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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3 Análise da Aula Sobre Frações

No momento de aplicação da aula, realizada pela professora C e observada pelo pesquisador deste trabalho, analisaram-se os elementos de coprodução, que foram registrados durante o momento, em texto, nos diários de campo, fotos e filmagem, por meio de câmera do celular.

A aula se iniciou às 14 horas do dia 30 de novembro de 2018. O pesquisador, que também é professor do laboratório de informática, preparou a projeção com o vídeo e o OA para o manuseio da professora durante sua aula, conforme indicado no plano de aula. Dessa forma, se deu início ao primeiro momento descrito na metodologia do plano de aula: reflexão do vídeo (Figura 15) sobre frações.

Figura 15: Vídeo Frações e números decimais - Novo Telecurso

Fonte: Autoria Própria

O vídeo em questão, que contextualiza o uso das frações no cotidiano, mostra um exemplo de divisão de uma fita em cinco partes iguais. Nesse momento que surgiu a figura do professor intervindo no vídeo, o que gerou um espaço de

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reflexão, antes de o vídeo revelar o resultado como mostrado na imagem (Figura 15):

Professora C: Turma, em quantas partes iguais está dividida a fita? Alunos: Cinco!

Professor C: Quem pode dizer qual o valor de um pedaço dessa fita então? Aluno T: Um quinto!

Professor C: Certo, explique pra turma porque é um quinto.

Aluno T: É só contar os pedacinhos! Tem cinco. Aí um pedaço é um quinto. Professor C: E quanto que vale o valor dos cinco pedaços?

Alguns Alunos: Cinco quintos!

Professor C: E isso é o mesmo que dizer o que?

Alunos: ... [Os alunos, de modo geral, mantiveram-se em silêncio]

Professor C: Vamos lá, se eu tenho agora, todas as partes iguais da fita,

cinco de cinco pedaços, isso é igual a...?

Aluno B: Um?

Professor C: Certo, no caso um inteiro, certo?

É importante destacar e analisar esse momento de intervenção do professor, primeiramente porque vem ao encontro com as discussões do grupo colaborativo no momento de pesquisa, de não se utilizar do vídeo apenas para exposição de informações, apenas como um modo de reprodução de conhecimento ou informação (BEHRENS, 2000), e sim de aproveitar o recurso como uma maneira de refletir junto com os alunos sobre o conteúdo, permitindo que eles participem e colaborem nesse momento de aprendizado. É a postura do professor que estimula a reflexão e discussão, instigando os alunos a participarem do momento de aprendizagem e serem sujeitos ativos na construção do seu conhecimento (BACICH; MORÁN, 2018).

Dessa forma, já percebemos um momento de aula exitosa onde a professora provoca a colaboração dos alunos na aula. O domínio da proposta pedagógica do vídeo, que nesse momento, se transformou num OA, e consequentemente a aparição da discussão dos conceitos que se pretendia ser discutido, demonstra que a professora conseguiu atingir o relacionamento dos conhecimentos do TPACK nesse momento da aula.

No segundo momento da aula: dinâmica com o OA Fração Legal (Figura 16), ficaram mais evidentes ainda os momentos de interação professor-aluno e aluno-aluno. A Professora C mediou o momento, retomando os conceitos que havia

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começado anteriormente no vídeo. A partir da ideia apresentada no vídeo, da divisão em partes iguais da fita, a professora deu continuidade, fazendo relação com as figuras representadas do OA. Essa articulação realizada pela professora entre os diferentes momentos da aula, demonstra que a mesma utilizou os diferentes OAs - vídeo do Telecurso e Fração Legal - de forma recombinada (WILEY, 2008).

Figura 16: OA Fração Legal

Fonte: Autoria Própria

Nesta parte da aula, a professora também demonstrou domínio do conhecimento de conteúdo da proposta metodológica que estava sendo executada e segurança da utilização da TDIC na sala de aula. Como exemplificado na figura 16, através do OA Fração Legal (conhecimento tecnológico), o professor conseguiu atingir os objetivos propostos nesse momento da dinâmica (conhecimento pedagógico), descritos no plano de aula, desde os fundamentos básicos das frações, como o conceito de inteiro, metade e terça parte até o conceito de equivalência (conhecimento de conteúdo), demonstrando que a professora conseguiu desempenhar neste momento da prática, a integração de todos os elementos da TPACK. A professora oportunizou que os alunos se sentissem livres

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para solucionar com os outros colegas, as perguntas propostas pelo OA. Dessa forma, conseguiu promover uma aula colaborativa e ativa.

Professora C: O quadrado vermelho foi dividido em quantas partes? Alguns Alunos: Uma!

Professora C: Então, se temos uma parte de um, qual o resultado da fração? Alunos: Inteiro?

Professora C: Exatamente, e um sobre dois, é o mesmo que o quê? Quinta

parte? Terça parte? Ou metade?

Professora C: Quem pode explicar porquê? Aluno R, por quê? Aluno R: Porque tem a metade da figura pintada!

Professora C: Se eu pintar a metade de qualquer figura, eu vou ter uma

parte não pintada de mesmo tamanho, certo? Significa que dividimos em duas partes iguais. Porém se eu dividir, por exemplo, o quadrado em quatro partes, quantas partes eu tenho que pintar para ter metade?

Aluno T: Dois.

Professor C: Explique por quê.

Aluno T: Porque tem quatro pedaços, aí tem que pintar a metade dos

pedaços, que é dois.

O OA permitia aumentar o nível das representações (figura 16), dividindo- as em mais partes e em diferentes formas, deste modo a professora pôde dar continuidade ao conteúdo. Como estava descrito na metodologia do plano de aula, a dinâmica realizada pelo professor nesse momento, foi de pedir que os alunos resolvessem e discutissem os problemas do OA. O professor solicitava que uma dupla de alunos (Figura 17 e 18) fosse ao computador e escolhessem duas representações que julgavam ser equivalentes e, logo depois, explicariam à turma o porquê da solução, e dessa forma, a turma discutiria as respostas. A dinâmica continuaria até que todas as soluções fossem encontradas.

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Figura 17: Dinâmica com os alunos com o OA Fração Legal

Fonte: Autoria própria

Professora C: Aluno M e B coloquem as frações e digam por que são iguais. Aluno M: O quadrado que tem dois vermelhos e um branco.

Professora C: Qual representação é igual? Expliquem. Aluno B: É…

Professora C: O quadrado do aluno M foi dividido em quantas partes? Alunos: Três!

Professora C: Quantas partes pintadas?

Aluno B: Duas.

Professora C: Duas partes pintadas de três partes iguais. Qual

representação é equivalente então?

Aluno B: Ali! Dois sobre três.

Professora C: Certo! Turma, e se eu pintar essa última parte não pintada

dessa figura, quanto ficaria?

Aluno M: Três sobre três.

Professora C: E isso significa quanto? Aluno T: Um!

Professora C: Um o que? Um meio? Um terço? Alunos: Inteiro!

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Figura 18: Participação colaborativa dos alunos com o uso do OA Fração legal

Fonte: Autoria própria

Analisando esse momento, ficou evidente que o OA deu suporte a aula da professora. A docente pôde ensinar o conteúdo de frações, explorando em sua aula o uso de uma TDIC que trazia o feedback instantâneo para todos informando se a fração 1 era menor, igual, ou maior do que a fração 2. Essa aula promoveu momentos de sóciointeracionismo (VYGOTSKY, 1978) aos alunos, como visto na imagem 15 e destaca o importante papel do professor em diversificar suas metodologias pedagógicas, saindo da aula tradicional para uma aula que propicie aos alunos a oportunidade de participar ativamente na construção do seu próprio aprendizado e comprovando que a apropriação dos conhecimentos do TPACK pelo professor também foi alcançada nesse momento da aula.

No terceiro e último momento (Figura 19 e 20), descrito na metodologia do plano de aula, iniciou-se o momento de revisão do conteúdo por meio do jogo analógico Dominó de Frações. Os alunos, organizados em grupo, utilizaram o jogo, discutiram como seriam as regras, enquanto o professor mediava o momento,

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tirando dúvidas dos alunos. Ponto importante a se destacar, é que o espaço do laboratório de informática serviu como extensão da sala de aula. A metodologia desenvolvida nesse plano de aula, colaborou para que os espaços de sala de aula e informática fossem integrados, corroborando de que é possível o trabalho colaborativo entre professor de informática e de sala de aula.

Figura 19: Aplicação do jogo Dominó de Frações

Fonte: Autoria própria

Professora C: Igual como resolvemos no laboratório de informática. Quantas

partes iguais foi dividido?

Alunos: Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete. Professora C: Certo. Quantas pintadas? Alunos: Um sobre sete!

Aluno M: Pode colocar número com número?

Professora C: Vocês podem decidir nas regras de vocês, porém se os

números forem iguais, por exemplo aqui, um catorze avos e um catorze avos [apontando para representações diferentes], são iguais, certo? Então vocês podem decidir na regra de vocês se vale nesse jogo.

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Figura 20: Aplicação do Jogo Dominó de Frações

Fonte: Autoria Própria

A professora participou do momento com os alunos, esclarecendo dúvidas, observando e provocando as conclusões dos alunos sobre seus resultados no jogo, sempre retomando com eles, o que viram no laboratório de informática (extensão da sala de aula), fazendo a ligação do dominó com o OA Fração Legal, ou seja, um recurso analógico e outro digital, respectivamente. Nessa situação, a professora trabalha em cima dos conhecimentos de conteúdo e pedagógico, porém, durante essa dinâmica com as crianças, relembra a elas em como trabalharam no OA Fração Legal, e assim, aplicarem no jogo analógico, o mesmo conhecimento. Dessa forma, prova-se que a relação dos conhecimentos do TPACK foi estabelecida.

Interessante destacar sobre nesse momento, a evolução da compreensão dos conhecimentos dos professores. As TDIC, de forma geral, são utilizadas como recurso para reforçar uma explicação de um determinado conteúdo, numa perspectiva instrucionista. Porém, como discutido com os colaboradores, no

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momento da construção do plano, invertemos essa lógica. O OA foi utilizado como a ferramenta principal, na aula do professor, para a reflexão e compreensão do conteúdo de frações, e o jogo analógico veio em seguida como processo de revisão. Portanto, pelas observações registradas, percebemos que a professora conseguiu ministrar uma aula exitosa, pois transcorreu toda a metodologia proposta, com segurança nas tecnologias utilizadas, com o conhecimento do conteúdo sobre frações e com uma abordagem pedagógica sociointeracionista (Vygotsky, 1978) onde, por meio da mediação, provocou nos alunos a colaboração e aprendizagem ativa.