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2. A PROPOSTA DE TRABALHO, HIPÓTESES E OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.

2.2 Hipóteses

2.3.3 A análise dos dados

Com a finalidade de atingir os resultados, os dados coletados em campo (temperatura do ar e do solo, umidade relativa do ar, pressão atmosférica, direção e velocidade dos ventos e o pH da água da chuva) foram analisados levando-se em consideração quatro aspectos (figura 2.3): (1) a comparação dos dados entre si (de forma contínua e sincrônica), tomados em diferentes pontos, num mesmo horário e/ou dentro de uma seqüência horária, quer tenha ela remontado algumas horas, dias, semanas ou meses; (2) as características físicas (naturais e urbanas) do ambiente de coleta e/ou do ambiente do qual o posto era representativo; (3) identificação do sistema atmosférico atuante (e do tipo de tempo associado) na ocasião das observações; (4) interpretação dos dados e identificação dos possíveis controles (ou fatores) envolvidos na estruturação do fato geográfico-climatológico.

Naquilo que diz respeito especificamente à identificação dos fatores ou controles climáticos envolvidos na estruturação de um dado fenômeno numa dada ocasião, em atenção ao enunciado de Monteiro21 (1990b) sobre a representatividade do ponto de observação, tomou-se o cuidado de identificar, quando possível, as diferentes “respostas” dos diversos pontos de observação frente aos diversos fatores aos quais estavam expostos. Por outras palavras, nem sempre os micros e topoclimas naturais e/ou urbanos encontram condições de se estruturar. Há ocasiões em que essas condições se confundem com o clima local. Nesse sentido, a questão colocada frente à análise dos dados era a seguinte: a resposta térmica e higrométrica sobre um dado ponto, assinalada num dado momento (tempo cronológico), sob determinadas condições de tempo (tempo meteorológico) e lugar (espaço) guarda relações mais estreitas com os controles de superfície ou da atmosfera, associadas à circulação local e/ou regional do ar? Essa questão fomentou a produção de várias respostas, organizadas no capítulo cinco (resultados), também dentro de uma hierarquia, ou seja, os capítulos secundários presentes nesse capítulo, iniciam por discutir a resposta térmica e higrométrica no nível dos micro e topoclimas, passa pelos mesoclimas até chegar à relação com a sucessão dos tipos de tempo no nível local. A síntese dessa discussão corroborou com a construção do modelo gráfico discutida adiante.

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As características físicas (naturais e antrópicas) da área de estudo, fundamentais à compreensão da sua organização climática, foram traduzidos numa série de cartas e incluíram aspectos relativos à forma do terreno, declividade, exposição das vertentes, uso da terra e as características de albedo e de capacidade térmica das superfícies. Os pormenores envolvidos na elaboração de cada uma das cartas foram discutidos a seguir.

A confecção das cartas com as características do terreno atendeu ao item dois do primeiro parágrafo deste capítulo. O item três remete aquilo que Monteiro (1990a, p.16) coloca como imprescindível para os estudos climáticos diante da [...] “diversidade e multiplicação das investigações no espaço urbano” [...] e a sua correspondência em relação às [...] “variações temporais: diário, mensais, sazonais, para que as variações intra-anuais possam estar referenciadas aos “tipos de tempo” mais expressivos dentre aqueles que a circulação atmosférica regional condiciona localmente” [...]. Nesse sentido, contou-se com o apoio de cartas sinóticas e imagens de satélite, obtidas via internet, além de observações visuais quanto às características das nuvens (cobertura do céu e tipo de nuvem) e direção e intensidade dos ventos, básicos para a definição dos tipos de tempos. Deve-se mencionar, também, a tentativa de estabelecer uma síntese climática na bacia do rio Aricanduva, apoiada na “tipologia” dos tipos de tempo conforme trabalho de Tarifa (1973) e Moraes et al. (1977).

Outro aspecto que justificou o acúmulo de informações sobre o terreno para o seu posterior confronto com os dados mensurados, relativos ao comportamento do elemento atmosférico, diz respeito à gênese do fenômeno e dos processos correlatos, e a sua variação de um lugar para outro. Localidades caracterizadas, por exemplo, por formas denudacionais de topo convexo, com declividades iguais ou superiores a 15°, são diferentes daquelas situadas sobre formas de acúmulo nas planícies fluviais: enquanto a primeira caracteriza uma área dispersora de águas, calor e poluentes atmosféricos, a segunda, sob determinadas circunstâncias, favorece a estagnação de todos esses elementos. Essa constatação levou à elaboração e adoção da “carta morfográfica” enquanto base para a elaboração das demais cartas (carta de declividades e de exposição de vertentes, respectivamente figuras 4.10 e 4.11).

A construção da carta morfográfica apoiou-se em fotografias aéreas (BASE S.A, 1994), na escala 1:25.000 e nas cartas topográficas nas escalas 1:25.000 e 1:50.000 (EMPLASA, 1980/81; IBGE, 1984). Teve por finalidade a identificação das rupturas de declividade côncava para a

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delimitação dos fundos de vale e convexas-retilíneas para a delimitação dos topos. A construção dessa carta foi básica para a elaboração das cartas de declividade (figura 4.10) e de exposição de vertentes (figura 4.11). Tanto uma como a outra poderiam ser elaboradas unicamente a partir das cartas topográficas. No entanto, optou-se por elaborá-las a partir da carta morfográfica, sobreposta à carta topográfica, pois, através da ruptura do relevo, percebem-se com maior nitidez as áreas planas, ou com valores de declividade muito baixa, em meio ao conjunto da paisagem. Essas áreas, em tese, não configurariam numa carta de orientação de vertentes e o seu valor, na carta clinográfica, seria próximo a zero. Ambas as cartas traduzem parâmetros que influenciam diretamente a energia solar incidente.

As classes de declividade, cinco ao todo, foram determinadas dentro daquilo que permitiu a escala das cartas (aprox. 1: 75.000) e os detalhes a respeito da sua confecção, determinação das classes e da construção do ábaco foram extraídos de De Biasi (1992) e Granell-Pérez (2001).

A carta de exposição de vertentes (figura 4.11) apoiou-se no trabalho de De Biasi et. al. (1977). A partir de um ábaco, foram definidas oito faces diferentes, cada qual associada a uma exposição diferente da vertente. Aos quadrantes noroeste, norte e nordeste foram atribuídos cores quentes (coincidindo com o vermelho para o quadrante norte, vertente mais quente) e aos quadrantes sudeste, sul e sudoeste, cores frias (o azul mais escuro para o quadrante sul, vertente mais fria). Os quadrantes leste e oeste receberam cores neutras, de mesmo valor visual, já que, teoricamente, estão expostas à mesma carga de radiação diária, embora em horários diferentes.

Na carta de uso da terra (figura 4.12), realizada a partir das mesmas bases topográficas e fotográficas já mencionadas, distinguiu-se, num primeiro momento, as formas dos edifícios a partir do comprimento do seu eixo principal (os galpões industriais e/ou comerciais distinguem-se pelo predomínio do eixo horizontal; os prédios, pelo predomínio do eixo vertical; as casas, pela pequena dimensão e proporcionalidade dos seus eixos), tamanho e textura das formas e o porte dos diversos tipos de vegetação, de onde foi possível, também, inferir a função. Esses elementos foram agrupados na forma de grandes “manchas”, com cores diferenciadas.

Num segundo momento, sobre essa carta, tomada como base, elaborou-se a carta de unidades de albedo e capacidade térmica dos materiais em superfície (figura 4.13). Para a sua confecção, utilizaram-se como parâmetros a cor e as características de armazenamento de calor dos materiais, já que a grandeza relativa à capacidade térmica se traduz pelo produto da densidade

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de massa (Kg/m3) pelo calor específico (J/kg.K) do material (figura 2.4). A cor negra foi utilizada como indicativo de superfícies que absorvem toda ou quase toda a energia solar incidente e o branco como aquelas que refletem quase tudo. Os tons de cinza correspondem aos níveis intermediários de albedo. Sobre essas unidades foram sobrepostas as unidades indicativas da capacidade térmica dos materiais, utilizando-se de hachuras: as hachuras mais espaçadas para as unidades de baixa capacidade térmica (aquecem e resfriam-se rapidamente) e hachuras mais concentradas para aquelas com elevada capacidade térmica (demoram tanto para se aquecer quanto para se resfriar). Para a elaboração dessas cartas foram utilizadas fotografias aéreas na escala 1: 5000 (figura 2.5), coloridas, datadas de março de 2000, obtidas junto à Secretaria de Habitação da Prefeitura do Município de São Paulo (BASE S. A., 2000).

Levou-se em consideração a relação direta dessa variável (albedo) com a disponibilidade de radiação incidente na superfície (radiação solar direta e difusa) e a sua transformação, depois de absorvida pela superfície, em calor sensível (prontamente disponível para aquecer o ambiente), calor latente, calor ganho ou cedido à superfície por condução e a variação de calor armazenado num dado volume, uma vez que as superfícies naturais e/ou urbanas não respondem enquanto “superfícies ideais”, desprovidas de massa. Deve-se acrescentar, também, a dimensão do objeto exposto à radiação. Nesse sentido, quanto mais escura a superfície, maior a absorção da radiação solar direta (principalmente, já que constitui 50% a 70% do total de radiação em um ambiente aberto em condições de ausência ou de baixa nebulosidade) e, secundariamente, a difusa, o que implica numa menor refletividade para o ambiente. O contrário ocorre com as superfícies claras. Quanto maior a disponibilidade de radiações num ambiente, maior também é a carga de radiação que um organismo ou um objeto qualquer recebe e, como resultado, se aquece. Segundo estimativas (NÃÃS, 1989, p.76), a redução da carga de radiação recebida por um organismo (no caso, uma cabra, tomada como exemplo a partir do livro da autora) exposto ao sol e outro à sombra, varia de 70 cal/cm2. h a 40 cal/cm2. h.

Altitude,