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CAPÍTULO 1 ECONOMIA INSTITUCIONAL: AS GOVERNANÇAS HÍBRIDAS E

1.1 A Nova Economia Institucional

1.1.1 Economia dos custos de transação

1.1.1.1 Instituições de governança

Williamson (2005b) afirma que, comparada à teoria neoclássica da firma, a ECT está muito mais preocupada com a prática real. Em parte, isso é explicado pelo interesse com negócios e antecedentes do trio CBS, os precursores nos quais recaem os conceitos chave da ECT.

A decisão de realizar todas as atividades produtivas dentro de uma grande firma poderia levar a eficiência produtiva não fossem os custos de transação, como por exemplo, os de pesquisa, implementação e modificação de contratos.

Considerando-se a presença desses custos, deve-se então avaliar formas organizacionais alternativas para um determinado tipo de transação. Essa avaliação é feita comparando-se os custos presentes em cada uma delas. Esse argumento pode ser representado na seguinte estrutura:

G* = G1, se C1 < C2 = G2, se C1 > C2

Sob essa estrutura, G1 e G2 seriam as formas alternativas de governança, dados C1 e C2, os custos de se organizar essas transações e G* a forma mais adequada. Se os custos da forma G1 para governar aquela transação são menores do que os custos da forma G2, a forma escolhida, naturalmente, será G1 e vice-versa.

Segundo Menard e Valceschini (2005), uma lição fundamental da NEI à organização de atividades agrícolas é que os custos de arranjos alternativos das transações no nível micro, assim como os custos impostos às transações por políticas alternativas no nível macro devem ser avaliados para compreender como soluções específicas são selecionadas e porque algumas funcionam melhor do que outras. Identificar e medir esses custos comparativos são prioridades na agenda de pesquisa.

Na década de 70 o dimensionamento dos custos apresentados no teorema original de Coase passou por um avanço metodológico. Williamson (1979) ofereceu dimensões aos atributos de uma transação. Segundo o mesmo autor, os custos envolvidos em uma transação estão relacionados à adaptação dos contratos às mudanças externas – ex post –, foco das decisões sobre a estrutura de governança, e à existência de custos de mensuração de informações relevantes necessárias à efetivação e à execução de um contrato – ex ante.

Williamson (1991) considera a adaptação às circunstâncias não esperadas como o problema econômico central. Ele distingue os custos entre distúrbios ‘inconsequenciais’, nos quais os custos dos ajustes excederiam os ganhos de eficiência; distúrbios ‘consequenciais’ nos quais os acordos contratuais são adaptáveis; e distúrbios altamente ‘consequenciais’, nos quais são oferecidos incentivos ao oportunismo ex post provindos do espírito original dos contratos.

Para lidar com as lacunas presentes nos contratos os agentes decidem sobre qual deve ser a estrutura de governança que minimize os custos de transação. Esses custos surgem em função de dois pressupostos comportamentais: a racionalidade limitada e o oportunismo.

A racionalidade limitada, que se refere ao fato de que os agentes encontram limites para processar toda a informação disponível, ocasiona lacunas contratuais e eventuais renegociações. Este mesmo fator dá margem ao comportamento oportunista – segundo pressuposto comportamental – de agentes envolvidos em uma transação, que podem se aproveitar destas lacunas e agir em benefício próprio, eventualmente provocando perdas às suas contrapartes. Para North (1994, p. 18), “sempre haverá incentivos à trapaça, aos aproveitadores, etc. o que contribuirá para um mercado imperfeito”.

Formular um contrato de longo prazo completo, porém, é muito custoso e muitas vezes não viável, pois não é possível especificar todas as contingências necessárias à sua conclusão. Para Ruester (2010), se todos os agentes que participam de uma negociação fossem benevolentes, a presença de contratos incompletos não seria um problema, porém, essa situação não é presumida e o problema do risco do comportamento oportunista mantém- se.

Se as trocas são realizadas em um ambiente competitivo, os agentes econômicos não teriam incentivos de se desviar de uma conduta justa. No entanto, em situações nas quais há apenas um pequeno grupo de potenciais parceiros comerciais no mercado, as trocas realizadas em mercados seriam expostas a altos custos de transação ex-

post.

Ruester (2010) representa na figura 1.1 a estrutura da análise de Williamson (1975) sobre a falha organizacional em ambientes de comercialização.

Figura 1.1 – Estrutura da falha organizacional Fatores humanos: Fatores ambientais: Racionalidade limitada Oportunismo Incerteza e

complexidade Poucos envolvidos na barganha

Ambiente de comercialização

Consequência econômica:

Contratos como uma simples promessa de

autoexecução Contratos de

longo prazo são incompletos Fonte: Ruester (2010)

A magnitude dos custos de transação varia conforme as características de determinada transação. Williamson (1979) ofereceu especial contribuição no sentido de dimensionar os atributos que intensificariam os custos de transação. Três dimensões são consideradas: frequência, incerteza e especificidades de ativos.

Quanto à dimensão frequência, quanto mais recorrente é uma transação, maior será a reputação desenvolvida entre as partes envolvidas, e, portanto, maior será a motivação de seus agentes de não impor perdas aos seus parceiros, limitando o comportamento autointeressado para se obter ganhos de curto prazo. A frequência maior também promove a redução de custos de coleta de informação para a efetivação do contrato e da elaboração de cláusulas contratuais.

A incerteza, segunda dimensão, promove a imprevisibilidade e os agentes impossibilitados de anteverem acontecimentos futuros não terão acesso ao delineamento perfeito de cláusulas contratuais completas que associem a distribuição dos resultados aos impactos externos. Quanto maior a incerteza, maiores as lacunas que um contrato não pode cobrir, e, consequentemente, maior será o espaço para renegociação.

A última dimensão a ser lançada por Williamson (1979) refere-se às especificidades dos ativos. Essas especificidades estão relacionadas ao grau que um ativo pode ser reempregado para usos e usuários alternativos sem sacrificar seu valor produtivo. As características que influenciam o grau para o qual um ativo é mais ou menos específico estão

relacionadas às propriedades físicas, temporais, humanas, de localização, de dedicação e de marca.

Para diferentes níveis de especificidades dos ativos Williamson (1991) associou um tipo de estrutura de governança, ilustrando-as na figura 1.2:

Figura 1.2 – Formas de governança e especificidades dos ativos

Fonte: Williamson (1991)

Na figura 1.2 o eixo das abscissas (k) representa a especificidade de ativos; o eixo das coordenadas (S) representa os custos associados a cada forma de governança para cada nível de especificidade de ativo; os custos de cada uma das formas de governança estão representados por M(k, θ) a função que representa os custos de governança do mercado, X(k, θ) a função que representa os custos de governança de formas híbridas e H(k, θ), a função que denota os custos de governança de formas hierárquicas; k é a especificidade de ativos; e θ vetor de parâmetros de deslocamento, em que estão incluídas as dimensões restantes.

As formas de governança seriam escolhidas de acordo com as especificidades dos ativos. Para níveis muito baixos de especificidades, no qual os agentes não sofrem perdas muito elevadas, as transações seriam mais eficientemente regidas pelo sistema de preços, ou o mercado spot. Conforme aumentam as especificidades dos ativos envolvidos, aumenta a necessidade de controle, conduzindo os agentes para formas de governança que permitam um maior controle da transação, as híbridas, consideradas formas intermediárias de arranjo, e as verticalizadas, que são formas extremas de coordenação.

Williamson (2005a) afirma que os ativos específicos podem ser reempregados a diferentes usos e usuários apenas com a perda de valor produtivo e isso implica que a continuidade para tal relação de troca é relevante.

A literatura sobre as estruturas de governança oferece três formas distintas de coordenação: os mercados, os contratos híbridos e as hierarquias. Supõe-se que as características-chave da governança (intensidade diferencial de incentivos, controle administrativo e regimes contratuais) variam entre modos de formas internamente consistentes. A combinação de diferentes atributos provoca distintas forças e fraquezas adaptativas (WILLIAMSON, 2005a).

Ménard (2006) resume a intensidade dos custos de transação de acordo com a função:

TC = f(AS, F, U) + - +

Por essa função, a intensidade dos custos de transação (TC) seria função das especificidades dos ativos (AS), frequência (F) e incerteza (U). Os sinais positivo e negativo indicam maior custo de transação quanto maior for a dimensão e o negativo, menor custo de transação quanto maior a dimensão.

Para Ménard (2006), essas três variáveis são difíceis de medir. Para o autor todas as transações envolvem as três variáveis e seu respectivo peso na determinação dos custos de transação e, quanto mais complexa a transação, mais difícil e custosa é a captação de todas essas características pré-contratuais e prever todas as adaptações necessárias a um contrato.

No caso dos mercados, segundo Williamson (2005a), há uma combinação de incentivos de “alta potência”, pouco controle administrativo e um regime de contratos e leis, que são adequados à autonomia, mas pobre em ações cooperativas. Já as hierarquias, que são operadas em sentido contrário dos mercados, há baixos incentivos e considerável controle administrativo, o que inverte essas capacidades adaptativas. Já a viabilidade da governança híbrida, localizada entre mercados e hierarquias, liga-se com a eficácia aos compromissos críveis.

Comparada à teoria dos preços e às explicações tecnológicas para a integração vertical, a abordagem dos contratos foca nos atributos da transação, nas capacidades diferenciais de modos alternativos de governança de se implementar autonomia e adaptações coordenadas e no alinhamento eficiente daí decorrente.

As hipóteses do alinhamento, segundo Williamson (2005a) são três. A primeira refere-se ao fato de que se algumas transações são simples e outras são complexas, então os atributos das transações (especificidades dos ativos, frequência e incerteza) que são responsáveis por essas diferenças devem ser classificados e suas ramificações calculadas.

A segunda hipótese é a de que, se a eficácia dos diferentes modos de governança difere, então os atributos que descrevem modos alternativos de governança necessitam ser classificados. Dimensões importantes incluem a intensidade do incentivo, controle administrativo e regime contratual.

E, por fim, Williamson (2005a) afirma que a teoria preditiva das organizações econômicas reside na hipótese de que transações, que diferem em seus atributos, estão alinhadas com as estruturas de governança, que diferem em seus custos e competências, com o intuito de obter resultados com economias dos custos de transação.

O autor acrescenta a questão da ilegalidade aos estudos sobre governança. O autor afirma que a “economia da ilegalidade” foca em um ambiente institucional no qual o governo é incapaz ou relutante em fornecer proteção adequada aos direitos de propriedade e execução dos contratos por meio da máquina do Estado. Mesmo em estados nos quais há mecanismos de proteção dos direitos e de execução dos contratos, esse alcance é limitado. Se, por essa questão, as regras do jogo são bem ou mal desenvolvidas, a propriedade e os riscos contratuais incitam o uso dos mecanismos privados para introduzir ordem, e por meio disso aliviar conflitos e gerar ganhos mútuos do comércio.