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CAPÍTULO 3 CONFIGURAÇÃO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO

3.4 Características da produção industrial

A distribuição das usinas produtoras de açúcar e/ou álcool, como mostra a tabela 3.4, acompanha a distribuição da produção de cana no Brasil, dada a especificidade locacional da transação de cana entre usinas e fornecedores.

Tabela 3.4 – Distribuição das unidades sucroalcooleiras do Brasil por estado e região

Estado/Região Unidades mistas Usinas etanol Usinas açúcar Total

Paraná 22 9 0 31

Rio Grande do Sul 0 2 0 2

Sul 22 11 0 33 São Paulo 129 59 8 196 Minas Gerais 20 21 1 42 Rio de Janeiro 4 3 0 7 Espírito Santo 2 4 0 6 Sudeste 155 87 9 251

Mato Grosso do Sul 11 10 0 21

Goiás 12 21 0 33 Mato Grosso 4 5 1 10 Centro-Oeste 27 36 1 64 CENTRO-SUL 204 134 10 348 Alagoas 18 2 4 24 Pernambuco 16 3 4 23 Paraíba 2 6 1 9

Rio Grande do Norte 2 2 0 4

Bahia 3 2 0 5 Maranhão 1 3 0 4 Piauí 1 0 0 1 Sergipe 1 5 0 6 Ceará 0 3 0 3 Nordeste 44 26 9 79 Acre 0 1 0 1 Amazonas 1 0 0 1 Pará 1 0 0 1 Rondônia 1 0 0 1 Tocantins 0 1 0 1 Norte 3 2 0 5 NORTE-NORDESTE 47 28 9 84 BRASIL 251 160 19 430

Fonte: Elaboração do autor a partir dos dados do MAPA (2010)

No Brasil, dada a extensão territorial e às condições climáticas, há unidades produtoras de açúcar e álcool espalhadas desde os estados mais distantes da região Norte até a região Sul. A produção nessas regiões se concentra em épocas diferentes, o que facilita a manutenção de uma logística de distribuição de álcool e a manutenção da produção de açúcar e álcool o ano todo. Na região Centro-Sul a colheita se dá de abril a dezembro, enquanto na região Norte-Nordeste, de agosto a abril (CONAB, 2008).

A tabela 3.4 mostra que a região Centro-Sul é a maior concentradora de unidades produtoras de açúcar e/ou álcool no Brasil, com maior destaque para o estado de São Paulo com mais de 50% das unidades produtoras nesta região. A maioria destas usinas é mista, ou seja, produz açúcar e álcool.

Como afirmado anteriormente por Vian e Belik (2003), a competitividade do complexo canavieiro brasileiro era fundamentada em escala e custos. A liberalização dos preços no final da década de 90 e a eliminação do papel do Estado nas atividades de produção

e comercialização do complexo canavieiro permitiram algumas modificações no mesmo, que vão desde a extinção da legislação que determinava percentuais de produção de cana pelas usinas até o investimento em novos produtos no setor.

Fazendo-se uma comparação do setor sucroalcooleiro brasileiro com os demais países observa-se que no restante do mundo a produção se caracteriza pela divisão da atividade agrícola e industrial, enquanto no Brasil, parte significativa da cana que é processada, é produzida pelas próprias usinas como mostrado na tabela 3.2.

Além desta característica da produção industrial sucroalcooleira brasileira, outra que é interessante de se observar é a diversidade de produtos gerados além do açúcar e álcool. Produz-se também cachaça, rapadura, produtos extraídos do caldo e produzidos em pequenas fábricas especializadas, cogeração de energia elétrica a partir da queima do bagaço da cana-de-açúcar, além de tipos diferenciados de açúcar, que variam desde o açúcar bruto para exportação até produtos mais refinados com açúcar light e orgânico. Apesar dessa diversidade, o açúcar e o álcool representam, segundo Baccarini, Gebara e Factore (2009), 90% da renda bruta do setor.

Cabe observar que a maioria das usinas (58,4%)22 é equipada para produzir açúcar e álcool, consequência das medidas macroeconômicas adotas a partir da década de 70 que estimularam a produção do álcool não só como um subproduto do açúcar, mas em caráter estratégico para enfrentar as crises do petróleo (MORAES, 2000). Além desse fator, há também que se considerar a venda de carros bicombustível no Brasil a partir do ano de 2003, o que alavancou a demanda por etanol no Brasil (UNICA, 2010).

Segundo Moraes (2000), a oferta de um dos produtos finais, açúcar ou álcool, vai depender dos preços de cada um deles, mas, embora exista a possibilidade de migração para um deles, conforme os preços relativos, há limites para a flexibilidade produtiva.

Existe a possibilidade de utilizar a cana-de-açúcar para uma variedade de produtos, o que gera para o empresário um benefício na gestão do negócio considerando-se a melhor relação custo-benefício do produto a ser escolhido. Assim, quando o rendimento da sacarose está em baixos níveis, normalmente em períodos chuvosos, é interessante produzir mais álcool em relação ao açúcar, situação inversa ocorre em períodos de seca. Essa escolha é plausível quando a vantagem técnica não se opõe à vantagem de preços (CONAB, 2008). Mas essa possibilidade técnica e econômica limita-se à flexibilidade empresarial no balanceamento

da produção por álcool e açúcar – margem que se restringe entre 5% e 10% entre os dois produtos.

As condições operacionais das unidades mistas (produtoras de açúcar e álcool) obrigam a produção simultânea de açúcar e álcool, pois há um volume determinado de cana a ser moído e uma capacidade nominal diária limitada de fabricação de açúcar e álcool (CONAB, 2008).

Essa capacidade nominal diária deve ser abastecida com cana ao longo do período da safra. Porém, a maior concentração do abastecimento ocorre quando o ATR da cana está mais elevado, entre os meses de julho e setembro, na região Centro-Sul. Para evitar desabastecimento ao longo da safra, a usina lança mão de cana própria, mesmo que o ATR não seja o mais elevado.

Além disso, a capacidade industrial é especializada, não podendo ser utilizada para outros fins, a não ser a produção de açúcar e/ou álcool. Essa especialização exige dos tomadores de decisão esforços no planejamento de longo prazo. Conforme as informações obtidas na pesquisa de campo, foi possível observar que as transações no mercado spot não são tão frequentes no setor, em especial em regiões onde há maior concorrência por terras e cana-de-açúcar. É mais comum a existência de contratos de longo prazo que garantam a utilização da capacidade ao longo dos anos.