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As situações marcadas por heterogeneidade térmica e higrométrica do ar

Altitude, exposição

4. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E DE OCUPAÇÃO NA ÁREA DE ESTUDO

5.4 As características térmicas e higrométricas do ar na bacia do rio do Aricanduva e a sua relação com a sucessão dos tipos de tempo.

5.4.2 As situações marcadas por heterogeneidade térmica e higrométrica do ar

As situações tratadas a seguir recaíram sobre aquelas quando se estabeleceram diferenças “significativas” de temperatura do ar63 entre os postos no Aricanduva. E isso ocorreu, principalmente, à medida que o tipo de tempo Anticiclônico Polar modificava-se e passava a tipo de tempo Anticiclônico Polar em Processo de Tropicalização e/ou Tropicalizado, principalmente durante o inverno, e Anticiclônico Tropical Dinâmico do Atlântico e/ou associado às Instabilidades Pré-Frontais. A sucessão dos tipos de tempo normalmente era acompanhada da elevação dos valores de temperatura do ar, no decorrer dos dias até que outro Sistema Frontal se estabelecesse, bem como de um aumento no contraste entre os valores de temperatura do ar registrada nos postos, quando analisados comparativamente. Conforme foi sustentado em outro momento do texto, essa é outra característica associada às fontes eminentemente passivas de produção de calor (característica observada, também, na área urbana de Morrinhos, discutido num capítulo adiante).

Na seqüência entre os dias 03 e 09/08/2000, inicialmente sob as condições de um tipo de tempo Frontal Encoberto e Frontal Chuvoso (dias 03 e 04), as diferenças de temperatura entre os postos tendeu a variar dentro de um patamar próximo à média de 1,9ºC. Essa variação modificou- se sob a influência dos tipos de tempo anticiclonais polar e tropical (do dia 05 até o dia 09, quando, no dia 10, entrou um novo Sistema Frontal). É interessante assinalar que, sob tais condições, desde a influência do tipo de tempo Anticiclônico Polar (dia 05), passando pelo Polar em Processo de Tropicalização e Tropicalizado, até uma situação de Pré-Frontal e/ou já sob a influência do Anticiclônico Dinâmico do Atlântico (dia 09), as diferenças médias de temperatura entre os postos foram menores do que aquelas sob a ação dos tipos de tempo frontais. Do dia 05 ao dia 09, a diferença média entre os postos, calculada a partir do somatório do período de 24 h do maior valor horário registrado num posto em relação ao menor valor horário registrado em outro posto, foi de 1,6ºC. Em quase todas as ocasiões, os postos adotados como referenciais foram os da Vila Manchester e o do Jd. Iguatemi.

Essa tendência também foi verificada na seqüência dos dias 10 a 15/08/2000. Inicialmente, sob a influência do tipo de tempo Frontal Chuvoso (ventos de sul e chuva leve e

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contínua durante todo o dia 10), as diferenças de temperatura do ar entre os postos enquanto indicador de produção de calor manteve-se próxima à média, que foi de 2,0ºC, no período de 24 h desse dia. Esse contraste baixou para 1,7ºC no dia seguinte (dia 11), sob a influência do tipo de tempo Anticiclônico Polar, quando a temperatura do ar exibiu uma queda forte e gradativa durante todo o dia, até a madrugada do dia seguinte, quando registrou 5,3ºC às 7 h do dia 12. A partir desse dia, começava a se esboçar uma condição que seria levada até o dia 15 (no dia 16 entraria outro sistema frontal), ou seja, tal qual na seqüência anterior, as diferenças de temperatura entre os postos passaram a acumular-se no período da tarde e início da noite, quando foram registrados, às 14 h desse mesmo dia, 3,5ºC entre o Jd. São Cristóvão (12,7ºC) e o Jd. Sta. Bárbara (9,2ºC). No dia 13, às 15 h, essa diferença seria de 4,6ºC (16,6ºC no Jd. São Cristóvão e 12,0ºC no Jd. Sta. Bárbara), no dia 14, às 17 h, de 4,5ºC (24,1ºC na Vila Manchester e 19,6ºC no Jd. Sta. Bárbara) e, finalmente, no dia 15, quando se estabeleceria uma diferença de 5,2ºC entre os postos da Vila Manchester (18,5ºC) e do Jd. Iguatemi (13,3ºC). Ao mesmo tempo em que essas diferenças de temperatura do ar entre os postos acumulavam-se, arrastando-as para o final da tarde e início da noite, diminuía as diferenças de temperatura do ar entre os postos no período da madrugada e início da manhã. Menores, inclusive, do que aquelas registradas sob a influência do tipo de tempo Frontal Chuvoso.

A seqüência do dia 16 a 26/08/2000 foi marcada por um período relativamente longo desde o estabelecimento de um tipo de tempo Frontal Chuvoso, associado ao Sistema Frontal que entrara na tarde do dia 15 (e o prolongamento da sua ação pelo dia 16 e 17, com o céu totalmente encoberto e chuva leve em alguns períodos) até que outra frente chegasse, na noite do dia 26, o que possibilitou verificar o comportamento da temperatura do ar sob diversas circunstâncias atmosféricas.

Entre os dias 16 e 17 a temperatura do ar variou entre 10,0ºC e 20,0ºC e as diferenças de temperatura do ar entre os postos, no decorrer das 48 h, situaram-se muito próximo à média, em 1,5ºC, mais quente no baixo vale. A ação conjunta do Sistema Frontal e do Sistema Polar Atlântico à retaguarda (e os tipos de tempo associados a esses sistemas), forçou a queda da temperatura do ar ao mesmo tempo em que atrasou o estabelecimento de contrastes térmicos entre

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Na verdade, procurou-se avaliar toda a seqüência, quer ela tenha ou não apresentado diferenças de temperatura do ar nos diferentes postos na bacia do Aricanduva, dentro de uma óptica de interação, em termos de repercussão espacial, com outros elementos atmosféricos e do meio.

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os postos (exemplo de quando um fator regional impõe-se frente à organização micro e topoclimática da cidade).

Os dias 18 e 19 denunciaram a ação do tipo de tempo Anticiclônico Polar e, em alguns momentos, entre 13 h e 17 h, estabeleceram-se vários contrastes de temperatura do ar, notadamente entre o posto da Vila Manchester (sempre com valores de temperatura mais elevados) e os postos do Jd. Sta. Bárbara e Iguatemi (mais frios). Tais diferenças alcançaram 7,7ºC no dia 18, às 13 h, quando foram registrados 23,4ºC na Vila Manchester e 15,7ºC no Jd. Iguatemi, e 5,6ºC no dia 19, às 14 h, com 22,3ºC no Jd. São Cristóvão e 16,7ºC no Jd. Sta. Bárbara. Não obstante a magnitude dos valores de temperatura do ar deve-se frisar que o intervalo de tempo decorrido, dentro do qual se estabeleceram tais contrastes, estiveram limitados ao intervalo acima mencionado (entre 13 h e 17 h, durante os dias). Nos demais horários as diferenças máximas de temperatura do ar entre os postos, mantiveram-se abaixo de 2,0ºC.

Nos dias 21, 22, 23/08, sob a influência do tipo de tempo Anticiclônico Polar em Processo de Tropicalização, verificou-se a mesma tendência de estabelecimento de contrastes térmicos entre os postos, com valores superiores a 3,0ºC, inclusive, embora não com a mesma magnitude da seqüência anterior. Só que desta vez ao final da tarde e noite (entre 15 h e 00 h). Excepcionalmente, no dia 23/08, foi registrado, às 03 h (madrugada), uma diferença de 3,0ºC entre o posto do Jd. das Rosas (16,4ºC) e o posto do Jd. Iguatemi (13,4ºC).

Nos dias 24, 25 e 26, seguindo a mesma tendência quanto ao comportamento da temperatura do ar dos dias 21, 22 e 23, mas desta vez sob condições de um tipo de tempo Anticiclônico Polar Tropicalizado, a temperatura do ar alcançou valores superiores aos 30,0ºC (nos três dias) e valores de umidade relativa do ar ao redor de 20% nos horários mais quentes. Em diversos momentos do dia 24 (manhã, tarde e noite), estabeleceram-se diferenças de temperatura do ar entre os postos iguais ou superiores a 3,0ºC. Isso ocorreu de forma mais acentuada ainda, no dia 26. Em todos esses dias, o final da madrugada e início da manhã, coincidiu com a formação de inversão térmica, evidenciados pelos valores mais baixos de temperatura do ar nos postos do baixo vale.

O aporte crescente de radiação solar, à medida que a nebulosidade diminuía, com a sucessão e modificação dos tipos de tempo, desde o início da seqüência, favoreceu a absorção e, conseqüentemente, a produção (emissão) de calor, que passou a ser liberado paulatinamente pela

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superfície urbana à camada de ar circunjacente, mesmo no período da noite, coincidindo com esses elevados contrastes térmicos exibidos pelos postos do baixo vale (mais quentes) em relação aos do alto vale (mais frios). Nas condições descritas, para a área urbanizada do baixo vale o fluxo de radiação para o ar suplantou tanto aquela para o interior do solo quanto aquele de fluxo de calor latente utilizada na evaporação, já que a água, tanto na forma de vegetação quanto de corpos líquidos, é um elemento muito pouco presente nesse setor da bacia. Isso prosseguiu até que da madrugada do dia 21 às primeiras horas da manhã do dia 22/08 (entre 3 h e 9 h), se estabelecesse uma condição de balanço negativo, decorrente da formação de um fluxo de calor do ar para o solo, culminando numa situação de inversão térmica, quando os postos do alto vale (Jd. Sta. Bárbara e Iguatemi) mantiveram-se com temperaturas mais elevadas do que aqueles situados no baixo vale (Vila Manchester e Jd. São Cristóvão). O resfriamento da parcela de ar sobre a superfície ocorreu por condução térmica (condução de calor do ar para a superfície), sob condições de céu límpido, sem nuvens e baixa velocidade do vento (a formação de nevoeiro no fundo de vale do Aricanduva denunciou isso). O balanço noturno negativo de radiação provocou um resfriamento da superfície e, conseqüentemente, da massa de ar em contato. O céu despojado de nuvens tanto facilitou o ganho quanto a perda de calor (nessas condições as trocas de calor são maiores e mais rápidas).

A última seqüência do inverno ocorreu entre os dias 27/08 a 02/09/2000. Todos os dias dessa seqüência foram marcados pela maior ou menor intensidade da atuação do SFA. As diferenças de temperatura entre os postos só começaram a acumular-se, com maior freqüência, nos dias 30/08 e 01/09, quando, em alguns momentos, mostraram-se superiores a 3,0°C. Entretanto, seguindo uma tendência já observada em outras ocasiões sob a ação dos tipos de tempo frontais, são raras as ocasiões em que tais valores, relativos às diferenças de temperatura do ar entre os postos, caem abaixo de 1,0°C: a diferença média diária mostrou que o posto da Vila Manchester manteve-se, em média, com valores de 1,5°C mais elevados do que aqueles exibidos pelo posto do Jd. Iguatemi. Mesmo o posto do Jd. das Rosas, a 795 m de altitude, em relação ao posto do Jd. Iguatemi, a 825 m, a diferença média diária, nessa seqüência, mostrou valores em 0,9°C mais elevados para o Jd. das Rosas.

Talvez fosse de se esperar que as diferenças de temperatura do ar entre os postos se acumulassem à medida que as médias diárias de temperatura do ar aumentassem (a temperatura