocorreu a primeira dissidência da cooperativa” (VIAN, 2002, p. 85).

Além da organização dos agentes representantes dos usineiros na forma de cooperativas, também foi se constituindo um aparato representante dos interesses dos fornecedores de cana como as associações e a Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (ORPLANA) que foi criada em 1976 diante da necessidade de aproximação maior entre produtores de cana-de-açúcar e a representatividade do setor no estado de São Paulo (ORPLANA, 2010).

Com o objetivo de tornar a produção brasileira mais competitiva nacional e internacionalmente, na década de 70 foram lançados programas que objetivavam melhor a produtividade agrícola e industrial. Foram criados o Programa Nacional de Melhoramento da cana-de-açúcar (PLANALSUCAR), além de algumas estações agronômicas e órgãos com a finalidade de melhorar a produtividade e modernizar o parque agrícola industrial (MORAES, 2000).

Vale ressaltar que, ainda nesse período, foram dados incentivos às fusões, incorporações e relocalização de unidades industriais açucareiras por meio da lei nº 1186/71 e financeiros aos fornecedores de cana que incorporarem novas cotas de fornecimento às cotas que já eram titulares (BRASIL, 1971). Segundo Moraes (2000), essa medida acabou estimulando a tendência à concentração industrial no setor.

O primeiro choque do petróleo na década de 70 e a consequente elevação dos preços do barril não afetaram de forma significativa a política energética brasileira, pois ela estava inserida em um objetivo mais amplo que era o de manter o crescimento acelerado com inflação e balanço de pagamentos sob controle, apesar de o choque ter provocado déficit na balança comercial brasileira em 1974.

Segundo Moraes (2000), a situação macroeconômica agravou-se no final de 1975, fazendo que fossem tomadas medidas para solucionar o déficit no balanço de pagamentos, entre outras. Dentre essas medidas constava o lançamento do PROÁLCOOL, criado efetivamente em 1975 pelo decreto Lei nº 76.593, visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos (BRASIL, 1975).

O PROÁLCOOL instituía para esse fim o incentivo à produção de álcool oriundo da cana-de-açúcar ou outra matéria-prima através da expansão da oferta de matérias- primas por meio do aumento da produtividade agrícola, modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras (BRASIL, 1975).

Juntamente com o PROÁLCOOL foi instituída a Comissão Nacional do Álcool que tinha como atribuições definir as participações programáticas dos órgãos vinculados ao programa; definir critérios de localização na implantação de novos projetos de destilarias; e decisões sobre o enquadramento das propostas para modernização, ampliação ou implantação de álcool das destilarias nos objetivos do programa, que seriam financiados pelo sistema bancário em geral, com juros subsidiados. Com a criação do PROÁLCOOL era instituída a proporção da mistura da gasolina em 20% de álcool.

Para Ramos (1999), o PROÁLCOOL fortaleceu a expansão da produção com base no apoio estatal e na produção integrada e seria a “tábua salvação” do complexo que teria ingressado em uma grave crise dada a redução dos preços mundiais do açúcar. As variações percentuais das médias de cana moída nas safras dos períodos de 70/71-76/77 e 77/78-80/81 foram de 34% para a produção de açúcar e 2756% para a produção de álcool16.

Ramos (1999) ressalta que, com o PROÁLCOOL, repetiu-se a forma de expansão baseada no autoabastecimento da matéria-prima e o de constituição de destilarias com capacidade real maior do que a declarada, que era feito com o intuito de mais tarde conseguir a aprovação do aumento da quota de produção.

O autor afirma também que, o programa reforçou a dificuldade de se instalar destilarias autônomas para que elas não competissem com usinas na obtenção de matéria- prima e que foi “a propriedade fundiária que permitiu o acesso às benesses do Estado e à constituição de usinas e/ou destilarias” (RAMOS, 1999, p. 174), o que reforça o argumento da verticalização da produção sucroalcooleira até o final do século XX.

Quanto ao processo de integração da cadeia sucroalcooleira e da industrialização da cana-de-açúcar, Ramos (1999, p.178) afirma que:

Tanto em São Paulo como no resto do Brasil cresceu a participação da cana própria durante o período sob análise. O impacto das destilarias autônomas constituídas com base no auto-abastecimento contribuiu para a significativa elevação posterior a 1979. Também se verificou com o Proálcool uma intensificação do processo de industrialização da cana no Brasil. Pode-se ver que menos de 10% da lavoura canavieira do País deixa de estar submetida ao complexo. (sic)

Ainda sim, os percentuais de cana própria e cana de terceiros apresentados pelas estatísticas do IAA na época eram subestimados por dois motivos: utilizavam-se mecanismos que dissimulavam os dados reais burlando a legislação e também porque o IAA considerava cana de terceiros a produção advinda de arrendamento, que na realidade poderia vir de produção das usinas em terras arrendadas.

Com a segunda crise do petróleo, na primeira metade de 1979, e o consequente retorno aos problemas de abastecimento do produto, os déficits na balança comercial quase triplicaram, que juntamente com a elevação da inflação brasileira para 77% a.a. naquele ano, levaram à questão energética a ser uma das prioridades naquela fase, conduzindo a uma reformulação de toda a política energética brasileira (MORAES, 2000).

Assim, um importante instrumento para reduzir o consumo do petróleo foi a política de substituição de derivados do petróleo por outras fontes de energia alternativas, o que impulsionou o Proálcool.

Criaram-se a Comissão Nacional de Energia (CNE), a Comissão Seplan de Energia (CSE) que conjuntamente administrariam e distribuiriam os recursos do programa. O Conselho Estadual de Energia foi criado em 1983 com a função de emitir pareceres técnicos sobre a implantação, ampliação e transformação das destilarias no estado de São Paulo.

Esse último detectou as práticas das usinas de declaração de capacidade menor do que a real, citada anteriormente e, segundo Ramos (1999), porque cumpriu rigidamente a tarefa de disciplinar a expansão da produção alcooleira no estado, o conselho acabou sendo extinto mais tarde.

Segundo Moraes (2000, p. 73), “em relação à política do álcool, o governo procurou centralizar suas decisões, já que sua estrutura decisória muito fragmentada dificultava a implantação do programa”. E, naquele ano, o governo decidiu separar a formulação e a execução da política do álcool substituindo a Comissão Nacional do Álcool pelo Conselho Nacional do Álcool (CNAL) que ficaria encarregado de formular a política e fixar diretrizes do Proálcool e pela Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL) que ficava responsável pela execução das decisões do CNAL.